quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

I. Wallerstein faz um balanço positivo da esquerda em 2011; em esp.

A esquerda mundial após 2011



Do OutrasPalavras

Wallerstein propõe: as múltiplas correntes que desejam superar capitalismo precisam construir certos acordos, para não desperdiçar enormes esperanças surgidas no ano

Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Daniela Frabasile

Por qualquer ângulo, 2011 foi um bom ano para a esquerda mundial – seja qual for a abrangência da definição de cada um sobre a esquerda mundial. A razão fundamental foi a condição econômica negativa, que atinge a maior parte do mundo. O desemprego, que era alto, cresceu ainda mais. A maioria dos governos enfrentou grandes dívidas e receita reduzida. A resposta deles foi tentar impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos.

O resultado disso foi uma revolta global daquilo que o movimento Occuppy Wall Street chama de “os 99%”. Os alvos eram a excessiva polarização da riqueza, os governos corruptos, e a natureza essencialmente antidemocrática desses governos — tenham eles sistemas multipartidários ou não.

O Occuppy Wall Street, a Primavera Árabe e os Indignados não alcançaram tudo o que esperavam. Mas sim conseguiram alterar o discurso mundial, levando-o para longe dos mantras ideológicos do neoliberalismo — para temas como desigualdade, injustiça e descolonização. Pela primeira vez em muito tempo, pessoas comuns passaram a discutir a natureza do sistema no qual vivem. Já não o vêem como natural ou inevitável…

A questão para a esquerda mundial, agora, é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. Em todo o mundo, as forças do centro-direita ainda comandam aproximadamente metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma.

Portanto, para transformar o mundo, a esquerda mundial precisará de um grau de unidade política que ainda não tem. Há profundos desacordos tanto sobre a objetivos de longo prazo quanto sobre táticas a curto prazo. Não é que esses problemas não estejam sendo debatidos. Ao contrário, são discutidos acaloradamente, e pouco progresso tem sido feito para superar essas divisões.

Essas discordâncias são antigas. Isso não as torna fáceis de resolver. Existem duas grandes divisões. A primeira é em relação a eleições. Não existem duas, mas três posições a respeito. Existe um grupo que suspeita profundamente de eleições, argumentando que participar delas não é apenas politicamente ineficaz, mas reforça a legitimidade do sistema mundial existente.

Os outros acham que é crucial participar de processos eleitorais. Mas esse grupo está dividido em dois. Por um lado, existem aqueles que afirmam ser pragmáticos. Eles querem trabalhar de dentro – dentro dos maiores partidos de centro-esquerda quando existe um sistema multipartidário funcional, ou dentro do partido único quando a alternância parlamentar não é permitida.

E existem, é claro, os que condenam essa política de escolher o mal menor. Eles insistem que não existe diferença significativa entre os principais partidos e são a favor de votar em algum que esteja “genuinamente” na esquerda.

Todos estamos familiarizados com esse debate e já ouvimos os argumentos várias vezes. No entanto, está claro, pelo menos para mim, que se não houver algum acordo entre esses três grupos em relação às táticas eleitorais, a esquerda mundial não tem muita chance de prevalecer a curto ou a longo prazo.

Acredito que exista uma forma de reconciliação. Ela consiste em fazer uma distinção entre as táticas de curto prazo e as estratégias a longo prazo. Concordo totalmente com aqueles que argumentam que obter poder estatal é irrelevante para as transformações de longo prazo do sistema mundial – e possivelmente as prejudica. Como uma estratégia de transformação, foi tentada diversas vezes e falhou.

Isso não significa que participar nas eleições seja uma perda de tempo. É preciso considerar que uma grande parte dos 99% está sofrendo no curto prazo. Esse sofrimento é sua preocupação principal. Tentam sobreviver, e ajudar suas famílias e amigos a sobreviver. Se pensarmos nos governos não como agente potencial de transformação social, mas como estruturas que podem afetar o sofrimento a curto prazo, por meio de decisões políticas imediatas, então a esquerda mundial se verá obrigada a fazer o que puder para conquistar medidas capazes de minimizar a dor.

Agir para minimizar a dor exige participação eleitoral. E o debate entre os que propõem o menor mal e os que propõem apoiar partidos genuinamente de esquerda? Isso torna-se uma decisão de tática local, que varia enormemente de acordo com vários fatores: o tamanho do país, estrutura política formal, demografia, posição geopolítica, história política. Não há uma resposta padrão. E a resposta para 2012 também não irá necessariamente servir para 2014 ou 2016. Não é, pelo menos para mim, um debate de princípios. Diz respeito, muito mais, à situação tática de cada país.

O segundo debate fundamental presente na esquerda é entre o desenvolvimentismo e o que pode ser chamado de prioridade na mudança da civilização. Podemos observar esse debate em muitas partes do mundo. Ele está presente na América Latina, nos debates fervorosos entre os governos de esquerda e os movimentos indígenas – por exemplo na Bolívia, no Equador, na Venezuela. Também pode ser acompanhado na América do Norte e na Europa, nos debates entre ambientalistas/verdes e os sindicatos, que priorizam manutenção dos empregos já existentes e a expansão da oferta de emprego.

Por um lado, a opção desenvolvimentista, apoiada por governos de esquerda ou por sindicatos, sustenta que sem crescimento econômico, não é possível enfrentar as desigualdades econômicos do mundo de hoje – tanto as que existem dentro de cada país quanto as internacionais. Esse grupo acusa o oponente de apoiar, pelo menos objetivamente e talvez subjetivamente, os interesses das forças de direita.

Os que apoiam a opção anti-desenvolvimentista dizem que o foco em crescimento econômico está errado em dois aspectos. É uma política que leva adiante as piores características do sistema capitalista. E é uma política que causa danos irreparáveis – sociais e ambientais.

Essa divisão parece ainda mais apaixonada, se é que é possível, que a divergência sobre a participação eleitoral. A única forma de resolver isso é com compromissos, diferentes em cada caso. Para fazer com que isso seja possível, cada grupo precisam acreditar na boa fé e nas credenciais de esquerda do outro. Isso não será fácil.

Essas diferenças poderão ser superadas nos próximos cinco ou dez anos? Não tenho certeza. Mas se não forem, não acredito que a esquerda mundial possa ganhar, nos próximos vinte ou quarenta anos, a batalha fundamental. Nela se definirá que tipo de sistema sucederá o capitalismo, quando este sistema entrar definitivamente em colapso.


Na esteira do movimento Occupy Wall Street, surge o "ocupe a linguagem"

¿Y si ocupásemos el lenguaje?

Tlaxcala

Traducido por Manuel Talens

Ocupar
Hoy es casi imposible escuchar esta palabra y no pensar en el Occupy Movement . [1]
Incluso un experto tan distinguido como el lexicógrafo y columnista Ben Zimmer lo admitió esta semana: “Ocupar (occupy), dijo, es la clara favorita en la elección de la “palabra del año” por parte de la American Dialect Society (Sociedad dialectal usamericana ) .
Por el momento, ya ha logrado cambiar los términos del debate al desplazar del centro de atención expresiones como “techo de la deuda” y “crisis presupuestaria” para sustituirlas por “desigualdad” y “codicia”. Este cambio discursivo ha puesto a Washington en aprietos a la hora de seguir ofreciendo razones espurias para justificar la catástrofe financiera y las desigualdades a las que se ha enfrentado y que ha mantenido.
Para la mayor parte de los ciudadanos ha quedado clara la ironía de un movimiento social progresista que utiliza el verbo “ocupar” para reformular el pensamiento usamericano en lo relativo a la democracia y la igualdad. Al fin y al cabo, en general suelen ser las naciones, los ejércitos y la policía quienes ocupan, habitualmente por la fuerza. Y, en esto, USA ha sido el líder indiscutible. El gobierno usamericano está ahora dando por finalizada su ocupación de Iraq nueve años después de haber invadido ese país, mientras que todavía permanece en Afganistán y mantiene destacamentos de tropas en docenas de países del mundo, todo lo cual no oscurece el hecho de que USA surgió de una ocupación –gradual y devastadoramente feroz– que extinguió poblaciones nativas enteras en miles de kilómetros cuadrados de su territorio .



Dread Scott y Kyle Goen

Y, sin embargo, en muy poco tiempo este movimiento ha cambiado nuestra manera de pensar sobre la ocupación. A principios de septiembre, “ocupar” aludía en este país a incursiones militares. Ahora significa protesta política con carácter progresista. Ya no se refiere al poderío militar, sino al hecho de enfrentarse a la injusticia, la desigualdad y los abusos de poder. Es mucho más que simplemente ocupar un espacio: es transformar ese espacio. En este sentido, Occupy Wall Street ha ocupado el lenguaje, se ha apropiado del verbo “ocupar”. Y lo más importante es que personas de orígenes étnicos, culturas y lenguas disímiles han participado en esta ocupación lingüística, que se distingue de las ocupaciones anteriores en que ha nacido para incluir a todos, no sólo a los más fuertes o violentos. Como bien lo han explicado Geoff Nunberg –durante mucho tiempo director de uso lingüístico del American Heritage Dictionary – y otros eruditos, el uso más antiguo en inglés del verbo ocupar vinculado a la protesta se remonta a las descripciones que hacían los medios anglófonos de las manifestaciones italianas que tuvieron lugar en la década de 1920, cuando los trabajadores “ocupaban” fábricas hasta que se atendían sus reivindicaciones. Se trata de un significado muy distante de otros que tuvo el mismo verbo en tiempos más pretéritos. De hecho, el Oxford English Dictionary definió en el pasado que “ocupar” significaba “tener relaciones sexuales con alguien”. ¿Se imagina el lector las reacciones que podría haber concitado en aquel entonces un enunciado como “Occupy Wall Street”? El pasado octubre Ben Zimmer, que también dirige el Comité de Neologismos de la American Dialect Society , señaló en el programa radiofónico “On the Media” que el significado de ocupar y sus derivados han cambiado de manera espectacular desde su llegada a la lengua inglesa en el siglo XIV. “Ocupar se ha usado casi siempre como verbo transitivo”, dijo. “Se trata de un verbo cuya acción recae sobre un objeto: se ocupa un lugar o un espacio. Pero luego pasó a usarse como un llamamiento sin objeto, como una incitación a tomar parte en lo que ahora llamamos Occupy Protests (protestas ocupadoras). Hoy se usa como un morfema modificador de sustantivos tales como ‘protesta o ‘movimiento’. Es un uso muy flexible que está llenando muchos huecos gramaticales en el lenguaje.” ¿Qué pasaría si transformásemos de nuevo el significado del verbo ocupar? En concreto, ¿qué pasaría si nos tomásemos la ocupación del lenguaje como algo más que el lenguaje del movimiento okupa y empezásemos a considerarla como un movimiento en sí mismo, el Occupy Language Movement (movimiento ocupador del lenguaje)? ¿Qué clase de asuntos abordaría la ocupación del lenguaje? ¿Cómo sería el lenguaje una vez arrebatado de las manos de sus autoproclamados “amos” actuales? Podríamos empezar planteando estas preguntas desde la perspectiva de la raza y la discriminación para tratar de promover la imparcialidad y la igualdad en esos ámbito .



Orlando Arenas, Ernesto Yerena, Ricardo Lopez, Sandra Castro
La ocupación del lenguaje podría inspirarse de la manera en que el Occupy Movement ha redefinido el verbo “ocupar”: nos ha enseñado que es posible dar significado a las palabras y que los discursos no son algo inmutable. Asimismo, la ocupación del lenguaje podría inspirarse de la manera en que los movimientos indígenas rechazan el uso que se le suele dar al lenguaje: los indígenas nos han enseñado a ser conscientes de que el lenguaje otorga poderes pero también oprime; de que el lenguaje unifica pero también aísla. En primer lugar, la ocupación del lenguaje podría llevar a cabo un ejercicio de introspección. En una entrevista reciente, Julián Padilla, del People of Color Working Group (Grupo de trabajo de personas que no son de raza blanca, creado en el movimiento Occupy Wall street) [2], logró que el movimiento Occupy revisase sus opciones lingüísticas: Ocupar significa conquistar un espacio y creo que un grupo anticapitalista que ocupa el espacio de Wall Street ha demostrado su poder, pero me gustaría que el movimiento neoyorquino cambiara su nombre a “Decolonise Wall Street” (Descolonicemos Wall Street) para que tenga en cuenta la historia, el imperialismo, a las personas que no son de raza blanca y las críticas indígenas. Ocupar el espacio no es algo intrínsecamente malo, todo depende de quién lo haga, cómo y por qué. Cuando los colonizadores blancos ocupan un territorio no sólo duermen en él durante la noche, sino que lo saquean y lo destruyen. Cuando los pueblos nativos ocuparon la isla de Alcatraz lo hicieron como (un acto de) protesta. Este cambio lingüístico puede recordar a los usamericanos que la mayoría de ese 99% se ha beneficiado de la ocupación de territorios nativos. La ocupación del lenguaje también podría respaldar la campaña para hacer que los medios de comunicación dejen de utilizar la palabra “ilegal” cuando aluden a inmigrantes “indocumentados”. Desde el punto de vista de la campaña, la lengua inglesa sólo califica de ilegales a los objetos inanimados y las acciones; por lo tanto, el uso del binomio “inmigrantes ilegales” para referirse a seres humanos los deshumaniza. El libro de estilo del New York Times pide ahora a los autores que eviten términos como “inmigrante ilegal” e “indocumentado”, pero no dice nada sobre “inmigrantes ilegales”. Sin embargo, el editor de normas lingüísticas del periódico, Philip B. Corbett, incidió sobre esto en fechas recientes al afirmar que el binomio “inmigrantes ilegales” adopta un “tono innecesariamente peyorativo” y “es de sabios evitarlo”. El lenguaje peyorativo y discriminatorio puede tener consecuencias en la vida real. En este caso, los activistas observan con inquietud la coincidencia entre el uso cada vez más frecuente del apelativo “inmigrantes ilegales” y el incremento de los crímenes motivados por el odio contra todos los latinos. Por muy difícil que sea demostrar la relación causa-efecto, el National Institute for Latino Policy ha señalado que las estadísticas anuales del FBI sobre crímenes motivados por el odio de origen étnico muestran que los latinos constituyeron los dos tercios de esas víctimas en 2010. Cuando a alguien se lo describe repetidamente como algo, el lenguaje prepara silenciosamente el terreno para la acción violenta.

Melanie Cervantes

Pero la ocupación del lenguaje no sólo ha de preocuparse por las palabras que utilizamos; también debe trabajar para eliminar el racismo y la discriminación en el habla diaria. En el ámbito jurídico, la cadena CNN informó recientemente que, según el Departamento de Justicia de USA, el tristemente célebre sheriff de Arizona Joe Arpaio, entre otros delitos, ha discriminado a “presos latinoamericanos con insuficiente conocimiento del inglés castigándolos y negándoles servicios esenciales”. En la educación, como bien ha señalado la antropóloga lingüística Ana Celia Zentella, la hostilidad hacia quienes hablan “inglés con un acento” (asiáticos, latinos y usamericanos de origen africano) sigue siendo un problema. En la vivienda, hace mucho tiempo que la National Fair Housing Alliance (Alianza nacional para una vivienda justa) ha reconocido que los “acentos” tienen un papel importante en la discriminación en la vivienda . En el mercado laboral, la discriminación debida a la lengua se mezcla con cuestiones de raza, identidad étnica, clase y origen nacional y dificulta que los aspirantes bien calificados a un trabajo que hablan con un “acento” reciban un trato igualitario. Ante una discriminación tan extendida de origen lingüístico, la ocupación del lenguaje puede ser un movimiento crítico y progresista que denuncie la manera en que el lenguaje se utiliza como medida de control social, político y económico. Si ocupamos el lenguaje podremos arrojar luz sobre cómo se utilizan las instituciones educativas, políticas y sociales para marginar todavía más a los grupos oprimidos; podremos oponernos a las prácticas colonizadoras del lenguaje, que elevan la categoría de unas lenguas sobre otras; podremos oponernos a los intentos por definir a personas con términos arraigados en estereotipos negativos y podremos empezar a reformular el discurso público, tanto sobre nuestras comunidades como sobre el papel central del lenguaje en el racismo y la discriminación. Tal como ha demostrado el movimiento de los indignados de todo el planeta (entre ellos el Occupy), las palabras pueden poner en marcha a naciones enteras, incluso al mundo. La ocupación del lenguaje, concebida como movimiento, debería apelar al poder de las palabras para transformar nuestra manera de concebir el pasado, de actuar en el presente y de prever el futuro. Notas
[1] Se trata del equivalente en América del Norte del movimiento de los indignados europeos, a su vez inspirados en las revoluciones árabes norteafricanas, todo ello a lo largo de 2011. (NdelT)

[2] Eufemismo políticamente correcto muy en boga en las sociedades británica y usamericana, que siguen discriminando a los seres humanos de acuerdo con sus características raciales. Fernando Navarro, en su Diccionario crítico de dudas inglés-español de medicina (McGraw-Hill-Interamericana, Madrid 2005), dice lo siguiente: “Las expresiones colored people y the Colored (o coloured y the Coloured) son eufemismos frecuentes que están entrando también en nuestro idioma con la forma ‘personas de color’. Dado que no existen personas incoloras ni conozco ninguna persona que no tenga color, considero preferible evitar este eufemismo siempre que sea posible. Para terminar de complicar la cosa, algunos anglohablantes usan colored para referirse a cualquier persona que no sea de raza blanca (sobre todo en el inglés británico), otros lo usan en sentido más restringido para referirse exclusivamente a las de raza negra (sobre todo en el inglés norteamericano) y otros lo usan para referirse a la población mestiza o mulata (sobre todo en el inglés surafricano).” (NdelT)
Fuente: http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=6539

Serge Latouche: "Decrescimento" e crescimento econômico negativo

Decrecimiento, te guste o no


Según este economista, el decrecimiento ya está teniendo lugar. Pero no es lo mismo buscar el decrecimiento que sufrirlo.

Los partidarios del decrecimiento escuchan a menudo cosas como "¡el decrecimiento ya está teniendo lugar!". Es un poco apresurado. Nuestro crecimiento puede ser débil, pero todavía no hemos entrado en crecimiento negativo. Con un PIB demil billones de euros, un 1% de crecimiento sigue siendo diez billones, lo que equivale al 10% del PIB de un país con sólo cien billones de euros (niveles en los que se mueven los países del Sur). Esto sigue siendo demasiado para la regeneración de la biosfera. Pero, lo que es más importante, un proyecto de sociedad de decrecimiento es radicalmente diferente al crecimiento negativo. Lo primero sería comparable a un austero tratamiento al que nos sometemos voluntariamente para mejorar nuestro bienestar ante la amenaza de la obesidad por un consumo excesivo. Lo segundo sería una dieta forzosa que nos puede matar de hambre. Se ha dicho una y otra vez: no hay nada peor que una sociedad de crecimiento sin crecimiento.
Sabemos que si el crecimiento simplemente se ralentiza, nuestras sociedades se sumen en la confusión por causa del paro, el aumento de la brecha entre los ricos y los pobres, el descenso del poder adquisitivo de los más pobres de la sociedad y por el abandono de los programas sociales, sanitarios, educativos, culturales y medioambientales que aseguran un mínimo nivel de vida. Si tenemos que cambiar de dirección, este será el retroceso social y cultural al que nos tendremos que enfrentar. En una conferencia de 1974 titulada Su ecologismo y el nuestro, André Gorz afirmó: "Esta caída en el crecimiento y la producción que hubiera podido ser buena en otro sistema (menos coches, menos ruido, más aire, jornadas laboralesmás cortas, etc.) tendrá efectos completamente negativos: la producción contaminante se convertirá en un producto de lujo fuera del alcance de las masas, aunque seguirá estando al alcance de quienes se lo puedan permitir; las desigualdades crecerán, los pobres serán relativamente más pobres y los ricos, más ricos".
El decrecimiento tan sólo puede tenerse en consideración en una "sociedad de decrecimiento", es decir, como parte de un sistema basado en otra lógica. La alternativa es, por tanto, decrecimiento o barbarie. Una sociedad que elija vivir con sobriedad como sugieren aquellos que están en contra de las sociedades de crecimiento, implicaría trabajar menos para vivir mejor, consumir menos pero mejor, producir menos residuos y reciclar más. En pocas palabras recuperar el sentido de proporcionalidad y una huella ecológica sostenible. Buscar la propia felicidad en la interacción social y no en la acumulación frenética. Todo esto requiere una seria descolonización de nuestras mentes, pero las circunstancias nos pueden ayudar a conseguirlo. Los adictos al sistema ciertamente dirán que ya no volverán a ir de vacaciones a las Seychelles. Tendrán que conformarse. La edad de oro del consumismo en kilómetros ha quedado atrás. El deseo de viajar y la necesidad de aventura están, sinduda, inscritas en la esencia del hombre y son fuentes de enriquecimiento que no deberían desaparecer, pero la industria del turismo ha convertido la legítima curiosidad y la investigación educativa en una industria de consumo destructiva. Lo mismo le ha sucedido a la cultura y el tejido social de los países "de destino". El vicio de viajar cada vez más lejos, más rápido, más a menudo (y siempre con los precios más bajos) se debe reconsiderar a la baja. Ante la falta de petróleo y el desequilibrio climático, los viajes serán cada vez más cerca, menos frecuentes, más lentos y más costosos en dinero. A decir verdad, este vicio es tan serio únicamente por el vacío y el desencanto que nos hace vivir cada vez más virtualmente y viajar, en realidad, a expensas del planeta.
Woody Allen dijo que hemos llegado a una bifurcación decisiva. Un camino nos lleva a la extinción de la especie y el otro a la desesperación. Añade: "Espero que seamos capaces de tomar la decisión correcta". El primer desvío es el que hemos tomado. El segundo es el del crecimiento negativo que genera hambre, guerras, pandemias y que probablemente está controlado por un poder ecofascista o ecototalitario, cuyas premisas estamos ya experimentando. El decrecimiento representa una tercera vía: elegir la sobriedad. Para eso tenemos que crear otramanera de relacionarnos con el mundo, con la naturaleza, con las cosas y los seres que pueda ser universalizada en una escala humana. Las sociedades que autolimitan su capacidad para producir también son sociedades alegres.
Serge Latouche, profesor emérito de economía de la Universidad de Orsay
Texto traducido por AEIOU


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Explorando os limites de uma esquerda reformada - Tarso Genro

Explorando os limites de uma esquerda reformada

Por Tarso Genro
Zygmunt Bauman, na primeira carta do seu livro recentemente publicado no Brasil, “44 cartas do mundo líquido moderno” (Zahar, 2011, 226 pgs.), faz duas perguntas e apresenta uma conclusão provisória: “Como filtrar as notícias que importam no meio de tanto lixo inútil e irrelevante? Como captar as mensagens significativas entre o alarido sem nexo? Na balbúrdia de opiniões e sugestões contraditórias, parece que nos falta uma máquina de debulhar para separar o joio do trigo na montanha de mentiras, ilusões, refugo e lixo.”
A pergunta de Bauman tem tudo a ver com a impotência das esquerdas, principalmente nos países capitalistas mais desenvolvidos, para dar respostas a uma crise que vinha sendo prevista por alguns economistas, há mais de dez anos. Vê-se que esta, depois de revelada, apresenta características diferentes, sociais e econômicas, das anteriores. Tanto daquelas do fim do Século XIX, na Europa e na Rússia, como daquelas que ensejaram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, entremeadas pela crise aguda de 1929.
A compreensão destas diferenças é o que permitirá uma renovação do ideário e da estratégia da esquerda, em escala mundial, que atualmente se encontra em recesso conservador, como é caso da social-democracia. Uma outra parte da esquerda está fragmentada em milhares de pequenos grupos de idealistas, com causas confusas ou não raras vezes meramente corporativas.
Ambos os agrupamentos de esquerda identificam-se por estarem afastados dos cenários políticos onde se travam as batalhas pelos rumos da história: os cenários dos movimentos sociais de massas em defesa dos direitos prometidos pelas constituições modernas (teto, lazer, educação, informação livre, inclusão na sociedade de classes de maneira formal); e os cenários das disputas ideológicas com o projeto neoliberal, no âmbito da luta política democrática. A crise de personalidade da social democracia é, por outro lado, também uma crise da sua relevância na luta para ocupar governos e governar com coerência programática.
Suponho que as diferenças significativas para uma estratégia de esquerda, são aquelas que marcam os cenários, tanto nos países do centro do capitalismo como nos países “emergentes”: primeiro, a rapidez com que as crises contaminam o cenário global é a mesma rapidez – com fundamento nas mesmas tecnologias informacionais – que permite a manipulação dos seus efeitos e a criação de hegemonias artificiais, para a universalização dos “remédios” anticrise; segundo, os trabalhadores do setor público e os trabalhadores assalariados de boa renda ou renda razoável, estão separados dos pobres das periferias, dos imigrantes, dos favelados criminalizados, desempregados, intermitentes ou precários. Estes constituem “ameaças”, originárias de quem está excluído e cujas demandas, se aceitas pelos governos, podem exigir repartição de benefícios sociais e disputa pelos empregos dos que estão protegidos na formalidade.
Finalmente, uma terceira diferença substancial: as representações parlamentares dos partidos de esquerda livraram-se, em regra, daquela posição clássica de mera denúncia do “parlamento burguês”. Substituíram, porém, esta ideologia da destruição do Estado por uma ideologia que faz, em regra, das bancadas de esquerda, mais uma soma de posições corporativas do mundo do trabalho ou mesmo de setores empresariais, do que uma síntese programática em defesa de um padrão desenvolvimento alternativo e de um novo conteúdo democrático para a república. Neste sentido, as delegações parlamentares de esquerda aproximam-se, perigosamente, da prática tradicional dos partidos cujo sentido é perpetuar uma burocracia parlamentar-profissional, alheia a princípios programáticos.
As transformações do capitalismo, que “cindiram” o campo dos assalariados e dos pobres, em geral, unificaram os “de cima, a partir da força coercitiva do capital financeiro e da ciranda especulativa. Ao mesmo tempo, estas transformações e a necessidade de manejo da dívida pública de maneira “responsável” aproximaram do estado, em geral, os grandes grupos empresariais de comunicação e os grandes oligopólios privados.
Os estados, premidos pela dívida, e as corporações de empresas em geral (donas ou reféns dos bancos) constituem hoje (unidos todos pelas algemas da dívida pública) um “estado ampliado”. Por isso mesmo é, também, um estado que vem crescentemente renunciando as suas funções públicas originárias, inclusive aquelas de dar sustento, com juros subsidiados e aportes de infraestrutura, aos investimentos do setores produtivos estratégicos para o projeto nacional. Aqui, a lógica da globalização financeira e da dívida fala mais alto do que a ideia de nação, seja do ponto de vista do controle das riquezas naturais no território, seja do ponto da vista da formação de uma comunidade de destino que institui o “ethos” da nação.
O exemplo grego é emblemático. Não só no que se refere à “revogação” do referendo, feita pelo Banco Central Europeu, mas também no que refere às distintas reações políticas do mundo do trabalho, com suas diversas hierarquias públicas e privadas, para contestar o sacrifício das novas reformas.
Os trabalhadores, o povo grego em geral, os seus empresários nacionais, os seus setores médios empobrecidos, os seus agricultores, não apresentaram um programa alternativo de reformas, que implicasse numa nova relação com a União Européia. Não se uniram por uma saída alternativa para crise. Apenas “somaram” reivindicações de diversas categorias, públicas e privadas, de aposentados e pensionistas, de setores da indústria, sem compor um todo coerente em defesa de um novo modo de integração européia e de um novo estatuto de força para a comunidade política de esquerda, no âmbito da democracia, contra as tecnocracias financeiras. Os partidos que poderiam fazer isso, ou foram impotentes e fragmentários, ou foram coniventes ou omissos. Lembremos o que ocorreu na Grécia, na Espanha, na Itália, em Portugal…
Ao contrário do que ocorreu em outros períodos da História, nos quais os debaixo “pagavam” as crises com o desemprego e a recessão (na “destruição criativa” de que nos falava Marx), mas cobravam avanços sociais e, no mínimo, compartilhamento nas decisões de estado, no atual período -em cada crise- a esquerda sai mais enfraquecida. Uma parte dela já adotara os valores de uma desigualdade que seria modernizante e que, presumidamente, traria automaticamente melhorias para todos. A outra parte não construiu um programa de respostas, que instituísse uma nova correlação de forças política no plano interno (senão uma nova hegemonia), e ao mesmo tempo protegesse ou pelos menos sustentasse os direitos sociais já conquistados. A primeira parte da esquerda pulou o muro ou ficou encima dele e a segunda fez bravatas corporativas ou não tinha o que dizer.
Uma esquerda reformada não pode sair da tradição socialista, que, no atual período, significa concretamente opor a defesa dos direitos ao sucateamento dos direitos. Significa defender a globalização dos direitos sociais em conjunto com a globalização do capital. Defender a organização do consumo sustentável, combinada com a regulação social do mercado. Significa defender a solidariedade aos ex-países coloniais e a sua gente imigrada, opondo-se ao racismo e à xenofobia. Significa defender a estabilidade da democracia parlamentar e das instituições republicanas, combinadas com a participação direta e virtual da cidadania. Uma esquerda renovada defenderá políticas de desenvolvimento regional que partam da valorização da bases produtivas locais e da valorização das suas respectivas culturas. A esquerda renovada deve, enfim, repor no discurso político e nas ações de governo, a agenda do combate às desigualdades, tão cara à tradição socialista, social-democrata ou meramente republicano-democrática, que o neoliberalismo conseguiu arquivar.
O grande Giovanni Arrighi, falecido em 2009, chegou a ter esperança num mundo “não-hegemônico”, cessados os efeitos da crise, em função da emergência da China e da policentralidade mais expressiva, que fatalmente adquiriria o capitalismo no período pós-crise. Tal mundo não se confirmou, lamentavelmente, mas as diferenças sul-norte, hoje, tem novas características políticas. As experiências latino-americanas de não aceitar passivamente as cartilhas neoliberais, embora as campanhas difamatórias contra todos os governos que se opuseram ao “caminho único”, abrem novas perspectivas para o discurso e para as práticas de governo da esquerda.
A esquerda, agora, precisa derrotar a direita – além das derrotas eleitorais que já lhe infringiu – no terreno das ideias, no terreno da cultura política. Isso significa salvar a democracia, com um programa aplicável e realista cujo limite, ao mesmo tempo radical e amplo, é dar efetividade às promessas de justiça e igualdade, que estão no âmago das constituições modernas, tão duramente conquistadas ao longo de duzentos anos de lutas.
A derrota da democracia pela manipulação da informação, pela falta de crença popular na efetividade dos direitos que modernamente lhe caracteriza, pela destruição da esfera da política com a desmoralização de todos os partidos e das práticas de gestão democrática, seria a derrota final da idéia do socialismo. A partir daí só poderá sobrevir a anomia e a barbárie. Quem precisa, hoje, apelar para práticas clandestinas, nos obscuros porões das agências de risco, é a direita neoliberal e os seus servos na tecnocracia dos partidos conservadores.
No atual período histórico, finalmente, a democracia política, que era a cortesã escondida do socialismo, passa ser sua única companheira. Democracia e socialismo estão fundidos no programa de direitos e nas oportunidades de luta abertas firmemente pelas constituições democráticas.
Tarso Genro é Governador do Rio Grande do Sul
Do Portal Carta Maior

A pergunta que os europeus se fazem: por que os Estados se endividaram tanto?; em esp.

Indudablemente, la cuestión del pago de la deuda pública constituye un tabú. Los jefes de Estado y de gobierno, el Banco Central Europeo (BCE), el Fondo Monetario Internacional (FMI), la Comisión Europea y la prensa dominante lo presentan como inevitable, indiscutible y obligatorio. Los ciudadanos y las ciudadanas se deberían resignar a pagar la deuda pública. La única discusión posible sería sobre la forma de modular el reparto de los sacrificios necesarios para liberar los medios presupuestarios suficientes, con el fin de cumplir con los compromisos del país endeudado. Los gobiernos que pidieron los préstamos fueron elegidos democráticamente, por lo tanto sus actos son legítimos. Se debe pagar.
La auditoría ciudadana es un instrumento para eliminar este tabú. Permite que una proporción creciente de población comprenda todas las circunstancias e implicaciones del proceso de endeudamiento de su país. Una auditoría ciudadana consiste en analizar de manera crítica la política de endeudamiento llevada a cabo por las autoridades de un país.

Las preguntas que es necesario plantear
¿Por qué el Estado fue empujado a contraer una deuda que no deja de crecer?
¿Al servicio de qué opciones políticas y de qué intereses sociales ha sido contraída la deuda?
¿Quién se aprovecha de ella?
¿Era posible hacer otras opciones o era necesario?
¿Quiénes son los prestamistas?
¿Quiénes son los tenedores de la deuda?
¿Los prestamistas ponen condiciones para la concesión de los préstamos? ¿Cuáles?
¿Cuál es la ganancia de los prestamistas?
¿Por qué el Estado se vio comprometido, cuál fue su decisión, y bajo que concepto fue tomada?
¿Cuál es el monto de los intereses pagados, con qué tipo de interés, qué parte del principal ha sido ya reembolsada?
¿Mediante qué mecanismo las deudas privadas se convirtieron en «públicas»?
¿Bajo qué condiciones se hizo un determinado rescate bancario? ¿Cuál fue el coste? ¿Quién tomó la decisión?
¿Debemos indemnizar a los accionistas que son responsables del desastre, con administradores que ellos mismos habían designado?
¿Cuál es la parte del presupuesto del Estado que está destinado al reembolso del capital y de los intereses de la deuda?
¿Cómo financia el Estado el pago de la deuda?
No es necesario entrar en secretos de Estado para encontrar las respuestas
Para responder a todas estas preguntas —y la lista no es exhaustiva— no hay ninguna necesidad de revelar secretos de Estado, de acceder a documentos no públicos del Banco Central, del Ministerio de Economía, del FMI, del BCE, de la Comisión Europea, de las cámaras de compensación como Clearstream o Euroclear, |1| o de contar con las confidencias de una persona que trabaja en el seno de uno de estos organismos. Por supuesto, habrá numerosos documentos protegidos celosamente por los gobiernos y los banqueros, que deberán ser puestos a la disposición del público y que serán muy útiles para afinar el análisis. Por lo tanto hay que exigir el acceso a la documentación necesaria para una auditoría completa. Sin embargo, es perfectamente posible proceder a un examen riguroso del endeudamiento público a partir de información de dominio público. Numerosas fuentes son accesibles para quien desee tomarse el trabajo: prensa, informes del Tribunal de Cuentas, las sitios Internet de las instituciones parlamentarias, del banco nacional, de la agencia encargada de la gestión de la deuda, de la OCDE, del Banco de Pagos Internacionales (BPI), del BCE, de los bancos privados, de las organizaciones o colectivos que ya se hubieran lanzado al estudio crítico del endeudamiento (www.cadtm.org, www.attac.org, www.quiendebeaquien.org/ ,...) los archivos de colectividades locales, los informes de las agencias de calificación e incluso las memorias de tesistas. No se debe dudar en pedir a los parlamentarios que planteen preguntas públicas al gobierno o a mandatarios locales de hacerlo ante las colectividades locales.
La auditoría no es una cuestión de expertos
El proceso de una auditoría no es un proceso reservado a expertos. Por supuesto que son bienvenidos y que pueden aportar mucho al trabajo colectivo de una auditoría ciudadana. Pero un colectivo puede comenzar el trabajo sin tener necesariamente garantizada esa participación. Si se empiezan las investigaciones y se provoca un debate público, durante el proceso los colectivos se entusiasmarán y conseguirán diferentes asesoramientos. Cada uno y cada una pueden tomar parte y ponerse a trabajar para sacar a la luz del día el proceso de endeudamiento público. En 2011, un colectivo nacional se ha puesto en marcha en Francia por una auditoría ciudadana de la deuda (www.audit-citoyen.org). Reúne numerosos movimientos sociales y políticos, y el llamamiento a su constitución fue firmado por decenas de miles de personas. En el marco de esta iniciativa, se han organizado colectivos locales en muchos lugares de Francia. Por otro lado, se puede partir de realidades locales con el objetivo de participar en la auditoría de las deudas públicas. Se puede comenzar analizando los préstamos estructurados vendidos a las colectividades locales en Francia y Bélgica por Dexia u otros bancos. A este propósito, un trabajo ya fue realizado: la asociación «Acteurs publics contre les emprunts toxiques» o sea «Actores públicos contra préstamos tóxicos» reúne una decena de colectividades locales (www.empruntstoxiques.fr). Se puede también comenzar por estudiar las dificultades financieras encontradas en los hospitales públicos presentes en vuestro territorio. Se están desarrollando, al mismo tiempo que en Francia, iniciativas por auditorías ciudadanas en Grecia, en Irlanda, en España, en Portugal, en Italia y en Bélgica.
Otros ámbitos en materia de deudas privadas también pueden abordarse. En países como España o Irlanda en los que el estallido de la burbuja inmobiliaria hundió a centenares de miles de familias en la ruina, sería útil investigar las deudas hipotecarias de las familias. Las víctimas de los manejos de los prestamistas pueden aportar sus testimonios y ayudar a comprender el proceso ilegítimo de endeudamiento que las afecta.
Un campo de acción muy rico
El campo de acción de una auditoría de la deuda pública es enormemente prometedor y no tiene nada que ver con su caricatura, que lo reduce a una simple verificación de cifras realizadas por contables rutinarios. Más allá de ese control financiero, la auditoría tiene un papel eminentemente político ligado a dos necesidades fundamentales de la sociedad: la transparencia y el control democrático del Estado y de sus gobernantes por los ciudadanos.
Se trata de necesidades que se refieren a los derechos democráticos totalmente elementales, reconocidos en el derecho internacional, el derecho interno y la Constitución, aunque sean violados continuamente. El derecho de control que tienen los ciudadanos sobre aquellos que los gobiernan, de informarse de todo lo que concierne a su gestión, sus objetivos y sus motivaciones es intrínseco a la propia democracia. Esto emana del derecho fundamental de los ciudadanos a ejercer su control sobre el poder y de participar activamente en los asuntos públicos y por lo tanto comunes.
El hecho de que los gobernantes se opongan a la idea de que los ciudadanos y ciudadanas osen realizar una auditoría ciudadana es revelador de una democracia muy enferma. Que por otra parte no para de bombardearnos mediáticamente con su retórica sobre la transparencia. Esta necesidad permanente de transparencia en los asuntos públicos se transforma en necesidad social y política totalmente vital, y por esta razón, la verdadera transparencia es la peor pesadilla para las elites.
Una auditoría ciudadana para el repudio de la deuda ilegítima
La realización de una auditoría ciudadana de la deuda pública, combinada, gracias a una importante movilización popular, con una suspensión del reembolso de la deuda pública, debe llevar a la anulación/repudio de la parte ilegítima de la deuda pública y a una reducción drástica del resto de esa deuda.
No es cuestión de apoyar los alivios de deuda decididos por los acreedores, especialmente a causa de las severas contrapartidas que implican. La anulación de la deuda, que desde ese momento es un repudio por el país deudor, es un potente acto soberano unilateral.
¿Por qué el estado endeudado debe reducir radicalmente su deuda pública al proceder a la anulación de las deudas ilegítimas? En primer lugar por razones de justicia social, pero también por razones económicas que cualquiera puede comprender y apropiárselas. Para salir de la crisis de forma satisfactoria, no podemos contentarnos de reactivar la economía gracias a la demanda pública y a la de las familias. Puesto que si nos contentamos con una política económica de reactivación combinada a una reforma fiscal redistributiva, el suplemento de la recaudación fiscal será absorbido en gran parte por el pago de la deuda pública. Las contribuciones que se impondrán a las familias más ricas y a las grandes empresas privadas (nacionales o extranjeras) estarán ampliamente compensadas por la renta que obtendrán de las obligaciones del Estado, ya que por lejos son los principales tenedores y beneficiarios (razón por la cual no quieren ni oír hablar de una anulación de la deuda). Por lo tanto es necesario anular una gran parte de la deuda pública. La amplitud de esta anulación dependerá del nivel de conciencia de la población víctima del sistema deuda (en este nivel, la auditoría ciudadana cumple una función crucial), de la evolución de la crisis económica y política y sobre todo de las relaciones de fuerza concretas que se construyen en la calle, en las plazas y en los lugares de trabajo mediante las actuales movilizaciones y las que estén por venir.
La reducción radical de la deuda pública es una condición necesaria pero no suficiente para que los países de la Unión Europea puedan salir de la crisis. Se necesitan medidas complementarias: reforma fiscal redistributiva, transferencia del sector de las finanzas al ámbito público, resocialización de otros sectores claves de la economía, reducción del tiempo de trabajo con el mantenimiento del salario y contratación compensatoria, y tantas otras medidas |2| que permitirían cambiar radicalmente la situación actual que llevó al mundo a un explosivo callejón sin salida.
Traducido por Griselda Pinero.
notes articles: |1| Clearstream y Euroclear están entre las principales cámaras de compensación (clearing houses) y poseen el registro de una gran parte de los títulos de deuda pública en poder de los bancos. Una cámara de compensación es un organismo que calcula las sumas netas a pagar y que ejecuta los pagos. La compensación es un mecanismo que permite a las instituciones financieras pagar los montos adeudados y recibir los activos correspondientes a las transacciones que ellas efectuaron en los mercados. De esa manera, las instituciones financieras sólo tienen flujos financieros y de títulos con las cámaras de compensación.
|2| Véase http://www.cadtm.org/Ocho-propuesta...
Damien Millet es portavoz del CADTM Francia (www.cadtm.org);
Éric Toussaint es doctor en ciencias políticas, presidente del CADTM Bélgica, miembro de la Comisión de la auditoría integral de la deuda (CAIC) del Ecuador y del Consejo Científico de ATTAC Francia.
Ambos dirigieron el libro colectivo La Deuda o la Vida, Icaria editorial, Barcelona 2011, que recibió el Premio del libro político en la Feria del libro político de Lieja en 2011. Eric Toussaint participó también en el libro de ATTAC: Le piège de la dette publique. Comment s’en sortir, éditions Les liens qui libèrent, París, 2011.
www.cadtm.org/Auditoria-ciudadana-de-la-deuda,7426
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