Artigos, ensaios, pesquisas de interesse geral - política, cultura, sociedade, economia, filosofia, epistemologia - que merecem registro
terça-feira, 22 de abril de 2025
MARX sociabilidade x socialidade
O homem, este ser sui generis que nasce do próprio parto, para Marx não preexiste ao trabalho, mas emerge do mundo natural
formando-se em e por seu próprio trabalho. a tividade livre, consciente, constitui o caráter genérico do homem.”11
Com isso, já se pode perceber que a constituição do ser social, tal como concebido por Marx, não parte de nenhum imperativo da
razão - isto é, gnosiológico - mas, separando-se do mundo natural, põe ontologicamente suas próprias categorias. Isto é Marx mesmo
que o afirma: “(...) os sentimentos, as paixões etc., do homem não são simples características antropológicas no sentido restrito, mas verdadeiras afirmações ontológicas do ser (...).12
(..) SOCIALIDADE em Aristóteles, = substancialidade do modo de ser do homem. Marx: SOCIABILIDADE = os modos e
formas de relacionamento dos indivíduos nos diversos tipos de sociedade. Ideia presente em O Capital: "O homem é o suporte de relações sociais..." Sai-se do ontológico -universal, comum à espéce - para o existencial, o existente, contextual.
de Marx” Este giro ontológico na definição do homem, em franca ruptura com a tradição filosófica do iluminismo, pode-se observar também na seguinte passagem de A Ideologia Alemã: “pode-se distinguir os homens dos animais pela
consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam
a se diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida,
passo este que é condicionado por sua organização corporal” “A Ideologia Alemã, p. 27. Ed. Hucitec, 9ª edição.
Observação minha: Não se hierarquizam ps valores humanos - logos - homo sapiens, homo faber, homo ludens.
MARX E A COMUNA RUSSA ZASULICH BBB
Open-access Marx e os outros
Marx and the others
https://www.scielo.br/j/ln/a/cvKfx7RrNSkwMCTfLdMKXRh/?lang=pt&format=html
Lua Nova (91) • Abr 2014 • https://doi.org/10.1590/S0102-64452014000100008
(,,,) Se existe uma ruptura entre as sociedades sem classes e as sociedades de classes, como pensá-la, assim como seus elos também existentes? Ao reconhecer essa diferença-chave entre sociedades sem classes e sociedades de classe, o que pensar dos estágios de desenvolvimento? Como vimos, em A ideologia alemã, Marx e Engels rejeitam qualquer "teoria histórico-filosófica" e situam sua argumentação sobre "evolução histórica" com algumas abstrações. E, em seus escritos a partir da década de 1860, Marx vai ignorar ou deixar de lado qualquer sistema classificatório geral; em O capital não há lista dos modos de produção, somente é citada a sequência europeia ocidental - isto é, escravismo, feudalismo e capitalismo. Ao não usar os estágios da mesma forma que o havia feito anteriormente, Marx escapa de apreensões esquemáticas, pois "uma vez 'capturados' no movimento da história universal, os espaços não europeus teriam como destino o de repetir as etapas do percurso tomado pelo Europa".
A compreensão de Marx aproxima-se de uma perspectiva de multiplicidade de tempos e de relações sociais que são, também, contemporâneas. Há certa sucessão no tempo, mas também curtos-circuitos. Isso torna possível pensar numa articulação outra que não uma linha linear e progressiva do tempo histórico. Permite, assim, compreender a questão da diferença entre sociedades de e sem classes por uma via diferente. Nesse sentido, o filósofo italiano Sandro Mezzadra critica o discurso hegeliano de expansão e mundialização do espírito e da racionalidade a partir da Europa, argumentando que este cria uma divisão temporal e espacial e uma dicotomia entre história e não história. Dessa forma, "a fronteira era precisamente construída como absoluta para ser ultrapassada. A expansão colonial encontrava-se assim inscrita nos pressupostos epistêmicos da modernidade europeia" (Mezzadra, 2006, pp. 76-77).
A narração linear, do centro em direção à periferia, é substituída por uma inter-relação permanente. Por via de uma mútua influência, as colônias constituem laboratórios da modernidade tanto quanto as metrópoles. Trata-se de um sistema mundial híbrido e, assim, não faz sentido opor "tradição" e "modernidade", pois as "civilizações pré-coloniais são em muitos casos muito avançadas, ricas, complexas e sofisticadas; e as contribuições dos colonizados à assim chamada civilização moderna são substancial e em grande medida não reconhecidas" (Hardt e Negri, 2009, p. 68). Além disso, com a expansão - quase ao limite do planeta - do modo de produção capitalista, todos estamos inseridos numa mesma contemporaneidade.
Tais contemporaneidade e simetria dos tempos estão presentes nos elos entre comunismo primitivo e comunismo por vir. Para Marx e Engels, o sistema capitalista "criou pela primeira vez a história mundial". Esta nem sempre existiu. Trata-se de um resultado e o comunismo é entendido nesse contexto, pois "pressupõe o desenvolvimento universal da força produtiva e o intercâmbio mundial associado a esse desenvolvimento" (Marx e Engels, 2007 [1845-1846], p. 60).
Marx conjuga, como o apontou Claude Lefort, uma história evolutiva - via o desenvolvimento das forças produtivas - e uma repetitiva - ligada à comunidade mediadora entre produtores e fatores de produção. Assim, "o pré-capitalismo é apreendido desde o capitalismo, como seu outro" (Lefort, 1978, p. 338; grifo do autor) e, numa revolução copernicana, o que deve ser explicado é a separação dos trabalhadores dos seus meios de produção. Esta - e não o contrário - é a exceção. Como vimos, a conclusão de Morgan é retomada por Marx e Engels, assim como as formas sociais igualitárias e sem classes constituem inspiração para futuras organizações. O mir deveria, dessa forma, romper seu isolamento e utilizar a modernidade e suas tecnologias.
A compreensão do "comunismo primitivo" relaciona-se com uma dimensão metodológica das Formen. Trata-se do método regressivo e não de uma perspectiva que busca demonstrar o progresso. Marx parte da fundamental separação dos trabalhadores dos seus meios de produção - a terra sobretudo - "para então investigar as formas de unidade que foram sendo negadas, dissolvidas, suprimidas, ao longo da evolução social" (Quartim de Moraes, 1995, p. 116). Mais do que o "comunismo primitivo" existiriam, assim, comunismos primitivos ou uma multiplicidade de formações sociais sem classes que a antropologia investiga. Marx toma um caminho não de buscar um esquema totalidade de progresso, mas algo no sentido de opor à apropriação privada diversas formas comunais. Não pensa numa sucessão linear de modos de produção e os processos inglês e europeu ocidental não são antecipação dos demais.
Retomando a questão das enclosures, condição do surgimento do capitalismo, a destruição que essas causam não se situa unicamente no meio de vida e subsistência dos camponeses pobres, mas principalmente numa "inteligência coletiva concreta, ligada a esse comum do qual todos dependiam" (Stengers, 2009, p. 108), num patrimônio comum de criações coletivas. A filósofa belga Isabelle Stengers propõe, assim, um deslocamento da famosa frase do Manifesto já citada sobre a história das lutas de classes, pensando que descendemos ou das bruxas - isto é das criações coletivas pré-capitalistas - ou de seus caçadores; do pensamento dominante e unificador (capitalista) ou dos múltiplos comuns. O que uniria essas relações sociais pré-capitalistas tão distintas? Ao menos o fato de a expansão capitalista buscar destruí-las todas. Em termos marxistas, trata-se da oposição dessas diferentes formas sociais e econômicas à apropriação privada.
Tal perspectiva não seria, pensa-se, estranha a Marx, pois este afirma que "a história do declínio das comunidades primitivas ainda deve ser escrita (seria incorreto colocar todas no mesmo plano, até agora temos só esboços)" (Marx, 1983, p. 107). O autor pensa, além disso, nos potenciais revolucionários dessas formas sociais outras. Ou seja, o sentido de "comunismo primitivo" refere-se mais a um antagonismo à apropriação privada que uma mesma forma de todos os povos numa etapa inicial. Para apreender tais relações sociais, necessita-se, como Marx colocou no caso russo, descer da teoria pura rumo à realidade. Nesse contexto, situa-se a força da antropologia, já que as diversas formas de "comunismo primitivo" - e inclusive a pertinência ou não deste conceito - não são pensáveis sem sua contribuição específica.
(...) Marx troca sistematicamente "propriedade" por "posse" nesses Cadernos, indicando a comunidade como proprietária e os indivíduos como possuidores da terra.
Ademais, o autor reforça sua visão de uma diversidade dos caminhos do desenvolvimento histórico dos povos, ironizando os feudalismos encontrados por Kovalevsky. Em muitas partes do mundo, não ocorreu transição entre duas formas de propriedade privada, da feudal para a capitalista, mas sim de uma forma comunal para uma privada. Não se trata de pensar uma sucessão progressiva, mas a existência de "formas sociais particulares que precederam indistintamente o surgimento do regime capitalista em distintas zonas geográficas do planeta", indicando uma "extraordinária diversidade das modalidades organizativas da sociedade humana e, em particular, sobre a existência de uma muito longa etapa da vida comunitária de todos os povos" (García Linera, 2009, p. 237). Caminhos a serem descobertos e enriquecidos.
A propriedade comunal deixa de ser localizada em um só lugar (Índia) ou em alguns (Índia e Europa) para se generalizar, sendo assim o início da trajetória de todos os povos. A propriedade comunal da terra como instituição primeira para Engels. Nos anos 1880, a Índia é considerada somente uma das extremidades de um arco de sociedades de propriedade coletiva; "a partir desse momento para Engels a forma típica do comunismo primitivo é a forma social das tribos americanas analisadas por Morgan, e não mais a forma das sociedades asiáticas". Desse modo, na tradução inglesa de Ocapital (na publicação de 1887), Engels tira o termo "oriental" da expressão "propriedade comum oriental" (Thorner, 1969, p. 363). Nesse contexto, a discussão sobre a comuna russa e sobre Morgan liga-se diretamente ao pensar em Marx num contexto latino-americano.
Se existe uma ruptura entre as sociedades sem classes e as sociedades de classes, como pensá-la, assim como seus elos também existentes? Ao reconhecer essa diferença-chave entre sociedades sem classes e sociedades de classe, o que pensar dos estágios de desenvolvimento? Como vimos, em A ideologia alemã, Marx e Engels rejeitam qualquer "teoria histórico-filosófica" e situam sua argumentação sobre "evolução histórica" com algumas abstrações. E, em seus escritos a partir da década de 1860, Marx vai ignorar ou deixar de lado qualquer sistema classificatório geral; em O capital não há lista dos modos de produção, somente é citada a sequência europeia ocidental - isto é, escravismo, feudalismo e capitalismo. Ao não usar os estágios da mesma forma que o havia feito anteriormente, Marx escapa de apreensões esquemáticas, pois "uma vez 'capturados' no movimento da história universal, os espaços não europeus teriam como destino o de repetir as etapas do percurso tomado pelo Europa".
Assinar:
Postagens (Atom)