terça-feira, 4 de setembro de 2012

O afundamento da classe média nos EUA

Publicado originalmente sob o título "Porque você está muito mais pobre do que pensava estar"

Do Carta Maior 
Cerca de 61% de todos os estadunidenses eram “classe média” em 1971, enquanto, hoje, o número caiu para 51%. A classe média está envolvida em uma guerra até a morte nos Estados Unidos com os agentes de Wall Street que pretendem privá-los do trabalho, tirar seus ativos, executar a hipoteca de suas casas, e deixá-los sem nenhum dinheiro para enfrentar a velhice. É apenas uma boa e velha luta de classes – e como Warren Buffett opinou – a classe dele está ganhando. 
O artigo é de Mike Whitney. 
De acordo com um relatório da Sentier Research “a renda média anual real por domicílio caiu 4,8% desde que a ‘recuperação econômica’ começou em junho de 2009.” Isso é pior do que o declínio de 2,6% que ocorreu durante a recessão em si (entre julho de 2007 e junho de 2009) Ao todo – do começo da crise em 2007 até hoje, a renda média domiciliar caiu impressionantes 7,2%. (“Mudanças na Renda Domicilar Durante a Recuperação Econômica: Junho de 2009 a Junho de 2012”, Sentier Research) Como eu disse, você está muito mais pobre do que você pensava estar. O relatório Sentier Research vem em sequência a um relatório similar do Federal Reserv (FED) que foi lançando em junho mostrando que as famílias de classe média viram um declínio de aproximadamente 40% em seu patrimônio líquido entre os anos de 2007 e 2010. O relatório de 80 páginas do Fed, Survey of Consumer Finances, aponta para a Grande Recessão como a causa presumível do declínio geral da riqueza, mas as políticas desequilibradas do Fed podem ser facilmente responsabilizadas. Baixas taxas de juros, frouxos padrões de empréstimos e fraudes geraram bolhas em ativos que destruíram duas décadas de ganhos econômicos dos trabalhadores nos EUA. É uma coisa surpreendente, por que a confiança do consumidor está no seu mais baixo ponto desde novembro de 2011? Ou por que investidores não-profissionais ainda estão fugindo do mercado de ações em números recordes 4 anos após a falência do Lehman Brother? Ou por que os rendimentos dos títulos do Tesouro Americano de 10 anos ainda estão pairando abaixo dos 2%? Ou por que os depósitos bancários agora excedem muito os empréstimos? Todos esses são sinais extremos para se pensar, por isso que os trabalhadores têm tido uma visão tão obscura sobre o futuro. Você sabia que (de acordo com o Pew Research Center) 61% de todos os estadunidenses eram “classe média” em 1971, enquanto, hoje, o número foi cortado para 51%? Isso explica porque 85% das pessoas entrevistadas dizem “que é mais difícil manter um padrão de classe média hoje do que comparado com 10 anos atrás.” A maioria das pessoas também admitiu que teve que reduzir seus gastos no ano passado. O que todos esses relatórios indicam é que a classe média dos EUA está sendo esquartejada pelas políticas econômicas que servem para enriquecer poucos a custa de muitos. É claro, o presidente do Fed Ben Bernanke vai “colocar as coisas no eixo” ao lançar outra rodada de afrouxamento quantitativo (“quantitative easing” – QE) que supostamente impulsionará o crescimento e diminuirá o desemprego. Infelizmente, QE não funciona desse modo. De fato, o Banco da Inglaterra acaba de lançar um relatório que prova que as compras de ativos do Banco Central desproporcionalmente beneficiam os ricos. Aqui está um trecho do artigo que foi publicado no Washington Post: “Os 10% mais ricos dos domicílios na Grã-Bretanha viram o valor de seus ativos aumentar por até £322.000 [$510.000] como resultado de tentativas do Banco da Inglaterra de usar a criação de dinheiro eletrônico para tirar a economia de sua mais profunda crise pós-guerra. O Banco da Inglaterra calculou que o valor de ações e títutlos subiu 26% - ou £600 bilhões – como resultado da política, o equivalente a £10.000 para cada domicílio no Reino Unido. Acrescenta-se, entretanto, que 40% dos ganhos foram para os 5% mais ricos das famílias.” Não é difícil ver por que isso acontece. Uma forma pela qual o programa de flexibilização quantitativa funciona, em teoria, é empurrar os preços dos ativos para apoiar a economia. E, de acordo com o Banco da Inglaterra, a família média britânica mantém apenas $2.370 em ativos financeiros. Então os benefícios diretos em grande parte são revertidos para as famílias mais ricas. E nos Estados Unidos? Bem como na Grã-Bretanha, a distribuição de ativos financeiros também é fortemente enviesada. ... Assim, qualquer movimento do Fed para elevar os preços dos ativos tende a aumentar a desigualdade de riqueza no curto prazo.” (“Will the Fed’s efforts to boost the economy only benefit the wealthiest?”, Washington Post). Então QE é apenas uma farsa para encher o bolso da classe de investidores. Imagine isso! Foram necessários 4 anos e um grupo de pesquisadores de gênios finaceiros BOE para descobrir isso. E aqui está outra coisa sobre a qual vale a pena se debruçar; trabalhadores estão ficando totalmente prejudicados no negócio. Não apenas os poupadores e os aposentados de renda-fixa que sendo roubados dos ganhos insignificantes que teriam visto se as taxas estivessem em seu nível normal ao invés de zero, mas também a perspectiva de mais QE gera elevações futuras de petróleo, enquanto preços de alimentos com certeza subirão. Isto é da Bloomberg, em um artigo intitulado “Bernanke Boosts Oil Bulls to Highest Since May: Energy Markets”: “Os fundos de hedge levantaram apostas otimistas sobre o petróleo, para uma alta de três meses, baseado em sinais de que o presidente do Federal Reserve, Ben S. Bernanke, tomará medidas para reforçar o crescimento econômico norte-americano e estimular a retomada de forças nas commodities. Gestores de dinheiro aumentaram “long positions” líquidas, ou apostas na elevação de preços, em 18% nos sete dias encerrados em 21 de Agosto, de acordo com o relatório da Commodity Futures Trading Commission’s Commitments of Trades de 24 de Agosto. Eles estavam no nível mais alto desde a semana encerrada em 1º de Maio.” (Bloomberg) Preços mais altos na bomba. Isso deve acelerar os gastos do consumidor, você não acha? Ainda assim, Bernanke e seus colegas no Fed não vão ser desencorajados por algo tão insignificante como as agruras do povo trabalhador. Oh, não. Afinal, ele tem seus eleitores reais para considerar, os parasistas barões ladrões de Wall Street. Suas necessidades vêm primeiro e o que eles querem é outra rodada de “funny-money” e então encher a despensa no Hamptons com Beluga e espumante. É por isso que membros do Fed já começaram a cantar por “mais acomodação”. Aqui está o que o Presidente do Fed de Chicago Charles Evans disse na última semana da em seu boletim de tom sinistro, entitulado “Some Thoughts on Global Risks and Monetary Policy”: “Encontrar uma forma de oferecer mais acomodação... é particularmente importante agora porque os atrasos na redução do desemprego são custosas. Uma extraordinarimente grande porcentagem dos desempregados ficaram sem trabalho por um bom período de tempo; suas habilidades podem se tornar menos fluentes e até mesmo entrar em deterioração, deixando trabalhadores afetados com cicatrizes permanentes em suas receitas da vida útil. E qualquer produtividade agregada resultante mais baixa também pesa sobre o produto potencial, salários e lucros para a economia como um todo. O dano intensifica enquanto o desemprego permanecer elevado. Falhar na ação agressiva agora pode baixar a capacidade da economia por muitos anos... Dados os riscos que nós encaramos, eu acho que é vital que nós façamos esses movimentos hoje. Eu não acho que nós deveríamos estar em um mundo onde nós estamos esperando pra ver o que os próximos lançamentos de alguns dados tem a trazer. Nós passamos do limite para ação adicional, devemos tomar essa atitude agora.” Que amargura! Será que alguém realmente acredita que o presidente do Fed dá a mínima atenção sobre reduzir desemprego? É uma piada. E onde está a prova de que QE reduz desemprego, aumenta salários ou beneficia a economia como um todo? Em nenhum lugar. A ideia de “acomodação” é apenas outro jeito de encher seus amigos ricos de dinheiro. Agora veja isto no Wall Street Journal: “Durante a recessão, as pessoas que perderam empregos de longa data se esforçaram para encontrar novo emprego e geralmente sofreram cortes substanciais no salário quando encontravam um novo trabalho. Pouco parece ter mudade depois que a recessão terminou, mostra um novo relatório do Labor Department. De 2009 a 2011, 6,1 milhões de trabalhadores perderam empregos que eles haviam mantido por pelo menos 3 anos. Pouco mais da metade – 56% - deles foram reempregados até janeiro, departamento descobriu em sua mais recente pesquisa sobre trabalhadores desempregados. Dois anos atrás, a pesquisa encontrou que 49% das pessoas que perderam seus empregos entre 2007 e 2009 foram reempregadas. Pessoas com sorte suficiente para encontrar um novo emprego geralmente sofrem exagerados cortes salariais. Dos trabalhadores desempregados que perderam seus empregos, e salários, de tempo integral, de 2009 a 2011 e foram reempregados em Janeiro, apenas 46% estavam recebendo o mesmo ou mais do que eles ganhavam no emprego perdido. Um terço deles relatou que os rendimentos caíram 20% ou mais.” (“New Jobs Come With Lower Wages”, Wall Street Journal) Assim, mesmo as pessoas “com sorte suficiente para encontrar um novo emprego” estão piores do que elas estavam antes. Ei, mas ao menos ela encontrou um emprego, certo? E as pessoas que não conseguiram nem encontrar um trabalho? O que acontecerá a eles? Não se preocupe. Obama e seus companheiros cortadores-de-déficit no Congresso têm tudo planejado. Assim que a eleição acabar, o Presidente Socialista começará dispensando as pessoas dos benefícios para desemprego prolongado, tão rápido quanto é humanamente possível, deixando milhões de trabalhadores sem dinheiro suficiente para morar ou alimentar suas famílias. Aqui está como está tudo indo abaixo: “Mais de 500 mil pessoas perderam benefícios para desemprego prolongado desde o início do ano, e mais 2 milhões estão agendadas para perder seus benefícios em 1º de janeiro de 2013.... Emergency Unemplyment Compensation (EUC), está programada para acabar completamente em 1º de Janeiro, encerrando pagamentos de desemprego para mais de 2 milhões de pessoas da noite para o dia. Com o início do novo ano, não haverá nenhuma parte do país que ofereça mais de 26 semanas de benefícios de desemprego. Isso é muito menos do que a duração média do desemprego, que tem pairado em cerca de 40 semanas para mais de um ano..... Apesar do impacto desastroso dos cortes, eles foram largamente ignorados tanto pela grande mídia quanto nas eleições norte-americanas. Além disso, a administração Obama já deixa saber que não buscará uma renovação de auxílio-desemprego estendido.” (“Extended jobless benefits end for 500,000 US workers”, World Socialist web Site) Você pode ver quão bem isso segue a campanha anti-obesidade de Michelle? A administração planeja aumentar a “flexibilidade” dos trabalhadores, colocando milhões de desempregados em uma dieta radical. E, não se engane, desemprego é apenas um de muito programas que Obama planeja eviscerar após a contagem de votos. Ele também esta indo para o zero – na Segurança Social, Medicare e Medicaid. Eles estão todos no bloco de corte, cada um deles. É disso que o chamado Fiscal Cliff se trata; é farsa em relações públicas para esconder o plano de Obama para desmantelar os programas vitais que fornecem remédios, abrigo e uma aposentadoria insuficiente para os doentes, os carentes e os idosos, você sabe, as pessoas às quais os Republicanos se referem como “bocas inúteis”. Todos esses relatórios (Sentier, Pew, o Fed’s Survey of Consumer Finances) dão atenção ao mesmo ponto, que a classe média está envolvida em uma guerra até a morte com os vermes carregadores-de-saco (“carpetbagging”) que pretendem privá-los do trabalho, tirar seus ativos, executar a hipoteca de suas casas, e deixá-los sem nenhum dinheiro para enfrentar a velhice. É apenas uma boa e velha luta de classes – e como Warren Buffett opinou – a classe dele está ganhando. (*) Mike Whitney é um analista político independente. Tradução: Hector Luz