Nivaldo T. Manzano (05/11/202)
Porque o "mercado" e a ideologia funcionalista associada a ele adestraram o cidadão americano a crer que a sociedade é auto regulável e que o sistema político é tão dispensável como laço de fita no cabelo. É como eleição para o Rotary; há a chapa azul e a chapa rosa, a escolher indistintamente, porque ambas são anódinas. Isso é a extensão no plano político do liberalismo na economia: a livre concorrência, por definição, asseguraria o EQUILÍBRIO social entre os brancos e a prosperidade individual. Não apenas o equilíbrio econômico entre a oferta e a procura, mas também, por decorrência ideológica e extensão ilógica indevida, o equilíbrio nas relações sociais. Ou seja, as relações sociais seriam NATURALMENTE equilibradas.
O funcionalismo encontrou nos EUA o seu centro de difusão para o mundo, em especial para os países de crença protestante. Como preconizava a sociologia de Talcott Parsons, patrono dos sociólogos americanos - a única sociologia admissível na Academia durante décadas -, não existe CONFLITO social. Por conflito, Parsons entendia o desvio funcional, que seria somente assunto da polícia ou da psiquiatria. Lembra-se do filme "O estranho no ninho"? Qualquer semelhança com o Gulag de Stalin é mera coincidência. A ideologia da disfuncionalidade, que se expressaria na oposição ou rebeldia contra o sistema político, tem na vertente fundamentalista a sua matriz, que enxerga o desacordo social, moral, psíquico, político como sintoma da presença do Diabo no corpo da vítima, que precisa ser expulso, mediante pagamento do dízimo. Em correntes mais radicais, como o calvinismo, isso chega a implicar a eliminação física do próprio endiabrado. Assim, por exemplo, na República de Genebra, assentada sobre a ideologia calvinista, uma criança de onze anos foi condenada à morte por desobediência aos país. Para o protestantismo de Lutero e Calvino, não existe idade mínima penal assim como não existe a instância do perdão, que é exclusividade da teologia católica.
Conclusão: Já que o desconforto social, a rebeldia, a oposição é resultado ou da ação do Diabo ou do desequilíbrio do mercado por interferência do Estado, afasta-se o Estado da atenção social para com os indivíduos e se deixa ao encargo da livre concorrência o restabelecimento do equilíbrio: o sistema político não tem função alguma. Eleição é brincar de decidir o que já está decidido de antemão pelas forças equlibradoras do mercado.