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terça-feira, 10 de setembro de 2024
Crematística aristoteles bbb sobre
https://philarchive.org/archive/TABOPD-2
A importância de um estudo sobre o conceito de economia em Aristóteles deve-se ao
fato de que ele é o único autor da Antigüidade em que se admitem os rudimentos de uma
análise econômica. As principais teses da economia moderna não se impuseram no decorrer do
século XVIII sem antes confrontar a tradição aristotélica. A influência que Aristóteles exerceu
por intermédio de Tomás de Aquino, sobre a economia da Idade Média, foi tão grande como
posteriormente a de Adam Smith ou David Ricardo sobre a economia do século XIX.
(POLANYI, 1976, p.112)
Em todo o corpus aristotelicum, existem dois textos que permitem uma análise
sistemática sobre a “economia”: um é o livro V da Ética a Nicômaco, o outro é o livro I da
Política. O tema do livro V da EN é a justiça. No capítulo 5, do livro V, Aristóteles discorre
sobre a justiça nas relações de troca que têm por limite a comunidade (koinwn…a). A
comunidade é o conceito central tanto da EN, quanto da Política. Um único termo não
compreende a totalidade do sentido de koinwn…a. A koinwn…a é uma espécie de associação
natural, pois o homem é por natureza tanto um zùn koinwnikÒn (vivente social / da
comunidade), zùn o„konomikÒn (vivente da casa), quanto um zùn politikÒn (vivente
político). Aristóteles, no livro V, capítulo 5 da EN, analisa o problema da troca monetária em
relação à questão geral de saber como uma sociedade pode conduzir de maneira permanente e
justa as relações muito particulares que unem os homens com os bens exteriores, produzidos
de modos múltiplos e especializados. Neste contexto, Aristóteles investiga o que pertence à
natureza da medida, pois neste gênero de relações a koinwn…a não pode existir entre dois
médicos ou pessoas que exercem uma mesma atividade, mas entre pessoas diferentes.
Entretanto, o produto de suas respectivas atividades deve ser equiparado.
Enquanto na EN Aristóteles analisa a justiça nas relações de troca no quadro da
comunidade, na Política, livro I, capítulo 9, Aristóteles analisa quatro formas de aquisição: o
escambo (M-M), a forma natural da troca monetária (M-D-M), a forma antinatural da troca
monetária (D-M-D), e por fim, a forma que considerou como a mais contrária à natureza, o
empréstimo a juros (D-D). Aristóteles estabeleceu inicialmente que a o„k…a (casa) e a polis
são duas formas de associações naturais entre os homens, e procede em seguida ao exame de
diversas conseqüências, tais como as relações entre senhor e escravo. Ele se dirige em seguida
à propriedade e a “arte de adquirir” (crhmatistik»); Aristóteles questiona se a crematística é a
mesma coisa que a economia (o„konom…a). A relação de troca é introduzida em discussão
de uma maneira polêmica. Aristóteles pergunta o que seria a riqueza, se ela seria como
afirmou Sólon, sem limites, ou se ela seria um meio em vista de um fim, e, portanto, limitada
por este fim. A resposta é categórica. A riqueza seria um meio necessário para manutenção da
o„k…a e da polis, e, como todo meio, ela é limitada por seu fim. Foi a partir dessa conclusão
que Aristóteles estabeleceu que haviam duas formas de aquisição de riquezas: uma natural, ou
moralmente boa e outra antinatural e reprovável. A natural seria uma arte auxiliar da
economia. A antinatural pertenceria à crematística.
Karl Marx considerou que Aristóteles foi o primeiro a identificar o problema central do
valor de troca. E a partir das observações de Marx sobre as importantes teorias aristotélicas
presentes na EN e na Política, autores como Soudek, Rackham, Schumpeter, Finley, Polanyi,
entre outros, passaram a discutir se Aristóteles havia sido o único autor da Antigüidade a
oferecer uma análise econômica.
A partir das discussões de Marx, Schumpeter, Finley e Polanyi, em torno do “problema
da análise econômica” em Aristóteles, o presente trabalho compara a análise contida no livro I,
capítulo 9 da Política, com a análise do livro V, capítulo 5 da Ética a Nicômaco. Procuramos
estabelecer a diferença entre a troca natural ou aquisição natural, que pertence à economia e a
troca antinatural, ou aquisição artificial, que pertence à crematística. Relacionando os
conceitos de pr©xij (ação) e po…hsij (produção) aos conceito de economia e crematística,
tentamos definir em que consiste a distinção entre economia e crematística, uma vez que, por
intermédio das noções de pr©xij e po…hsij poderíamos compreender o movimento de
crescimento da riqueza e a posição que ocupa a crematística em relação à ética, como também
entenderíamos em que sentido a verdadeira riqueza, ou riqueza natural, se opõe à falsa riqueza,
ou riqueza antinatural.
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