sábado, 26 de maio de 2018

Documentando os Estados Unidos no Golpe de 2016 – Parte 3, por Carlos Coimbra

Documentando os Estados Unidos no Golpe de 2016 – Parte 3
por Carlos Coimbra
O presente faz parte de uma série de três artigos sobre documentos secretos vazados ou documentos públicos que indicam uma presença cada vez mais forte dos Estados Unidos no cenário político brasileiro após o anúncio das reservas de petróleo na camada pré-sal pela Petrobras em 2007.
O primeiro artigo sobre o tema pode ser lido aqui.
E o segundo está aqui.
Documentos antigos e nem tão antigos, demonstram que no passado os Estados Unidos da América participaram de diversos golpes ao redor do mundo. Incluindo o apoio a ditaduras sanguinárias para manter os seus interesses geopolíticos.
O exemplo mais prático e clássico vem da abertura pública de documentos antigos da CIA e de outros departamentos dos EUA que atestam a participação do governo Lyndon Johnson no Golpe Militar de 1964. Vide aqui um exemplo (em inglês):
Neste link pode-se ler um telegrama datado de 27 de março de 1964, em que Gordon diz textualmente:
“Se a nossa influência deve ser usada para ajudar a evitar um grande desastre aqui - o que poderia fazer do Brasil a China dos anos 1960 - é aqui que tanto eu como todos os meus assessores seniores acreditamos que nosso apoio deve ser colocado, (…) que medidas sejam tomadas o mais rapidamente possível para se preparar para uma entrega clandestina de armas de origem não americana, a ser disponibilizada aos apoiadores de Castello Branco em São Paulo.”
(Telegrama de Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil, à Casa Branca e à CIA, 27/03/1964)
A operação acima descrita foi denominada “Operação Brother Sam” e contou com apoio logístico e militar por parte dos EUA para que o golpe de 1964 fosse bem sucedido.
Do ponto de vista de comunicação diplomática ou mesmo secreta, os telegramas são um dos principais meios de contato entre os diversos atores que compõem um diálogo internacional.
Nos dias de hoje é correto afirmar que não é preciso esperar décadas até a abertura de documentos diplomáticos secretos. Atualmente há uma organização que se encarrega de vazar milhares de telegramas ou emails confidenciais a partir de fontes governamentais anônimas. Essa organização se chama WikiLeaks. Não é à toa que seu fundador, Julian Assange, está escondido na Embaixada do Equador em Londres, na iminência de ser preso por autoridades do mundo ocidental, sob alegações claramente falsas criadas com o único propósito de extraditá-lo para os EUA.
Abaixo, a terceira parte de uma lista de documentos, que podem ser acessados por qualquer pessoa. Este é um recorte particular de algo muito mais amplo e portanto os leitores podem investigar o problema atacando-o a partir de outros documentos além dos expostos abaixo.
Documento no 11: Lava Jato, manifestações pró-impeachment e a mão dos EUA
Emails da empresa de inteligência privada Stratfor vazados pelo WikiLeaks (sobre Rogério Chequer):
Na parte 2 da presente série de artigos, foram discutidos alguns dos emails da agência privada de inteligência denominada Stratfor. Foram mostrados que cerca de 5.000 emails vazados trataram dos assuntos “pré-sal” e “Dilma Rousseff” no período compreendido entre 2009 e 2011.
A Stratfor, como já visto, é uma empresa que se mostra publicamente como uma editora de publicações sobre geopolítica. No entanto, internamente presta serviços de inteligência a empresas importantes como a Dow, a Raytheon e a Lockheed Martin, e a órgãos do governo norte-americano como o Departamento de Defesa e os Fuzileiros Navais. As táticas da Stratfor são extremamente agressivas. Vide por exemplo trecho de um email confidencial vazado que contém uma explanação das técnicas da empresa em como obter informações de um agente secreto israelense sobre a doença de Hugo Chavez, enviado pelo CEO George Friedman à analista (hoje vice-presidente) Reva Bhalla: “Você tem que assumir o controle dele. Controle significa controle financeiro, sexual ou psicológico... O objetivo é iniciar nossa conversa na próxima fase.”
Um ator de certo destaque entre 2014 e 2015 que aparece em emails da Stratfor é o empresário brasileiro Rogério Chequer (que em 2018 acenou como candidato ao governo de São Paulo pelo partido NOVO). Chequer fundou o movimento de rua denominada “Vem pra Rua”, movimento que atuou em todo o Brasil em manifestações engrossadas pela mídia, principalmente Rede Globo, contra o governo Dilma ou mesmo a favor do impeachment da mesma.
Chequer é descrito em artigo da revista norte-americana “Institutional Investor”, de julho de 2007, como co-fundador da empresa Atlas Capital, de fundos de investimento (aqui: https://www.institutionalinvestor.com/article/b150nxsgdnw80k/alternatives-rethinking-the-abcs-of-gdps). Nessa época Chequer morava nos EUA. Ele aparece em um email confidencial de 2009 da Stratfor, numa lista de “membros”, com seus respectivos endereços (vide aqui, a lista está como anexo do email: https://wikileaks.org/gifiles/docs/89/8925_new-gift-list-.html). Naquele momento ele morava em West Harrison, New York.
Não se sabe por quê, Rogério Chequer voltou ao Brasil na mesma época em que, coincidentemente: 1) ocorreram as denúncias de Snowden sobre as escutas da NSA feitas à Petrobras; 2) Thomas Shannon sai da Embaixada dos EUA e volta ao Departamento de Estado; 3) tem início a Operação Lava Jato. Ao que indica, Chequer voltou ao Brasil devido a problemas com sua empresa norte-americana. Aqui, fundou empreendimento muito mais modesto e depois decolou com o “Vem pra Rua”.
Antes das manifestações pró-impeachment e anti-PT de 2014, majoritariamente financiadas pela FIESP (e mesmo pela JBL, vide Parte 1), outras movimentos de mesmo cunho, contra o governo do PT, não deram certo por não terem força publicitária e nem consonância com a grande mídia. Foi o caso do movimento “Cansei”, liderado pelo empresário, hoje prefeito de São Paulo, João Doria Junior, em 2007. Na ocasião, o Consulado-Geral dos EUA em São Paulo se reportou à CIA sobre o fiasco do movimento, dizendo que o mesmo não tinha futuro. Vide o telegrama aqui: https://wikileaks.org/plusd/cables/07SAOPAULO777_a.html
Além do “Vem pra Rua” de Rogério Chequer, o “Movimento Brasil Livre” (MBL) foi outro que se destacou politicamente nas manifestações de rua pró-impeachment em 2014. Membros fundadores do MBL autodeclaradamente receberam treinamento em uma organização denominada “Estudantes pela Liberdade” (EPL), que tem filiais em vários países do mundo. O EPL é ligado à Atlas Network e ao Students for Liberty International, organização que prega a economia liberal como contraponto à esquerda mundial. O diretor-executivo do EPL foi um dos criadores originais do MBL. Uma das lideranças atuais do MBL, Kim Kataguiri, também é membro do EPL. Uma longa reportagem sobre a relação entre EPL e MBL foi publicada na Gazeta do Povo em 22 de junho de 2017. Vide aqui:
A mão dos Estados Unidos claramente aparece no caso do EPL pois este está ligado a um dos maiores conglomerados industriais do mundo, a Koch Industries (grande indústria do petróleo), cujos donos, os famosos irmãos Koch, são grandes apoiadores do liberalismo econômico, pertencentes ao Partido Republicano dos EUA e defensores de uma espécie de “evangelização” mundial anti-esquerda. Nesse caso, o Students for Liberty foi fundado na chamada Koch Summer Fellows em 2007 com o objetivo de inserir o ideário de direita dentro de escolas e universidades dos EUA e outros países. As diversas ações e lobbies das fundações ligadas aos irmãos Koch são um capítulo a parte, que incluem agressão ao meio ambiente e processos judiciais nas áreas trabalhista e de direitos civis.
Sistematicamente o MBL tem negado que recebe apoio direto das indústrias Koch ou dos institutos relacionados aos Koch. De qualquer forma, o MBL e o EPL são crias diretas do Students for Liberty, originado na Koch Summer Fellows. Além disso, o Students for Liberty é um membro associado do State Policy Network, uma rede de ações da direita dos EUA, esta sim declaradamente vinculada a institutos Koch e com financiamento destes. Vide aqui, por exemplo, com informações da Source Watch:
Site oficial da Koch Industries:
Sites oficiais da Charles Koch Foundation e do Charles Koch Institute:
Documento no 12: Patrick Duddy, a Rede Globo, Pedro Parente e o Mercado Financeiro
Telegrama para uso oficial do Consulado-Geral dos EUA em São Paulo vazado pelo WikiLeaks:
Patrick Dennis Duddy foi Cônsul-Geral dos EUA em São Paulo e Chargé d’Affaires na Embaixada dos EUA em Brasília até 2007. A partir de agosto daquele ano ele assumiu a Embaixada dos EUA na Venezuela e foi expulso por Hugo Chavez em setembro de 2008, acusado de promover conspiração e espionagem. O currículo de Duddy apresentado pela WACC Global Energy descreve-o como especialista na área de energia e petróleo, tendo servido em São Paulo não só como Cônsul-Geral, mas também como componente sênior da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Neste documento de outubro de 2016 ele é anunciado como palestrante do tema “Petróleo, Populismo e América Latina”:

No telegrama citado logo acima, datado de 23 de maio de 2005, de conteúdo sensível, Duddy descreve a visita do Embaixador dos EUA no Brasil (provavelmente John Danilovich) ao estado do Rio Grande do Sul. O telegrama tem marcadores como “Economia”, “Energia”, “Investimentos Externos”.
Um trecho do telegrama que chama a atenção é quando Duddy descreve a visita da delegação à RBS (Globo Rio Grande do Sul), citando o vice-presidente da RBS da época, Pedro Parente, e a própria RBS como grandes aliados. Leia abaixo o trecho em questão, que tem uma nota de destaque:
“O Embaixador almoçou com o conselho editorial do grupo de mídia RBS, o maior grupo regional de mídia da América Latina, que opera nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. (…) Pedro Parente, que foi Chefe de Gabinete do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é o Vice-Presidente Executivo da RBS. (Nota: Tradicionalmente nós temos excelente acesso e excelentes relações com o grupo. Fim da Nota.)”
Pedro Pullen Parente, citado no telegrama acima, é um nome chave para se entender o Golpe de 2016. Mais conhecido como “ministro do apagão”, desempenhou diversas funções no Brasil, no Poder Executivo. Ministro Chefe da Casa Civil do governo FHC (1999-2002) e Ministro Interino de Minas e Energias daquele mesmo governo (2002). Nesta última função foi quando ocorreu o tal “apagão”, uma pane no sistema elétrico brasileiro por falhas de planejamento no contingenciamento por termoelétricas.
Em sua história profissional, Parente também demonstrou e demonstra uma grande veia para os cargos empresariais. Após sua saída do governo FHC, de fevereiro de 2003 até dezembro de 2009, ele exerceu a função citada por Duddy, a de Vice-Presidente Executivo do Grupo RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. De Janeiro de 2010 até abril de 2014 Parente foi CEO e Presidente da multinacional Bunge Brasil, uma das principais empresas do agronegócio no país. Mas não para por aí. Após sua saída da Bunge, ele fundou uma empresa de gestão de fortunas, o grupo PRADA de empresas de gestão financeira e consultoria empresarial, onde é sócio executivo. Além disso, é Presidente (Chairman) dos Conselhos de Administração da BMF&Bovespa, do Grupo ABC, da SBR-Global, e do Arlon Latin America Private Equity Fund, além de assumir assento no Conselho da RBS em 2016. Sem falar que nos 1990 foi consultor do FMI. E desde 2016, além das funções acima expostas, Parente é o presidente da Petrobras, nomeado por Michel Temer.
Fica claro, pelo acima exposto, que Pedro Parente é mão forte na Globo, pois foi vice-presidente de uma afiliada importante; mão forte no Mercado Financeiro, pois é executivo de diversos grupos ligados ao setor, mas principalmente do Conselho de Administração da Bovespa; e, obviamente, mão forte na Petrobras. Além de contar, da nota expressiva do então Cônsul em SP, Patrick Duddy, com total apoio dos Estados Unidos.
O grupo Globo, da família Marinho, detém a Rede Globo e a Rádio Globo, além de muitos outros empreendimentos que mostram uma clara tez monopolista na área das comunicações televisivas abertas ou a cabo. O ponto de partida da empresa foi o jornal “A Noite”, em 1911 e “O Globo”, em 1925, ambos fundados pelo patriarca Irineu Marinho. O filho, Roberto Marinho, transformou o jornal no grande grupo que é hoje: o maior conglomerado de mídia e comunicação da América Latina e um dos maiores do mundo. Roberto Marinho obteve concessão para a transmissão televisiva, inaugurando a Rede Globo em 26 de abril de 1965, um ano após o golpe militar.
A Rede Globo, desde o princípio, tem forte laço com empresas dos Estados Unidos. Para citar o exemplo mais simples, a estrutura técnica para a sua primeira transmissão em 1965 foi totalmente construída pelo grupo americano Time-Life, que possuía participação nos lucros e dava consultoria à Globo por meio do executivo Joe Wallach. Na época, isso gerou polêmica e até uma CPI. O próprio ex-diretor da Globo, José Bonifácio Sobrinho (o “Boni”), em 2010 deu uma entrevista à revista Imprensa dizendo que o acordo “Globo Time-Life” era completamente ilegal. Leia a entrevista aqui:
Por outro lado, historicamente a Rede Globo se expandiu em todo o território nacional graças à captação de várias afiliadas. Uma delas pertence ao poderoso grupo RBS, do Rio Grande do Sul. O grupo, da família Sirotsky, por si só, já é um dos maiores grupos de comunicação do Brasil e a maior afiliada da Globo em solo nacional. Em 2015, a Globo e a RBS foram envolvidas em duas grandes operações da Polícia Federal: a Operação Zelotes e a Operação Pavlova. Ambas as investigações, ao contrário do que ocorre com a Lava-Jato, estão sob sigilo. No entanto, documentos da Polícia Federal vazados em outubro de 2015, divulgados pelo jornalista gaúcho Juremir Machado, apontam crimes financeiros e de formação de quadrilha praticados pela Globo/RBS. Vide aqui:
A sinergia entre Parente e o grupo Globo é perfeita. Principalmente no que concerne ao desmonte da Petrobras. Por exemplo, em 19 de abril de 2018, a Federação Única dos Petroleiros soltou a seguinte notícia (vide aqui: http://www.fup.org.br/ultimas-noticias/direto-dos-sindicatos/item/22546-canalhas-pedro-parente-anunciam-venda-da-refap-e-transpetro):
“(…) Pedro Parente anunciou na manhã dessa quinta-feira (19) que irá vender 60% da Refap, e também das refinarias Presidente Getúlio Vargas (Repar), Abreu e Lima (RNEST) e Landulpho Alves (Rlam). O modelo de venda inclui os chamados ativos logísticos (dutos e terminais) administrados pela Transpetro, ou seja, no RS, inclui a venda do Terig, Tedut e Tenit. Apesar da modelagem ainda não ter sido aprovada pela direção da empresa, esta venda reduzirá fortemente a presença da Petrobrás no setor de refino.”
O grupo Rede Globo atualmente funciona como uma espécie de escudo de Parente. Primeiramente, em 2015, a Globo trabalhou incessantemente para destruir a imagem da Petrobras frente a opinião pública. Para depois erguer a imagem de Parente como baluarte da salvação da empresa. Por exemplo, no mesmo mês em que o pedido de impeachment de Dilma Rousseff foi aceito por Eduardo Cunha na Câmara Federal, o editorial de “O Globo” tinha o seguinte título: “O pré-sal pode ser patrimônio inútil” (publicado em 20/12/2015). Vide o texto completo aqui:
O editorial é praticamente uma ode ao entreguismo, uma lamentação ao fato de a Petrobras controlar 30% do pré-sal. E repete a mesma ladainha, falsa, de que a empresa estava, à época, com as finanças em frangalhos por causa da corrupção. [Na realidade, o grande prejuízo da Petrobras, em 2015, ocorreu, como muito bem analisa Luis Nassif no artigo https://jornalggn.com.br/noticia/a-petrobras-a-greve-dos-caminhoneiros-e-o-caso-pedro-parente-por-luis-nassif, por motivos como reavaliação do balanço, em função da redução dos preços dos derivados.]
Um trecho chave do editorial mencionado de “O Globo” pode ser aqui reproduzido:
“Agora, na atual conjuntura, não há mais interesse no pré-sal brasileiro. Nem a Petrobras tem como tocar a exploração como estabelece a legislação estatista, com 30% obrigatórios de todos os consórcios e monopólio da operação. Se já seria difícil antes do petrolão, hoje, com as finanças da estatal arruinadas pela corrupção, é impossível.”
Esse editorial pessimista escrito na era Dilma é bem diferente de um outro editorial de “O Globo” escrito em 09/07/2017. Agora, na era Temer, Pedro Parente assume a empresa e se encarrega de pulverizá-la e lançá-la ao sabor dos interesses estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos. O editorial referido, intitulado “O avanço da Petrobras na recuperação”, canta aos quatro ventos as qualidades do “clarividente” General Geisel, que não se intimidou de se abrir a grupos privados multinacionais do petróleo, e pinta, como sempre, o PT como o vilão que não deveria ter existido. Eis abaixo um trecho que resume a ópera bufa:
“Um dos incontáveis nacionalistas que passaram pela empresa, Geisel teve, porém, a clarividência de permitir, já no Planalto, que a empresa assinasse contratos de risco com grupos privados multinacionais (…). Isso foi essencial para a empresa firma-se [sic] como símbolo de eficiência e geradora de tecnologia. (…) Já no ciclo lulopetista, foi à ruína devido aos delírios estatistas e à corrupção. (…) Com as mudanças feitas na administração de Pedro Parente, depois da saída de Dilma Rousseff do Planalto, a empresa entrou em um ciclo de forte recuperação. (…) Por esta nova política, crescem as importações de combustíveis por terceiros, numa concorrência benéfica para a Petrobras, interessada em vender pelo menos parte da BR Distribuidora, outra medida saudável.”
Leia todo o editorial aqui:
A evolução dos conteúdos dos editoriais mostram que a mão mágica de Pedro Parente fez os Marinho se transformarem de achacadores das políticas de soberania a defensores do atual cinismo entreguista.
A Rede Globo teve um papel fundamental nas tentativas de privatização da Petrobras durante o governo FHC. Na época, a frase do ministro Sérgio Motta retumbava aos quatro ventos na programação global: “[a Petrobras é] como um paquiderme que consumia US$ 9 bilhões em importações, prejudicando a balança comercial e a sociedade brasileira". Para Motta, o então diretor da ANP, David Zylbersztajn, tinha o dever de desmontar ‘osso por osso” a estatal. Nessa época a Globo costumava chamar os petroleiros de “marajás” e já armava o circo de sucateamento midiático da estatal.
Um dos pontos principais que unem Duddy, Globo e Parente é que as novas políticas desenvolvidas por Pedro Parente na Petrobras beneficiaram sobremaneira os Estados Unidos. Principalmente por elevar a dependência do Brasil à importação de diesel americano (de 41% em 2015 para 80% em 2017 de toda importação de diesel). A Associação de Engenheiros da Petrobras (AEPET) atribui a isso um dos principais motivos para a elevação de preços do diesel e a decorrente paralisação de caminhoneiros no mês de maio de 2018. Vide a nota da AEPET aqui:
Vide também o importante artigo de Luis Nassif analisando a política de Parente sobre o preço dos combustíveis:
Documento no 13: Aloysio Nunes vai a Washington
Email do Diretório Nacional do Partido Democrata dos EUA vazado pelo WikiLeaks:
Uma das cenas mais surpreendentes ocorridas no processo de impeachment de Dilma Rousseff foi a ida do Senador Aloysio Nunes (PSDB) a Washington um dia depois da aprovação pelo Congresso do prosseguimento do processo de impeachment  em 17 de abril de 2016. À época na oposição, Nunes atuou como um dos mais acirrados defensores do impeachment. Atualmente, no governo Michel Temer, ele é o Ministro das Relações Exteriores desde março de 2017.
Essa inusitada visita de Nunes a Washington foi amplamente discutida em artigo de Glenn Greenwald, Andrew Fishman e David Miranda para o Intercept (publicado em 18 de abril de 2016):
Um trecho importante do artigo acima:
“O Senador Nunes vai se reunir com o presidente e um membro do Comitê de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker (republicano, do estado do Tennessee) e Ben Cardin (democrata, do estado de Maryland), e com o Subsecretário de Estado e ex-Embaixador no Brasil, Thomas Shannon, além de comparecer a um almoço promovido pela empresa lobista de Washington, Albright Stonebridge Group, comandada pela ex-Secretária de Estado de Clinton, Madeleine Albright e pelo ex-Secretário de Comércio de Bush e ex-diretor-executivo da empresa Kellogg, Carlos Gutierrez. (…) A viagem de Nunes a Washington foi divulgada como ordem do próprio Temer. (…) Temer está furioso com o que ele considera uma mudança radical e altamente desfavorável na narrativa internacional, que tem retratado o impeachment como uma tentativa ilegal e anti-democrática da oposição, liderada por ele, para ganhar o poder de forma ilegítima. O pretenso presidente enviou Nunes para Washington, segundo a Folha, para lançar uma ‘contraofensiva de relações públicas” e combater o aumento do sentimento anti-impeachment ao redor do mundo, o qual Temer afirma estar “desmoraliz[ando] as instituições brasileiras’.”
Na verdade, a viagem e seu cronograma foram publicizados no próprio site do PSDB:
Mas incrivelmente o assunto também surge em email confidencial do Diretório do Partido Democrata dos EUA (DNC) datado de 20 de abril daquele ano. O assunto fulcral do email é uma análise das atividades do Senador do partido concorrente (Republicano), Robert (“Bob”) Corker. Desde 2015, Bob Corker atua como Presidente do Comitê do Senado dos EUA para Assuntos Exteriores. Eis o trecho de interesse do email citado:
“Há rumores de que Bob Corker se encontrou com o líder da oposição brasileira de centro-direita no que diz respeito ao impeachment da presidente do Brasil, Dilma Rousseff. (…) O Sen. Aloysio Nunes, do partido de centro-direita do PSDB, está se reunindo com o presidente e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado, o republicano Bob Corker do Tennessee, e outros para discutir a situação no Brasil.”
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Após a descoberta das gigantescas reservas de petróleo na camada pré-sal, durante o governo Lula, o Brasil e seu potencial energético se transformaram em assunto altamente citado em telegramas ou emails de agentes importantes do governo norte-americano. Após isso, ocorreram alguns golpes de estado na América Latina, escutas do serviço secreto americano são reveladas, a Operação Lava-Jato entra em vigor e movimentos de rua começam a desacreditar o governo Dilma. O golpe é estimulado diariamente pela grande mídia e finalmente Dilma é levada por Eduardo Cunha ao patíbulo político. A elite brasileira acha tudo muito natural. Assumem o poder aqueles que documentalmente já foram informantes dos Estados Unidos, alinhando-se fortemente às políticas desejadas por aquele país, majoritariamente à vontade do Mercado Financeiro e ao chamado “Deep State”, que é o Estado Profundo dos EUA, cujas cartas são dadas por organizações como a Koch Industries, como os banqueiros Rockfellers, entre outros.
Os três artigos escritos sobre o tema indicam algumas possíveis conclusões sobre a relação PRÉ-SAL/EUA/GOLPE. Uma delas é a de que a Operação Lava Jato desempenhou papel fundamental na desvalorização da imagem da Petrobras. Criou a falsa identidade entre corrupção na empresa e funcionamento da empresa. O juiz Sérgio Moro, pequena cria do Departamento de Estado dos EUA, é o agente catalisador desta reação química meticulosamente planejada. A Petrobras perde ativos não porque deixou de produzir, mas porque foi pintada como besta-fera a ser domada, defenestrada e vendida. A grande mídia desconstrói a imagem do partido que incentivou o pré-sal e a soberania (o PT) como destruidor da empresa; e ao mesmo tempo, também pinta o entreguista Pedro Parente como salvador da pátria.
O pré-sal é figura central em telegramas confidenciais enviados ao Departamento de Estado ou à CIA, em que grandes empresas como a Chevron e a Exxon discutem o tema com políticos brasileiros que assumiram o poder junto com Michel Temer. O pré-sal também aparece como tema recorrente em milhares de emails da empresa de inteligência norte-americana Stratfor. Dilma Rousseff, e no mesmo período Petrobras, são alvos de escuta da maior agência de inteligência dos EUA, a NSA.
A partir de 2016, o governo brasileiro foi tomado de assalto e a olhos vistos vê-se o triunvirato MÍDIA/JUDICIÁRIO/MERCADO dando as cartas como nunca antes. A máquina de alimentar uma elite de valores pobres, atrasados, coloniais funciona a todo vapor. Máquina que funciona sob o aval, inteligência e bênção de nosso senhor, o grande irmão do norte, o Tio Sam.
Carlos H. Coimbra-Araújo é professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná na área de física e aproveitamento de energia. Autor, entre outros, de “Energy-Environmental Implications Of Shale Gas Exploration In Paraná Hydrological Basin, Brazil” (Renewable and Sustainable Energy Reviews), publicado pela Editora Elsevie