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quinta-feira, 7 de agosto de 2025
NOESIS ARISTOTELES -SPINELLI BBB
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... A empiria é indispensável ao processo cognoscitivo, porém, insuficiente. Com efeito, as "amarras" dos sentidos não são assim tão reforçadas, a ponto de a razão humana ser deles totalmente prisioneira. Ela é capaz de se libertar. Mas além de indispensáveis, os sentidos são em si mesmos extraordinários; no entanto (como disse Anaxágoras), "instáveis", razão pela qual não nos permitem "discernir a verdade ", ou seja, colocar em crise a suposta verdade que, pelos sentidos, somos corriqueiramente levados a, de pronto, admitir.69
Se, porém, dos sentidos não podemos nos valer irrestritamente, deles tampouco podemos nos descartar. Eles têm sobre nós uma influência poderosa, e deles carecemos necessariamente. Juntos (o sensível e o inteligível), constituem-se na nossa própria condição humana. Sem o sensível, o intelecto, por exemplo, não despertaria, tampouco teria parâmetros, de modo que se perderia no universo da conjetura, ou mesmo do imaginário e da fantasia. Nada com segurança saberíamos sem eles. São eles, em última instância, que dão vigor às nossas convicções. A falta de convicção ou falta de persuasão, como disseram Heráclito e Empédocles, decorre da carência do pressuposto empírico.
Os sentidos também nos proporcionam prazer e nos ativam na busca da felicidade. Sem o gozo e estímulo das sensações (acuados pelo intelecto), teríamos dificuldades em realizar inúmeras coisas, quer referidas à autoconservação e procriação, quer ao desejo de conhecer tudo o que nos afeta e, até mesmo, de ser melhores. São os sentidos que estimulam em nós, a partir da percepção do múltiplo, a ideia noética do um, a partir da variedade a escolha, dos impulsos a deliberação, etc. Inclusive, a base fundante do arbítrio (do fazer ou deixar de fazer) não é estimulada primariamente pela ideia (noética) do bem e do mal moral, e sim pela percepção (sensível) do bem e do mal empíricos, em decorrência das afecções, do seguinte modo: o que nos faz bem (é útil, bom, proveitoso, ou satisfaz) nos estimula a repetir (a fazer de novo), enquanto o que é mau (nocivo, pernicioso, desagradável) nos leva a recuar. Muitas de nossas escolhas são feitas em função da textura e de outros fatores sensíveis: da cor, do odor, da beleza, etc. Todavia, mesmo que os nossos sentidos não nos sirvam como critério de verdade e como órgãos de deliberação (de representação de leis e de fins), são eles, no entanto, que atiçam a nossa razão: promovem o desejo da deliberação (pressuposto do ordenamento social e do agir ético) e da busca da verdade (pressuposto do conhecimento ou ciência). No afazer cognoscitivo, são como janelas através das quais nos comunicamos com o Mundo, frente ao qual o nosso intelecto se vê solicitado (desperto) a investigar para além das aparências o que é oculto, invisível.
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