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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Bataille pressão da vida cronica
O QUE FOI PARA MIM SENTIR A FLORESTA AMAZÔNICA
Por incumbência profissional sobrevoei muitas horas a Floresta Amazônica, tendo pousado em clareiras cercadas de mata fechada. São muitas as impressões que se registra da experiência. Atenho-me a uma. Se coubesse mais uma colônia de formigas no gigantesco ecossistema amazônico,
lá estaria ela. "A vida aspira de todos os modos possíveis ao impossível crescimento, estendendo-se para além de si mesma. Pode ser descrita como pressão de intensidade máxima sobre o tempo e o espaço. Remova-se uma pedra centenária da soleira da porta de casa, e as sementes que sob ela dormitavam irão germinar, tantas quantas conseguirem ter acesso a um raio de sol. A vida é um
derramamento gratuito e perdulário, que preenche tudo, das fossas oceânicas ao alto das rochas, sobre cuja superfície o musgo avança para mais longe ao alcançar as gotículas de vapor d’água que o vento colhe nas ondas do mar", escreve em seu clássico A parte maldita" o filósofo francês Georges Bataille. E acrescenta: "O milagre não está na proeza caricata do homo faber, que crê estar preenchendo a sua carência com a extração da mais-valia ou com o suor do trabalho. O verdadeiro milagre está na variação temática da cultura humana, testemunha de um excesso de existência"
Essa foi uma experiência que me ensinou o Gatozé. Vi-o atestar a sua capacidade de tematizar o mundo, ao se instalar sobre a caixa de metal do modem da TV a cabo, para se aquecer: fez do aquecimento elétrico o que pode ser também o calor das brasas, multiplicando por dois a extensão de mundo de seu borralho. "O milagre está na autorregulação metafórica da vida e da existência — uma caldeira que, operando sob pressão máxima, não explode" (Bataille). A arte disso participa, ao se fazer exercício de criação de novas visões de mundo, tantas quantas possíveis. Há mais sonhos sonhados e a sonhar do que possibilidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas.
Bataille me fez sentir o alcance existencial da ESCASSEZ artificial, que embebe a todos, como uma esponja, no mundo da mercadoria, como nos adverte Marx, em seus escritos. Nivaldo Manzano
TRUMP E A "CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS"
TRUMP E A "CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS" A"CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS"nada diz a respeito dos direitos HUMANOS. Não vai além de definir os liimites sobre o que o governo pode e não pode fazer no que diz respeito às liberdades pessoais. Nela não se inclui a lberdade pessoal do negro nem do índio, nem do amarelo, (por extensão, nem do latino).Isso tanto passou em branco que os pais da CARTA, chamados "foundig fathers", entre os quais Washington e Jefferson, eram senhores de escravos. Washington teve sete filhos em sua mancebia com a amante negra. O francês Alexis Tocqueville, de origem nobre, autor do clássico "Democracia na América", esquece-se de incluir a liberdade pessoal do negro, ele que conheceu in loco a sua condição de trabalhador escravo. /// A "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", da Revoução Francesa, não inclui a liberdade pessoal do "homem e do "cidadão" negro, amarelo ou indígena. Limita-se a cobrir de direitos os contemplados no âmbito do Ilumismo, ideologia eurocentrista que consagrou a UNIVERSALIDADE dos direitos, como proclama o filósofo Immanuel Kant (1724 - 1804). Tampouco ela nada diz a respeito da liberdade pessoal da MULHER, que não tinha direito a voto e até recemente era considerada como inimputável, ou seja, incapaz de se autoderminar. Nisso tudo não há novidade, SENÃO A ERA TRUMP, que restabelece na prática, stricto sensu, a "Carta dos direitos dos Estados Unidos". Nivaldo Manzano
INCOMPLETUDE
NÃO HÁ MÁQUINA CAPAZ DE CONTER O PLENO SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
Humpty Dumpty, o gnomo irasciível, afirma a Alice: “Quando utilizo uma palavra, ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos”. Alice contesta dizendo que “o problema está em saber se é possível fazer que uma palavra signifique montes de coisas diferentes”. Ao que Humpty Dumpty replica com rispidez: “O problema está em saber quem é que manda. Ponto final”.
Nesse diálogo, o autor Lewis Carrol nos introduz a um sentimento evocado muito raramente: o sentimento de incompletude, anacrônico, ao que parece, nesta atualidade em que nos impingem a regularidade transitiva, linear do mecanismo, a Inteligência Artificial, ou o algoritmo, como suprassumo da competência. Incompletude não significa uma falta; ao contrário, significa excesso. Toda experiência é exponencial, desde que se saiba senti-lo. Vou a um concerto musical e, ao sair, observo em conversa com os demais que cada um reteve da execução do conserto uma dimensão diversa. Um se prendeu à melodia, outra ao andamento, outro à estrutura harmônica dos movimentos, outro ao desempenho do maestro, outro ao desempenho da orquestra, outro à inspiração do tema, e assim por diante. Isso é a exponenciação da realidade vivida. Tudo reunido numa mesma pessoa, em mim, é como se fosse uma ascensão sem fim rumo a mim mesmo, ou a nós mesmos como comunidade. É a exponenciação da realidade vivida: o sentimento de incompletude. A realidade, ou a experiência de viver, não cabe em palavras. Daí a anedótica afirmação de João Cabral de Melo Neto, ao dizer que o poeta começa a frustrar-se ao enunciado de sua primeira palavra no verso. A própria existência é um excesso: Há mais sonhos a sonhar do que a nossa capacidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas. O que nos priva do sentimento da incompletide é o mundo linear da quantidade, que nos asfixia na atualidade. que fragmenta a nossa experiência do tempo, mediante a noção de progresso, ou de futuro, ou de esperança ou de utopia. "O progresso, o futuro e toda a constelação semântica associada à quantidade consiste em fragmentar a plenitude do presente em pequenas quantidades contraditórias, do amanhã e depois do amanhã, portadoras de uma frustração intrínseca, que faz desejar mais a mesma coisa, sob a falsa aparência de outra, elevando ao paroxismo a sensação de escassez. Um novo automóvel, saído de fábrica, já vem com a sua imagem bichada, ao ser reconhecido pelo seu comprador e pelos outros num determinado ponto da escala de prestígio e status, abaixo da categoria que lhe está acima. Esse é o espetáculo da mercadoria, que compraz ao tempo em que frustra (Vaneigem, R., Traité de savoir vivre à l’usage des jeunes genérations, Paris, Gallimard, 1967; Beaudrilhard, J.; A sociedade de consumo, Lisboa, Edições 70, 1975).
Mas a contrafação nunca é completa, e a manobra dessa equivalência vicária se desfaz no reconhecimento da ilusão.
Incompletude: a exponenciação com que a realidade acena somente pode brotar de uma existência plena. O prazer de viver somente se oferece e se deixa reconhecer como um outro de si mesmo, como metáfora, ou tematização de si mesmo. É preciso trazê-lo dentro de si como condição para enxergá-lo à volta. Incompletude: na entrega sempre mais intensa é que se pressente o êxtase. O limite, que aqui é plenitude a cada instante, confunde-se com o ilimitado. É-se tudo a um só tempo e se deseja ser sempre mais tudo. O que está além e se deseja é um prolongamento de si mesmo, que somente é pressentido porque é também um aquém, a pulsar na intimidade do presente.(Apanhado de leituras do filósofo e poeta espanhol George Santayna, dotado de uma prosa cativante e profunda, além dos já mencionados). Nivaldo Manzano
INCOMPLETUDE
PORQUE ANDA SUMIDA A NOÇÃO DE INCOMPLETUDE Humpty Dumpty, o gnomo irascível, afirma a Alice: “Quando utilizo uma palavra, ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos”. Alice contesta dizendo que “o problema está em saber se é possível fazer que uma palavra signifique montes de coisas diferentes”. Ao que Humpty Dumpty replica com arrrogância: “O problema está em saber quem é que manda. Ponto final".
Nesse diálogo, o autor Lewis Carrol nos introduz a um sentimento evocado muito raramente: o sentimento de incompletude, anacrônico, ao que parece, nesta atualidade em que nos impingem a regularidade do mecanismo, como suprassumo da competência e da responsabilidade. Incompletude não significa falta; ao contrário, significa excesso. Vou a um concerto musical e à saída, em conversa com os demais, observo que cada um reteve da execução da peça musical uma dimensão diversa. Um se prendeu à melodia, outra ao andamento, outro à estrutura harmônica, outro ao desempenho do maestro, outro à execução da orquestra, outro à inspiração do tema, outro à convergência harmônica dos movimentos e assim por diante. Isso é a exponenciação da realidade vivida: o sentimento de incompletude. Tudo isso reunido em mim, que os ouço, numa mesma pessoa. É como se fosse uma ascensão sem fim rumo a mim mesmo, ou a nós mesmos como comunidade. A realidade, ou a experiência de viver, não cabe em palavras. A própria existência é um excesso: Há mais sonhos a sonhar do que a nossa capacidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas. O que nos priva do sentimento da incompletude é o mundo linear da quantidade, que nos asfixia na atualidade. ao fragmentar a experiência do tempo do relógio, mediante a noção de progresso, ou de futuro, ou de esperança ou de utopia. "O progresso, o futuro e toda a constelação semântica associada à quantidade consistem em fragmentar a plenitude do presente em pequenas quantidades contraditórias, do amanhã e depois do amanhã, portadoras de uma frustração intrínseca, que faz desejar mais a mesma coisa, sob a falsa aparência de outra, elevando ao paroxismo a sensação de escassez. Um novo automóvel, saído de fábrica, já vem com a sua imagem bichada, ao ser reconhecido pelo seu comprador e pelos outros num determinado ponto da escala de prestígio e status, abaixo da categoria que lhe está acima. Esse é o espetáculo da mercadoria, que compraz ao tempo em que frustra (Vaneigem, R., Traité de savoir vivre à l’usage des jeunes genérations, Paris, Gallimard, 1967. |Leia-se também Baudrilhard, J.; A sociedade de consumo, Lisboa, Edições 70, 1975).
O ENTENDIMENTO ENTRE PUTIN E TRUMP SOBRE A PAZ VAI DAR-SE EM TERMOS CONTÁBEIS - E SÓ.
A imprensa corporativa nacional e internacional vai estender uma espessa cortina de fumaça, atrás da qual vão discutir-se os termos REAIS da negociação de paz. De fora ficará a questão que mais interessa a Trump e a Putin: como repartir, em termos de ocupação territorial, os superlativos recursos naturais da Ucrânia. Grande parte do território da Ucrânia, não sujeita ao controle de Putin, já se encontra em mãos dos grandes fundos de investimento do Ocidente. A democracia da paz e da guerra de Trump é o cifrão do dólar. Presume-se que não será dificil o entendimento contábil entre ambos: Rússia detém os territórios ocupados e deles não abre mão, e Trump há de concordar com ficar com o restante do espólio, que lhe cai no colo. Nivaldo Manzano
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