Artigos, ensaios, pesquisas de interesse geral - política, cultura, sociedade, economia, filosofia, epistemologia - que merecem registro
quarta-feira, 5 de março de 2025
TEMPO ZERO
QUIPROCÓ A PROPÓSITO DO TEMPO ZERO
Em uma postagem no facebook fui chamado à atenção por não precisar o tempo (a data, a época) em que ocorreu o fato. Assim procedi deliberadamente em consonância com o propósito que tinha em vista e, ao que parece, não me fiz entender. Desencadeou-se a partir daí um debate com o interlocutor, pois o que eu tinha em vista implicava associar dois eventos, distantes entre si no tempo LINEAR (tempo do relógio),é verdade, mas com outro intento. Eu me referia à MUDANÇA DE UM CONTEXTO PARA OUTRO CONTEXTO, correspondente aos dois eventos, mudança contextual que não implica DURAÇÃO, Por isso, por convenção, chama-se TEMPO ZERO, noção corrente na engenharia de software, retirada da VISÃO DE PROCESSO, OU CONTEXTUAL, que contrasta com a visão LINEAR da geodésia do tempo, que é o estudo da rotação da Terra, rotação que fundamenta a convenção cultural da medida do tempo linear pelo relógio.///
Há várias noções de tempo, e a disciplina que cuida disso é a ANTROPOLOGIA CULTURAL, que é o estudo da diversidade entre as culturas, e o tempo tem aí o seu papel de caráter DIFERENCIAL. Deixo de lado as várias noções culturais do tempo, para ir direto ao ponto: o TEMPO ZERO. Apenas menciono dois marcos na coleção cultural dos tempos: o tempo da teoria da relatividade de Einstein, que rompe com a visão clássica de um tempo único em todos os lugares; e o tempo do filósofo francês Henry Bergson, que propõe a existência de um tempo único mediante a ideia de DURAÇÃO, num sentido anti-einsteiniano. Tempo zero não tem duração, tampouco é único, embora também não seja diverso. TEMPO ZERO é tempo nenhum e isso não é um paradoxo.///
Para um indígena que jamais tenha sabido da existência de uma arma de fogo, ao vê-la em operação, irá associar por analogia a arma de fogo ao seu arco e flecha. Dar-se conta disso não implica transcurso de tempo algum. Do mesmo modo, praticamos o tempo zero no computador quando, ao toque de um dedo, mudamos de um aplicativo para outro, de um sistema operacional para outro etc. Por que outro? Porque cada aplicativo tem a sua sintaxe, ou seja, os seus componentes e as suas regras de operação, assim como o jogo de xadrez difere do jogo de damas: nesse caso, muda-se o tabuleiro, mudam-se as pedras e as regras que estabelecem o modo como cada uma pode deslocar-se frente às outras. Não transcorre tempo linear algum quando me vem a ideia de mudar do contexto da sala de visita para o contexto do quarto de dormir, ao improvisar o sofá como cama, para um cochilo. O sal é branco no contexto do olhar; amargo no contexto do paladar e cristal no contexto do tato. Isso é dizer que os OBJETOS, os EVENTOS, os FATOS mudam de contexto de acordo com a REFERÊNCIA assumida por mim. E ainda: posso reutilizar soluções anteriores, eventos anteriores, fatos anteriores, retidos na memória, que passam a ser escandidos sob novas referências, um novo contexto. Ou seja, TEMPO ZERO é o TEMPO DA MUDANÇA DE UM CONTEXTO PARA OUTRO CONETEXTO. Nivaldo Manzano
Agronegócio e china
ATÉ QUANDO VAI DURAR A BONANÇA DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL?
Um mil toneladas de produção de alimentos por habitante/ano. Essa é a convenção - e toda convenção é fungível - estabelecida por especialistas em segurança alimentar nos anos 1950. A China, segundo informa a Reuters (05.02.2025), elevou a sua previsão de produção para este ano para 700 milhões de toneladas métricas e anuncia a sua meta de elevar a sua produção de 50 milhões toneladas/ano. Isso significa dobrar em QUINZE ANOS o montante da produção prevista para 2025. Caso não ocorram obstáculos climáticos ou de outra natureza, a autossuficiência alimnentar visada pela China deverá ser alcançada dentro de 15 anos, quando, então, hipoteticamente, deverá não mais depender da importação de alimentos. A China tem como meta recuperar 6,7 milhões de hectares de áreas desérticas com pastagens e florestas, até 2025. O objetivo está dentro 14º Plano Quinquenal, que começou em 2021 e termina em 2025. O país tem a maior área desertificada do mundo, com 2,5737 milhões de km2 (quase 1/3 de seu território) e 1,6878 milhão de km2 de áreas de solo arenoso, segundo dados de 2019 da Administração Nacional de Florestas e Pastagens. /// A propósito, Burkina Faso, país da África Ocidental, que acaba de se livrar de meio século sob jugo neocolonial francês, anunciou hoje (05.03.2025) o lançamento de seu novo projeto de produção irrigada de 2 mil hectares, que se incorporam a áreas já em produção de arroz e frutos como tomate (50 t/dia de massa de tomate) e a criação de peixes no sistema tanque-rede (flutuante), com previsão de produção de 300 mil toneladas/ano, ou 830 toneladas/dia. Outros países da África Ocidental, como Mali e Niger, igualmente libertos do jugo francês, propõem-se a realizar projetos semelhantes, todos eles com vistas à autossuficiência alimentar em curto prazo (cinco/dez anos). Dinheiro AGORA não falta: são países ricos em minérios estratégicos, como ouro e urânio, atualmente sob controle nacional e é de sua exportação que obtêm divisas para aquisição de tecnologia. Burkina Faso produz 150 toneladas de ouro por ano e deverá concluir em 12 meses o projeto de sua refinaria./// O neocolonalismo francês deixou como herança nos países que explorou os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Continente. Uma revolução social associada a movimentos de libertação nacional agita uma vintena de países da África, uma revolução ignorada pela imprensa corporativa ocidental. Em iniciativa pioneira no Ocidente, pelo menos DEZ países africanos proíbem a exportação de matérias-primas vegetais e minerais em estado bruto, obrigando à sua agregação de valor in loco, diferentemente do que faz o Brasil, ainda preso ao esquema colonial. Nivaldo Manzano
Porque parece dificil entender o que pensa o chinês
PORQUE PARECE DIFÍCIL ENTENDER A CABEÇA DE UM CHINÊS
Admirador do que se passa na China, meu filho, em viagem de trabalho ao país, notou com estranheza o espírito fortemente COMPETITIVO que grassa entre os chineses, especialmente entre os jovens. Deu-me, assim, a oportunidade de lhe explicar como na cabeça de um chinês cabe AO MESMO TEMPO o sentido de COMPETIÇÃO e o sentido de SOLIDARIEDADE. Nós, do Ocidente, ainda sujeitos à mentalidade ILUMINISTA (predominância absoluta da RAZÃO, como faculdade soberana sobre as demais, a saber, a intuição, os sentimentos, a ética e a estética)) valorizamos o CONCEITO (abstrações) no lidar com os afazeres humanos, em contraste com a mentalidade ORIENTAL, que valoriza espontaneamente o modo de pensar EM PROCESSO (contexto). O conceito, a que se chega por abstração lógica (e, em geral, também matemática) é de caráter DUALISTA: "é ou não é", sendo que ambas as opções excluem-se mutuamente. Na visão em processso, tem-se "é e também não é", de acordo com o contexto, que tem como referência o ser humano. Assim, ambas as opções conciliam-se mutuamente, de modo SOLIDÁRIO E CONFLITVO. O processo é de caráter MONISTA. De modo que, sem se considerar contraditório, o chinês se enxerga como "individualista" (no dizer ocidental), na defesa e afirmação do próprio interesse, ao mesmo tempo que solidário na defesa e afirmação da COMUNIDADE (solidariedade). Aqui não entra nenhuma consideração que remeta à ideia de oportunismo. Por influxo do ILUMINISMO, de base exclusivamente racional e egotista (ideologia liberal) , fomos privados do sentido constitutivo de COMUNIDADE, porém, ainda muito vivo entre os ameríndios e demais povos que não sofreram a investida da mentalidade eurocentrista. Há dois mil e quinhentos anos, Aristóteles escreveu em seu livro "Ética a Nicômaco" que o maior risco para a democracia é a acumulação de dinheiro em mãos de poucos, do que resulta o afrouxamento dos laços comunitários e daí, a sua ruína. Nivaldo Manzano
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