segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

México, a primeira investida de Biden na América Latina: o que isso significa.

México, a primeira investida de Biden na América Latina: o que isso significa.

Nivaldo Manzano (23/01/2021)

Sob o governo Biden, EUA lançam o mais ambicioso projeto de vassalagem e dominação da América Latina desde a doutrina Monroe (1823), conhecida como Big Stick (grande porrete) e “A América para os americanos”. Como convém à retórica geopolítica dos novos tempos, trata-se de um projeto soft power, que não prevê desembarque de marines em Copacabana nem o adestramento para tortura do Plano Condor, embora preveja, isto sim, o revigoramento da Escola das Américas, como centro de infusão e uniformização ideológicas e capacitação doutrinária e institucional para a “defesa comum do Ocidente”, que incluem também, à diferença do passado, adestramento das elites civis regionais responsáveis pela gestão nas áreas de política econômica, jurídica, policial, defesa interna/externa e diplomacia. O ex-juiz Moro e os procuradores da Lavajato constituíram o primeiro experimento pré-Biden de colaboração na área da Justiça, como o impedimento de Lula de concorrer às eleições 2018.

Mais inteligente do que toda iniciativa anterior dos EUA na história de suas relações com a América Latina, o projeto Biden visa a subordinar e integrar a América Latina ao sistema estratégico mundial de defesa USA, mediante a incorporação orgânica da AL à estratégia global de enfrentamento da China e Rússia, convertendo inicialmente os principais países da região (México, Colômbia e Brasil) em extensão articulada da máquina de guerra USA, integrando-os à OTAN, na condição de “sócios globais”. Assim, Colômbia, México e Brasil seriam alinhados na guerra e no mercado bélico cativo USA ao Paquistão, Iraque, Austrália, Afeganistão, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Mongólia, países aos quais se juntariam Suécia e Finlândia, fechando-se o controle sobre todos os continentes.

Intimamente associado à sua geopolítica global está o interesse dos EUA em ampliar o mercado de sua indústria da defesa, mediante a incorporação de novos clientes, uma incorporação que não se daria simplesmente via mercado, mas mediante a sua integração estrutural a um sistema de dependência permanente que os torne cativos da tecnologia USA, de uniformes e botas a radares, torpedos, submarinos atômicos, aviões, tanques, helicópteros, satélites e mísseis. Está aí a diferença entre o ingênuo e grosseiro Trump e a belicosidade esperta e interesseira (recursos estratégicos, armas, petróleo da Líbia, Síria etc.) dos democratas (lembre-se de Obama e Hillary Clinton: nenhum dia de governo sem guerra). Cada sócio global é obrigado a despender 2% de seu PIB em compra de armas e equipamentos USA. No caso do Brasil, isso representa um dispêndio OBRIGATÓRIO de mais R$ 200 bilhões por ano, a serem transferidos para a indústria de defesa USA.

Para tanto, Biden colocou no Pentágono o general Lloyd Austin, ex-integrante da direção da Raytheon Technologies, o mais poderoso lobby da indústria de defesa junto ao governo norte-americano (Pentágono). O lobby da defesa e o lobby das big tech são os que estão à frente da estratégia do governo Biden. Como embaixatriz no México Biden vai nomear Roberta Jacobson, responsável pela gestão da Iniciativa Mérida (Plano Colômbia), que sob o pretexto de combate ao narcotráfico, anexou o país aos interesses dos EUA, como cliente. Assim como agora Biden acena com alguns bilhões para o México de Lopes Obrador, George W. Bush destinou um pacote inicial de US$ 1,5 bilhão para os três primeiros anos do acordo, que incluiu helicópteros, aviões, tecnologia operacional e de inteligência, além de treinamento para os policiais e militares colombianos. O pacote também foi estendido a países centro-americanos, como: Belize, Haiti, Costa Rica, El Salvador, República Dominicana, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.

Foi dentro desse mesmo pacote que a Colômbia, subordinada ao comando da diplomacia da defesa USA foi incorporada à OTAN como sócia global.

Em resposta à proposta de Biden, o presidente do México Andrés Manuel Lópes Obrador disse TRÊS VEZES ontem, segundo o noticiário: “NÃO, NÃO e NÃO”, lembrando compromisso eleitoral assumido de rejeitar qualquer entendimento com os EUA na área militar. Entenda-se, porém, que Biden dispõe de recursos de pressão poderosos para dobrar Lópes Obrador, como a questão sensível dos imigrantes mexicanos nos EUA, entre outros. A desistência na construção do muro entre os dois países nada significa, além da estética, pois Biden vai implantar em seu lugar um sistema de vigilância virtual na fronteira muito mais eficaz. Para mais informações sobre os planos de Biden para a América Latina, acompanhe El Chapucero, no youtube, o mais bem informado blog mexicano sobre relações USA-AL, com 1.2 milhão de seguidores. Aqui https://www.youtube.com/watch?v=BgJ4nwkn2H8 

O negócio da tarifação, o ÚNICO tipo de negócio que cresce no mundo (cliente cativo e previsão antecipada do ganho, sem risco algum) chega à área da defesa, por imposição USA-Biden.

Adam Smith ou John Stuart Mill (não me lembro quem) escreveu que o mercado não tolera concorrência. É o que se observa há tempos nas grandes privatarias dos monopólios naturais, sob a gestão do Estado, da água, energia elétrica, esgoto, saúde, educação, pedágios, telecomunicações, terminais de transporte público por terra, mar e ar, como aeroportos e seus estacionamentos etc., em mãos de um grupo sempre menor de grandes bancos e seguradoras. Em geral, são negócios conhecidos como de tarifação, nos quais o cliente é cativo (consumo forçado) e desembolsa um montante previamente assegurado de ganho, sem risco algum, à parte o custo da manutenção do negócio, que é incorporado às tarifas.

Agora, o negócio estende-se à defesa, convertendo-se no melhor dentre todos. Com Biden no governo, os EUA lançam, para adesão “voluntária” sob pressões irresistíveis (Veja-se Venezuela), a incorporação de países ao seu sistema e negócio da indústria da defesa, integrando-os à sua estratégia de ofensiva global contra China e Rússia. Para tanto, cada país é obrigado a se tornar “sócio global” da OTAN, mediante a compra de equipamentos e armas do fornecedor USA no montante equivalente a 2% de seu PIB. No caso do Brasil, isso representaria um dispêndio obrigatório de mais de R$ 200 bilhões por ano. Na Colômbia, os EUA emplacaram o seu projeto-piloto na América Latina, que se tornou “sócia global” da OTAN (2% de seu PIB destinado à indústria da defesa USA) em 2018. Agora, Biden quer submeter o México à mesma proposta, mediante a oferta a López Obrador de um entendimento pacífico sobre a questão migratória. O Brasil de Bolsonaro, já a meio caminho da submissão à estratégia de defesa global dos EUA, será o próximo. Com a “adesão” dos três países, EUA fecham a sua estratégia global de subordinação e “cooperação” em todos os continentes. Leia postagem anterior sobre o tema ou ouça El Chapucero, no youtube https://www.youtube.com/watch?v=BgJ4nwkn2H8&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1V97xFOzMJHntKQ1xvLKZCvuVO7JKsXZWxT6F2uw75GJoFph2uABoUAR8