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sábado, 10 de maio de 2025
PROVISÓRIO TERMO cibernética
Falsificação, dedução E o desenvolvimento da ciência: Um estudo sobre Bachelard e Popper. Teresa Castelão Sem Lei - 2012 - Philósophos - Revista de Filosofia 17 (1):159-173.
História sem Redenção: a oposição a Bossuet e a gênese da filosofia da história voltairiana. Edmilson Menezes – 2012 – Dois pontos 9 (3).
Husserl,Heidegger e a superação do naturalismo. Cláudia Drucker - 1999 - Philósophos - Revista de Filosofia 4 (1):05-24.
Teoria do Erro: uma avaliação crítica. Jaime Parera Rebello - 2017 - Veritas – Revista de Filosofia da Pucrs 62 (2):453-466.
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A análise arqueológica do discurso em Michel Foucault: por uma linguística do enunciado. Sérgio Gomes de Miranda - 2016 - Griot: Revista de Filosofia 14 (2):122-138.
Tempo e filosofia na 'Fenomenologia do espírito' de Hegel. Paulo Roberto Pinheiro da Silva - 2020 - Discurso 50 (1).
Análise do discurso. Mariana Rodrigues Gomes de Mello & Marta Lígia Pomim Valentim - 2021 - Logeion Filosofia da Informação 7 (2):24-43.
[HTML] Máquina e realidade: cibernética, autopoiese e produção de subjetividade em félix guattari
E Simonini, RC Romagnoli - Psicologia em Estudo, 2019
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[HTML] scielo.br
[PDF] O FABULOSO DESTINO DA AUTONOMIA HUMANA: A TRAGÉDIA DA TECNORREGULAÇÃO NO MEIO AMBIENTE DIGITAL
EAV Bastos, CG Costa, YN Moita - 1ª Edição Santa Catarina-2020
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[PDF] academia.edu
[B] Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos
modelo em ciencia
Reflexiones en torno a un Modelo de Ciencia Escolar
N Sanmartí, M Izquierdo - Investigación en la Escuela, 1997
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A noção de vontade geral e seu papel no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau
MM Pinto - Cadernos de ética e filosofia política, 2005
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[PDF] usp.br
A Crítica de Hegel À Ideia de Vontade Geral de Rousseau
ME Schäfer - Kínesis-Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em …, 2010
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[PDF] unesp.br
[PDF] O fundamento antropológico da vontade geral em Rousseau
MA Vento - 2013
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[PDF] philarchive.org
SUJEITO EM ARISTÓTELES
O conhecimento científico no livro I dos Segundos Analíticos de Aristóteles
L Angioni - Journal of Ancient Philosophy, 2007
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[PDF] usp.br
Aristóteles e a noção de sujeito de predicação (Segundos Analíticos I 22, 83a 1-14)
L Angioni - 2007
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[PDF] philarchive.org
O sujeito na psicanálise e na educação: bases para a educação terapêutica
MCM Kupfer - Educação & Realidade, 2010
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[PDF] ufrgs.br
CIBERNÉTICA E REALIDADE MÁQUINA X SUJEIJTO BBB
CIBERNÉTICA E REALIDADE MÁQUINA X SUJEJITO BBB
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/PsicolEstud/article/view/45522/pdf
Parece ter se construído paulatinamente na história humana uma espécie de encanto pelas máquinas. Tal encanto conferiu forma, no decorrer dos últimos quatro séculos, a concepções que entendiam tanto os corpos orgânicos quanto o universo como organizados em engrenagens a traduzirem, em seu funcionar, padrões universais de constância, estabilidade e harmonia. No século XVII, por exemplo, René Descartes assumiu que os seres orgânicos podiam ser abordados como sendo autômatos com engendramentos mecânicos mais complexos do que qualquer outra máquina que pudesse ser idealizada pelos seres humanos. Tal fato
[...] não parecerá de maneira alguma estranho a quem, sabendo quão diversos autômatos, ou máquinas móveis, a indústria dos homens pode produzir, sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças, em comparação à grande quantidade de ossos, músculos, nervos, artérias, veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal, considerará esse corpo uma máquina que, tendo sido feita pelas mãos de Deus, é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens (Descartes, 2004, p. 81).
Àquela época, Deus era a referência para o ordenamento cósmico e, trazendo consigo esse marcador de ordem e de sistematização a medir as constâncias da natureza, a matemática foi assumida por Galileu (2004) como sendo a linguagem de Deus. Nesse contexto, a ciência nascente entre os séculos XVII e XVIII veio articulada à crescente ‘mecanização’ e matematização da natureza, amparada em figuras como Descartes, Galileu e, principalmente, Isaac Newton. Este último realizou, no final do século XVII, o grande projeto de postular matematicamente, em seus estudos de óptica, mecânica e gravitação universal, leis gerais da natureza que prescindiam das idiossincrasias humanas. O universo, a partir de então, foi compreendido - apesar de Newton nunca ter feito tal analogia - como um grande relógio; uma máquina com engrenagens perfeitas e harmônicas a seguir um destino pré-estabelecido pelo ‘geômetra cósmico’ que era Deus (Gleiser, 1997).
Contudo, na passagem do século XIX para o século XX, a imagem do relógio como a principal analogia do funcionamento do universo perdeu sua hegemonia. Isso porque, em meados dos anos 1800, a Revolução Industrial trouxe consigo a imponência das máquinas térmicas a transmutarem calor em movimento. A transformação social que progressivamente tais máquinas produziram não tardou a transformar também os modos de conceber a vida e o universo, sendo que, de acordo com Balandier (1997, p. 53),
O relógio - imitação de uma natureza autômata cuja ordem é imutável por sua conformidade às leis do movimento -, o século XIX substitui pela máquina a vapor, evocadora de um mundo onde a transformação do calor em movimento se efetua com um desperdício irreversível, onde se revela a obra de um poder ao mesmo tempo criador e destruidor. De mecânica, a natureza passa a ser termodinâmica.
Essa mudança de modelo de referência - do relógio à máquina a vapor - se torna significativa na construção tanto de outros modos de problematizar a ordenação e o fluir do universo, quanto também de outros modos de pensar o indivíduo e a sociedade. E no século XX que vivenciava novos avanços tecnológicos (como os aviões, carros, eletricidade, armas de destruição em massa) as novas descobertas da física quântica, o rompimento de velhas certezas, intensificou-se, especialmente, na Europa e nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial, o questionamento de modelos de realidade que defendiam cadeias lineares e relações causais. Novos modos de pensar sustentavam a compreensão de diferentes fenômenos como articulados a processos não mais parciais e sim resultantes da interação entre diferentes elementos. Foi nesse contexto de revoluções que, por exemplo, surgiram as concepções teóricas advindas da cibernética.
A natureza termodinâmica
Etimologicamente, cibernética é uma palavra derivada do grego kubernetes (Κυβερνήτης) e vem a significar ‘piloto’, ‘timoneiro’. É uma concepção que tem como um de seus principais idealizadores o matemático Norbert Wiener, que a partir da década de 1940 se propôs a compreender o ‘funcionamento’ sistêmico do vivente a partir da dinâmica computável das máquinas. Wiener considerava que ambas as entidades - o ser humano e a máquina - compartilhavam de uma mesma essência funcional: a capacidade de processar informações e computar dados. Nas palavras do referido autor,
[...] quando dou uma ordem a uma máquina, a situação não difere essencialmente da que surge quando dou uma ordem a uma pessoa. [...] O processo de receber e utilizar informação é o processo de nosso ajuste às contingências do meio ambiente e de nosso efetivo viver nesse meio ambiente (Wiener, 1968, p. 16 e 18).
Assim, na cibernética o ser vivo e as máquinas não possuiriam diferenças funcionais, sendo que quanto maior fosse a qualidade da informação recebida (quanto mais sensíveis fossem os filtros captadores do vivente e/ou da máquina), maior seria também a qualidade da organização do sistema, uma vez que a informação iria apresentar pouca dispersão, pouco ruído, sendo mais claramente computada. Portanto, o vivente e a máquina se aproximam funcionalmente pela capacidade que ambos possuem de feedback3, corrigindo os ruídos e perdas das mensagens, melhor traduzindo as informações advindas do meio e se adaptando de maneira eficiente à realidade do mundo externo. Porém, consideramos importante ressaltar que a proposta de Norbert Wiener não foi a de meramente reduzir a expressão viva à máquina cibernética, mas apontar pontos de confluência entre esses dois processos. Por isso, cremos ser necessário reproduzir aqui a seguinte ressalva:
Quando comparo o organismo vivo como tal à máquina, nem por um momento pretendo dizer que os processos físicos, químicos e espirituais, específicos da vida, tal como a conhecemos habitualmente, sejam os mesmos que os das máquinas simuladoras de vida. Quero simplesmente dizer que ‘ambos podem exemplificar localmente processos anti-entrópicos’, que talvez possam ser exemplificados de muitas outras maneiras que, naturalmente, não chamaremos nem de biológicas nem de mecânicas (Wiener, 1968, p. 33, grifo nosso).
Nessa ressalva, o matemático apresenta a perspectiva de que outro ponto de união entre as máquinas e os seres vivos reside no fato de que ambos respondem a uma grandeza física denominada entropia. Enquanto grandeza da termodinâmica, a entropia se refere à quantidade de perda de calor (energia) necessária ao equilíbrio térmico: equilíbrio este que significa a cessação das trocas de calor. Se a primeira lei da termodinâmica afirma que a energia/calor do universo se conserva; a segunda lei, a da entropia, sustenta que a dispersão do calor, em um ‘sistema isolado ou fechado’4, tenderá, com o tempo, a atingir seu nível máximo, ou seja, o equilíbrio térmico. Assim, no aumentar seu grau de dispersão, um sistema termodinâmico igualmente se encontra numa condição em que há maior número de microestados acessíveis às partículas que o compõem. Portanto,
Quanto mais trocas de energia ocorrerem, maior será a entropia, e isto é possível a partir do momento que esta energia é distribuída de maneira mais dispersa, o que leva à interpretação da entropia como sendo a tendência natural a uma maior dispersão da energia, ou uma maior variedade na distribuição da energia conforme a transformação espontânea ocorre. A entropia é entendida, portanto, como uma medida da dispersão da energia. [...] Além disso, o cálculo da variação da entropia para alguns processos, como a expansão de um gás num vácuo e as transições de fase sólido-líquido e líquido-vapor, ajudou a sedimentar, entre estudantes e professores, o entendimento da variação da entropia como o aumento da desordem (Cavalcanti, Ferreira, Abrantes, & Cavalcanti, 2018, p. 2).
Quando, porém, pensa-se em termos termodinâmicos para se explicar os sistemas orgânicos (e inclusive sociais) - que são sistemas abertos, não isolados e em constante interação com o meio no qual praticam sua existência - deparamo-nos com um paradoxo. Como a concepção entrópica clássica se baseia no entendimento da natureza como um sistema fechado, regido por um fluxo em direção a uma máxima entropia ou ‘desordem’, o surgimento da vida (enquanto organização) seria uma impossibilidade. Tal impossibilidade se daria porque os processos organizados e a evolução dos organismos mais simples para os mais complexos se apresentariam como uma improbabilidade termodinâmica, uma vez que o universo tenderia à desorganização, a um aumento de probabilidade de estados possíveis (e, por sua vez, a uma maior dispersão) e não à organização, que significa a diminuição da probabilidade de estados.
Todavia, o enigma que sustenta esse improvável processo organizativo que é a vida desaparece ao se considerar que a linearidade entrópica (de tendência ao crescente aumento da dispersão) só se mantém em sistemas isolados e não em sistemas abertos, dentro dos quais se enquadram os seres vivos. Segundo o biólogo Ludwig von Bertalanffy, há uma entropia negativa (negentropia) nos sistemas viventes, no momento em que estes
[...] conservam-se em uma troca mais ou menos rápida de seus componentes, em meio à degeneração e regeneração, catabolismo e anabolismo. [...] Assim, o organismo multicelular mantém-se diante à troca das células, a célula conserva-se pela troca das estruturas celulares, estas por sua vez pela troca dos compostos químicos que as constituem, etc. (Bertalanffy, 1973, p. 216).
Portanto, temos que os sistemas vivos - pensados em referência às máquinas termodinâmicas - são sistemas abertos que, por praticarem trocas constantes com o meio circundante, assim como por promoverem contínua renovação celular, mantêm-se distantes do ‘equilíbrio térmico’, uma vez que há diminuição da entropia e aumento da organização. Desta maneira,
[...] a entropia seria a passagem de uma situação de maior ordem para uma situação mais desordenada, uma ‘tendência ao caos’. Tal interpretação alçou a entropia a um status (não necessariamente desejado) de ferramenta capaz de explicar até mesmo fenômenos das ciências sociais (Cavalcanti et al., 2018, p. 2, grifo do autor).
E foi na ambição de levar a entropia à dimensão explicativa do social que, no caso em questão da cibernética, Norbert Wiener considerava a informação como sendo uma forma de ‘energia térmica’, abordando as máquinas cibernéticas, os seres vivos e as dinâmicas sociais como obedecendo a processos de trocas de informações com o ambiente. Quanto maior a entropia informacional (dispersão da informação) menores seriam as condições de coerência organizativa de um sistema e este tenderia a não mais conseguir se organizar em um ambiente. E, da mesma maneira que as máquinas computavam o mundo que as envolvia e reagiam ao mesmo em um movimento de retroalimentação, os sistemas sociais seriam, para Wiener, também organizados dentro desse mesmo empenho em processar corretamente as informações advindas do meio, reagir às mesmas de forma organizada e, assim, diminuir os perigos de aumento do ruído e da dispersão entrópica.
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