sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Eurolândia: milhões de euros para controlar o seu próprio colapso


Blockupy Frankfurt/Maio 2012

Quatro dias no coração financeiro e político da Europa, em Frankfurt, foram sem dúvida um marco na imparável marcha fúnebre da democracia representativa: interdição de manifestações, proibição do direito de reunir em público, cassação policial do direito à circulação, um quarteirão inteiro em estado policial, cercado por 5 mil polícias. O estado de excepção decretado pelo município de Frankurt foi ratificado nas vésperas do arranque oficial das jornadas de protesto do Blockupy (http://17to19m.blogsport.eu/), quer em primeira instância pelo Tribunal Administrativo de Kassel, quer posteriormente, pelo Supremo Tribunal Federal. 5 mil polícias fizeram o resto (no total, 15 mil polícias estavam destacados), montando um cenário de controlo policial inaudito, encerrando várias estações do metropolitano e do comboio urbano, enclausurando um quarteirão inteiro, com duplas barreiras, checkpoints e as ruas adjacentes com patrulhamento permanente num perímetro de 1 km, onde a polizei se entretia a caçar mochileiros, rastas e pessoas de trajes suspeitos.
Na Alemanha, depois da Segunda Guerra, ninguém se lembrava de cidadãos serem controlados, identificados, revistados e detidos em massa por terem a “aparência” de vir exercer direitos conquistados (como o de manifestar, reunir e circular em espaço público), e, sobretudo, de receberam da polícia “Ordens de Restrição Individual” de circulação, de efeito imediato de controlo à sua livre circulação, por suspeita de poderem vir a manifestar-se ou reunir em público, para o efeito recebendo mapas com a indicação dos locais onde lhes era interdito circular. Caso um cidadão notificado fosse apanhado nos locais interditos, receberia ordem de prisão e seria julgado por desobediência.
Quando encostada à parede, há momentos em que a democracia demonstra à boca cheia que só um grande aparato contínuo de propaganda e de fabricação de consensos pode esconder a base anti-democrática, autoritária e potencialmente fascizante em que assenta.
As provas acumulam-se de tal forma e tão descaradamente que torna-se supérfluo procurar convencer com as causas e razões quem já de há muito deveria ter lucidamente percebido o colete-de-forças, parlamentar e legalista, com que a cultura da “democracia burguesa” aniquilou a democratização horizontal e real da sociedade, servindo os interesses das elites económicas dominantes.
Eurolândia: milhões de euros para controlar o seu próprio colapso
A iniciativa política do Blockupy, convocado por organizações esquerdistas, sindicatos e pelo movimento antiglobalização ATTAC, acabou por ter um duplo-sucesso antes mesmo de começar oficialmente: pôs a nu a falsificação em que assenta a democracia e a instrumentalização da Lei que a suporta (com as decisões jurídicas já mencionadas); e forçou a que as autoridades policiais bloqueassem o quarteirão financeiro durante quatro dias, o objectivo central da plataforma activista.
Não só o edifício do Banco Central Europeu esteve bloqueado – o objectivo preponderante e mais mediático do Blockupy – como todo o bairro onde se concentra o mundo financeiro e o comércio de luxo de Frankfurt. Aos funcionários da base da pirâmide foi-lhes dado um dia compulsivo de folga... subtraído aos dias de férias, como alguns faxineiros relataram à organização do Blockupy.
Desde o início do novo milénio, não sendo rara a instauração do estado de excepção não declarado, por exemplo, aquando da realização dos espectáculos de consagração do G8 e das Cimeiras da NATO, até hoje a supressão tão ampla dos direitos civis nunca tinha sucedido na Europa por causa de uma iniciativa dos movimentos sociais, de cariz anticapitalista, num encontro de vontades, práticas e valores diametralmente opostos aos que têm motivado o estado de excepção não declarado quando as elites militares, políticas e económicas se reúnem. Milhões de euros são gastos na operação de guerra contra as correntes contestatárias e direitos constitucionais básicos suspensos apenas para manter um grau de controlo sobre uma sociedade em colapso.
Quando se diz que as metrópoles do mundo contemporâneo foram mobilizadas pelo neo-liberalismo para sobreviverem em permanente estado de guerra, talvez se deva precisar que a estratégia securitária das elites de poder não é tanto entrar em guerra declarada, mas exercer um contínuo controlo sobre populações depauperadas física, espiritual e materialmente (na prática, submetendo-as às consequências de um estado de guerra) para que se abstenham de entrar abertamente no conflito a que estão submetidas. Este jogo de gestão do imaginário pelas estruturas de poder fomentou a aptidão para vivermos sob verdades estabelecidas como se não fossem evidências da cultura destrutiva que resulta da mercantilização de todos os aspectos da vida. Nesse sentido, será o estado de guerra a estabilização de um confronto unilateral das forças capitalistas ao mesmo tempo que camadas inteiras da população são neutralizadas por contínua antecipação da sua exclusão do confronto directo? Populações que enfrentam apenas os efeitos desse estado de controlo: empobrecimento, exploração, perda de direitos, discriminação racial e perseguição aos emigrantes, destruição dos laços comunitários, vazio existencial e, claro, o isolamento dos focos minoritários de resistência. Se a civilização europeia vem impondo desde há mais de dois séculos este programa de empobrecimento espiritual, cultural e material nos outros continentes, extraviando culturas e civilizações, com consequências dramáticas, sobretudo em África, sem recuar um milímetro, demonstra agora que está pronta no seu próprio território a extraviar as bolsas de resistência dos lugares geográficos mais empobrecidos, como a Grécia, Portugal e Espanha.
Para os dirigentes do poder o estado das coisas é o preço a pagar por extensos sectores da população, para que uns poucos desfrutem de uma concentração de riqueza e poder sem precedentes e as massas de uma vida de miséria trágico-feliz, inundadas de tecno-mercadorias, cimento, toxinas, poluição e estupidificação cultural.
Caberia então perguntar se a democracia (o modelo de poder e de organização política da sociedade que até hoje cumpriu com mais amplitude e eficácia os objectivos oligárquicos de concentração de poder e riqueza) não é em si próprio e continuamente um estado de excepção?
Quinta-feira, 17 de Maio – Acampadas
A insurreição dos biberons para implodir turistas
Depois de duas dezenas de detenções na quarta-feira à tarde na Frankfurt’s Hauptwache (e de uma recordista identificação das mais de 500 pessoas que já se encontravam em Frankfurt e faziam a primeira assembleia aberta, dissolvida de imediato pela polícia), no dia seguinte, o primeiro grande grupo de cerca de 800 activistas que tentavam acampar na Pauls-Platz foram cercados. Na praça ao lado (Romer Platz), à frente do City Hall, foram chegando mais activistas, mesmo quando o estado policial preventivo fazia parar autocarros, às portas da cidade, como ocorreu a pelo menos três autocarros que vinham de Berlim. O pânico policiesco chegava a ponto de agentes obrigarem um casal a beber do biberon do seu bebé, numa perícia preventiva a atentados químicos. Não faltará muito para que em breve a democracia proíba esses tanques terroristas chamados carrinhos de bebé de se aproximarem dos centros de poder... Neste preciso instante, os serviços secretos israelitas formam regimentos de agentes especiais com sensores odoríferos especializados na despistagem de matéria toxicológica nas fraldas de terroristas de peito com tendências diarreicas…
O insólito espreita a cada esquina e enreda-nos quando menos esperamos. O culture jamming espontâneo também há-de atingir activistas incautos. Não o testemunhámos, foi-nos relatado. Um grupo de detidos (perto do campus universitário), sentados no chão à espera de entrarem para as carrinhas da Polizei, vê um homem hirsuto e esfarrapado que se lhes dirigisse. Insulta-os a torto e a direito. Não mendiga no vocabulário. Alguns activistas sentem-se incomodados. Chegam a pedir à polícia que o afaste. A polícia ri-se. A imagem é demasiado expressiva para não reflectirmos sobre ela. Para contestar o poder dominante também precisamos de um perímetro de segurança? Um cordão que nos mantenha a salvo dos mais espoliados? Será isto o “choque de civilizações”...? O capital cultural desintegrou-nos e separou-nos mais uns dos outros do que as gavetas em que cada classe é arrumada consoante o seu poder de compra. A pestilência desta civilização pespegou-se de há muito. Não se desentranha com um banho termal. O isolamento é um dos trunfos do inimigo.
Os turistas sentados nas cervejarias da praça tragavam indiferença - indiferentes mesmo à sua própria cerveja que aquecia com o sol da tarde. Perderam já o ar de fácil espanto ou curiosidade que os costuma caracterizar. Pareciam pagar as suas férias não para estar ali, mas para não-estarem no sítio de sempre. Não perguntam. Não querem respostas. Parecem tão amargos como o travo da mais azeda das jolas. Pagaram para poderem não estar no outro lado, no lado B e de rotação contínua das suas vidas enfadonhas. Desse modo, estão embotados de cerveja-sem-sabor e enfastiados de sem-tremoços, em nada lhes afectando uma praça ocupada e sitiada pela polícia. Tédio mortal. Do ponto de vista turístico, três cervejas moles e um Apple Strudel cumprem a tarde.
Entre os turistas estiolando no spot mais turístico da cidade, quando o número de activistas do segundo grupo rondava os 400 decidiu-se montar as tendas, desobecendo à ilegalização dos acampamentos e cumprindo com um dos objectivos do Blockupy.
Esta atitude de desobediência civil levou a uma pronta intervenção policial, que se deparou com resistência física e um bloqueio por parte dos activistas que fez a polícia recuar. Nessa altura, na praça estariam cerca de 50 polícias de choque. Passaram mais de 3 horas até que chegassem reforços e toda a praça ficasse cercada por centenas de polícias (impossível de calcular, mas nunca seriam menos de 600 aqueles que estavam em operação directa para dispersar os activistas acampados, além dos agentes que se encontravam ao longo da marginal a dois passos do cerco). Antes da evacuação da praça, registe-se ainda a intervenção de um grupo de activistas que impediu sucessivamente uma carrinha da polícia, com uma parafernália de câmaras tele-comandáveis, de se aproximar do centro da praça.
Depois de o bairro financeiro estar protegido de forma total pela polícia e do impedimento de os activistas acamparem – impossibilitados de ficarmos concentrados no mesmo local durante o fim de tarde e noite, o programa previsto de assembleias e grupos temáticos de discussão foi inviabilizado, dificultando a fluidez de decisões e a própria comunicação entre activistas -, os diferentes grupos temáticos (particularmente o bloco anti-militariasta, o bloco anti-privatização dos serviços públicos, o bloco laboral, o bloco anti-racista, o bloco anticapitalista, e o bloco ecologista) e a coordenação do Blockupy foram discutindo, em diferentes locais, o que fazer no dia em que estava destinado bloquear o Banco Central Europeu. Decidiu-se tentar chegar o mais perto possível da zona de democracia-off, para fazer manifestações, contudo preservando sempre a autonomia dos colectivos que quisessem levar a cabo outro tipo de acções.
Sexta-feira, 18 de Maio – Acções directas
“Hungry? Eat a banker!”.
Antes das 8h da manhã já estávamos na rua. À medida que nos avizinhávamos do quarteirão da alta finança europeia, viam-se danças funerárias coreografadas por fileiras de polícias. Prédios envidraçados, cimento e árvores, tão artificialmente dispostas, que parecem ser alimentadas a biodiesel, esse agente eco-patológico. Todo o aborrecimento da civilização. E uma náusea matinal.
Contíguo ao quartel da finança, na Kaiserstrabe, proliferam os casinos e as casas de strip-tease de toda a boçalidade patriarcal. Não deixa de ser uma metáfora cultural do capitalismo: de um lado, com os bancos, os escritórios e as agências de mercado, a aridez e infertilidade, a disciplina e inibição, a diatética e sande light, a obediência ao organigrama empresarial e falta de tusa; do outro, teatralização da ejaculação permanente e da supremacia do poder fálico, desinibição self-service e mac-kebabs, excitação comprada e orgasmos reaccionários.
Entre os planos da manhã, desenhavam-se acções directas, como o bloqueio de um shuttle que transportaria executivos da alta administração do BCE e que largaria logo cedo da estação central. Fazíamos parte dos grupos que tentavam realizar, infrutiferamente, essa acção. O dispositivo policial reforçado na estação de Frankfurt impediu qualquer tentativa de ajuntamento. Outra acção que teve mais sucesso ainda pela manhã foi a “tomada” do Messeturm, o arranha-céus onde ficam os escritórios da Goldman Sachs, onde os “salteadores” colocaram a faixa “Hungry? Eat a banker!”.
Goradas as tentativas de realizar acções directas nas imediações do centro financeiro, depois de um jogo do gato e do rato nas ruas adjacentes ao quarteirão no-civil-zone (fomos identificados por duas vezes; numa dessas tentativas de desbaratinar a polícia, seis carrinhas pararam numa rua de sentido único apenas para identificarem quatro pessoas!; nas duas vezes, os polícias comunicavam a uma central os nossos nomes no intuito de saber se estávamos em alguma lista negra), chegou-nos a informação (existia uma linha informativa que ia dando coordenadas aos grupos de afinidade) que o objectivo matinal passava a ser realizar uma manifestação num dos pontos mais próximos do BCE, antes do duplo gradeamento que limitava o acesso ao alvo do Blockupy. Quando mais de duas centenas de activistas já se tinham reunido, ao som da batida samba dos Ritmos de Resistência, a polícia começou a sua tentativa de cerco total. Supomos que o facto de o primeiro grande grupo, que conseguiu reunir-se horas antes no parque Gallusanlage, mesmo colado à frente norte da zona de segurança policial, ter sido preso, depois do mesmo tipo de cerco, levou a que as pessoas começassem a dispersar na direcção da marginal que segue o rio. A polícia saía de tudo quanto era canto e já na Untermainkai o grupo de mais de 200 pessoas ficou encurralado, polícia de choque à frente e nas nossas costas. Ou se resistia na marginal ou a única saída era saltar para o jardim, de uma altura de 4 metros. Apercebendo-se que os polícias apertavam o cerco continuamente, sem qualquer intenção de recuarem face aos primeiros saltos, a maioria dos activistas acabou por saltar. Ficámos entre as 3 dezenas que permaneceram na rua e que depois acabaram por descer pelas escadas de acesso ao jardim.
Sindicalistas gregos vieram tirar o retrato, sem o flash e o mob das ruas de Atenas
Chegava-se ao fim da manhã e os vários grupos de activistas dirigiram-se a uma das bases de apoio, nas instalações da DGB (a maior confederação geral de sindicatos alemã), bem perto do quarteirão financeiro e mesmo de face para o rio. Retemperava-se forças, com o eficiente apoio da equipa que tratava da comida, discutia-se, faziam-se contactos, planeavam-se acções para a tarde. Neste espaço de tempo, em dois momentos distintos, a polícia de choque fez menção de entrar nas instalações. Pareceu-nos mais uma manobra de intimidação das forças policiais. Instalaram-se, com 3 ou 4 linhas de polícias, a todo comprimento de uma das entradas do sindicato (especados diante do portão, na frente norte, permanentemente aberto para a circulação de activistas). Contudo, pareceu-nos que a impunidade policial não chegaria a ponto de invadir a propriedade privada do maior sindicato alemão... como fazem tantas vezes na propriedade colectivizada de centros sociais ou squats anarquistas, em várias cidades alemãs.
Quem veio da Grécia em visita guiada ao DGB foi um magote de sindicalistas bem-postos, que passaram por nós quando batíamos a sesta pós-almoço, no terraço da DGB. Encostaram-se ao gradeamento do terraço para terem por detrás o cenário freak para tiraram fotos e pendurarem na intersindical. Vieram sem o flash e o mob das ruas de Atenas, Patras, Salónica... Escolheram, à distância, o melhor enquadramento, o mais pitoresco, até as bandeiras vermelhas e negras dos anarco-sindicalistas cabiam na Nikon, mas será que no álbum de retratos da vida real, nas ruas de Atenas, não retocam e apagam da panorâmica tudo o que não tenha foice e martelo e se mexa com liberdade de acção?
Apesar de na manhã de sexta-feira ter havido mais de 400 detenções, ao longo da tarde existiriam seguramente mais de 2 mil activistas a programarem acções. Não só era impossível estar em grande parte delas como até hoje não existe um registo completo das várias acções realizadas. No dia seguinte, antes da manifestação, pelas conversas informais que tivemos com activistas de outros blocos, percebemos facilmente que ficámos sem saber de muitas intervenções que teriam sido desencadeadas.
Nessa tarde de sexta-feira, participámos em duas acções.
14h/15h - A primeira intervenção foi levada a cabo em conjunto pelo bloco anti-racista e o bloco ecologista. Devido à perseguição milimétrica da polícia da parte da manhã, os dois blocos decidiram realizar a intervenção fora do centro da cidade. Em grupos pequenos, a intenção era reunir um número considerável de pessoas numa paragem de eléctrico que nos levaria para o outro lado do rio. Não sem algumas ordens de dispersão da polícia e de limitação à liberdade de circulação, conseguiu-se reunir um grupo de quase 100 activistas que tomaram por completo o tram. O local da concentração era em frente a uma delegação do Deutsche Bank, especializada na atribuição de créditos a investimentos em países africanos. Ainda que, praticamente, desde que saímos do tram uma carrinha da polícia nos seguisse, só 10 ou 15 minutos após a acção ter começado é que a presença da polícia se fez sentir na praça ocupada pelos mais de cem activistas. Houve assim tempo para colocar faixas, distribuir flyers, e para mais de cinco ou seis pessoas discursarem ao microfone. Entretanto chegavam mais activistas e o sempre bem-vindo samba dos Ritmos de Resistência. O trânsito foi parcialmente cortado, embora tenha sido o circo policial a fazer parar a linha de eléctrico que atravessa a praça. Depois da segunda ordem de dispersão, alguém discursou contra a actuação policial e a sua conivência com os grandes interesses mercantilistas. Realizada a intervenção, os activistas decidiram dispersar da praça, mas foram “encarcerados” numa rua lateral até ordem em contrário do speaker de serviço. Tempo para o clown army entrar em serviço ridicularizando os robocops (e robocopas) alinhados. Quando saímos do cerco, a escadaria do Deutsche Bank era energicamente lavada com rios de água e detergente... purgando-se dos terríveis humores activistas...
Os antifascistas: abaixo dos 20 e cheios de determinação
18h – Entretanto, soubemos de uma acção do grupo antifascista. A intervenção teria lugar em Offenbach, pequena cidade limítrofe de Frankfurt. Saídos na estação local, caminhámos algumas centenas de metros até encontrarmos numa rua secundária um pequeno grupo de 30 activistas no meio da estrada e rodeado por polícias. Outros activistas iam chegando. Contaram-nos então que a intenção de levar a cabo esta acção de denúncia da repressão policial e de efectuar uma manifestação espontânea em Offenbach prendia-se com o facto de as proibições se limitarem a Frankfurt, pelo que a polícia não poderia impedi-la, valendo-se de argumentos legais. Só com insistência a polícia demoveu-se de inviabilizar a acção. Estavam cerca de 200 pessoas, maioritariamente a rondar os 20 anos de idade, mesmo com adolescentes e alguns seniores à mistura. Percorreram-se as ruas deste subúrbio habitado por emigrantes árabes ao som de slogans anticapitalistas e apelando à solidariedade internacional. Chegados à praça central, os discursos foram feitos pelos mais novos. Uma das activistas antifascistas presentes, em hiperactividade constante e que parecia ter 14/15 anos, acabou por ser interrompida por um companheiro que mobilizou o grupo para que se dirigisse a um dos cantos da praça onde a polícia barrava a entrada de seis companheiros que queriam juntar-se à concentração. Cinco minutos de pressão bastaram a que a polícia deixasse passar os companheiros, num exemplo de determinação e solidariedade dos activistas mais jovens que encontrámos ao longo dos dias em que estivemos em Frankfurt.
21h - À noite, no campus universitário de Bockenheimer Warte, estariam perto de 2 mil pessoas. Convivendo no pátio, discutindo nas salas onde decorriam assembleias, assistindo a prelecções (um bem humorado activista dizia-nos, “hoje é o dia das pop-stars”, referindo-se a David Graeber, havendo também lugar ao negrismo sem bloco de Michael Hardt), ou descansando nos pisos superiores, onde se acomodaram grande parte dos activistas que vieram do estrangeiro. O ambiente político contra-cultural, lembrava aos mais velhos as lutas estudantis de Maio de 68 ou o profícuo debate teórico ali desenvolvido durante décadas pelos pós-marxistas da Escola de Frankfurt.
Mas não se pode trocar a realidade por um prato de nostalgia. E a sopa de lentilhas, a mais picante dos dias Blockupy, não era consensual. Aquele que escreve, repetiu três vezes e abençoou o casal iraniano, que dava conta da cozinha, por ter a mão afinada.
Havia uma reunião internacionalista (“International Meeting”, assim estava anunciado), promovida pelo bloco anticapitalista, com os activistas estrangeiros, sobre a manifestação de sábado.
A activista tensa e as meninas de branco, castas e puras
Não se tratou na verdade de uma reunião, mas de um ponto de informação. Por causa da impossibilidade de reunir em público, seria compreensível que o bloco anticapitalista, previamente organizado, fornecesse apenas informações sobre a manifestação e, principalmente, sobre o seu bloco. Contudo, chamar-lhe “International Meeting” foi um erro. Não se discutiu nada. Apesar de manifestamente algumas pessoas presentes demonstrassem ter essa expectativa. Existiam quatro membros da organização do bloco anticapitalista, e duas dezenas de activistas vindos da Holanda, Inglaterra, Itália, Bélgica, França e Portugal (não nos recordamos se estavam presentes activistas de outras proveniências). Enquanto dizia que a linha da frente do bloco anticapitalista seria formado por mulheres vestidas de cores claras (não era possível de todo discutir ali questões de género) e que o bloco anticapitalista seria o mais visado pela polícia e pela media, a activista que liderava o encontro frisou que era “preciso passar uma imagem política que transmitisse a mensagem dos dias anteriores”, supondo-se com isso que devíamos ter o cuidado de sermos telegénicos para não ferir a susceptibilidade dos telespectadores (não era possível de todo discutir ali a sociedade do espectáculo). A activista que liderava a ordem de pontos de informação foi a pessoa mais tensa que encontrámos ao longo dos quatro dias e aquela que mais vezes vimos cortar a palavra a alguém (na verdade, a única que o vimos fazer...). Assinalamos porém que foram só quatro dias e que este info-meeting só durou uma meia hora, que não somos turbo-activistas, não “estivemos” em todo o lado, nem tínhamos twitter nem portátil, e que não pretendemos fazer extrapolações. A mesma activista pôde ainda pisar ovos, com grande delicadeza, ao afirmar “que não tinham a certeza se o Black Block iria estar presente”, mas adiantando que “o seu colega de staff iria falar em seguida sobre essas questões”. E o seu colega falou, e afinal tinha falado com elementos que formam o habitual Black Block e que estes lhe haviam confirmado que estariam presentes. Se calhar a activista tensa e o activista que contactara com os Black Block não haviam trocado impressões sobre o assunto antes da sessão informativa, apesar da ordem de pontos de informação ter sido tão rígida e pré-estabelecida por eles próprios. Depois de algumas perguntas lançadas pelos activistas estrangeiros (a activista, cada vez mais tensa, lembrava repetidamente, “perguntar só no final dos esclarecimentos”), interviemos para dizer “que parecia que estavam a fazer um tabu do Black Block, e que alimentar esse tabu não era nada realista, que eles com certeza que estariam presentes e agiriam com a autonomia própria que se lhes conhece, que as condições da presença massiva de polícia e a mais que certa presença de polícia à paisana reuniam as condições perfeitas para se desencadearem conflitos”. (Mas não era possível discutir ali porque desejava o bloco anticapitalista ser um colorido de todas as cores ao mesmo tempo que “branqueava” o preto). Se tivesse sido possível fazer humor ainda teríamos dito à activista que liderou o serviço de info-line para ter cuidado com os seus óculos extremamente graduados não fossem confundidos durante a manif com os googles anti-gás-lacrimogénio celebrizados pelos anarquistas gregos...
Não seria honesto da nossa parte esconder que, embora nos parecesse no mínimo um muito mau prenúncio este tabu sobre os Black Block, esta panóplia de mulheres angélicas e castas no cordão da frente, e esta conquista de cosmética techni-color para uma boa imagem lá para casa (apesar de tudo, com uma boa dose de desconto, um ponto mais compreensível se aceitarmos a diversidade dos distintos auto-retratos), nos preocupava a nossa integridade física, ou seja, não nos apetecia que os robocops nos espatifassem a cara.
Sábado, 19 de Maio – Manifestação
À solidariedade com o Black Block os “rivoltati” disseram-nos “piano, piano...”
Já depois da 13h começava a manifestação do Blocupy Frankfurt, culminando os três dias de acções inspiradas pelos fortes movimentos das acampadas em Espanha e pelo mais recente Occupy Wall Street. A tónica dominante parecia ser a denúncia de uma política global de empobrecimento, com críticas às políticas de austeridade determinadas pela Troika e a Zona Euro. Contudo, parecia que o grito “A de anti/de anticapitalista...”, troava mais vezes do que tantos outros slogans.
Integrámos o bloco anticapitalista, junto ao grande grupo de activistas italianos, grande parte deles estudantes que fazem parte do colectivo Ateneinrivolta (www.ateneinrivolta.org).
Quase que invariavelmente o bloco final dos manifestantes (aproximadente, o último quarto da manif) quebrava-se mesmo à nossa frente, na nossa linha de marcha, devido às tentativas policiais de isolar a cauda da manifestação. O método de provocação da polícia de choque era invariavelmente tentar retirar à força as faixas laterais, ali onde o bloco de manifestantes era mais negro.
Esta divisão do corpo único da manifestação em dois, deu-se pelo menos cinco ou seis vezes. Em todas as vezes, lançámos o grito de alerta, para que a manifestação parasse e gesticulando para que recuasse, evitando o fosso. Constatámos que na maior parte das vezes e, sobretudo, à medida que a manifestação ia chegando ao seu fim, não só o grupo dos Ateneiinrivolta não mostravam grande resolução em parar ou recuar, como em duas ou três situações reiniciavam a marcha antes de o bloco separado reiniciar a sua.
Numa dessas situações em que as forças policiais tentavam isolar a cauda da manifestação e quando nos dirigimos mais uma vez ao grande grupo de activistas italianos gritando para que parassem a sua marcha e que recuassem evitando o fosso que se criava, disseram-me “Piano, piano...”. Naquele contexto, era difícil manter ali uma conversa para explicar aquilo que friamente nos pareceu uma repetida falta de solidariedade com o bloco negro. Acrescente-se o facto de que desde que se deu a primeira paragem do corpo da manifestação existia um activista italiano do Ateneinrivolta que se esforçava a dar instruções para que o seu grupo se fechasse, não apenas na marcha normal – o que era compreensível nos momentos em que a polícia se aproximava -, mas nos momentos em que a manif se quebrava, quando se criava um fosso e quando gritávamos para que parassem e recuassem.
O grande momento simbólico de solidariedade veio de um 6º andar de um prédio: um homem à janela lançava incansavelmente chocolates e garrafas de água... terá esvaziado três sacos de guloseimas, sendo ininterruptamente aplaudido pelos manifestantes. Reconhecendo-o como provável emigrante, cantava-se “solidariedade internacional”.
Ironia das ironias, algumas janelas abaixo, dá-se o segundo culture jamming espontâneo. Alguém que intencionalmente não se mostra à janela, para o efeito mantendo a persiana semi-cerrada, coloca no parapeito um cartaz lacónico: “Animal Riots”. Entusiasmo reinante, aplausos, efusão. Dispositivos automáticos para o (falso) consenso? 25 mil pessoas no decrépito coração financeiro da Europa a constestarem as políticas de destruição humana e ecológica são um feito, uma festa que não pode parar. Porém, que não julguemos que às janelas teremos sempre pessoas a acenarem e a alimentar-nos de doces. Há quem nos vá dar o “trick”. E dessa bandeja não queiramos comer, muito menos aplaudir... é que, nesse instante, terão sido poucos @s que perceberam que o cartaz “Animal Riots” não foi colocado por um activista da Libertação Animal...
Conas contra o capitalismo
À medida que a manifestação avançava, em fluxo contrário a muitos manifestantes que se chegavam à frente (a ATTAC, os grupos ecologistas e os precários, tinham partido atrás do bloco negro, assim tinha sido estabelecido previamente), fomos recuando cada vez mais para a cauda da manif. Acabámos na terceira fila a contar do fim. No troço final, sempre em bloco de braços dados-cruzados. Com uma corda de seis filas de polícias de choque em pelotão, a toda a extensão da cauda da manif, e ladeados incessantemente por uma fila ora de dois ou três polícias. Enquanto blocos/grupos, já não havia as centenas de manifestantes da ATTAC, os ecologistas e os precários atrás do Black Block. Muitos terão ido para outras frentes. Porém, é justo dizer que entre o bloco negro existiam centenas de activistas que faziam um conjunto policromático, onde a diversidade era jurada e não encenada para as câmaras da TV. Embora não fosse possível determinar se outros activistas também remavam contra a maré, de certeza que não fomos só nós a fazê-lo. Demo-nos conta, por exemplo, das “Cunts against Capitalism” (Conas contra o capitalismo) que haviam partido bem à nossa frente e que no fim eram juntamente com o Black Block alvo das provocações policiais. As “Conas contra o capitalismo”, afirmavam que, dentro do género, há sempre um lugar que elas ocupam por assim o desejarem e sem que à partida lhes esteja reservado, como se recusassem que num bloco anticapitalista houvesse quotas de ocupação na linha da frente, para usufruir quando dá mais jeito e desde que bem vestidinhas, branquinhas e puritanas...
Quatro dias são apenas quatro dias. Valem pelo nomadismo e errância de acções colectivas com quem não conhecíamos, valem pela linguagem comum que se entrelaça acima dos idiomas maternos, valem pela vontade dos mais velhos insistirem na permanência das ligações, valem pela determinação solidária dos adolescentes. Sobre a TV, se valem pela imagem que passou no plasma...? Esse encanto que perdura, não esconderá um caminho armadilhado? Não será um equívoco – repetido - pensarmos que seremos mais, que aqueles que estão em casa sairão à rua, por causa de imagens fugazes à hora do jantar?
Se a realidade da opressão causada pelo fascismo financeiro e a desumanização fomentada pelos gestores da democracia representativa não basta para motivar a revolta e a transformação radical da sociedade é porque a ponte entre ambas cumpriu eficientemente com o controlo político, a integração da esquerda e a lavagem cultural dominante. O caminho de recuperar o controlo do nosso imaginário – trazendo cada vez mais gente – não passará pela TV, mas lá onde lutamos por viver, na rua, nas escolas, nos locais de trabalho, nos subúrbios, nos bairros de lata e nos locais onde o caminho de libertação já começou.
É no dia-a-dia que havemos de estreitar esses laços. É nesse caminho de becos que haveremos de abrir as paredes que nos separam. Quando assim sucede, a TV torna-se num meio obsoleto, na melhor hipótese, uma peça de museu de riso colectivo. Que o humor não nos falte.
Ocupar a vida, já
Mas, e agora? Ou, se quisermos, e ontem?
Embora pareça uma visão cínica, podemos pensar que qualquer iniciativa pontual de contestação ao poder dominante actual se inscreve sempre numa base de negociação com/no terreno que esse poder detém. Negociação não significa aqui troca de galhardetes, concertações sociais e reuniões de bastidores, mas tão só um processo de recuperação de meios, espoliados ciclicamente por um mundo de práticas e valores que deve ser rejeitado. Precisarmos de recuperar um cadáver colossal que sobeja aos nossos pés para dele nos libertarmos, não é uma imagem muito optimista e diz muito da dimensão trágica com que um modelo de organização da vida colectiva (patriarcal, individualista, hierarquizado, baseado no lucro e no crescimento contínuo, militarizado...), em aceleração desproporcional nas últimas três décadas, destruiu os recursos naturais e a capacidade humana para viver em autonomia.
Que esta visão não se confunda com a linha dominante do último processo revolucionário inter-fronteiras na Europa, durante o Maio de 68. Nesse período, corria a crença geral de que a lógica capitalista (produção e crescimento = progresso e desenvolvimento) não devia ser combatida em si, enquanto modelo de organização económica da vida humana: era preciso ir na corrente e, através de reformas ou revoluções, chegar ao poder central do Estado para alterar as caras, as lideranças, os valores, as práticas. Assim se regularia melhor a riqueza gerada pela lógica capitalista. O problema para a esquerda não era o modo de produção e a técnica do capitalismo, mas o facto de este modelo “servir unicamente os capitalistas, em lugar de servir a humanidade inteira” (Castoriadis). Este sonho alimentou gerações de lutadores e lutadoras contra o “capitalismo”, com factuais conquistas de direitos laborais e sociais. Pela luta na rua, pela perseverança e presença nas instituições do Estado. Desde os anos 80 que não vemos senão o neoliberalismo a desfazer-se desse sonho da esquerda de inspiração marxista e/ou social-democrata, com os pozinhos da contra-cultura e do nascimento dos movimentos ecologistas.
Delapidadas as fontes de energia naturais como nunca, as oligarquias económicas não tinham outra solução para manter os índices de rentabilidade a que se habituaram senão através deste regresso, em solo europeu, ao capitalismo primitivo. A par disso, termina o romance da esquerda (a dita extrema, pelos media corporativos) com o capitalismo de rosto humano. Entretanto, perdemos muito tempo. Mais do que qualquer outro continente, em qualquer momento histórico, fomos nós europeus ocidentais a desperdiçar um património de acumulação material e de experiências inaudito. Hoje, ficamos pasmados e impotentes com a iminência do colapso geral.
Nesse sentido, ocupar o terreno do inimigo não significa ocuparmos as suas torres de comando, senão para as desmantelarmos. A “longa marcha pelas instituições” de que falava Rudi Dutschke, o mais conhecido líder alemão das lutas estudantis de Maio de 68, foi uma técnica de integração pela “ocupação”. Três décadas de reagan-thatcherismo destruíram os resquícios das conquistas parciais que advieram desse processo. Falta uma ocupação táctica pela desintegração.
Se cada vez mais engrossam os números dos que activamente não estão dispostos a reger a sua vida pelas práticas anti-democráticas da democracia representativa, que abraçam cada vez mais os princípios libertários da decisão colectiva, que participam cada vez mais em acções directas de confronto com o poder – deste modo esvaziando o poder político tradicional através dessa luta feita na rua e nas praças –, o campo de acção que continua por ocupar por essas massas de indignados e contestatários é o da construção diária das alternativas de vida.
O imaginário da cultura capitalista é mais forte do que o imaginário da democracia. Existem sinais claros de que o último não sobreviverá muito mais tempo (e será a esquerda parlamentar, marxista, trotskista e ecologista, que será pressionada a mudar a sua visão de poder, as suas práticas e modelos de organização, debandando dos modelos obsoletos da democracia representativa e da consequente cultura de vanguarda que fomenta, mais atreita a controlar as dissidências e a desmotivar a politização da sociedade, do que a dinamizar focos de politização por todo lado em que essa gérmen alastre). Porém, as quantidades industriais de um futuro que nos quer integrar, feito à escala dos mitos da sociedade do bem-estar, da produção e do consumo continuam a mobilizar o dia-a-dia da maioria dos indignados e contestatários.
A precariedade no bolso é uma das consequências dos princípios degradantes e precários em que o capitalismo assenta. A real e profunda precariedade é a precariedade do imaginário. Ficar-se por exigir melhores condições salariais e uma redistribuição mais equitativa da riqueza gerada é não ter compreendido a falácia cultural e ética da primeira civilização que, em pouco mais de dois séculos, venceu a toda a escala, do planeta e da vida humana. Ficar-se por reclamar melhores condições é deixar o pensamento utópico apodrecer um pouco mais.
Desde o fim da Segunda Guerra que se fabrica futuro em doses desumanas e para cumprir um ideal de escala desumana. Estamos tão cercados pelo futuro que a razão se entope a cada esquina, a cada montra, a cada conversa, a cada livro que lemos, a cada aula na faculdade, a cada relação humana instituída, a cada milésimo de segundo que a aceleração cibernética e a motorização da vida urbana nos faz crer que perdemos. Tudo conduz a que percamos ou não recuperemos o controlo sobre a nossa vida, tudo faz com que nos acomodemos a mais uma sequela mágica do “agora é que vai ser”, que nos adaptemos ao curso das coisas à cata de uma posição mais confortável quando nos sodomizam por todos os lados. Tudo faz com que nos sujeitemos a um casório de vida eterna e perfeita com o futuro, esquecendo-nos de fazer amor com o presente. Enquanto nos fazem crer que vivemos para nos esquecermos de que somos mortais, continuaremos a dormir, à espera dos milagres futuros de um neo-estado social, da segurança social, da tecnologia, da ciência, das redes socias, da medicina que nos dará uma morte infinita. Num incerto dia, eles farão os milagres enquanto a cada dia que passa zelam o nosso sono. Esse futuro prometido é indefensável. E isso já parece ser uma evidência racional generalizada. Falta agora não temer ficar sem esse futuro falsificado, prometido pela sociedade do progresso capitalista e da tecnociência. Essa orgia epidérmica com o futuro é tão ampla que o presente parece inútil e sem tesão. Pior, já não sabemos construir esse presente. É esse presente que falta. Os permacultores têm de estar nos jardins públicos não no campo, nas varandas dos prédios a hidroponia há-de bater-se com as antenas parabólicas, nos terraços florescerem painéis solares artesanais, em cada escola pública uma Fontinha, em cada bairro uma assembleia aberta, horizontal e soberana...
Caso a construção de uma economia humana, solidária e autogestionária, feita e controlada à escala das necessidades humanas, não se expanda à medida que o movimento de contestação na rua cresce, como está a acontecer, correremos o risco de voltar a ouvir dizer que “as premissas revolucionárias ainda não estavam maduras”. Seria um logro ver no grito anticapitalista ecoado em Frankfurt uma escalada pela tomada do poder ao invés de encará-lo como um passo mais na neutralização desse poder. À medida que cresça(m) o(s) auto-governo(s) e o controlo autónomo e horizontal nos lugares onde vivemos, ao mesmo tempo que recusamos funcionar como uma empresa, operando como patrões dos outros que nos rodeiam e sendo nós próprios a mercadoria com a qual miseravelmente temos de nos sustentar. Um caminho revolucionário implica desmobilizar do futuro que o capitalismo nos vende (ao mesmo tempo que, na prática, o nega e ri-se na nossa cara), pressupõe desertar das avenidas largas, mas de preferência fazê-lo com o instinto solidário de olhar para trás, de olhar para quem ainda ficou submetido a acotovelar-se com políticos, patrões, padres e polícias. Ao fim ao cabo, esse caminho revolucionário pressupõe que o ser humano volte a ser dono dele mesmo e do seu presente nos espaços colectivos por onde cumpre a sua vida, a partir daí projectando outra base de relação com os outros e um outro futuro. Se isto parece um enunciado simples – embora seja uma questão humana e política essencial -, deve-se ao grau em que o tempo que vivemos fez bater no fundo o desejo de emancipação social e com que desaparecesse do nosso horizonte a vontade indómita de agir sobre o nosso próprio mundo, as nossas necessidades e os nossos desejos.
Vadio

30% dos portorriquenhos contaminados com urânio por presença da Armada dos EUA

Adital

Corbis

Tradução: ADITAL
30% da população de Porto Rico tem urânio radioativo no corpo, segundo o oncologista Víctor Marcial Veja. Especialistas dizem que é consequência de várias décadas de presença de militares estadunidenses nesse Estado Livre Associado dos Estados Unidos.
"30% temos urânio radioativo em nosso sangue e urina, enquanto que 100% das pessoas estão contaminadas com metais pesados, que estamos respirando nesse momento”, expressou o médico portorriquenho por ocasião de um simpósio sobre salubridade em San Juan, citado pela Agência Prensa Latina.
O cientista disse que tal contaminação pode gerar câncer, autismo, lúpus, artrite e enfermidades neurológicas.
O médico destacou o incremento de casos de autismo entre as crianças portorriquenhas para 1 em cada 37, quando em 1980 era 1 para cada 10.000.
A Marinha de Guerra dos Estados Unidos ocupou a maior parte do território das ilhas de Vieques e Culebra como campos de tiro durante uns 40 anos, até 2003.
Vários estudos realizados por investigadores locais assinalam que o napalm, o urânio e resto de outras substâncias utilizadas em experimentos pelos militares estadunidenses são os responsáveis por essa situação.
Sob a presidência de Barack Obama, Washington já recebeu mais de 7.000 demandas de moradores de Vieques, que buscam ser indenizados por problemas de saúde que têm origem nessas práticas militares

Brasil atinge menor nível de desigualdade da história, diz Ipea


Atualizado em  25 de setembro, 2012 - 19:10 (Brasília) 22:10 GMT
Marcelo Neri (Foto: Antonio Cruz/ABr)
Para Marcelo Neri, aumento da renda na base da pirâmide relativiza fraco desempenho do PIB
O economista Marcelo Neri, novo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), disse nesta terça-feira que "o Brasil está hoje no menor nível de desigualdade da história documentada".
De acordo com Neri, em 2011, o índice de Gini, que mede a desigualdade, foi de 0,527, o menor desde 1960.
Na avaliação do Ipea, os resultados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) no ano passado indicam grande diminuição da desigualdade e redução da pobreza.
Neri afirma que, entre 2001 e 2011, houve crescimento real de 91,2% na renda dos 10% mais pobres. No caso dos 10% mais ricos, o aumento foi 16,6%.
Segundo o economista, o aumento da renda na base da pirâmide relativiza o fraco desempenho do PIB (Produto Interno Bruto).

España privatiza el sol. Prohibido generar energía para autoconsumo

Fuente: Elpais.cr  |  2013-07-21
España privatiza el sol. Prohibido generar energía para autoconsumo

Madrid, 21 jul (kaosenlared.net) - Se "privatiza" el Sol en España: si te pillan recogiendo fotones de luz solar para tu propio consumo te puede caer una multa de hasta 30 millones. Así que si estabas pensando que con esta falsa crisis provocada, la mejor opción era precisamente tener unas placas solares que bajaron un 80% su coste y tener la oportunidad de desconectar de la red eléctrica y su factura estafa, ya puedes ir olvidándote.

Con el  terror que tienen las eléctricas a que se “desestabilice” el consumo eléctrico (por no decir desaparecer), a alguien en contra de lo que la lógica dicta, se ha propuesto sepultar la industria foto-voltaica (ahora que es más necesaria que nunca) en un pozo sin fondo, en algún momento del 2010 alguien ha decidido privatizar el sol….sí sí has leído bien, en España totalmente al contrario de Europa, se impone un peaje a quien genere electricidad y la inyecte a la línea… en vez de recibir ganancias, pero eso no es todo, si te pillan recogiendo fotones de luz solar para tu propio consumo te puede caer una multa de 30 millones de euros. Tal cual si de una droga se tratara. Cometer el sacrilegio de ser independiente energéticamente puede costar muy caro, el sol ahora es sólo para unos pocos privilegiados y las compañías eléctricas en las cuales están de consejeros ex-presidentes y ex-ministros del partido dualista ppsoe.

“La Unión Española Fotovoltaica (UNEF), que agrupa a unas 300 empresas y representa a un 85% del sector, asegura que, de implantarse estos cambios, sería más caro el autoconsumo solar que recurrir al suministro convencional. “Se impide el ahorro a los consumidores y se paraliza la entrada de nueva competencia en el mercado eléctrico”, contemplan.”

Así que si estabas pensando que con esta falsa crisis provocada, la mejor opción era precisamente tener unas placas solares que bajaron un 80% su coste y tener la oportunidad de desconectar de la red eléctrica y su factura estafa, ya puedes ir olvidándote.

En España se ha "privatizado" el sol sin la consulta de sus ciudadanos, sin la consulta al sistema solar sin la consulta al universo etcétera…

La posibilidad de producir tu propia electricidad utilizando recursos renovables —paneles solares o pequeños molinos eólicos instalados en una propiedad privada— es algo muy atractivo para los hogares españoles. “De cada 50 llamadas que entran al mes, 35 son de particulares interesados en el autoconsumo”, asegura Francesc Mateu, gerente de Sol Gironés, empresa especializada en energías renovables y pioneras en este sector. “De momento les decimos que tienen que esperar hasta septiembre u octubre, a que las cosas estén más claras”, añade.

La tendencia a la tarifa plana en la factura de la luz, en la que cada vez hay que pagar una mayor cantidad de fijo y menos por el gasto energético, y las tasas específicas que impone el decreto de autoconsumo, que todavía no se ha aprobado, encarecen esta alternativa frente al consumo convencional.

El Gobierno se ha propuesto que el autoconsumo energético se implante poco a poco y sin alterar el sistema eléctrico español. Para ello se reserva el derecho de subir y bajar esas tasas o peajes específicos, y que denominan “de respaldo”, en función de cómo vaya evolucionando el sector. “Vamos a pagar un peaje por la energía recibida del sol”, resume Mario Sorinas, de la empresa oscense Electrobin, con más de 20 años de experiencia en energía solar.

La autarquía energética está más que consolidada en países como Estados Unidos o Japón. Muchos países europeos la tienen implantada con diferentes fórmulas. “Es el futuro”, coinciden varios expertos en energía. Permite generar tu propia electricidad con energías renovables y darle un descanso al medio ambiente y al bolsillo. También existe la posibilidad de ceder la energía sobrante a compañías eléctricas y recuperarla cuando se necesite o, directamente, venderla, algo que se conoce como autoconsumo con balance neto. El Gobierno de España ni se lo plantea. El proyecto de decreto de autoconsumo deja bien claro que no se remunerará la energía sobrante que se vierta a la red.

Ahora mismo, en España se puede producir energía de forma privada y consumirla en el momento, una modalidad que se denomina autoconsumo instantáneo. La última legislación es de 2011. Antes no se hacía porque no salía rentable. El abaratamiento hasta en un 80% de las instalaciones fotovoltaicas en los últimos cinco años y el incremento de la factura de la luz la han convertido en una opción de ahorro muy interesante en época de crisis. La utilizan desde granjas de vacas hasta supermercados, residencias geriátricas, restaurantes y algún consumidor particular. La energía sobrante no se puede almacenar en baterías porque está prohibido. Cuando no hay sol o viento, hay que engancharse a la red y pagar la factura normal.

No hay un registro oficial de autoconsumo. La revista económica Alimarket ha contabilizado 43 casos. Otro fichero, elaborados de forma voluntaria por los autoconsumidores en el portal Energética 21, los eleva a 74.

Sol Gironés, con 14 trabajadores, está echando el resto con el autoconsumo instantáneo. “Está funcionando y bien, sobre todo con empresas como cárnicas u hostelería, que dependen mucho de cámaras frigoríficas, y en las que la factura de la luz se lleva al menos el 15% de sus gastos fijos anuales”, relata su gerente. Con estos sistemas llegan a reducir entre un 20% y un 30% su consumo, aunque tienen un caso en el que han logrado una bajada del 44%. Hasta ahora no pagan impuestos de ningún tipo por este tipo de generación de energía.

El Club Naútico Estartit, situado en Torroella de Montgrí (Girona), es uno de sus clientes. Se han trazado un plan a cinco años para que el 20% de su consumo venga de energía renovable. De momento generan con paneles solares el 7%. “Estamos muy cerca de un parque natural y queremos tener la mínima incidencia sobre el medio ambiente”, dice Eugeni Figa, su director. Entre sus planes también está incluir molinos eólicos.

En Galicia, los hermanos Domínguez llevan trabando con renovables desde 1998. “Éramos cuatro pelagatos”, recuerda Manuel. En 2007 dieron ejemplo abasteciendo sus propias oficinas de Sanxenxo (Pontevedra) con una planta solar. Aunque tienen proyectos de autoconsumo en España, la mayoría de su mercado está fuera del país en grandes parques de Chile, México, Rumanía o Inglaterra.

La reforma energética ha caldeado enormemente al sector renovable. “De todos los escenarios posibles, este es el peor”, resume José Donoso, director general de la Unión Española Fotovoltaica (Unef), que representa al 85% de la actividad del sector. “Sin que todavía se haya aprobado nada específico sobre autoconsumo, ya se lo han cargado”, añade. Donoso se refiere al incremento en la parte fija de la factura eléctrica, y que supondrá un 77% de subida en este tramo para una tarifa doméstica —algo de lo que los productores domésticos no pueden prescindir— y una bajada del 23% en la parte del consumo —la que reduce con la autoproducción—.

“Hasta ahora, el gasto se podía repartir en un 30% de parte fija y un 70% de parte variable. Se camina al 50%-50% por lo que cualquier iniciativa de generar tu propia potencia se desincentiva”, aporta Ignacio Cruz, investigador de la división de Energías Renovables del Centro de Investigaciones Energéticas, Tecnológicas y Medioambientales (CIEMAT).

“Esto es un rejonazo de muerte al balance neto y al ahorro energético”, opina Javier García Breva, consultor de energías renovables y exdirector del Instituto para la Diversificación y el Ahorro de Energía (IDAE). Este especialista mantiene que se trata de medidas puramente recaudatorias para que las eléctricas ingresen más. Unesa, la patronal de las grandes eléctricas, ha rehusado valorar la situación del autoconsumo hasta conocer mejor los cambios legislativos. El Ministerio de Industria tampoco ha respondido a las peticiones de información de EL PAÍS.

Con los cambios conocidos hasta ahora el tiempo de amortización de las instalaciones fotovoltaicas crece considerablemente. Si antes de la reforma hacían falta 12 años para recuperar la inversión de una instalación en un domicilio de 2,4 kilovatios de potencia ahora harán falta 23 más, según cálculos de Unef. Este consumidor es el más tocado, ya que en los casos de instalaciones de servicios o para regadío los tiempos de amortización se han incrementado 5 y 4,75 años respectivamente.

Con todo, siempre hay quien ya trabaja en buscarle la vuelta. Sol Gironés asegura que sus clientes están reduciendo la parte de potencia contratada, la que registrará mayor incremento en la factura, porque el autoconsumo instantáneo les permite tener sus necesidades energéticas cubiertas. Otra de sus metas es conseguir que el autoconsumo doméstico sea rentable.

BRASIL Políticas de agricultura familiar brasileiras são exemplo mundial

BRASIL

Políticas de agricultura familiar brasileiras são exemplo mundial

Cultivo da terra realizado por pequenos proprietários rurais produz 70% dos alimentos consumidos no país, que é considerado pela ONU exemplo no setor. Trabalhadores do campo, no entanto, cobram mais investimentos.
As mudanças climáticas e o aumento da população impõem desafios aos atuais modelos de agricultura. E, nesse contexto, a agricultura familiar ganha força – sobretudo como um importante meio para reduzir a pobreza e garantir a segurança alimentar. As políticas brasileiras no setor são tidas como exemplo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Mas, para os trabalhadores do campo, ainda há muito a ser feito.
No país, 84,4% dos estabelecimentos rurais pertencem à agricultura familiar, que emprega quase 75% da mão de obra do setor agropecuário. Em contrapartida, somente 24,3% das áreas ocupadas por estabelecimentos agrícolas são administradas por pequenos proprietários.
Sua produção é voltada principalmente ao mercado interno. Ela é responsável pela plantação de 70% dos alimentos consumidos no país – como 70% do feijão, 87% da mandioca, 58% do leite e 46% do milho.

Agricultores familiares plantam 70% do feijão consumido no Brasil
Esses números revelam o tamanho de sua importância. Nos últimos anos, a agricultura familiar passou a ser um setor prioritário para o governo federal. As políticas públicas brasileiras de incentivo ao pequeno produtor são consideradas um exemplo pela FAO.
"O incentivo à agricultura familiar contribui para reduzir a pobreza extrema, dinamizar os mercados locais, incentivar a permanência de agricultores na sua comunidade e também, em nível nacional, para aumentar a segurança alimentar, reduzindo a vulnerabilidade do país ao mercado global e ao choque de preços", diz em entrevista à DW Brasil Salomón Salcedo, oficial de políticas da FAO.
Mas para a coordenadora geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Elisângela Araújo, apesar do reconhecimento nos últimos anos, ainda faltam investimentos no setor, tanto em incentivos financeiros, pois muitos agricultores estão endividados, quanto em tecnologias e pesquisas para aumentar a produção.
"Se essa perspectiva de desenvolvimento não tiver uma mudança rápida nos próximos anos, tende a ter uma redução da agricultura familiar, inviabilizando esse potencial", diz.
Agricultura e meio ambiente
Apesar das críticas, essa forma de cultivo vem ganhando importância não só no Brasil, mas também no mundo. A FAO escolheu 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. "Com o aumento dos preços dos alimentos e as mudanças climáticas, percebemos que o modelo de grandes fazendas, não é um modelo para ser seguido no futuro", afirma Salcedo.
Agricultura familiar ajuda a reduzir a pobreza
Para ele, o modelo da agricultura familiar não é importante apenas para a segurança alimentar, mas também para garantir a produção de alimentos com as mudanças climáticas. Em muitas dessas propriedades costumam ser plantados produtos variados, além de serem utilizadas sementes e espécies tradicionais que existem há centenas de anos e são mais resistentes a pragas e mudanças.
Para a bióloga Claúdia Valéria de Assis Dansa, da Universidade de Brasília (UnB), a agricultura familiar tem um grande potencial ecológico. "A agricultura familiar pode ser bem melhor na medida em que ela possibilita um formato, um desenho agrícola, que pode conciliar melhor a agricultura e áreas de preservação e as áreas naturais. Há várias possibilidades que se abrem com agricultura familiar para preservar o meio ambiente, o que com a agricultura comercial é mais difícil."
Alimentando o mundo
A definição de agricultura familiar varia por país. No Brasil, agricultores familiares são aqueles que possuem um único imóvel, cujo tamanho difere por região. Além disso, a principal mão de obra empregada é a do produtor rural e de seus próprios familiares e sua renda vem exclusivamente desse estabelecimento.
Ásia concentra 87% dos pequenos agricultores do mundo
"São aqueles produtores que têm uma pequena propriedade, mas essa pequena propriedade no Brasil varia. Cada estado tem um tamanho de módulo rural, então, no Norte essas propriedades costumam ser bem maiores do que no Sul, e podem variar, por exemplo, de 5 até 100 hectares", afirma Dansa.
A ONU estima que existam cerca de 500 milhões de pequenas fazendas pelo mundo. Na América Latina e no Caribe elas representam cerca de 80% das propriedades agrícolas e produzem mais de 60% dos alimentos consumidos na região, além de empregar mais de 70% da mão de obra do setor.
A grande concentração de agricultores familiares está na Ásia. Segundo um relatório da Coalizão Internacional da Terra, o continente concentra 87% dos pequenos agricultores do mundo. Somente a China possui 193 milhões, e a Índia, 93 milhões. Na África, a agricultura familiar é responsável pela produção de 80% dos alimentos consumidos no continente.

The Rolling Stone Cover and the 'New Ideological Threat'


The cover of Rolling Stone (8/13), featuring a self-portrait of Dzhokhar Tsaernav taken weeks before the Boston bombing, has fueled a strong backlash. Discussing the cover, Fox News' Lisa Daftari (7/18/13) said:
In the aftermath of 9/11, if you look back over a decade ago, this country had an awakening, an understanding, that we have a new ideological threat that is on our soil. People became aware. But we've since gone very far from that, almost gone too far from that. We are almost becoming overcompensating, for fear of being Islamophobic. Political correctness is leading us to put a terrorist on the cover of a national magazine like this.
In the same segment, Fox's Trace Gallagher said, "The question many are asking is why the magazine is making him look like a teen heartthrob instead of a terrorist and alleged killer?"
That question raises another: How do you make someone look like "a terrorist and alleged killer"?
Gallagher's suggestion that he should look more like a "terrorist," brings to mind racial profiling, a form of which the Week magazine (5/2/13FAIR TV5/3/13) was accused of after their cover featured a controversial drawing of the Tsarnaev brothers. The Week darkened their skin and played up stereotypical ethnic features, prompting Gawker  (5/2/13) to wryly note, "If the terrorists won't do us the courtesy of being brown, no matter–we'll just make them brown, instead."
But clearly, for the scare-mongers the "new ideological threat" is not just terrorism, but Islam itself, a view that casts all Muslims as suspect (Extra!, 8/13).
Invoking "ideological threats" to create fear, an "awakening" in Daftari's words, like the Red Scares of old, Islam has become the new issue right-wingers and other hawks rally around. It's an effective organizing tool.
The Rolling Stone cover flies in the face the preferred stereotype. In age, race, and affect, Tsarnaev doesn't fit the image we have been trained to expect. Thus the cover draws unwanted attention to this Islamophobic expectation.
"It's Tsarnaev's very normalcy and niceness that is the most monstrous and terrifying thing about him," Rolling Stone writer (and Boston native) Matt Taibbi (7/19/13), says:
The story [Rolling Stone journalist] Janet [Reitman] wrote about the modern terrorist is that you can't see him coming. He's not walking down the street with a scary beard and a red X through his face. He looks just like any other kid.
When the Rolling Stones cover photo was originally published by the New York Times in May (5/5/13), Nathan Jurgenson, a writer for the tech-sociology blog Cyborgology (4/6/13), said, "The bomber selfie forces us to confront that violence doesn't always come from an other."
But fear mongers are up in arms, since the cover and the accompanying article exploring how Tsarnaev went from being "just like any other kid" to becoming an alleged mass murderer bucks their formula. To them, there is no use delving into his peaceful past to learn what turned him into a brutal killer. Where Rolling Stone saw a compelling story, Fox saw a threat to its ideology.
However, considering the thousands of innocent lives lost and the billions our country has spent trying to "make the world safe for democracy," shouldn't we be interested in how someone was radicalized to the point of violence? That was the real, stated goal of Rolling Stone's investigation. Getting to shake the tenets of traditionalist politics in the process was just an added bonus.