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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Democracia representativa
PORQUE É CRESCENTE O DESCONFORTO NA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA.orque é crescente o desconforto na democracia representatativa. Ou: A regularização dos quilombos estará concluída somente no próximo milênio.
Pode dizer-se, sen risco inerente a toda generalização, que o instituto da representação na democracia liberal encontra-se em cris em toda parte. É patente a distância entre o que ela promente e o que entrega, entre a formalidade de seus adereços jurídicos e legais e a ccolheita de resultados. Vive-se num estdo crônico de instabilidade, que se expressa em sua ineficácia, resultante do fosso crescente entre a vontade dos governantes e a vontade dos governados. Mal comparando, o desconfoto que disso resulta corresponde à exasperação que se experimenta na cozinha ao se ter de se submeter ao manejo de uma faca que tenha perdido o gume, justamente no momento em que a precisão do corte se faz mais necessária. E a sensação é que o futuro risonho da felicidade da espécie, com que acena o filósofo Immanuel Kant, em seu ensaio sobre “A paz perpétua”, se esfuma. Parece não ter chegado às nossas mãos sequer o diagnóstico, o que não quer dizer que sob esse aspecto não se tenha vivido como comunidade humana tempos melhores.Os ameríndios, por exempplo, mantêm entre si o costume de dicidir sobre todas as questões de interesse comum mediante debate, sem hierarquia; é patente a sua capacidade superior de organização, mobilização e disciplina, graças ao seu baixo coeficiente de individualismo, sem prejuízo da liberdade; e é superior também no cotejo com o nosso déficit de realização social efetivamente democrática. Tudo isso de vantagem,eles, mal providos da parafernália tecnológica supostamente responsável pelo orgulho do avanço civilizatório de que nos falam os aparelhos de difusão ideológica de quem detém as rédes do poder nas mãos. Resta-nos o que ninguém nos toma: retomar o fio da meada que conduz ao ovo de colombo com que se põe de pé a eficácia democrática.É o que faz o movimento do Comum, a miriade de centenas milhões de participantes na disputa miúda e graúda, a exemplo dos quilombolas, que disputam pela reconquista do espço público. A propósito, das 7666 comunidades quilombolas exidstentes no Brasil (2022) somente uma cinquenta foi até agora regulamentata (Decreto nº 4.887, de 2003, e pelo Decreto nº 3.912, de 2001).Um caso paradigmático: Se nada atrapalhar,a regularização dos quilombos estará concluída no próximo milênio.
Valor eurístico do processo
DOS ISMOS E DA ESCALADA DA INTOLERÂNCIA
Machado de Assis faz de sua novela tragicômica "O alienista", uma sátira do POSITIVISMO, filosofia reinante no Brasil de sua época. O protagonista médico alienista, Simão Bacamarte, munido de sua navalha de corte racional, põe-se a separar loucos dos sãos da Vila de Itaguaí, trancafiando os segregados no hospício da Casa Verde, que criara ad hoc. Dado o caráter inseparável da mistura, ao cabo do insucesso trancafia-se ele próprio na Casa Verde. Essa é a alegoria mais percuciente aa história universal dos ISMOS, resultado todos eles de operações de caráter reducionista, que assumem a parte pelo todo. Ou, dito de outro modo, é a contraposição frontal ao ILUMINISMO na sua vertente kantiana, que erige a RAZÃO como faculdade soberana por sobre as demais (intuição, sentimento, ética e estética), como já antecipara Aristóteles em sua FILOSOFIA PRAGMÁTICA: Tais faculdades são distintas umas das outras, de valor equivalente, porém, não separáveis, como atesta o gesto humano. Por isso, na PRÁTICA do comportamento, ou da ação humana, não PRESIDEM a lógica e a matemática, disciplinas da CERTEZA ABSOLUTA (Isso não quer dizer que a ação humana seja ilógica: entre o lógico e o ilógico há o não lógico). Em lugar da certeza absoluta, na PRAGMATICA de Aristóteles tem-se a MELHORIA contínua e recorrente em busca da EXCELÊNCIA, que não se confunde com a estação final iluminista da felicidade bovina da espécie humana de Kant. Não que Machado de Assis seja ele também um louco, por supostamente desconsiderar o valor da RAZÃO. O que ele denuncia em "O Alienista" é a HIPERTROFIA da razão, em prejuízo das demais faculdades. E Machado reitera sua asserção ao dizer, em outra parte de sua obra: "Não há mal que não se possa defender racionalmente. A razão, como o burro atrelado aos varais, puxa todo tipo de carga que se lhe ponha em cima. Com a mesma eficiência e pelo caminhos mais curto, ela nos leva tanto para o céu quanto para o inferno. Quem decide não é ela, e sim o carroceiro". De fato, estaria de acordo com Machado o poeta, ficcionista e ensaísta inglês G. Chesterton (1874 - 1939) de humor sem igual, ao escrever que "o louco é aquele que perdeu tudo menos a razão, ao enxerga intenções no farfalhar das cortinas na janela"* Aqui chego aos ISMOS.TODO ISMO consiste da extrapolação indevida do particular para o universal. Extrapolação: um sujeito trazia sujeira no bigode e dizia que o mundo cheira mal". Assim é o positivISMO, o marxISMO (vulgar) o funcionalISMO,o energetIISMO, o socialISMO, o capitalismo, na sua visão estática, como um fotograma, sem se dar conta de que sob essa caixinha conceitual flui uma corrente. O ISMO é uma borboleta pregada na parede. Com receio e inadequação dos instrumentos para se apreender a realidade em estado de mudança, cria-se o CONCEITO, que resulta de uma empreitada de caráter fixista em disputa com a arte da taxidermia. O modelo do conceito é ESTÁTICO, e a realidade é um estado de mudança: o que era já não é o que virá não é ainda, assim como ocorre nas fases do ciclo da borboleta. Esse é o motivo por que desde Galileu, passando por Newton, os, modelos de investigação científica têm fugido da mudança (transformação, devir, metamorfose) como o diabo da cruz. O ILUMINISMO racional de Kant, que preside à cultura ocidental, é a defesa entrincheirada do status quo. Nivaldo Manzano
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