quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

UM TIPO COMO DONALD TRUMP ERA TÃO PREVISÍVEL NA POLÍTICA ASSIM COMO FRANKENSTEIN NA LITERATURA DE FICÇÃO UM TIPO COMO DONALD TRUMP ERA TÃO PREVISÍVEL NA POLÍTICA ASSIM COMO FRANKENSTEIN NA LITERATURA DE FICÇÃO Realidade e ficção, ambos Trump e Frankenstein são a mais pura extração cultural do EUROCENTRISMO, uma flexão semântica negativa do Iluminismo, ou IDEOLOGIA DA RAZÃO SOBERANA (Kant). Como é sabido, para nós, ocidentais, enunciamos como faculdades, ou valores humanos, a intuição, a ética, os sentimentos, a razão e a estética. Podem existir outros valores axiológicos, mas é o que nos tem bastado desde a cultura da Grécia Clássica para lidarmos com os afazeres da espécie. Para a sabedoria grega, os valores estão contidos na PALAVRA, ou LOGOS, que tinha a força hierática de um oráculo na mitologia. A PALAVRA caracteriza a expressão humana, no seu cotejo com os animais, e ela contém, AO MESMO TEMPO, todos os valores. Para um grego, o ato de falar com responsabilidade compunha a sua existência com a harmonia do Cosmos, assim como os ritos religiosos-festivos da primavera faziam chover. Por falta de sinônimo, o termo LOGOS foi traduzido em latim como RATIO, por Cícero em sua obra de direito distributivo "De legibus", como cálculo, proporção, medida. E assim a RAZÃO adentrou a cultura ocidental, primeiro como luz natural em contraste com a luz divina da Revelação, na Idade Média; a seguir como idioma da ciência. Galileu viu na sua matemática o idioma da natureza, de caráter divino, e Newton viu na sua física as leis da Criação. /// Palavra como sinônimo de razão é um REDUCIONISMO que sujeita as demais faculdades humanas - a saber, intuição, estética, ética, sentimentos e intuição - à soberania da razão, em contraste com a sabedoria grega, que as NÃO HIERARQUIZA, da qual seríamos supostamente herdeiros, como fundamento da cultura OCIDENTAL, o "nec plus ultra" do modo de pensar alheio às superstições medievais, ou o "despertar do sonho dogmático", na expressão basilar da filosofia kantiana, um sonho que teria durado cerca de 30 mil séculos, ou trezentos mil anos, a contar da ocorrência do homo sapiens. /// Esse reducionismo é considerado como responsável por todas as desgraças por que passa a Cultura no Ocidente, por sujeitar-se a uma ordem que dela excluiria os sentimentos, a ética, a estética e a intuição, valores considerados como estranhos ao fazer científico. Uma ideologia que não medrou em cultura ou civilização em parte alguma no mundo, desde quando Noé aportou a sua arca em algum remanso de mar./// Poucas décadas depois da morte de Kant, conhecido como desbravador do LIBERALISMO filosófico e político, assim como o foi Adam Smith na economia, a inglesa Mary Shelley colheu na razão kantiana, feita tão somente de lógica e matemática, disciplinas metaforicamente de rigor mecânico nos seus antecedentes e consequentes, a inspiração de seu Frankenstein, a obra de ficção mais lida ao longo do século XIX adentrando o século XX. /// A propósito da soberania da razão, em Kant, Machado de Assis, que filosofava nas entrelinhas de sua ficção, escreveu num de seus adágios: "Não há mal que não se possa defender racionalmente: A razão, como o burro atrelado aos varais, puxa todo tipo de carga que se lhe ponha em cima. Com a mesma eficiência e pelo caminho mais curto, ela nos leva tanto para o céu quanto para o inferno. Quem decide não é ela, e sim o carroceiro". Isso é dizer que Machado de Assis colocou a razão no lugar em que deve estar, ao lado dos demais valores axiológicos, não acima, nem abaixo deles, no papel de INSTRUMENTO de operações ABSTRATAS (generalistas, universais), inadequada para lidar, com exclusividade, com a ação, ou comportamento humano, de caráter SINGULAR, CONTEXTUAL. Assim, sugiro a você que confie em Machado de Assis e se tranquilize, pois não é a razão excludente do DINHEIRO de Trump e o seu entorno de bilionários que detêm a última palavra. Nivaldo Manzano