A universidade refém do produtivismo Exame de uma universidade sem dinheiro e sem projeto.Pesquisas são repetitivas ou rendidas a modismos. Cai a renovação teórica, busca-se financiamento privado e pontuação. Com saberes apartados da sociedade, portas são abertas ao mercado OutrasPalavras Mercado x Democracia auniversidade refém do produtivismo https://outraspalavras.net/
Lyotard: [Com o impacto da tecnologia no saber] "Pode-se
então esperar uma explosiva exteriorização do saber
em relação ao sujeito que sabe (sachant), em
qualquer ponto que este se encontre no processo do
conhecimento. O antigo princípio segundo o qual a
aquisição do saber é indissociável da formação
(Bildung) do espírito, e mesmo da pessoa, cai e cairá
cada vez mais em desuso. Esta relação entre
fornecedores e usuários do conhecimento e o
próprio conhecimento tende e tenderá assumir a
forma que os produtores e consumidores de
mercadorias têm com estas últimas, ou seja, a forma
de valor. O saber é e será produzido para ser
vendido, e ele é e será consumido para ser
valorizado numa nova produção: nos dois casos, para
ser trocado. Ele deixa de ser para si mesmo seu
próprio fim; perde o seu "valor de uso." (p. 4-5)
• imperativos de desempenho e recomercialização orientam a prioridade dos estudos para a
"aplicação". (p. 82) O critério do bom desempenho é explicitamente invocado pelas
administrações para justificar a recusa a apoiar este ou aquele centro de pesquisa." (p. 85)
• pesquisa aplicada, pesquisa fundamental, através da colaboração com empresas por meio de
agências de todo tipo (p. 82)
• lógica de organização das empresas prevalece nos laboratórios: "hierarquia, decisão do trabalho,
formação de equipes, estimativas de rendimentos individuais e coletivos, elaboração de
programas vendáveis, procura de cliente, etc. Os centros de pesquisa "pura“ padecem menos,
mas também eles beneficiam-se de créditos menores." (p. 82)
• "O Estado e/ou empresa abandona o relato de legitimação idealista ou humanista para justificar a
nova disputa: no discurso dos financiadores de hoje, a única disputa confiável é o poder. Não se
compram cientistas, técnicos e aparelhos para saber a verdade, mas para aumentar o poder." (p.
83)
Nos últimos anos, tem-se observado cada vez mais características típicas de mercado presentes na universidade pública. No Brasil, o aspecto com maior destaque nas publicações é o "produtivismo acadêmico", que tem como mote a ênfase na quantidade de produções bibliográficas. Neste artigo, busca-se discutir as características desse modelo, partindo-se do pressuposto que ele conduza a uma situação de precariedade subjetiva para os docentes. Para tal, apresenta-se o resultado de uma pesquisa qualitativa com professores de uma universidade pública, realizada por meio de entrevistas reflexivas. Os resultados indicam que a precariedade subjetiva vivenciada leva a um desgaste mental, o qual, por sua vez, pode ter como consequência o sofrimento psíquico e o adoecimento. Apesar de se mostrarem conscientes do processo que vivenciam, alguns docentes buscam adotar táticas individuais cotidianas de "sobrevivência", enquanto as estratégias coletivas com vistas à transformação são pouco enfatizadas.
Tal modelo gerencial tem sido
caracterizado como capitalismo acadêmico, termo proposto por Slaughter e Leslie em 1997,
com o livro Academic Capitalism and the New Economy.
Nesta perspectiva, de um capitalismo acadêmico, tornam-se claras as influências de
organismos internacionais como o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, a
partir do incentivo às reformas que objetivem maior produtividade e menor custo para as
instituições públicas. Além disso, vem sendo evidenciado um projeto de universidade marcado
pela produtividade e pela competição no desenvolvimento de produtos que possam interessar à
clientela, que podem ser estudantes ou ainda, instituições de fomento. A universidade, local
hegemônico para a pesquisa, passa a trabalhar com critérios até então exclusivos do mundo
corporativo (BIANCHETTI; MACHADO, 2009). Para Silva Junior, Gonçalves-Silva e Moreira
(2014, p. 1426) a pesquisa se dá
[...] seja por intermédio de programas de pós-graduação stricto sensu, pós-graduação
lato sensu, iniciação científica, trabalhos finais de graduação ou através de sua
estimulação e exercício paralelo à docência, à publicação de dissertações, teses, livros,
artigos em periódicos e trabalhos em anais de eventos científicos se constituem formas
de circulação do conhecimento produzido, tornando-os públicos.
Conforme explicam Bianchetti e Machado (2009), Bernardo (2014) e Shigaki e Patrus
(2016), um ponto que pode ser visto como marco da transformação da universidade diz respeito
à modificação da CAPES em uma fundação pública, órgão regulamentador e responsável pela
avaliação do desempenho dos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu (PPGSS). Assim,
"[...] adota cinco quesitos com pesos diferentes na composição da nota final: proposta do
programa; corpo docente; corpo discente; teses e dissertações; produção intelectual e inserção
social" (CASTANHA; GRÁCIO, 2015, p. 132). A partir desses critérios e conforme a nota
atribuída ao programa, o mesmo terá direito a bolsas, a possibilidade de acessos em portais da
CAPES gratuitamente, a participar de editais de fomento (especiais), entre outros.
Diante do exposto, a CAPES passou a utilizar uma lógica de competição, advinda do
modelo norte-americano, vinculada ao financiamento da pós-graduação. Com esse padrão, as
avaliações da CAPES fundamentam-se num quantitativo de produtividade intelectual, por meio
de números que comprovem o trabalho dos sujeitos da pós-graduação e da pesquisa. Esse
critério aumenta a busca dos pesquisadores para publicar investigações científicas em
periódicos de excelência, de forma individual e em parceria intra e interinstitucional. As revistas
científicas são fontes formais de comunicação da ciência e originaram-se "como uma evolução
da comunicação informal, que consistia no uso de cartas, a
[HTML] Produtivismo e precariedade subjetiva na universidade pública: o desgaste mental dos docentes
MH Bernardo - Psicologia & Sociedade, 2014
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