terça-feira, 20 de outubro de 2020

"Eliminem-se uns aos outros"

 "Eliminem-se uns aos outros"

Nivaldo T. Manzano (20/10/20)

O aumento vertiginoso no preço do arroz, dias atrás, marca o início de uma nova era no Brasil – a do Brasil de Mijair da economia "dolarizada". Ao brutal aumento no preço do arroz, dias atrás, seguiram-se os do algodão, dos produtos à base de milho e de soja, entre outros. É o mesmo fenômeno que já ocorre com o preço dos combustíveis. A "dolarização" da economia significa que de agora em diante os brasileiros deverão pagar pelos produtos que consome, incluídos os da cesta básica, o mesmo preço que se paga por eles no exterior, sem que os brasileiros disponham de igual poder aquisitivo. Por exemplo, um europeu recebe um salário mínimo, em média, de 1500 euros, o equivalente a R$ 9.900,00, ou seja, NOVE vezes mais do que recebe um trabalhador brasileiro. Ou dito de outra maneira, um europeu paga pelo mesmo produto nove vezes menos do que paga um brasileiro, enquanto o brasileiro paga nove vezes mais.
É a globalização neoliberal, festejada pela Casa Grande e esteio econômico da sustentação política do governo Mijair/Guedes. Foi para ajustar os preços internos aos preços externos (em dólar), em atendimento ao receituário neoliberal que o governo de Mijair suspendeu as barreiras de importação e exportação de produtos agrícolas, barreiras que protegiam o mercado interno, assim como procede todo país civilizado - a Argentina, por exemplo.
A globalização neoliberal se alastra pelo mundo como uma metástase com efeitos catastróficos sobre a vida dos trabalhadores, na renda, no emprego, no consumo, no padrão de vida. O objetivo é trazer para a sociedade as regras do Circo Romano, do qual nenhum gladiador podia sair vivo. Aquele que vencesse a luta receberia como prêmio esperar a próxima, até que fosse removido morto da arena. Assim também é a “sociedade de mercado” que Mijair/Guedes intentam impor ao Brasil, cujo lema é “Liquidem-se uns anos outros”. Segue no blog entrançodeviceversa:

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Para onde vai a democradura, o governo mais verde-oliva na História do Brasil


Para onde vai a democradura, o governo mais verde-oliva na História do Brasil

 Nivaldo T. Manzano (20/10/20)

É preciso observar para muito além da aparência imediata dos fatos no Brasil de Mijair e atentar para a direção do conjunto coerente das ações governamentais. As peças em destaque nas manchetes são o sinistro do meio ambiente, Ricardo Sales, réu por imprividade e o general Mourão, campeão inconteste na alocação de amigos em boquinhas ricas na Administração (direção de Itaipu = R$ 70 mil, etc.). No comando da democradura estão os generais de duplo ganho, instalados no Palácio do Planalto, que têm em Mijair a sua marionete a entreter os patetas.

 

 

As iniciativas de Salles e Mourão, em especial, voltadas para a Amazônia, levantam a ponta do véu, permitindo entrever o que implica para a nação a escolha do Brasil como primeiro grande laboratório mundial da Global Governance. Trata-se de um experimento que eleva ao enésimo expoente o experimento desenhado na Universidade de Chicago e levado a cabo no Chile de Pinochet (1973), com a diferença de que a expectativa que a nova hecatombe política e humana ocorra sem derramamento de sangue.

 

A Colômbia teria sido um experimento a meio caminho entre o que os neoliberais intentaram no Chile e que esperam agora do Brasil. Assim como no Chile, na Colômbia a “sociedade de mercado” somente foi implantada mediante forte intervenção das FFAA, com a diferença que na Colômbia ela ocorreu via democrática. A Colômbia teria falhado por imperícia no emprego de violência explícita e recursos de repressão considerados como pouco refinados, como descarga direta e pública de armas de fogo e explosivos contra defensores de direitos humanos (750 vítimas fatais em 2019, segundo levantamentos de ONGs) e incompetência gerencial em pontos da agenda neoliberal, tais como tolerância na manutenção da educação e saúde públicas. Em contraste, o Brasil de Mijair tem conseguido - graças à conivência da imprensa -, sem grandes comoções na sociedade, renunciar à soberania nacional, em proveito do capital estrangeiro, e transferir funções sociais da responsabilidade constitucional do Estado para entidades igrejeiras, mediante doação em valor correspondente de recursos públicos, que deverão bancar a totalidade da fatura. A última medida nessa direção foi a transferência da atenção institucional às crianças deficientes para os amigos da ministra Damares Alves, na continuidade de ações da mesma natureza (idosos etc.). Na área social, essas são apenas as primeiras iniciativas da democradura, convertida ao receituário neoliberal, receituário que não atinge a instituição FFAA. Há muito ainda a fazer com vistas à eliminação radical de toda política social por parte do Estado.  

O pacto da Global Governance, promovido pela elite financeira mundial, sob o comando dos EUA (com Trump ou sem Trump) – como reação defensiva aos abalos sísmicos do Capital (2008, por ex.) e à ascensão da China como superpotência concorrente -, implica a renúncia à soberania nacional; a instalação de uma governança única, acima dos Estados nacionais, com agenda autoritária, que estabelece a eliminação de fronteiras econômicas; o fim de todo direito internacional que não seja o do mercado; o fim das instituições multilaterais, exceto as controladas pelos EUA, tais como FMI e Banco Mundial; o esvaziamento da ONU e de suas agências; eliminação de toda legislação sobre direitos humanos; eliminação das restrições à livre ação e circulação do Capital, tais como agências reguladoras, normas, fiscalização e punição nas áreas de meio ambiente e outras; eliminação das legislações trabalhista e ambiental, eliminação radical do Estado de bem-estar social e suas implicações; privataria das instituições de ensino em favor das entidades igrejeiras e remodelação radical de seu conteúdo, com eliminação de tudo o que remeta ou faça referência ao sentido dos termos comunidade e sociedade (é somente Eu e Deus, ou o estrito individualismo, segundo o credo luterano ou calvinista) ; abolição de legislação e normas sobre câmbio, moeda; eliminação da legislação antidumping, de tarifas e taxas de importação e exportação.

Em resumo, a democradura verde-oliva, a serviço da Casa Grande, intenta instalar no País uma república bonapartista neoliberal stricto sensu, a “sociedade de mercado”, uma réplica atualizada do Circo Romano, cujas regras impostas aos condenados limitavam-se a uma só: “Eliminem-se uns aos outros”. Um espetáculo oferecido aos que o promovem para o seu exclusivo gáudio, ainda que sob o aplauso dos pobres de direita.

No caso do Brasil, o fiador e protagonista do pacto são as FFAA, como é possível ver-se, entre outras evidências, na sua estratégia de entrega da Amazônia, região que abrange 59% do território nacional e que somada ao bioma Amazônia além-fronteiras equivaleria ao sexto país do mundo em extensão. Em cada uma das mineradoras há pelo menos um militar na diretoria, de dupla remuneração; e as FFAA, com dinheiro público, dão total apoio à logística de saque e à evacuação dos minérios e demais riquezas naturais. Todas as saídas do País, portos, aeroportos e fronteiras secas têm por sobre a vigilância da PF o comando das Três Armas.

Daí a criação, sob a autoridade do general Mourão, do Comando da Amazônia, do qual estão excluídos todos os governadores do Norte e do qual não consta nenhuma autoridade civil e nenhum civil. Todos os órgãos de informação sobre clima e sobre meio ambiente, controle e monitoramento de satélites foram transferidos para mãos militares. Uma penca de oficiais acaba de ser nomeada (15/10/2020) para o controle dos serviços de dados sob a responsabilidade do Estado. Em contrapartida, os promotores civis da Global Governance comprometem-se, mediante patrocínio da Casa G, a monitorar a imprensa na implementação da estratégia, entre cujos objetivos inclui-se a remoção da memória nacional a tortura e o assassinato praticados pelo golpe militar de 1964, com vistas a legitimar e consolidar a democradura – um pacto entre FFAA, Casa Grande e as chefias dos Três Poderes. Como braço auxiliar ideológico e de repressão, têm-se as entidades igrejeiras, a milícia de Mijair e as forças para-militares.

Observe que nos dois últimos meses todos os jornais e publicações periódicas da imprensa comercial trazem matérias indicativas da normalização do governo Mijair pelos membros do pacto não escrito, com vistas à sua reeleição 2022.

Minha argumentação funda-se na evidência de que a ideologia neoliberal e os seus promotores encontram-se sob intenso assédio da opinião pública em razão da concentração mundial da renda, crescimento da desigualdade social em velocidade irrefreável e perda de legitimidade do capitalismo. Depois de ensaios frustrados, por terem estacionado a meio caminho, em nova tentativa de criar a sua grande vitrine para o mundo decidiram radicalizar no caso do Brasil, por nele encontrar terreno fértil. Por que terreno fértil? O Brasil apresenta baixa coesão social, cultural e cívica (= baixa capacidade de organização social e resistência política); ausência do sentido de comunidade; elevado índice de analfabetismo funcional; exclusão social e marginalidade em grande escala; baixíssima impregnação social da institucionalidade; baixíssimo índice de leitura (um dos mais baixos do mundo, segundo a revista The Economist); e o segundo país mais ignorante do mundo, em anos seguidos, segundo a pesquisa internacional do Instituto Ipsos (ignorante = desconhecimento do próprio contexto)