quinta-feira, 28 de agosto de 2025

PONTO GEOMÉTRICO artigo meu

REFLEXÕES SOBRE O PONTO GEOMÉTRICO, CONFÚCIO E A INTOLERÂNCIA Como é sabido, o ponto participa da geometria como suporte linguístico das formas da geometria, mas ele próprio não é figura geométrica. O ponto é um postulado sobre o qual assenta a geometria. As figuras geométricas, assim como as coisas, se reconhecem pelas suas formas; e, sem formas, não há coisas que se possam reconhecer pelos sentidos. Quanto às coisas abstratas, elas também têm forma, a sua representação mental. Pode imaginar-se uma maçã, mesmo que não a estejamos vendo. DEFINIR é conferir propriedade aos objetos. É por ser desprovido de dimensões que o ponto não pode ser definido. O ponto é adimensional. Ou, seja, o ponto compreende as figuras geométricas, mas não está compreendido nelas. Origem divina da forma? Assim pensou o filósofo Platão. Mas por que Deus precisaria de uma representação tridimensional, própria de quem tem corpo? Platão, um aficionado da geometria, a ponto de inscrever no pórtico de sua Academia "não entre quem não seja geômetra", entendeu ter resolvido o problema, apelando a um deus ex-máquina (solução artificial na trama teatral), ao criar as suas formas eternas, imutáveis, fixas, livres das contingências do tempo e do espaço. uma reprodução vicária de nossas formas terrenas, variáveis, sujeitas ao entrechoque das opiniões, a novas geometrias, além da euclidiana. Já o sábio Confúcio postava-se nas antípodas mentais de Platão, ao afirmar que “o homem não tem ideia” , como a dizer que a mente precisa desembaraçar-se de seus emplastros adventícios, para estar livre e aberta, pronta a acolher uma nova ideia, uma nova forma, com vistas a sincronizá-la, se aprovada, com o novo contexto, ou seja, harmonizá-la com a realidade, por definição, em estado de mudança. Assim como água parada, uma ideia fixa, uma ideologia, um preconceito, ao obstar o livre fluxo das ideias, impede a mente de se livrar do lixo, eventualmente tóxico, que nela se acumula É a essa profilaxia, com vistas à recuperação da virtualidade dos possíveis, inscritos na metáfora do ponto, a que o artista e o filósofo recorrem, para assegurar a livre inspiração no seu exercício de criar. Ao lado dos artistas, dos geômetras e da gente do senso comum, sinto-me impelido a aderir à ideia de Confúcio, que assim entrou para a história por ter enunciado o mais fulminante libelo contra o pensamento único, o automatismo do livre mercado -, um axioma fundamentalista -, advogado pelo liberalismo, que não reconhece a dimensão da Política, do que resulta a intolerância, como presume Aristóteles, em sua obra "A política". Nivaldo Manzano