Artigos, ensaios, pesquisas de interesse geral - política, cultura, sociedade, economia, filosofia, epistemologia - que merecem registro
sábado, 29 de junho de 2024
conhcimento racional - no curriculo escolar
https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/10567
O presente artigo tem como objetivo inicial resgatar noções clássicas da filosofia antiga no campo do currículo. Entre essas noções destacamos as concepções de: ética, comunidade, humanismo e natureza. Desse modo, consideramos que tais noções só fazem sentido quando pensadas no ideal da Paidéia grega (JAEGER, 1994). Por isso, resgatamos passagens da Republica de Platão e da Ética de Aristóteles. Por meio dessas passagens, valendo-se de analise comparativa, compreendemos a diferença entre o saber-fazer do primeiro em detrimento ao saber-agir do segundo. Nesse sentido, a ética, com Aristóteles, recebe um componente pedagógico, a virtude intelectual conhecida por phronesis (prudência). Assim, com prudência e clareza da condição ética política, podemos superar a moralização contemporânea.
Adorno. A teoria crítica desse autor constrói-se em diálogo com o pensamento iluminista de Kant, com a filosofia marxista, mas também com a psicanálise de Freud, sem que, no entanto, a filosofia adorniana possa ser compreendida em estrita consonância com qualquer um desses referenciais.
..... a educação moderna instituída, na medida em que não é capaz de enxergar os aspectos ressaltados anteriormente, mostra-se limitada ou mesmo impedida de elevar os entes humanos do seu “estado de menoridade” a uma situação de autêntica emancipação, aumentando, assim, a probabilidade de recaída na barbárie, como a que se constatou na Segunda Guerra Mundial, nos emblemáticos casos do campo de concentração de Auschwitz e do massacre nuclear das cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Embora seja possível evocar a regressão aos instintos e o irracionalismo como motivadores de ações cruéis, desumanas e destrutivas, a organização sistemática e tecnológica de tais atos indica a presença de um determinado tipo de racionalidade que atua como meio eficaz na execução dessas ações.
Há, portanto, um tipo de aliança entre forças instintivas e racionalidade que não se presta a produzir autonomia e emancipação, mas adaptação. Nota-se, portanto, a existência de um tipo de práxis produtiva negadora das forças emancipatórias e humanizadoras. Tal modalidade de racionalidade imiscui-se, por vezes, em diversos domínios da existência, inclusive no âmbito educacional. Daí a ponderação adorniana, segundo a qual:
A necessidade de tal adaptação, da identificação com o existente, com o dado, com o poder enquanto tal, gera o potencial totalitário. Este é reforçado pela insatisfação e pelo ódio, produzidos e reproduzidos pela própria imposição à adaptação justamente porque a realidade não cumpre a promessa de autonomia. (ADORNO, 1995, p. 43-44).
O pensamento emancipador não despreza a realidade material, produtiva e corporal. Contudo, não se subordina ao cálculo, à busca da melhor performance, à adaptação às regras como fim mesmo do viver e, por consequência, não renuncia à atitude crítica e às preocupações ético-políticas que devem orientar a dimensão prática da existência.
A emancipação dos sujeitos é um projeto histórico que não ganha sentido tão somente em situações extremas de ameaça à liberdade e à humanização. Por isso, o combate à barbárie deve ser um esforço constante e continuado, pois ela pode imiscuir-se insidiosamente nas relações humanas mais cotidianas que orientam a formação dos indivíduos.
Subjetividades adaptáveis, educadas para aderir às normas e determinações das instituições sociais, que se colocam em face do mundo constituído como se esse fosse uma coisa dada, perdem a capacidade de questionar, de se revoltar, de contestar a ordem estabelecida, fechando-se aos projetos utópicos que se esforçam para construir criativamente um mundo mais humano.
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2002.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
GOERGEN, Pedro. Pós-modernidade, ética e educação. 2 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução Artur M. Parreira. 3ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
PAVIANI, Jayme. As origens da ética em Platão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
PLATÃO. A República. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2001.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
VERGNIÈRES, Solange. Ética e política em Aristóteles. Tradução Constança Marcondes Cesar. São Paulo: Paulus, 1998 (Ensaios filosóficos).
AGAMBEN, Giorgio. Infância e História: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG/Humanitas, 2005.
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
AGAMBEN, Giorgio. Notas sobre o gesto. Artefilosofia / Instituto de Filosofia, Artes e Cultura / Universidade Federal de Ouro Preto/IFAC, n.4, (jan.2008). Ouro Preto: IFAC, 2008.
ALVES, Nilda. Cultura e cotidiano escolar. In: 25ª Reunião Anual da ANPEd. Maio/Jun/Jul/Ago Nº 23, Anais... Caxambu, MG, 2003. p. 62-74. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/drzj7WstvQxKy7t5GssT4mk/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 mai. 2019.
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BARROS, Laura Pozzana de; KASTRUP, Virgínia. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCOSSIA, Liliana da. (orgs.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015, p. 52-75.
BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. 3ª ed. Rio de Janeiro- São Paulo. Editora Record, 1996. Disponível em: https://cs.ufgd.edu.br/download/Livrosobrenada-manoel-de-barros.pdf. Acesso em: 10 nov. 2018.
BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: As Infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010.
BARROS, Manoel de. Poemas rupestres. Rio de Janeiro: Record, 2004. 75 p.
BRASIL. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana, na forma definida nesta Resolução. Seção 1, p. 44-46. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/reso510.pdf. Acesso em: 18 jul. 2019.
BURITY, Joanildo. Hospitalidade, amizade e os imperativos da ordem social. In: LOPES, Alice Casimiro Lopes; SISCAR, Marcos (Orgs.). Pensando a política com Derrida: responsabilidade, tradução, porvir. – São Paulo: Cortez, 2018.
CARVALHO, Janete Magalhães (Org.). Infância em territórios curriculares. Petrópolis, RJ: DP&A, 2012.
CARVALHO, Janete Magalhães. Cotidiano escolar como comunidade de afetos. Petrópolis, RJ: DP et alii; Brasília, DF: CNPq, 2009.
CORAZZA, Sandra Mara. O que se transcria em educação? Porto-Alegre-RS: Doisa, 2013.
CRUZ, Rosimeire Costa de Andrade. A pré-escola vista pelas crianças. 2009. Trabalho apresentado no GT 07 Educação de Crianças de 0 a 6 anos. Anais da 32ª Reunião Científica da ANPEd. Caxambu, Outubro de 2009. Disponível em: http://32reuniao.anped.org.br/arquivos/trabalhos/GT07-5619--Int.pdf. Acesso em: 05 mai. 2018.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol. 4 / tradução de Suely Rolnik - São Paulo: Ed. 54, 1997.
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.
DERRIDA, Jacques. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar Da Hospitalidade. Tradução de AntonioRomane._ São Paulo: Escuta, 2003.
FARIA, Ana Paula R. LOURENÇO, Suzany Goulart. Por uma política do sensível na experiência do currículo: encontros e desencontros. In: CARVALHO, Janete Magalhães (Org.). Infância em territórios curriculares. Petrópolis, RJ: DP&A, 2012, p. 154-168.
HANSEN, João Adolfo (2002) “Educando príncipes no espelho”. In FREITAS, Marcos Cezar de KUHLMANN JR, Moysés. (orgs.) Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez Editora, 61-98
KOHAN, Walter Omar. A infância da educação: O conceito devir-criança. In: KOHAN, Walter Omar. (org.) Lugares da infância: filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
KOHAN, Walter Omar. Infância e filosofia. In: SARMENTO, Manuel; GOUVEIA, Maria Cristina S. (Orgs.). Estudos da Infância: Educação e Práticas Sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
KOHAN, Walter Omar. Infância, estrangeiridade e ignorância. Ensaios de filosofia e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
KOHAN, Walter Omar. Paulo Freire: um menino de 100 anos. - 1 ed. - Rio de Janeiro: NEFI, 2021.
LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: n-1 edições, 2017, 128p.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira da Educação, jan./abr., n.19, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 20 abr. 2019.
Larrosa, Jorge. O enigma da infância: ou o que vai do impossível ao verdadeiro. In: Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 183-198.
LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
LOPES, Alice Casimiro. Por um currículo sem fundamentos. Linhas Críticas, vol. 21, núm. 45, maio-agosto, 2015, pp. 445-466 Universidade de Brasília Brasília, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/1935/193542556011.pdf. Acesso em: 24 mai.2019.
MAIA, Marta Nidia Varella Gomes. Datas comemorativas – uma construção ideológica que persiste na educação infantil. – Trabalho apresentado no GT 07 Educação de Crianças de 0 a 6 anos. Anais da 38ª Reunião Científica da ANPEd. São Luiz do Maranhão, Outubro de 2017. Disponível em: http://38reuniao.anped.org.br/sites/default/files/resources/programacao/trabalho_38anped_2017_GT07_25.pdf. Acesso em: 05 mai. 2019.
MASSCHELEIN, JAN E-ducando o Olhar: a necessidade de uma pedagogia pobre. Educação & Realidade, vol. 33, núm. 1, enero-junio, 2008, pp. 35-47. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/3172/317227051005.pdf. Acesso em 31 nov. 2021.
PEREIRA, Dulcimar. Entre conversas, bonecos e currículos. In: CARVALHO, Janete Magalhães (Org.). Infância em territórios curriculares. Petrópolis, RJ: DP&A, 2012, p. 94-111.
RAMOS, Tacyana Karla Gomes. Possibilidades de organização de práticas educativas na creche em parceria com os bebês: o que “dizem” as crianças? Trabalho apresentado no GT 07 Educação de Crianças de 0 a 6 anos. Anais da 34ª Reunião Científica da ANPEd. Natal, Outubro de 2011. Disponível em: http://34reuniao.anped.org.br/images/trabalhos/GT07/GT07-1092%20int.pdf. Acesso em: 05. Mai. 2018.
SAMPAIO, Carmen Sanches; RIBEIRO, Tiago; SOUZA, Rafael de; Conversa como metodologia de pesquisa: uma metodologia menor. In: RIBEIRO, Tiago.; SOUZA, Rafael de; SAMPAIO, Carmen Sanches. Conversa como metodologia de pesquisa: por que não? Rio de Janeiro: Ayvu, 2018, p. 21-40.
SKLIAR, Carlos. A escuta das Diferenças. Ed. Mediação. 1ª ed. 2019.
SKLIAR, Carlos. Derrida & a educação. 1ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2008ª.
SKLIAR, Carlos. La infância, La ninez, Las interrupciones. Childhood & Philosophy, vol. 8, núm. 15, enero-junio, 2012, pp. 67-81, Universidade do Estado do Rio de Janeiro Maracanã, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=512051606004 Acesso em: 31 mai.2018.
SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí?. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário