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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Be-á-bá sobre o que é o Poder
INTRODUÇÃO AO PROBLEMA DO PODER
Na vida cotidiana fazemos com freqüência referência ao poder, aos seus limites e abusos, mas nem sempre estamos de acordo sobre o
significado que se deve atribuir à palavra, que parece se aplicar a situações e contextos variados. Falamos do poder dos pais sobre os filhos,
daquele do senhor sobre os escravos, assim como do professor sobre seus alunos sem que saibamos como essas realidades se conectam
entre si. No meio dessa proliferação de sentidos, muitos pensadores buscaram uma definição geral do poder partindo da ideia de que ele se
vincula ao fato de que existem pessoas que são capazes de levar outras a executar ordens e comandos com os quais não estão
necessariamente de acordo e para os quais não foi dado nenhum consentimento explícito. Essa maneira de definir o poder, colocando em
destaque o fato de que detém poder aquele que faz prevalecer sua vontade sobre a de outros, ajuda a esclarecer algumas questões, mas
levanta também dúvidas, o que levou ao aparecimento, ao longo da história do Ocidente, de várias concepções diferentes a respeito do
assunto. Algumas dessas concepções serão lembradas a seguir.
Para situar melhor nossa questão, é importante levar em conta que em todas as sociedades históricas encontramos o fenômeno do mando e da
obediência. Isso mostra que a questão do poder é fundamental para os que pretendem compreender como vivemos e como poderíamos viver
em conjunto. Isso implica em dizer que a investigação sobre a natureza do poder deve ser feita juntamente com aquela sobre o sentido da
política, que é o objeto principal do ramo da filosofia – a filosofia política – que se ocupa em compreender os fundamentos da vida comum e não
apenas explicar como ela funciona normalmente, que é a matéria das ciências sociais.
Agindo assim, estamos evitando uma abordagem muito genérica de nosso tema, que pode provocar muita confusão conceitual, para nos
restringirmos à esfera da política e aos problemas do Estado. É claro que esse recorte não responde a todas nossas dúvidas sobre o tema.
Deixamos de lado algumas questões interessantes como, por exemplo, aquela da psicologia dos indivíduos que mandam e daqueles que
obedecem, que é muito importante, quando tentamos entender a obediência que alguns povos manifestam a tiranos e ditadores. Mas ganhamos
uma clareza na definição de nosso objeto que nos permite avançar com segurança pelo vasto terreno aberto pela investigação sobre a natureza
do poder.
Inicialmente o problema do poder expõe a necessidade de pensarmos o papel da violência em nossas vidas e na organização da vida política.
Isso se dá porque tendemos a pensar que poder e violência são a mesma coisa e só obedecemos quando somos forçados. Ocorre, no entanto,
que essa identidade entre os dois termos nem sempre é verdadeira e podemos até mesmo dizer que ela quase nunca o é, pois os governantes
que contam apenas com a força não conseguem se preservar em seus lugares. Se a violência aparece como um tema ligado àquele do poder,
essa relação só pode ser compreendida se levarmos em consideração outras questões como aquelas da legitimidade dos regimes políticos e da
liberdade dos cidadãos. Sem levar em consideração esses elementos não somos capazes de entender como funciona efetivamente um regime
político
Dentre os problemas que a filosofia política deve tratar, quando pretende estudar o poder, está aquele do conflito, que é um elemento
constitutivo de toda experiência política. (Ver a OP: Indivíduo e comunidade I: conflito). Quando apontamos para esse tema, estamos partindo
da constatação quase banal de que não há vida em comum sem que surjam divergências e disputas entre os que dela participam e também
com aqueles que são dela excluídos. Essa observação serve para nos lembrar que um dos papeis principais do poder político é lidar com os
conflitos seja arbitrando-os, seja impedindo seu aparecimento, seja criando instituições para acolhê-los. A maneira como um regime lida com
conflitos diz muito sobre ele. Regimes autoritários tendem a negá-los e tentam evitar que eles coloquem a posição dos governantes em questão.
Regimes democráticos e republicanos buscam regulá-los por meio de leis e de instituições, mas não deixam de temê-los, pelo medo de que a
divisão do corpo social possa ser uma ameaça para a sobrevivência do próprio Estado. Na verdade, desde a Antiguidade os conflitos foram
temidos pelos pensadores políticos, que sempre viram na exacerbação das disputas internas um risco ainda maior do que as guerras com os
vizinhos. Na Idade Média, a paz era considerada o bem maior da vida pública, postura que se conservou até o Renascimento, quando a maior
parte dos filósofos enxergava na “luta de facções” um perigo enorme para a vida política. Mesmo na modernidade esse medo não se dissolveu,
mostrando que a associação entre o tema do poder e aquele do conflito sempre fez parte do pensamento político. Mas o medo dos conflitos
também aponta para a necessidade de se encontrar um terreno comum de entendimento, um Bem comum, que por sua natureza seria capaz
fazer com que as pessoas superassem os conflitos, para criar algo superior ás vontades particulares, que quase sempre estão na raiz das
disputas entre os indivíduos. Essa ideia serviu para mostrar que um dos parâmetros para se identificar um bom governo é sua capacidade de
privilegiar os interesses comuns, promovendo assim um bem para todos, em detrimento das políticas que visam a satisfazer os desejos de
apenas pequenas parcelas da população e que, no mais das vezes, colocam a unidade do corpo político em perigo.
Escolhendo tratar o problema do poder do ponto de vista da política não se está negando seus outros significados, e nem a possibilidade de
encontrar nas outras esferas da vida social fenômenos correlatos àqueles que os filósofos estudaram na esfera do Estado. Trata-se apenas de
uma escolha metodológica seguida por muitos pensadores e que evita os riscos de uma abordagem que pode se perder em abstrações e
generalidades, que nada nos ensinam sobre os fatos que observamos em nossas vidas. (ver as orientações contidas na OP. Indivíduo e
comunidade I: conflito)
Texto: “O poder não necessita de justificação, sendo inerente à própria existência de comunidades políticas; o que realmente necessita é
legitimidade. O emprego das duas palavras como sinônimos é tão enganoso e confuso quanto a comum identificação entre obediência e apoio.
O poder brota onde quer que as pessoas se unam e atuem de comum acordo, mas obtém sua legitimidade mais do ato inicial de unir-se do que
de outras ações que se possam seguir”. Hannah Arendt. Da Violência. Trad. José Volkmann.
Explicação: No texto a autora sublinha a importância da afirmação da legitimidade do poder. Ou seja, para agir sobre a vida dos cidadãos, o
poder precisa ter sua origem reconhecida por todos os que vivem numa determinada sociedade. Não basta estar de acordo com as leis, pois
essas podem ser derivadas apenas da vontade do governante. A legitimidade nasce da concordância com as leis e com o fato de que essa
concordância foi manifestada no momento em que elas foram concebidas. Isso ocorre, por exemplo, quando uma assembléia constituinte eleita
por regras claras redige a Constituição de um país. À luz dessas considerações discuta os seguintes problemas:
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1. Quando o Estado usa seu poder para praticar alguma forma de violência contra um cidadão, ele pode fazê-lo de forma legítima?
2. Poder e violência sempre andam juntos?
3. Mostre, segundo sua opinião, usando fatos da atualidade, quando o poder está sendo usado corretamente e quando deriva de um abuso.
A POLÍTICA NA ANTIGUIDADE
Muitos das palavras que empregamos, quando nos interrogamos sobre o poder nos foram legadas pelos gregos. A própria ideia de que a
política define um campo específico da ação humana foi proposta pela primeira vez pelos filósofos helênicos, que compreenderam que a
maneira como se organizava a vida coletiva na Grécia do século V a.c era muito diferente da forma como viviam os outros povos conhecidos.
Em primeiro lugar, havia o reconhecimento que uma cidade só pode pretender ser autônoma em relação às outras se for responsável por suas
próprias leis. Em segundo lugar, os gregos descobriram que os diversos regimes possíveis exigiam formas diferentes de organização das
cidades e transformavam a natureza dos homens. Ao mesmo tempo em que apontavam para a originalidade da experiência que estavam
vivendo, faziam uma crítica violenta dos regimes que não reconheciam a possibilidade de seus cidadãos agirem na arena pública. Os gregos
não eram todos adeptos da democracia, o regime do mando do povo, mas tinham horror ao despotismo, o regime dos povos orientais, que não
reconhecia a diferença, segundo eles, entre a esfera da política e a esfera da casa. Ter afirmado essa diferença foi um fator fundamental para o
tratamento que diversos filósofos deram ás questões que nos interessam.
PLATÃO (428 a.c- 347 a.c).
Platão foi o primeiro grande pensador a legar para a posteridade uma série de diálogos nos quais foram desenvolvidos alguns dos pilares
fundamentais da filosofia política do Ocidente. Em seu diálogo A República, ele tenta descobrir o que é a justiça e qual é a organização política
mais justa para se viver. Depois de analisar as concepções mais influentes, na opinião de seus concidadãos, a respeito do problema da justiça,
ele procura mostrar que só em um regime ideal, construído segundo os preceitos, que procura explicitar ao longo do texto, se poderia encontrar
a justiça em sua plenitude. Nesse regime, os governantes deteriam o poder em razão de seu saber e isso levou-o a concluir que a filosofia
deveria governar. Não se tratava de afirmar que os filósofos deveriam governar por pertencerem a um grupo social específico, que se dedicava
à busca da sabedoria e à sua transmissão, mas sim que o regime deveria ser construído segundo um saber, que se identifica com a
compreensão do que é o Bem, princípio do qual derivavam todas as outras coisas. Em todos os outros regimes existentes, como a realeza, a
aristocracia, a oligarquia, a democracia e a tirania, os homens se identificam e agem em conformidade com os princípios desses regimes. Na
oligarquia, os governantes agem em função do poder que a riqueza lhes confere, como na democracia, é a busca por uma igualdade
generalizada que move o homem democrático. No regime ideal, os homens se identificam com a filosofia e com a justiça e, por isso, são
capazes de escapar das limitações de todos os outros regimes. Platão estava consciente das dificuldades para se construir um regime ideal,
governado por sábios, e explicitou seu ponto de vista em diálogos como O Político e As Leis. Mas isso não foi suficiente para que ele
abandonasse suas convicções e a ideia de que a realização plena das capacidades políticas dos homens só se dá quanto são deixadas de lado
as particularidades dos regimes parciais.
Encontra-se na OP. Indivíduo e comunidade II. Lei e justiça uma discussão interessante sobre a origem da questão da justiça entre os gregos.
Texto: “Ora Glauco, recordemos os pontos em torno dos quais estamos de acordo para que uma Cidade seja eminentemente bem governada:
comunidade das mulheres, comunidade das crianças e de todo o processo educativo; ocupações comuns na guerra como na paz; o governo
deve estar nas mãos dos cidadãos, que mostraram ser os melhores tanto na filosofia quanto na guerra.(...). Eis outros pontos sobre os quais
estamos de acordo: os chefes, uma vez designados, conduzirão os soldados para instalá-los nas residências sobre as quais falamos
anteriormente e onde nenhum deles é proprietário de nada, mas nas quais tudo é comum. Além disso, estamos de acordo, acredito eu, se você
se lembra, sobre quais devem ser seus bens mobiliários. – Sim, disse ele, eu me recordo que para nós nenhum desses homens deve possuir
bens, que de fato pertencem aos outros, mas que assim como os guerreiros e os guardiões, eles devem receber dos outros, como salário por
sua função de guarda, o necessário para a subsistência anual, sendo seu dever velar sobre eles mesmos e sobre a Cidade”. Platão. A
República. VIII, 543.
Explicação: Nesse texto, Platão recapitula alguns pontos importantes de sua argumentação a respeito da estrutura da cidade ideal e do lugar
que nela devem ocupar os que detém o poder. Deve-se notar que para ele a posse do poder supremo na cidade deve excluir a posse de bens
materiais. Os governantes devem saber combinar a força, principalmente na guerra, com a filosofia, realizando o encontro entre saber e poder.
A autoridade dos governantes deriva do acordo entre o poder que detém e o poder que exercem.
Questões.
1. Quais dos elementos da descrição da cidade ideal são os mais importantes para sua criação?
2. Como podemos nos servir de Platão para pensarmos a concentração de poder nas mãos dos que detém as riquezas, que observamos em
várias sociedades contemporâneas?
3. Quais elementos dentre os expostos nos textos lhe parecem impossíveis de se realizar em sociedades como as nossas?
Exercício.
1.Procure imaginar uma sociedade ideal e analise se seria possível construí-la nos dias de hoje, levando em conta os fatores econômicos,
sociais, políticos e morais.
2. Pesquise para saber se já houve no Brasil tentativas de construir sociedades baseadas em utopias.
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ARISTÓTELES (385 a.c- 322 a.c).
Discípulo de Platão, Aristóteles se interessou como ele pelas características do regime ideal, mas investigou a mudança dos regimes de outro
ponto de vista. Como seu mestre, ele admitia que a transformação dos regimes, a passagem de uma realeza para uma aristocracia, por
exemplo, era um fato natural. Mas, contrariamente a Platão, Aristóteles não acreditava que as mudanças seguiam sempre a mesma ordem, que
acabaria na degeneração final representada pela tirania. As mudanças eram naturais, mas podiam ocorrer em todos os sentidos. Além disso, ele
constatava que na realidade de seu tempo os regimes mais corriqueiros eram a democracia e a oligarquia, fato que o levava a afirmar que a
distinção essencial no interior de uma cidade, para se compreender a organização do poder, era aquela entre ricos e pobres. Aristóteles se
preocupou também em definir o que era um cidadão, sobretudo diante do fato que a afirmação corrente segundo a qual era cidadão aquele que
era filho de pais cidadãos nem sempre correspondia à realidade.
Aristóteles não imaginava como seu mestre um mundo constituído por idéias separadas da realidade empírica, que seria apenas uma forma
degradada da verdadeira realidade. Por isso, ele adotou um ponto de vista que muitos chamaram de realista, para investigar a política.
Encontramos um exemplo desse procedimento em seu livro A Política. Cada regime é analisado segundo suas características próprias e o
filósofo reconhece que muitas vezes as formas existentes são mais complexas do que os modelos imaginados pelos pensadores de sua época.
Essa postura diante da realidade permite que ele analise a tirania de um ponto de vista inovador. Aristóteles não era favorável a esse regime,
mas isso não o impediu de tratá-lo como um regime qualquer. Nessa lógica, até mesmo um tirano pode aprender a conservar seu poder, se não
se deixar levar pelos excessos e pela violência. No pólo oposto àquele da tirania se encontrava a república temperada, que é o melhor regime
existente, por ser capaz de regular suas ações pelo meio termo, que também orienta a vida moral dos cidadãos. Essa concepção da política foi
notavelmente influente nos séculos seguintes estando presente tanto entre os romanos quanto entre os medievais, que herdariam a ideia do
bom governo e a transformariam à luz das crenças religiosas da cristandade.
Texto: “Devemos dar à noção de ‘bom governo’ um duplo sentido: é de um lado a obediência às leis em vigor, e de outro, a excelência das leis
em vigor observadas pelos cidadãos, pois podemos também obedecer leis que são ruins”. Aristóteles. A Política. IV, 8, 1294 a 1.
“A causa universal e mais importante que cria entre os cidadãos uma disposição de alguma maneira favorável à mudança, deve agora ser
estabelecida: é aquela sobre a qual já falamos. De um lado, aqueles que aspiram à igualdade suscitam revoltas, se eles acreditam que são
desfavorecidos, quando são iguais dos que possuem vantagens excessivas, e, de outro lado, aqueles que desejam a desigualdade e a
superioridade se revoltam também, se eles supõem que apesar de sua desigualdade eles não possuem uma parte maior que os outros, mas
uma parte igual ou menor”. Aristóteles. A Política. V,2, 1302 a 20.
Explicação: No primeiro texto o autor faz menção à noção de “bom governo” que terá uma grande influência na maneira como muitos
pensadores posteriores pensarão a questão do poder e de seu uso correto. O foco se encontra nas leis e em sua qualidade e não em fatores
impossíveis de serem identificados na vida cotidiana dos Estados. No segundo texto, Aristóteles chama a atenção para o papel fundamental que
a noção de igualdade tem na vida política. Procedendo dessa maneira, ele descarta também a ideia que as mudanças ocorridas nas cidades
são fruto de processos naturais, que não precisam da ação humana para se realizar. Se é natural que os regimes mudem, é possível encontrar
razões que nos ajudam a compreender as lutas pelo poder.
Questões e exercícios.
1. Por que é tão importante ser igual aos outros quando se é cidadão da mesma cidade?
2. A seu ver, os regimes descritos pelos pensadores da Antiguidade – realeza, oligarquia, aristocracia, democracia, tirania, etc.. – são todos
iguais?
3. Um bom governo pode ser injusto e violento com seus cidadãos e ainda ser legítimo?
A MODERNIDADE E A QUESTÃO DO CONTRATO.
Um aspecto importante do pensamento da Idade Média foi a síntese realizada por autores como Tomás de Aquino (1225-1274) entre os valores
cristãos, expressos nos textos bíblicos, e algumas concepções herdadas de Aristóteles. Em que pese, no entanto, a influência do aristotelismo,
prevaleceu nos autores medievais, desde Agostinho (354-430), a afirmação da preponderância do modelo de vida dedicada à contemplação
religiosa, por oposição à vida ativa (dedicada à política). Essa maneira de compreender a vida pública acabou rebaixando-a a um patamar
inferior àquele dos homens dedicados à vida religiosa e à Igreja. Os homens realmente virtuosos deveriam se preocupar com sua salvação e
com o bem do próximo, mas deviam evitar ao máximo se misturar aos negócios públicos, fonte freqüente de corrupção moral e que dificultavam
ao extremo a vida dos cristãos interessados em seguir os ensinamentos dos Evangelhos.
A partir do Renascimento, que os historiadores costumam situar entre o século XIV e o século XVI, a recuperação de textos da Antiguidade, por
escritores como Petrarca (1304-1374), serviu para colocar por terra os cânones dos se preocupavam com sua salvação e com o bem do
próximo, mas pensavam ser seu dever evitar ao máximo se misturar aos negócios públicos, fonte freqüente de corrupção moral. Um dos feitos
principais do resgate dos valores do mundo antigo foi o fato de que a política readquiriu sua dignidade e voltou a estar no centro das
preocupações de muitos pensadores. Com o aparecimento das nações modernas e de Estados fortes, livres do mando direto da Igreja, muitas
questões tiveram de ser tratadas levando em conta a mudança no panorama político europeu e as conseqüências do abandono da ideia de que
todo poder vem de Deus. Não se tratava de negar a importância da religião para a política e nem de se insurgir contra as verdades reveladas
pelo Cristo. A pergunta que precisava ser respondida dizia respeito à origem e fundamento do poder político em sociedades que não tinham a
pretensão de serem formas universais de governo, como a Igreja e o Império, e necessitavam afirmar sua identidade.
Diante desse quadro, o problema da soberania, ou seja, aquele da escolha da autoridade suprema, que não depende de outros para existir,
passou a ocupar o centro do debate entre os filósofos políticos. Jean Bodin (1529-1596) afirmava que a soberania deve ser una e indivisível e
que só assim uma comunidade pode reconhecer um poder que lhe confere identidade e estabilidade. Essa unidade deve ser expressa na forma
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de leis, que por sua vez constituirão a face dos diversos regimes possíveis. Em qualquer caso, a soberania de um Estado só se afirma se ele se
transforma em um Estado de Direito. Essa maneira de apresentar o poder do Estado e a questão da soberania levou muitos intérpretes a
associar o nome de Bodin ao surgimento das monarquias absolutas modernas. Mais importante, no entanto, do que discutir as preferências
políticas do autor é reconhecer que ele formulou de maneira límpida os termos de um problema que desde a Idade Média preocupava os
juristas, mas que só se tornou evidente com o aparecimento das nações modernas.
Um tema muito próximo daquele da soberania e que também ocupou um lugar importante na modernidade foi o da origem do Estado. Na
Antiguidade, a afirmação da condição política do homem era o ponto de partida para a abordagem dessa questão. Aristóteles, por exemplo,
partia da constatação da naturalidade do mando do pai sobre os filhos, para traçar a genealogia das formas de poder. A lei natural era o
fundamento último para todo ordenamento humano, o que fazia das leis criadas pelos homens (nomos) algo necessário, mas que dependia de
uma ordem transcendente para se afirmar. (Ver a esse respeito as orientações da OP –Lei e Justiça).
A principal mudança ocorrida na modernidade é que o debate sobre a origem do Estado passou a incluir uma nova possibilidade, que já havia
sido esboçada na Antiguidade por alguns sofistas, que consideravam a lei como fruto exclusivo da vontade dos homens. Para os modernos, os
homens não deixam, é claro, de estar submetidos às leis naturais sob vários aspectos, mas quando se trata de escolher a maneira como
querem viver juntos, eles podem fazê-lo tendo por referência um contrato inicial, que deve contar com um acordo sobre os principais pontos que
irão estruturar as comunidades políticas. Segue dessa afirmação que o poder político é sempre um artifício, uma criação dos homens, da qual
eles necessitam para viver juntos e evitar que os conflitos destruam a possibilidade de uma vida sem perigos. Dessa afirmação da importância
do contrato nasceram muitas das filosofias mais importantes representadas nas obras de filósofos como Thomas Hobbes, John Locke,
Jean-Jacques Rousseau e muitos outros.
MAQUIAVEL (1469-1527)
Com Maquiavel começou uma transformação do pensamento político cujas conseqüências não se esgotaram até hoje. Seguindo, no tocante à
forma, o modelo de textos medievais, que eram chamados de “espelho dos príncipes”, Maquiavel criou uma nova maneira de se pensar o poder,
que está presente em seu livro mais famoso O Príncipe. Uma característica importante dos tratados que ele parecia imitar é que eles
aconselhavam os governantes a praticar todas as virtudes cristãs, para obter êxito em suas ações. Maquiavel não pretendia desqualificar a
ética, como afirmaram muitos de seus críticos, mas simplesmente mostrar que a principal preocupação de um governante é adquirir e conservar
seu poder, e que ele não consegue sucesso nessa empreitada se se dedicar apenas à prática das virtudes cristãs. Para ele, a ética e a política
possuem relações, mas não devem ser confundidas. Um governante que pretender, por exemplo, nunca ofender seus súditos, acabará sendo
considerado fraco e perdendo uma parcela de seu poder. Um governante temido, mas que sabe usar da clemência na hora certa, continuará a
governar, mesmo se não for muito amado pelos habitantes de sua cidade. A principal conclusão que devemos tirar da posição defendida pelo
pensador italiano é que a política tem um campo de existência próprio, com suas determinações e suas zonas obscuras, que demanda um saber
diferente daquele da ética, para ser compreendido. Para estudá-la em toda sua complexidade é preciso observar variáveis muito diferentes
daquelas escolhidas pelos pensadores medievais.
Um primeiro ponto fundamental da filosofia de Maquiavel é o fato de que ele acredita que toda cidade está dividida quanto à maneira como as
pessoas enxergam o poder. De um lado estão os que querem ocupá-lo e lutam por isso. Muitos dos temas tratados pelo pensador estão
focados nesse grupo de homens e mulheres que querem comandar os outros. O outro grupo, formado pela maioria das pessoas, e que ele
chama de “povo”, por oposição aos “grandes” do primeiro grupo, não deseja se apossar do poder, mas também não quer ser oprimido por ele.
Essa assimetria entre os grupos faz com que a arena política esteja sempre conturbada pelas disputas e pelos conflitos, uma vez que não basta
ocupar o poder. Para mantê-lo é necessário continuar a agir corretamente em todas as situações, pois o governante é atacado o tempo todo
tanto por seus concorrentes quanto pelos que temem a opressão.
Isso não quer dizer que Maquiavel temesse os conflitos e seus efeitos na cena pública. Em seu livro Discursos sobre a primeira década de Tito
Lívio, ele trata diretamente do tema afirmando que foi graças aos conflitos que Roma se tornou uma potência (Discursos, Livro I, 4). O pensador
não pretende dizer que todos os conflitos são benéficos para a cidade, mas sim que não existe comunidade humana que não esteja submetida
a eles e que, sendo naturais, não são necessariamente ruins para o corpo político. Nesse ponto, ele introduz uma nova divisão para mostrar
que os conflitos romanos foram positivos para a cidade, porque ela estava capacitada para acolhê-los em suas instituições e assim dar vazão
aos sentimentos populares que estão presentes na arena pública. Conflitos que apenas afirmam a divisão da cidade sem expressar a liberdade
de suas instituições podem ser extremamente danosos para o corpo político. Conflitos que revelam as divisões internas da sociedade, mas
permitem que ela se desenvolva e enfrente os novos desafios são fundamentais para a afirmação de sua potência.
Maquiavel acreditava que o melhor regime possível era o republicano, que assegurava a liberdade dos cidadãos e sua participação nos
negócios da cidade. Ao mesmo tempo, ele afirmava que só nessas condições um povo pode construir uma sociedade rica e poderosa. As
tiranias são o lugar da violência e da força, mas não do poder, pois estão nos limites da política e não podem durar e nem realizar grandes
feitos. Mas as repúblicas também correm riscos, pois estão sujeitas ao que o estudioso italiano Genaro Sasso denominou “o paradoxo da
potência”. Analisando a história de Roma, Maquiavel concluiu que sua liberdade, e capacidade de lidar com os conflitos internos, criou as raízes
de sua potência, mas ao mesmo tempo levou-a a um expansão desmesurada de seu território e de seu poder externo, o que acabou por destruir
suas instituições de base.
Ao analisar o poder e seus efeitos, Maquiavel descobriu que não existem regras para a ação, que servem para todas as situações. Os homens
precisam conhecer a história e também as forças de seu tempo, mas podem ser derrotados por circunstâncias que lhes escapam inteiramente.
A essa presença da contingência na política Maquiavel chamou de Fortuna, usando o nome da antiga deusa romana. Essa noção é importante
porque nos lembra que o que um governante precisa fazer para manter seu poder não é o mesmo que pregavam os “espelhos dos príncipes” e
nem mesmo o que pregavam alguns autores da Antiguidade. Ele recorre assim ao termo latino virtù para designar essa capacidade que os
grandes homens de ação têm de saber se locomover de forma correta na hora adequada na cena pública. Não se trata de algo que se pode
aprender com um manual, mas de uma habilidade que é da ordem da prática e da liberdade, mas que não se confunde nem com as virtudes
cristãs e nem com a prudência grega. De certa maneira, a virtù é uma noção que se liga diretamente ás ações de conquista e manutenção do
poder e, por isso, sua compreensão muda aquela da própria natureza da política.
Texto: “Resta agora ver como o príncipe deve tratar seus súditos e seus amigos. Como sei que muitos escreveram sobre isso, temo ,
escrevendo eu também, ser considerado presunçoso, porque eu me distancio, sobretudo na discussão dessa questão, do caminho seguido
pelos outros. Mas minha intenção sendo a de escrever alguma coisa útil para meus leitores, pareceu-me mais pertinente me conformar com a
verdade efetiva das coisas do que à imaginação que delas temos. Muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca existiram. De fato, há
uma tal distância entre a maneira como vivemos e aquela como deveríamos viver, que aquele que deixa o que se faz pelo que se deveria fazer,
aprende muito mais a se destruir o que a se preservar”. Maquiavel. O Príncipe. Cap XV.
Explicação: Nesse texto Maquiavel coloca as bases de seu realismo político. O fundamento de sua filosofia se encontra na distinção entre o
objeto da vida política tal como ela de fato existe – a conquista e a manutenção do poder –, e as formas que imaginamos para torná-la melhor.
Dessa maneira, ele mostra que o estudioso da política deve se concentrar nos acontecimentos reais, tais como vistos por nós e relatados pela
história, para adquirir um verdadeiro saber sobre o poder.
Questões.
1. Como Maquiavel veria as utopias de nosso tempo? Identifique quem são nos nossos dias aqueles que não levam em conta a “verdade
efetiva das coisas” ao analisar a política.
2. Qual deve ser para Maquiavel o principal objetivo do governante?
3. Na lógica do autor é possível sonhar com um novo mundo e manter o poder?
Exercício. A partir da leitura de um jornal, ou revista atual, procura analisar o comportamento de um homem público à luz do texto citado.
THOMAS HOBBES (1588-1679).
Hobbes conheceu em seu tempo os efeitos da Revolução, que terminou com a execução do rei Carlos I, e as profundas transformações da cena
política inglesa, que acabariam por reforçar notavelmente o poder do parlamento. Esses fatos foram decisivos para sua obra, assim como o
contato com as ciências nascentes, que o levariam a tentar constituir para a política um saber que tivesse o mesmo grau de certeza dos novos
saberes. Esse esforço resultou em uma obra vasta e diversificada cujo ápice se encontra em seu livro Leviatã.
Nesse tratado o autor se dedica em primeiro lugar a estudar a natureza humana e sua condição original, que ele chama de “estado de
natureza”. Analisando o que seria o homem se não existissem as sociedades organizadas, ele chega à conclusão de que os homens são
naturalmente egoístas e não buscam voluntariamente a cooperação. Como são dotados de razão, os homens são capazes de calcular o que é
mais proveitoso e útil para suas vidas, mas isso não é suficiente, segundo o filósofo inglês, para que eles estabeleçam regras para uma vida em
comum. Estudando a condição do homem natural, Hobbes chega à conclusão de que é preciso encontrar o motor para a formação das
sociedades políticas em sentimentos diferentes daqueles que naturalmente movem a todos que são o desejo de glória e a vontade de obter
bens que nos são úteis. Esses sentimentos são importantes, mas eles não conduzem os indivíduos para fora da esfera de seus desejos. Ao
contrário, eles precisam da exclusão dos outros, pelo menos de parcelas significativas dos membros de um mesmo grupo, para se realizar.
Nessa lógica a única paixão que temos em comum no estado de natureza é o medo da morte violenta, o pavor de não ser capaz de sobreviver à
luta contínua entre todos os homens. Hobbes acredita que para encontrar um fundamento sólido para o poder e garantir sua duração é preciso
partir dessa paixão extrema: o medo. Uma vez que reconhecemos essa “igualdade” no temor, podemos abdicar, todos ao mesmo tempo, de
nosso direito à autodefesa em proveito de um ente, que une a multidão em uma única pessoa. O filósofo resume esse passo dizendo: “Tal é a
geração desse grande Leviatã, ou, para falar com mais respeito, desse deus mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus imortal, nossa paz e
nossa proteção”. (Leviatã, II, cap XVII).
Esse grande soberano deve nos garantir a segurança, mas ele mesmo não faz parte do contrato. Ele foi criado por nós, artificialmente, para nos
assegurar que não mais temos de temer uns aos outros, mas tornou-se um ente autônomo, detentor de um grande poder. Uma das dúvidas
comuns sobre o pensamento de Hobbes é quanto à natureza desse poder imenso concentrado nas mãos do Estado, ou de um só monarca. Não
pode ele se transformar em algo terrível a partir do momento que não é limitado nem mesmo pelo contrato que o instituiu? Não há como negar a
pertinência dessas dúvidas, mas, para compreender como o autor lidava com essas objeções, é preciso lembrar que o Leviatã perde muito de
sua força se ele destrói aquela de seus súditos. Podendo fazer tudo o que quiser, ele não tem razão alguma para abusar de seu poder.
Esses argumentos não são suficientes para afastar todas as dúvidas dos leitores quando à natureza do poder do Leviatã, mas permitem
compreender que uma das principais funções do soberano é justamente nos retirar do estado de natureza no qual prevalece a guerra de todos
contra todos, para nos fazer viver em uma sociedade de paz e segurança. Só uma força enorme, acredita Hobbes, pode realizar esse feito. Ao
mesmo tempo o soberano deve levar em conta que o direito de natureza é aquele que nos diz que devemos procurar por todos os meios fugir
da morte violenta e garantir nossa sobrevivência. Ao criarmos o Estado, tudo se passa como se essa função, – garantir nossas vidas contra os
ataques dos outros –, passasse a ser o direito e o dever do soberano. Para Hobbes seu poder é enorme, porque é imensa sua obrigação para
com seus súditos.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)
Rousseau foi ao mesmo tempo filho do século das Luzes, época que depositou grandes esperanças no progresso da humanidade a partir do
uso da razão, e um de seus críticos mais argutos. Contrariamente à Hobbes, Rousseau acreditava que o homem no estado de natureza era um
ser meigo e desprovido de instintos agressivos. Na verdade, ele acreditava que os homens, quando vivem junto da natureza não necessitam
muito uns dos outros, salvo para perpetuar a própria espécie. A necessidade, no entanto, pode levá-los a perder a condição vantajosa da
solidão original para forçá-los a um convívio, com o qual sairão perdendo. Essa passagem do estado natural para o estado social não se faz
abruptamente. No longo processo de degenerescência, os homens desenvolvem a linguagem, que altera para sempre a relação entre eles.
Esse passo é fundamental para a compreensão de como no processo de formação das sociedades é possível chegar a um contrato social, que
é o estágio final do longo caminho da natureza em direção da criação do Estado.
Na caminhada em direção à formação das sociedades políticas, descrita no Discurso sobre a origem da desigualdade, o aparecimento da
propriedade privada é um momento decisivo. Segundo o filósofo não há nada de natural no fato de que alguém delimite um espaço de terra e
declare que ele lhe pertence por inteiro. A partir desse ponto, as diferenças de riqueza acabam por diferenciar os homens também do ponto de
vista do poder, que no estado primitivo era quase o mesmo para todos e se resumia na capacidade de governar suas próprias vidas. A
passagem do estado de natureza para o estado social é descrita por Rousseau como um processo de corrupção da natureza humana que, uma
vez iniciado, não pode mais ser detido. Uma vez perdida a transparência original dos sentimentos e a liberdade que experimentamos quando
vivemos na natureza, somos incapazes de impedir o movimento que pouco a pouco solapa a base do estado de natureza.
Ao final da instalação da corrupção no seio das comunidades, que foram sendo criadas ao longo do tempo, depois que o homem perdeu sua
inocência original, só a formação de uma comunidade política baseada na igualdade e na liberdade pode garantir aos homens uma vida menos
terrível do que aquela que ele conheceu nos estágios anteriores. O fundamento do contrato é a vontade geral, que para Rousseau nos ajuda a
compreender a natureza do poder soberano, que não pode ser dividido, nem alienado. Contrariamente a Hobbes, no entanto, o poder soberano
encontra seus limites justamente no fato de que ele só pode pedir de seus súditos aquilo que foi acordado no contrato e que é essencial para o
interesse comum. Para além desses limites cada cidadão conserva intacto seu direito às suas coisas e à sua liberdade.
Texto: “O homem nasceu livre e por toda parte se encontra a ferros. Um acredita ser o senhor dos outros e não deixa de ser mais escravo que
os outros. Como essa mudança aconteceu? Eu ignoro. O que pode torná-la legítima? Acredito poder responder a essa questão”. Rousseau. Do
Contrato Social. Livro I, cap 1
“Se o interesse comum é o objeto da associação, é claro que a vontade geral deve ser a regra das ações do corpo social. Este é o princípio
geral que eu estabeleci. (...). Por qualquer caminho que nós retornamos ao princípio chegamos sempre à mesma conclusão: a saber, que o
pacto social estabelece entre os cidadãos uma tal igualdade de direito, que eles se engajam todos sob as mesmas condições e devem gozar
das mesmas vantagens”. Rousseau. Do Contrato Social (Primeira versão). Cap VI.
“O mais forte não é jamais suficientemente forte para ser sempre o senhor, se ele não transforma sua força em direito e a obediência em dever”.
Rousseau. Do Contrato Social. Livro I, cap 3.
Explicações: Rousseau combate no último trecho a ideia muito comum em sua época, mas também na nossa, de que a origem de todo poder é
a força. Ao contrário, o poder só é legítimo se retira sua capacidade de ação do consentimento explícito dos membros do corpo político. Essa
reunião dos membros do corpo político não é, no entanto, um simples agregado de vontades particulares, mas uma vontade, a vontade geral,
que não representa a soma dos interesses particulares, mas justamente aquilo que a transcende e pode ser considerado como um interesse
comum. É nesse sentido que a vontade geral é o fundamento de todo Estado baseado na igualdade de seus cidadãos perante a lei e na
liberdade de participação nos negócios públicos.
Questões.
1. Para Rousseau um regime cheio de desigualdades entre seus cidadãos, como observamos em muitas sociedades atuais, pode ser legítimo,
ou seja, estar de acordo com a vontade geral, que é para ele o fundamento do poder?
2. Poder e violência podem ser considerados a mesma coisa na lógica do autor?
3. Em nossos dias você acredita que ainda podemos falar de interesse comum, à luz do que Rousseau afirma?
Exercício. Descreva quais são a seu ver os termos principais do “contrato social” que rege nossas relações no espaço da escola atual.
O MUNDO CONTEMPORÂNEO: DEMOCRACIA, TOTALITARISMO, JUSTIÇA.
Embora o termo contemporâneo costume ser empregado para os acontecimentos do século XX, podemos recuá-lo até o século XIX, entendendo
que foi nesse momento que se definiram as principais características das sociedades ocidentais, que no curso de duzentos anos viram nascer o
regime democrático moderno e os governos totalitários. Foi no século XIX, com efeito, que se consolidou a herança republicana da Revolução
Francesa, ao mesmo tempo em que John Stuart Mill (1806-1873) dava um passo decisivo na consolidação do pensamento liberal ao insistir que
o utilitarismo de Bentham (1748-1832) assim como o pensamento de Saint-Simon (1760-1925) não davam conta da complexidade das
realidades sociais. Muito influenciado pelo empirismo de Hume (1711-1776), Mill foi um grande adepto da democracia parlamentar e da
distribuição do poderes que ela implica e ao mesmo tempo um defensor incansável da liberdade dos indivíduos que, segundo ele, deve
possibilitar a cada um escapar de todos os constrangimentos que não são absolutamente necessários para a existência das sociedades
políticas. Sua obra Sobre a Liberdade é um verdadeiro pilar do liberalismo moderno e de seus valores. Sua insistência na defesa das liberdades
individuais o levou a uma oposição tanto aos governos autoritários quanto à tirania de uma maioria, que poderia acabar por abolir as diferenças
que necessariamente existem entre indivíduos autônomos.
Em outro terreno o pensamento utópico de vários matizes se incorporou á história fazendo surgir desde projeto de sociedades sem Estado,
como no caso dos pensadores anarquistas, até versões importantes da história como lugar da afirmação de uma necessidade, que nos
conduziria ao fim da própria história. O socialismo de Marx (1818-1883) foi sem dúvida a corrente de pensamento mais importante nesse terreno
e levou a uma compreensão diferente tanto da natureza do poder quanto do conflito. Para o pensador, as sociedades são sempre atravessadas
por conflitos que refletem a distribuição do poder entre as diversas classes sociais. Para ele, o poder é sempre poder econômico, derivado da
posse dos meios de produção e é esse desequilíbrio na base econômica das sociedades que está na raiz das outras formas de desigualdade,
inclusive aquelas observadas no terreno da política.
Os acontecimentos terríveis da primeira metade do século XX, – as duas grandes guerras e o assassinato de milhões de pessoas nos campos
de concentração de várias nações –, marcaram o aparecimento de problemas, que não podiam ser estudados com os conceitos herdados das
diversas tradições do pensamento político. Talvez o mais importante tenha sido o surgimento de regimes, classificados como totalitários, cujo
maior exemplo foi o regime nazista da Alemanha, cuja maneira de lidar com os conflitos e de estruturar o poder, divergiam profundamente do
que até então fora conhecido até mesmo nas tiranias e nos despotismos diversos. Uma das características mais importantes desses regimes é
o fato de que eles destroem completamente as instituições políticas e sociais, isolando os homens uns dos outros e contribuindo com isso para
o desaparecimento da política em todas suas formas. No tocante ao poder, os regimes totalitários recorrem ao terror, como forma de evitar
qualquer ameaça ou dissidência. O terror, aliado à solidão dos habitantes do país, associado a uma ideologia que procura fornecer uma
explicação total dos motivos que levaram os governantes a ações tão extremas quanto a aniquilação de milhões de pessoas, formam a base
dos regimes totalitários. A obra de Hannah Arendt, Origens do Totalitarismo constitui um material essencial para entender o significado desses
acontecimentos para a filosofia política.
Na segunda metade do século XX, os trabalhos pioneiros de Hannah Arendt (1906-1975) e de Claude Lefort (1924-) sobre a natureza dos
regimes totalitários e sobre a democracia e seus fundamentos acabaram influenciando uma retomada de temas ligados à tradição republicana,
que repercutem até hoje nos debates sobre o republicanismo em vários países. Entre os temas que ganharam destaque nas últimas décadas
entre os pensadores políticos estão o da liberdade política entendida como participação na vida pública, o papel da virtude na ação dos
diversos atores políticos e a crítica à ideia de que a democracia é um regime destinado a provocar a apatia dos cidadãos. No terreno mais
próximo da tradição liberal, a obra de John Rawls (1921-2002) levou a uma renovação espetacular do pensamento político. Crítico do
utilitarismo, que desde o século XIX dominava uma parte importante do pensamento político anglo-saxônico, Rawls retornou à filosofia de Kant e
à teoria do contrato, para afirmar que uma sociedade livre deve necessariamente buscar a justiça como um “ideal social”, voltado para uma
repartição justa dos direitos e deveres, mas também das vantagens sociais. Para fundamentar essa busca, Rawls propõe dois princípios, que
devem estar na raiz das principais instituições constitutivas de uma sociedade livre e que ele chama de “estruturas de base”. O primeiro
princípio afirma que cada membro de uma dada sociedade “deve ter um direito igual ao sistema o mais amplo possível de liberdades de base
iguais para todos e que seja compatível como o mesmo sistema para todos”. Já o segundo princípio, que teve um grande impacto sobre o
debate em torno do significado da justiça, sustenta que no tocante as desigualdade sociais e econômicas, devemos em primeiro lugar cuidar
para que elas sejam organizadas de tal forma que elas tragam aos mais desfavorecidos as maiores vantagens, ao mesmo tempo em que
garante o acesso de todos aos cargos e vantagens do sistema social.
Texto: “A legitimidade do poder funda-se sobre o povo; mas à imagem da soberania popular se junta a de um lugar vazio, impossível de ser
ocupado, de tal modo que os que exercem a autoridade pública não poderiam pretender apropriar-se dela. A democracia alia estes dois
princípios aparentemente contraditórios: um, que o poder emana do povo; outro que esse poder não é de ninguém. Ora, ela vive dessa
contradição. Por pouco que esta se arrisque a ser resolvida ou o seja, eis a democracia prestes a se desfazer ou já destruída. Se o lugar do
poder aparece, não mais como simbolicamente mas realmente vazio, então os que o exercem não são mais percebidos senão como indivíduos
quaisquer, como compondo uma facção a serviço de interesses privados e, simultaneamente, a legitimidade sucumbe em toda a extensão do
social; a privatização dos agrupamentos, dos indivíduos, de cada setor de atividade aumenta: cada um quer fazer prevalecer seu interesse
individual ou corporativo”. Claude Lefort. A invenção democrática. Trad. Isabel Marva Loureiro.
Explicação: O autor mostra nesse trecho que a democracia não é apenas um regime regido por leis, fundado na vontade popular, mas também
aquele no qual um cidadão qualquer, ou grupo político não pode se identificar inteiramente com o poder. Se de um lado há uma dimensão
concreta do poder, que está presente nos diversos cargos e magistraturas, há também um aspecto simbólico e imaginário, que faz com que em
uma democracia ele não seja nunca uma propriedade privada de um de seus membros.
Questões.
1. Quais são a seu ver as principais ameaças às sociedades democráticas atuais?
2. Uma democracia pode se transformar num regime totalitário assim como Platão acreditava que ela se transformava em tirania? Faça uma
pesquisa para descobrir as principais diferenças entre as democracias do mundo antigo e as nossas.
3. Uma sociedade baseada apenas no consumo e na defesa dos direitos dos consumidores ainda pode ser chamada de democracia?
QUESTÕES ATUAIS SOBRE O PODER.
A civilização ocidental passou nas últimas décadas por um intenso processo de transformações, que o escritor Adauto Novaes caracterizou
como um período de “mutações”, sugerindo com isso que as mudanças rápidas pelas quais passam nossas sociedades estão apontando para
um mundo diferente daquele que emergiu quando do desenvolvimento do capitalismo industrial e das sociedades de massa. A principal
característica dessas mutações é o papel que as técnicas e as ciências passaram a ocupar na vida de todos nós. Ainda no século XX, vários
pensadores se preocuparam com o papel que a técnica estava ocupando na esfera da política. Nas últimas décadas, o que assistimos foi uma
verdadeira aliança entre a tecno-ciência e o poder político. O próprio discurso científico se transformou em uma forma de poder na medida em
que pretende ser a fonte de toda autoridade. Hoje em dia, se quisermos afirmar algo como verdadeiro, é fundamental associarmos o que
estamos dizendo à ciência, sob pena de sermos criticados por adotarmos um discurso que não possui todas as garantias da razão. O problema
dessa postura é que ela esconde as fragilidades da própria ciência e acaba se transformando em um discurso absoluto, que legitima qualquer
ação que parece decorrer das leis da natureza investigadas pelos mais diversos saberes. Dizendo de outra forma, poder e autoridade parecem
migrar da esfera política para aquela do discurso científico, pretendendo substituir os mecanismos de decisão coletiva pela palavra dos
especialistas.
Na esteira do aparecimento de um poder legitimado pelo discurso tecno-científico surge um mundo no qual os aparatos técnicos são parte
integral de nosso cotidiano. Cada vez mais falamos de prolongar a vida por meios artificiais, duplicar o corpo por meio de clonagens, suprimir o
homem de várias cadeias produtivas, descobrir a química do cérebro para produzir novos seres humanos. Um mundo de ficção científica
emerge, sem que saibamos ao certo as conseqüências dessas mutações para a esfera da política e mesmo da intimidade. Nesse universo em
transformação radical teremos mais uma vez de pensar os fenômenos do poder que, como vimos, fizeram parte da história do pensamento
político desde a antiguidade. Esse desafio deve levar em conta que cada época tem seus próprios problemas, derivados de suas condições
históricas concretas, mas está ao mesmo tempo vinculada ao passado, que a viu emergir e pode nos fornecer as pistas para a compreensão de
suas origens. Com a emergência do poder das tecno-ciências, estamos diante da afirmação de um poder que pretende se libertar do passado, e
mesmo do futuro, para nos fazer viver em um presente eterno. Se apenas a razão instrumental é válida, e se somos visados apenas como
consumidores de bens e não mais como cidadãos de um regime de liberdade e direitos, é mister reconhecer que estamos diante de um novo
mundo e de novas formas de poder.
Michel Foucault (1926-1984) já alertava no século passado que o poder estava se convertendo em bio-poder, ou seja, ele visa antes de mais
nada se afirmar pelo domínio do corpo e de suas necessidades. Um exemplo da realização do bio-poder, que só se tornou possível com a
associação da política com o mundo da técnica, foi o que ocorreu nos campos de concentração, que se disseminaram por várias partes do
mundo no século XX. Nesses espaços fechados, os seres humanos são destituídos de toda dignidade para serem visados apenas como um
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amontoado de energia, que pode ser destruído a qualquer momento pela mão dos que governam. Esse cenário preocupante é uma indicação
dos caminhos que deve trilhar toda reflexão atual sobre o tema desse módulo na atualidade.
Temas complementares.
1. O impacto do progresso das tecno-ciências na organização das sociedades democráticas.
2. A substituição do homem por máquinas gera efeitos negativos na vida cotidiana?
3. Estamos vivendo num mundo de ficção científica, que vai além de nossa imaginação?
4. É possível prever os efeitos das transformações técnicas em nossas vidas?
5. As ciências possuem uma autoridade maior quando se trata de estudar as questões de poder?
Bibliografia complementar
Cassirer, Ernest. O mito do Estado. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1976.
Quirino, Célia; Souza, Maria Teresa Sadek (orgs). O pensamento político clássico. São Paulo: Tao, 1980.
Chevallier, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Rio de Janeiro, Editora Agir, 1976.
Bobbio, Norberto. Dicionário de política. Barasília: Editora da UNB, 1992.
Caillé, Alain; Lazzeri, Christian; Senellart, Michel (orgs). História argumentada da filosofia moral e política. São Leopoldo: Editora Unisino
Indivíduo e Comunidade
Conceito: Conflito
Porque ensinar
A condição humana é política. Isso significa que a existência individual está necessariamente vinculada à existência da
coletividade. Os homens existem no plural, isto é, as relações sociais e políticas são constitutivas de quem somos e apenas por
abstração podemos conceber um ser humano vivendo isolado dos demais. A esse respeito, é bastante conhecida uma passagem
do livro A Política, de Aristóteles:
“É manifesto (...) que a cidade faz parte das coisas naturais, e que o homem é por natureza um animal político, e que aquele que
está fora da cidade (...) é ou um ser degradado ou um ser sobre-humano” (1252 b 9).
Contudo, é preciso entender corretamente a “naturalidade” da existência política à qual o filósofo se refere. Em primeiro lugar, o
que está em questão é que o próprio do ser humano é viver na cidade (social e politicamente), mas essa experiência coletiva deve
resultar das ações do homem. Logo, a vida coletiva é guiada por normas, valores e regras que variam de cultura para cultura. Em
segundo lugar, a “naturalidade” da vida na pluralidade não elimina as diferenças individuais. Pelo contrário, as pressupõe. A
sociedade é composta por indivíduos distintos, que têm interesses e opiniões divergentes. Conseqüentemente, os conflitos entre
os indivíduos fazem parte da vida social e política e é tarefa de todo corpo social e político (como aquilo que chamamos de país)
encontrar um modo de vida que atenda, na medida do possível, os desejos de seus membros. Para tanto, é preciso que todos
reconheçam a existência de um interesse comum, o qual deve estar acima de seus interesses individuais sem, no entanto,
desconsiderá-los. Prende-se à noção de interesse comum a idéia de bem comum, isto é, o bem que, dizendo respeito ao corpo
social e político em sua totalidade, envolve os desejos particulares.
O professor encontra nas considerações acima o ponto de partida para o desenvolvimento dos temas sociais e políticos. Está em
jogo mostrar que a vida em coletividade é um dado ineliminável da condição humana e (como tudo o que concerne ao ser
humano) é marcada por contradições, tensões internas e conflitos. Esses conflitos não podem ser erradicados, mas limites
necessitam ser estabelecidos para sua contenção. Um modo de se caracterizar a política é o seguinte: a “atividade de instituir
limites para as diferenças, visando realizar os interesses privados por meio da realização do bem comum”. Na seqüência, será
preciso esclarecer a natureza do bem comum e que meios podem ser mobilizados para sua efetivação. Será preciso esclarecer
também o que diferencia o âmbito social do político e que espécies de relações caracterizam um e outro.
Condições prévias para ensinar
Não é difícil detectar a presença de conflitos. Na verdade, difícil é ignorá-los. Os alunos, como todos nós, estão diariamente
sujeitos aos enfrentamentos que decorrem do fato de vivermos em coletividade. De modo direto (a experiência individual) ou
indireto (a experiência dos outros, mais ou menos próximos), os conflitos se fazem presentes e todos somos convocados a nos
posicionar. O professor pode fazer apelo a essas experiências, tomando-as como material para reflexão e desenvolvendo, assim,
a capacidade do aluno de compreender a natureza das relações sociais e políticas em que está inserido, assim como sua
capacidade de responder aos impasses que delas decorrem.
O que ensinar
Uma vez compreendido que os conflitos têm sua origem na irredutibilidade de nossas diferenças individuais, é necessário
entender os lugares em que acontecem, as intensidades que podem adquirir e os modos de se lidar com eles.
Os lugares: a primeira distinção que podemos estabelecer é entre o privado e o público. Intuitivamente, essa diferença parece
ser facilmente estabelecida, mas nem sempre é assim em nossas relações sociais e políticas. Muitas vezes não vemos com
clareza a linha que divide um domínio do outro. A exposição da vida íntima de uma celebridade ou a corrupção de um homem
político são exemplos banais dessa confusão. Para entendermos o que especifica o público e o privado, vale a pena voltar ao
momento histórico em que essa cisão foi feita pela primeira vez: a Grécia antiga. O surgimento da cidade grega (pólis) teve como
correlata a distinção entre dois modos de existência: além de sua vida privada, o cidadão grego passou a conhecer uma segunda
espécie de vida, a vida política. A primeira concerne ao que lhe é próprio, ao passo que a segunda tem a ver com o que é comum.
Contudo, no contexto da cidade grega, o domínio comum não consiste na mera convergência entre os interesses particulares: o
comum é mais adequadamente descrito como o lugar em que os cidadãos podem agir de modo livre. Enquanto o espaço privado
é circunscrito pelos limites da casa (a vida doméstica), o espaço público é o lugar de encontro entre os cidadãos no qual podem
exercer a liberdade. Podemos citar uma passagem do livro A condição humana, de Hannah Arendt, para esclarecer esse ponto:
“O traço distintivo da esfera doméstica era que nela os homens viviam juntos porque eram impelidos por suas carências e
necessidades (...) O reino da pólis, ao contrário, era a esfera da liberdade e se havia alguma relação entre essas duas esferas, era
certamente a de que a vitória sobre as necessidades da vida na esfera doméstica era a condição para a liberdade da pólis” (H.
Arendt, The human condition. Chicago: The university of Chicago Press, 1958, p. 30. trad. Helton Adverse. Há tradução em
português. H. Arendt. A condição humana. Trad. de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008, 10ª edição).
Apesar de muitos autores não concordarem com os critérios adotados para a distinção acima entre o privado e o público, é muito
difícil abandonar o pressuposto de que na política está em questão um bem que transcende o particular, ou seja, um bem que não
pode ser a ele reduzido. Pensadores como Hannah Arendt tendem a considerar a liberdade como um dos principais elementos do
bem comum.
É preciso observar também que o espaço público não é idêntico ao espaço político. Melhor dizendo, a política é uma atividade que
realizamos no espaço público, mas há ainda uma outra esfera que é chamada de sociedade. O termo é de origem latina
(societas) e significa “associação”, “relação”, “aliança” e mesmo “afinidade”. O social, portanto, é um domínio de associação no
qual os seres humanos deixam parcialmente de lado sua condição de particular para se estabelecer laços mais ou menos
duradouros com seus semelhantes. Podemos dizer “mais ou menos duradouros” porque uma sociedade pode ter seu fim
determinado de antemão, como uma aliança temporária ou ainda uma sociedade comercial. O “parcialmente” deve ser explicado
porque os membros de uma sociedade são movidos por fins privados cuja consecução depende da associação com os demais, o que pode requerer a limitação dos meios de satisfação destes mesmos fins. Por exemplo, ao assinarmos um contrato, estamos
dispostos a abrir mão de algo ou a cumprir certo dever para alcançarmos o que desejamos. Nesse sentido, a sociedade é por
excelência o lugar da troca. Contudo, ela não se reduz a isso. As associações envolvem relações de outra natureza (morais,
afetivas, etc.) e formam também agrupamentos com identidade, organização e autonomia. Nesse sentido, a sociedade pode ela
própria se constituir em um agente político. Esse é o sentido do conceito de sociedade civil.
Intensidades: reconhecida a impossibilidade de erradicar definitivamente os conflitos, é preciso fazer notar que eles podem e
devem encontrar uma “canalização”, uma boa orientação no espaço público. Isso é alcançado apenas por via institucional, isto é,
o espaço público tem de ser constituído (pelas leis e instituições) como o lugar em que os conflitos entre os cidadãos podem
emergir e, por meio do debate, chegar a alguma forma de acordo, ou consenso. Vale dizer que o consenso não é a verdade.
Trata-se do resultado (sempre alterável) de uma deliberação coletiva. Um corpo político bem organizado, portanto, não é aquele
em que não há debates, mas, ao contrário, aquele que em que a oportunidade de manifestar as divergências está garantida. Para
alguns filósofos (como Maquiavel), a expressão das opiniões e desejos divergentes é uma condição indispensável para a
liberdade e vitalidade de uma associação política (ver seus Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, especialmente o
capítulo 4 do livro I). Isso porque na ausência de mecanismos que permitam essa manifestação o conflito dá lugar à violência.
Esta pode ser entendida como a ausência de diálogo. O aparecimento da violência atesta a falência do discurso. As palavras são substituídas pelas armas e o direito pela força. Vista sob esse ângulo, a violência é, por natureza, antipolítica, ou melhor, é a
negação da política.
Modos de se lidar com os conflitos: acabamos de tocar neste assunto quando falávamos da necessidade de assegurar o espaço
para a manifestação das divergências. Para a estruturação desse espaço, é necessário o estabelecimento do poder público, isto
é, uma instância de autoridade que utilize a força pública tendo em vista o bem comum. Desde ao menos o século XVII, essa
instância é identificada como o Estado. Em uma definição que se tornou clássica, Max Weber o define como o agrupamento
político que “reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física” (M. Weber, A política como vocação. Trad. de L.
Hegenberg e O. Silveira da Mota. São Paulo: Cultrix, 1967, p. 56). Aqui temos um uso distinto da violência, uma vez que está a
serviço, na perspectiva de Weber, da conservação da ordem pública. O que é preciso enfatizar, porém, é que o poder do Estado
não é uma instância de poder autônoma. Na modernidade, ele é entendido muito mais como um instrumento a serviço dos
cidadãos (mas como todo instrumento é, em si mesmo, neutro), o que permite dizer que o poder que ele detém é derivado do
poder dos cidadãos. Nesse sentido, o poder do Estado é uma “cristalização” do poder dos cidadãos, mesmo que sua força possa
ser (em algumas circunstâncias, como no caso de uma ditadura) experimentada por cada um de nós como uma potência que nos
é alheia e que fere nossas convicções. Como quer que seja, sem algum grau de coerção (autorizada) nenhuma organização social
e política pode se manter, o que não significa a legitimação de todo e qualquer uso da força. É precisamente o uso da força sob
autoridade (legitimado) que deve garantir o principal componente do bem comum: a liberdade.
Por fim, valeria a pena mostrar a diferença entre os conflitos internos ao corpo político e os conflitos externos, isto é, com outros
Estados. Esta última espécie de conflito é a guerra. A guerra é uma forma de violência exercida entre os Estados cujo objetivo é
atender a um interesse político. Por isso Carl von Clausewitz pôde dizer que “a guerra é a política continuada por outros meios”
(Da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996). Contudo, as tensões internas a um corpo político pode originar a formação de
grupos armados que rivalizam entre si (ou que lutam contra o Estado), iniciando assim uma guerra civil.
Como ensinar
É de grande importância o professor partir da realidade cotidiana dos alunos para mostrar a relevância do conhecimento de
noções básicas de política. Para tanto, como será explicitado no RA, vale utilizar os diversos meios de comunicação (filmes,
internet, jornais e revistas) e os elementos que compõem o ambiente sócio-cultural dos alunos. Talvez valha a observação de que os alunos têm uma visão muito estreita e preconceituosa da política e que o trabalho do professor deve ter como um de seus
objetivos proporcionar uma compreensão mais clara do que está em questão e mostrar que a política não são “eles” que fazem,
mas todos nós.
Avaliação
Deixaremos ao encargo do professor o problema do método avaliativo porque a forma da avaliação pode ser mais conservadora
ou mais heterodoxa. Em nosso roteiro de atividade sugerimos, contudo, uma avaliação a partir da leitura de um texto de Maquiavel
e da exibição de um filme. O que nos parece relevante é que o professor verifique se o aluno está de fato tornando-se mais
capacitado a se posicionar frente às questões de natureza política.
Orientação Pedagógica: Conflito
Currículo Básico Comum - Filosofia Ensino Médi
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What Is Conflict Perspective?
X
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Matthew Fortuna
Matthew Fortuna is a full-time freelance writer with a journalism degree from Wayne State University, living in the Detroit metropolitan area. He has written about a wide range of topics across varying publications, including Demand Studios, wiseGEEK.com and Suite101.com, among others. He holds a Bachelor of Arts in journalism from Wayne State University.
By Matthew Fortuna, eHow Contributor
Power and Conflict in the
Student-Teacher Relationship*
DAVID W. JAMIESON
KENNETH W. THOMAS
Adopting a power~e0n?ict perspective on change, this study examines
some parameters of power and con?ict in the classroom. Question-
naire data were collected from high school, undergraduate, and
graduate students on their teachers’ bases of power and their own
methods of handling con?ict with teachers. Results highlight the
imbalance of power between students and teachers and the preva-
lent use of coercion by teachers at the high school and undergraduate
levels. This use of coercive power is shown to be negatively related to
student satisfaction, learning, and the extent to which teacher in?u-
ence transcends the classroom. Despite considerable dissatisfaction,
students at all levels report relative passivity in attempting to change
what occurs in the classroom.
A POWER-CONFLICT PERSPECTIVE ON CHANGE
Perhaps the most signi?cant recent trend in the burgeoning literature on
con?ict is the increasing recognition that con?ict is often functional for
individuals and larger systems, and plays a central role in the change
process. Coser (1956) points out that early sociologists considered con?ict
as the essential element in social change, viewing change as the result of
the successive expression and resolution of con?icts. More recently,
‘A portion of this work was supported by the Institute of Industrial Relations,
UCLA. The authors are indebted to Bob Tannenbaum for his comments on an earlier
draft of this paper. .
David W. jamieson is a Senior Associate, Management Responsibility Guidance Corpora-
tion, Los Angeles, and a doctoral candidate, Graduate School of Management, UCLA.
Kenneth W. Thomas is assistant professor, Con?ict Management, Center for Human
Systems Development, Graduate School of Management, and holds a research appoint~
ment with the Institute of Industrial Relations, UCLA.
Volume 10 Number 3 1974 321
Page 2
322 The Journal of Applied Behavioral Science
Deutsch (1971) has argued that con?ict is central to both personal and
social change, and Thomas and Bennis (1972) have stressed the inter-
dependence of change and con?ict in organizations.
In his process model of con?ict in dyads, K. Thomas (in press) de?nes
con?ict as “the process which begins when one party perceives that the
other has frustrated, or is about to frustrate, some concern of his," and
identi?es a sequence of ?ve events within a con?ict episode: party’s frus~
tration, party’s conceptualization of the con?ict situation, party’s con?ict
behavior, other’s reaction, and an outcome. This formulation articulates
the relationship between interpersonal con?ict and change: the con?ict
behavior of the party who initiates con?ict is essentially an effort to
change the conditions with which he is dissatis?ed.
\Nithin this interpersonal model of con?ict, it is also apparent that the
constructiveness or destructiveness of con?ict depends heavily upon the
behavior of the parties. For example, research on conflict resolution in
several settings has linked collaborative behavior with bene?cial out-
comes, such as ideas of superior quality (Pelz, 1956; Hoffman, 1959;
Hoffman Sc Maier, 1961; Hall, 1971) or new arrangements that bene?t
both parties and represent progress for the larger system (Follett, 1941;
Blake 8c Mouton, 1964).
In turn, a key factor in con?ict behavior is the relative power of the
parties. Kahn (1964) emphasized that the expression of differences de-
pends on reciprocal power; the less powerful party is unlikely to confront
differences with the more powerful. Chesler and Lohman (1971) suggest
that groups are better able to negotiate and adjudicate con?icting inter-
ests when they have relatively equal power. These notions are consistent
with Walton's (1969) emphasis on maintaining a “balance of situational
power” in interpersonal peacemaking.
Power, Conflict, and the Student
Schools are no exception to the generalization that organizations are
inherently con?ict-producing (Kahn, 1964; Kahn, Wolfe, Quinn, Snoek,
8c Rosenthal, 1964); their open systems structure subjects them to an
in?ux of diverse values and goals from many publics and internal role
groups (teachers, students, administrators). Such diversity leads naturally
to many con?icts, particularly over goals and means.
A number of investigators have noted that students are at a consider-
able disadvantage when such con?icts arise. They seldom have formal
power in the educational system (Miles, 1967; Chesler 8c Franklin, 1968;
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Power and Conflict in the Classroom 323
Chesler 8c Lohman, l971) largely because, in most respects, students are
not considered to be members of that system. Throughout the educa-
tional literature, students are frequently referred to as clients, either
directly or by classifying the school as a service organization with students
as the recipients of its output (see, for example, Carlson, 1964; Bidwell,
1965; Corwin, 1971). Moreover, in many respects the student role resem-
bles that of an inmate, and the school manifests some characteristics of a
total institution (Goffman, 1961): e.g., “controlled” residence for long
periods of time and segregation of clients (Carlson, 1964). Although the
student movements of the sixties in higher education and more recently
in secondary schools have resulted in some access to more formal power}
what student power exists, remains primarily informal.
With little or no formal power, students are excluded from participat~
ing in most decisions that affect their fate in the system. When students
are frustrated by what is being done or said, there are few channels or
forums available to them for confronting teachers and administrators.
Moreover, students have much to risk by openly differing with educators,
and even if differences are raised, they have little clout with which to
force educators to consider their concerns seriously.
This disenfranchisement of students has a number of dysfunctional
consequences. Consequences for the students, of course, include their
continuing frustrations—-their inability to change conditions which they
experience as untenable. Consequences for the school system include the
loss of considerable energy which committed students could contribute to
the management of an institution that affects their lives (Miles, 1967). By
its unresponsiveness to changing student needs, the school system also
helps to bring about its own “crisis of legitimacy"——and the occasional
disruptions which occur when suppressed frustrations boil over. From
the viewpoint of the larger society, however, there may be an even greater
cost, as much of its population is socialized into a dependent and passive
stance toward authorities and change.
SCOPE OF STUDY
Although power and conflict in education have been studied at the
school-wide level, our study focuses upon the classroom, for it is the major
sociotechnical unit of a school and the most important interface between
the student and the educational system.
1 See Chesler and Lohrnan (1971) and Chesler (1973) for some examples of innovative
governance structures in secondary schools in which students have more formal power.
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324 The Journal of Applied Behavioral Science
Although a complete understanding of the power and conflict dimen-
sions of any relationship requires reference to the perceptions of all
parties, in this initial ?eld study we were primarily interested in the stu-
dents’ perceptions of their teachers’ power, the con?ict behavior of
students when experiencing differences with teachers, and the effects upon
student satisfaction, perceived learning, and teachers’ in?uence on stu-
dents’ attitudes and behavior.
Rather than use gross measures of the “amount” of teacher power or
the frequency of student con?ict behavior, we sought to break down both
power and con?ict behavior into qualitatively different types and to assess
their relative occurrence. Neither power nor con?ict is a monolithic varia-
ble. Social power has been broken down into six “power bases” (French 8:
Raven, 1959; Raven, 1965), and con?ict behavior has been differentiated
into ?ve “conflict-handling modes" (Thomas, in press)?
Bases of Social Power
French and Raven’s (1959) typology of interpersonal power, with later
extensions (Raven, 1965; Collins 8: Raven, 1969), is based on the resources
possessed, controlled, or mediated by an in?uencing agent, A, in respect
to another person, B. French and Raven (1959) and Raven (i965) have
identi?ed six kinds of social power based upon A’s resources: (a) reward
power, based on B's perception that A has the ability to mediate rewards
for him, or the expectation that A will do something nice if B complies
with A; (b) coercive power, based on B’s perception that A has the
ability to mediate punishments for him and will punish him for non-
compliance; (c) legitimate power, based on the internalized values of B
which dictate that A has a legitimate right to prescribe behavior for him
in a given domain; (d) referent power, based on B’s identi?cation with A
or B's desire to maintain or establish a friendly relationship with A; (e)
expert power, based on B’s perception that A has some special knowledge
or ability within a certain domain; and (f) informational power, based on
the content of the communication from A to B.
A number of studies have shown that the bases of an individual’s
power over another vary with the individual’s relative position in an
organizational hierarchy. Student (1968) observed that hierarchical supe-
riors, by virtue of their roles, have greater access to legitimate, coercive,
2 Studies of social power bases and their differing effects are reviewed in Collins and
Raven (1969), Schopler (1965), and Cartwright (1965).
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Power and Con?ict in the Classroom 325
and reward power, while their expert power and referent power, if any,
are incremental power sources brought to the position by the person him-
self.3 Field studies using the six power bases have tended to support this
position by showing that legitimate power and often reward and coercive
power tend to be attributed to persons in superordinate positions, while
referent, informational, and sometimes expert power are most prevalent
in situations with a more equal power distribution (e.g., among peers).
Kahn et al. (1964) found that legitimacy, reward, and coercion were most
available to hierarchic superiors as bases of in?uence, while expert and
referent power were generally attributed to peers. Raven (in press), in a
study involving junior high students, showed that teachers ranked highest
in legitimate and coercive power, while fellow students came out highest
on the referent and informational bases.
Con?ict-Handling Modes
In the past few years, a ?ve-category scheme for interpersonal con?ict-
handling behavior has been gaining prominence in organizational
research. First introduced by Blake and Mouton (1954), this scheme
represents a signi?cant improvement over the simpler cooperative /com-
petitive dichotomy. As interpreted by Thomas (in press), this newer
scheme combines two separate dimensions. One dimension, labeled
“cooperation,” is concerned with the extent to which an individual
attempts to satisfy the concerns of the other party. The second dimension,
termed “assertiveness,” deals with the extent to which an individual
attempts to satisfy his own concerns. Combinations of these two dimen-
sions result in ?ve speci?c “conflict-handling modes" (Figure 1): competing
(assertive, uncooperative), collaborating (assertive, cooperative), avoid-
ing (unassertive, uncooperative), accommodating (unassertive, coopera-
tive), and compromising (intermediate in both cooperativeness and
assertiveness). As operationalized in the interpersonal context by Blake
and Mouton (1964) and later researchers, competing has been identi?ed
with forcing behavior and win»1ose arguing; collaborating has been
identi?ed with confronting disagreements and problem solving to ?nd
solutions; avoiding has been identi?ed with withdrawal, buck-passing,
and failure to take a position; accommodating has been identi?ed with
attempting to soothe the other party and seek harmony; and compromis-
3Student used the original ?ve bases introduced by French and Raven (1959). The
remaining base, information, was introduced later by Raven (1965).
Party's attempt to satisfy other's concerning has been identi?ed with horse-trading and the proposal of middle-
ground positions? Although the empirical investigation of these ?ve con?ict-handling
modes is still at an early stage, there is a growing body of evidence link-
ing them to certain interpersonal and organizational outcomes: e.g., that
others respond with positive affect to the cooperative modes (Thomas,
l97l), that a managers promotability is linked to his collaborating and
to a lesser extent to his competing (Blake Sc Mouton, I964), that subordi-
nates perceive relations with superiors as productive when collaborating
is employed (Burke, 1970; Renwick, 1972), and that collaboration is
positively related to the integration of efforts within an organization and
to the relative performance of an organization within its industry (Law-
rence 8c Lorsch, 1967).
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Conflict theory
From Wikipedia, the free encyclopedia
Positivism • Antipositivism
Functionalism • Conflict theory
Middle-range • Mathematical
Critical theory • Socialization
Structure and agency
Research methods
Conflict theories are perspectives in social science which emphasize the social, political or material inequality of a social group, which critique the broad socio-political system, or which otherwise detract from structural functionalism and ideological conservativism. Conflict theories draw attention to power differentials, such as class conflict, and generally contrast historically dominant ideologies.
Certain conflict theories set out to highlight the ideological aspects inherent in traditional thought. Whilst many of these perspectives hold parallels, conflict theory does not refer to a unified school of thought, and should not be confused with, for instance, peace and conflict studies, or any other specific theory of social conflict.
Contents
[hide]
[edit] In classical sociology
Of the classical founders of social science, conflict theory is most commonly associated with Karl Marx (1818-1883). Based on a dialectical materialist account history, Marxism posited that capitalism, like previous socioeconomic systems, would inevitably produce internal tensions leading to its own destruction.[1] Marx ushered in radical change, advocating proletarian revolution and freedom from the ruling classes.
The history of all hitherto existing society is the history of class struggles. Freeman and slave, patrician and plebeian, lord and serf, guild-master and journeyman, in a word, oppressor and oppressed, stood in constant opposition to one another, carried on an uninterrupted, now hidden, now open fight, a fight that each time ended, either in a revolutionary re-constitution of society at large, or in the common ruin of the contending classes.
– Karl Marx & Friedrich Engels The Communist Manifesto 1848, [2]
Two early conflict theorists were the Polish-Austrian sociologist and political theorist Ludwig Gumplowicz (1838-1909) and the American sociologist and paleontologist Lester F. Ward (1841-1913). Although Ward and Gumplowicz developed their theories independently they had much in common and approached conflict from a comprehensive anthropological and evolutionary point-of-view as opposed to Marx's rather exclusive focus on economic factors.
Gumplowicz, in "Outlines of Sociology" (1884), describes how civilization has been shaped by conflict between cultures and ethnic groups. Gumplowicz theorized that large complex human societies evolved from the war and conquest. States become organized around the domination of one group by another: masters and slaves. Eventually a complex caste system develops.[3] Horowitz says that Gumplowicz understood conflict in all it's forms: "class conflict, race conflict and ethnic conflict", and calls him one of the fathers of Conflict Theory. [4]
What happened in India, Babylon, Egypt, Greece and Rome may sometime happen in modern Europe. European civilization may perish, over flooded by barbaric tribes. But if any one believes that we are safe from such catastrophes he is perhaps yielding to an all too optimistic delusion. There are no barbaric tribes in our neighborhood to be sure — but let no one be deceived, their instincts lie latent in the populace of European states.
– Gumplowicz (1884), [5]
Ward directly attacked and attempted to systematically refute the elite business class's lassiez faire philosophy as espoused by the hugely popular social philosopher Herbert Spencer. Ward's "Dynamic Sociology" (1883) was an extended thesis on how to reduce conflict and competition in society and thus optimize human progress. At the most basic level Ward saw human nature itself to be deeply conflicted between self-aggrandizement and altruism, between emotion and intellect, and between male and female. These conflicts would be then reflected in society and Ward assumed there had been a "perpetual and vigorous struggle" among various "social forces" that shaped civilization.[6] [7] Ward was more optimistic than Marx and Gumplowicz and believed that it was possible to build on and reform present social structures with the help of sociological analysis.
Durkheim (1858-1917) saw society as a functioning organism. Functionalism concerns "the effort to impute, as rigorously as possible, to each feature, custom, or practice, its effect on the functioning of a supposedly stable, cohesive system",[8] The chief form of social conflict that Durkheim addressed was crime. Durkheim saw crime as "a factor in public health, an integral part of all healthy societies."[9] The collective conscience defines certain acts as "criminal." Crime thus plays a role in the evolution of morality and law: "[it] implies not only that the way remains open to necessary changes but that in certain cases it directly prepares these changes."[10]
Weber's (1864-1920) approach to conflict is contrasted with that of Marx. While Marx focused on the way individual behavior is conditioned by social structure, Weber emphasized the importance of "social action," i.e., the ability of individuals to affect their social relationships.[11]
[edit] Modern approaches
C. Wright Mills has been called the founder of modern conflict theory.[12] In Mills's view, social structures are created through conflict between people with differing interests and resources. Individuals and resources, in turn, are influenced by these structures and by the "unequal distribution of power and resources in the society."[12] The power elite of American society, (i.e., the military-industrial complex) had "emerged from the fusion of the corporate elite, the Pentagon, and the executive branch of government." Mills argued that the interests of this elite were opposed to those of the people. He theorized that the policies of the power elite would result in "increased escalation of conflict, production of weapons of mass destruction, and possibly the annihilation of the human race."[12]
Gene Sharp (born 21 January 1928) is a Professor Emeritus of political science at the University of Massachusetts Dartmouth and Nobel Peace Prize nominee.[13] He is known for his extensive writings on nonviolent struggle, which have influenced numerous anti-government resistance movements around the world. In 1983 he founded the Albert Einstein Institution, a non-profit organization devoted to studies and promotion of the use of nonviolent action in conflicts worldwide.[14] Sharp's key theme is that power is not monolithic; that is, it does not derive from some intrinsic quality of those who are in power. For Sharp, political power, the power of any state - regardless of its particular structural organization - ultimately derives from the subjects of the state. His fundamental belief is that any power structure relies upon the subjects' obedience to the orders of the ruler(s). If subjects do not obey, leaders have no power. Sharp has been called both the "Machiavelli of nonviolence" and the "Clausewitz of nonviolent warfare."[15]Sharp's scholarship has influenced resistance organizations around the world. Most recently the protest movement that toppled President Mubarak of Egypt drew extensively on his ideas, as well as the youth movement in Tunisia and the earlier ones in the Eastern European color revolutions that had previously been inspired by Sharp's work.[16]
A recent articulation of conflict theory is found in Alan Sears' (Canadian sociologist) book A Good Book, in Theory: A Guide to Theoretical Thinking (2008):[17]
* Societies are defined by inequality that produces conflict, rather than which produces order and consensus. This conflict based on inequality can only be overcome through a fundamental transformation of the existing relations in the society, and is productive of new social relations.
* The disadvantaged have structural interests that run counter to the status quo, which, once they are assumed, will lead to social change. Thus, they are viewed as agents of change rather than objects one should feel sympathy for.
* Human potential (e.g., capacity for creativity) is suppressed by conditions of exploitation and oppression, which are necessary in any society with an unequal division of labour. These and other qualities do not necessarily have to be stunted due to the requirements of the so-called "civilizing process," or "functional necessity": creativity is actually an engine for economic development and change.
* The role of theory is in realizing human potential and transforming society, rather than maintaining the power structure. The opposite aim of theory would be the objectivity and detachment associated with positivism, where theory is a neutral, explanatory tool.
* Consensus is a euphemism for ideology. Genuine consensus is not achieved, rather the more powerful in societies are able to impose their conceptions on others and have them accept their discourses. Consensus does not preserve social order, it entrenches stratification, e.g., the American dream.
* The State serves the particular interests of the most powerful while claiming to represent the interests of all. Representation of disadvantaged groups in State processes may cultivate the notion of full participation, but this is an illusion/ideology.
* Inequality on a global level is characterized by the purposeful underdevelopment of Third World countries, both during colonization and after national independence. The global system (i.e., development agencies such as World Bank and IMF) benefits the most powerful countries and multi-national corporations, rather than the subjects of development, through economic, political, and military actions.
Although Sears associates the conflict theory approach with Marxism, he argues that it is the foundation for much "feminist, post-modernist, anti-racist, and lesbian-gay liberationist theories."[18]
[edit] Types of conflict theory
Conflict theory is most commonly associated with Marxism, but as a reaction to functionalism and the positivist method may also be associated with number of other perspectives, including:
* Critical theory
* Feminist theory
* Postmodern theory
* Post-structural theory
* Postcolonial theory
* Queer theory
* World systems theory
[edit] See also
* Game theory
* Phronetic social science
* Social defeat
* Social-conflict theory
* Sociology of peace, war, and social conflict
* Structural functionalism
* Conflict Management
[edit] References
1. ^ Baird, Forrest E.; Walter Kaufmann (2008). From Plato to Derrida. Upper Saddle River, New Jersey: Pearson Prentice Hall. ISBN 0-13-158591-6.
2. ^ Marx and Engels, The Communist Manifesto, introduction by Martin Malia (New York: Penguin group, 1998), pg. 35 ISBN 0-451-52710-0
3. ^ Fifty Key Sociologists: the Formative Theorists, John Scott Irving, 2007, pg 59
4. ^ "Communicating Ideas: The Politics of Scholarly Publishing", Irving Louis Horowitz, 1986, pg 281
5. ^ "Outlines of Sociology", pg 196
6. ^ "Transforming Leadership", James MacGregor Burns, 2004, pg 189
7. ^ "German Realpolitik and American Sociology: an Inquiry Into the Sources and Political Significance of the Sociology of Conflict", James Alfred Aho, 1975, ch. 6 'Lester F. Ward's Sociology of Conflict'
8. ^ Bourricaud, F. 'The Sociology of Talcott Parsons' Chicago University Press. ISBN 0-226-06756-4. p. 94
9. ^ Durkheim, E. (1938). The Rules of Sociological Method. Chicago: The University of Chicago Press. p. 67.
10. ^ Durkheim, (1938), pp. 70–81.
11. ^ Livesay, C. Social Inequality: Theories: Weber. Sociology Central. A-Level Sociology Teaching Notes. Retrieved on: 2010-06-20.
12. ^ a b c Knapp, P. (1994). One World – Many Worlds: Contemporary Sociological Theory (2nd Ed.). Harpercollins College Div, pp. 228–246. Online summary Isbn 978-0-06-501218-7
13. ^ "Gene Sharp: Author of the nonviolent revolution rulebook". BBC News. 21 February 2011. http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-12522848.
14. ^ Gene Sharp biography at Albert Einstein Institution web site.
15. ^ Weber, Thomas. Gandhi as Disciple and Mentor. Cambridge University Press, Cambridge 2004[page needed]
16. ^ "Shy U.S. Intellectual Created Playbook Used in a Revolution". The New York Times. 16 February 2011. http://www.nytimes.com/2011/02/17/world/middleeast/17sharp.html?_r=1&hp.
17. ^ Sears, Alan. (2008) A Good Book, In Theory: A Guide to Theoretical Thinking. North York: Higher Education University of Toronto Press, pg. 34-6.
18. ^ Sears, pg. 36.
* Stark, Rodney (2007). Sociology (10th ed.). thomas wadsworth. ISBN 0-495-09344-0.
* Lenski, Gerhard E. (1966). Power and Privilege: A Theory of Social Stratificaion. McGraw-Hill. ISBN 0-07-037165-2.
* Collins, Randall (1994). Four Sociological Traditions: Selected Readings. Oxford University Press.. ISBN 0-19-508702-X.
* Thio, Alex (2008). Sociology: A Brief Introduction (7th ed.). Pearson. ISBN 0-205-40785-4.
Sociologie du conflit
La sociologie de conflit désigne la théorie sociologique selon laquelle toute l'action sociale est figurable par le conflit (ou polémique) d'acteurs sociaux.
S'y sont intéressés, en plus des auteurs comme Lewis A. Coser, Ralf Dahrendorf et John Rex, au sens large aussi tous les théoriciens de classe (comme Karl Marx ou l'anthropologue social comme Max Gluckman).
Le conflit et sa macrosociologie a été approchée par Georg Simmel. La théorie des jeux est un des prolongement des recherches interdisciplinaire à ce sujet (comme par exemple Thomas Schelling).
Sommair
Bibliographie[modifier]
* Julien Freund, Sociologie du conflit, PUF, 1983.
* Raymond Boudon et François Bourricaud, Dictionnaire Critique de sociologie : article sur « Les conflits sociaux »
* ROUSSEAU Pierre, Comprendre et gérer les conflits dans les entreprises et les organisations, éditions Chronique Sociale, Lyon, 1990
* François Chazel, Action collective et mouvements sociaux, PUF, 1993.
* Michel Callon, Pierre Lascoumes, Yannick Barthe, Agir dans un monde incertain - Essai sur la démocratie technique, Seuil, 2001.
* Alain Touraine, « Conflit social », Encyclopédie Universalis
* Alain Touraine, Découvrir les Mouvements sociaux, s.l.d. F.Chazel PUF 1993
* Henri Mendras, Michel Forsé, Le changement social, A.Colin 1983
* J. Padioleau, L'ordre social, L'Harmattan 1986
* Jean-Daniel Reynaud, Les règles du jeu, A. Colin 1993
* Henri Lefebvre, Sociologie de Marx, PUF sociologie
* J. P. Durand, La sociologie de Marx, repères La Déc. 1995
* Raymond Aron, Les étapes de la pensée sociolologique, Gallimard 1967
* Raymond Aron, La lutte des classes, Gallimard idées 1972
* Karl Marx, Salaires, Prix et profits
* (de) Georg Simmel, « Der Streit » (la polémique) « . : Soziologie, Untersuchungen über die Formen der Vergesellschaftung (Sociologie, Études sur les formes de socialisation), Berlin : Duncker et Humblot maison d'édition en 1908, P. 186-255.
* (en) Ralf Dahrendorf, Class and Class Conflict Industrial Society . Stanford : Stanford Univ. Presser en 1973 (allemand. Première édition en 1956)
* (en) John Rex, Key Problems of Sociological Theory. Londres : Routledge and Kegan Paul en 1961
* (de) Lewis A. Coser, Theorie sozialer Konflikte. Darmstadt : Luchterhand en 1965. (US-amerik. Première édition en 1964)
* Dominique PICARD & Edmond MARC, Petit traité des conflits ordinaires, Le Seuil, 2006.
Résolution de conflit
La résolution de conflit est un concept associé aux relations humaines, principalement lié au management et aux méthodes et outils d'aide à la prise de décision. Elle consiste dans le choix d'une solution à un affrontement et sa mise en œuvre. Lorsqu'il s'agit de pratiques en regard du système judiciaire ou d'une décision étatique, on parle de modes alternatifs de résolution des conflits.
Le conflit est une situation sociale où des acteurs en interdépendance, soit poursuivent des buts différents, défendent des valeurs contradictoires, ont des intérêts divergents ou opposés, soit poursuivent simultanément et compétitivement un même but.
Le conflit existe entre deux personnes au moins. Le concept de situation sociale renvoie à celui de lien et de seuil au-delà duquel une relation est établie (on ne peut être en conflit avec un inconnu sauf quand celui-ci est en lien avec nous). Le conflit naît dans un système qui s'apparente à un ensemble d'éléments interdynamiques ayant une même finalité, dont tous les éléments participent à l'atteindre. Le conflit est donc une divergence dans la finalité. La compétition à l'origine des conflits, voulue ou pas ; cependant elle ne peut motivée car on ne motive pas un groupe.
La négociation est la prise en charge du conflit ; c'est une solution pour concilier les points de vue opposés, la seule procédure pour le clore. Elle possède plusieurs dimensions :
* distributive (ce que l'un gagne, l'autre le perd) : permet que la négociation soit profitable pour tous et fait qu'elle soit un jeu équitable
* intégrative : elle doit intégrer la problématique et la vision du litige des autres acteurs en opposition (résoudre ensemble le conflit sans gagner le maximum).
Ici, il convient de faire abstraction des conflits de lois, désignant une opposition ou une contradiction entre des textes législatifs issus de systèmes juridiques concurrents et du conflit d'intérêt; lequel est fondé sur des relations économiques, avant d'être sur le terrain de l'affectivité relationnelle.
Sommaire
[masquer]
* 1 Penser la résolution de conflit
* 2 Résoudre un conflit : méthodes et moyens
* 3 Diverses manières pour résoudre un conflit
* 4 Résoudre par la prévention
* 5 Résolution de conflit et résolution de problème
* 6 Les conflits et les groupes
o 6.1 Groupe
o 6.2 Nature des conflits
* 7 Le pouvoir dans le conflit
o 7.1 La négociation
* 8 Références
* 9 Bibliographie
Penser la résolution de conflit[modifier]
La résolution d'un conflit ne peut être envisagée en dehors du conflit lui-même : sa nature, ses causes, les personnes qui le vivent, le contexte dans lequel il se passe... Tout mode de résolution qui serait proposé de manière transversale, sans tenir compte des spécificités internes à la situation conflictuelle ne saurait être efficace.
Mais cela ne suffit pas. La façon dont est envisagée l'action même de la résolution d'un conflit, va dépendre aussi de la place qu'on accorde au conflit dans la dynamique relationnelle. Et là, deux points de vue s'opposent :
* le conlit est considéré comme une sorte de catastrophe qui intervient dans le cours d'une relation harmonieuse ; dans ce cas, le « résoudre », c'est le contrer, le vaincre, l'éliminer (quitte à ce qu'il revienne plus tard, similaire ou sous une autre forme).
* Ou bien les conflits « ne sont pas des aberrations de la communication interpersonnelle mais une de leurs issues possibles au même titre que la bonne entente [...] et qu'il est tout aussi normal de se disputer que de vivre en harmonie ».[1]
Dans le premier cas, des méthodes ponctuelles sont mises en oeuvre pour combattre un phénomène qui se produit à un moment donné.
Dans le second cas, des outils de gestion à long terme sont mis en place. Résoudre un conflit est avant tout permettre aux protagonistes de comprendre ce qu'ils vivent et les aider à trouver en eux-mêmes et par eux-mêmes les solutions pour le gérer et en maîtriser les effets dans l'instant de la crise, mais aussi chaque fois que des problèmes ou des souffrances surgiront.
Résoudre un conflit : méthodes et moyens[modifier]
Il existe plusieurs manières de considérer qu'un conflit peut être résolu. Trois manières se distinguent : la contrainte, la soumission ou la fuite[2], avec différentes nuances :
* on dispute et discute :
o on utilise sa persuasion
o on fait appel à la persuasion d'un tiers
* on ne discute plus :
o on a recourt à la force physique
o on fait appel à la force physique d'un tiers
* on abandonne :
o on fuit
o on se soumet
o on attend que "ça passe" (que la tension née du conflit soit apaisée ou oubliée)
A priori, une résolution de conflit permet d'éliminer un conflit. L'atténuation d'un conflit n'est pas sa résolution. La résolution implique la recherche d'une solution. Mais une recherche intentionnelle visant la pacification relationnelle des protagonistes, n'est pas une conception de la résolution des conflits qui fasse l'unanimité; puisque nombreux sont ceux qui agissent de manière agressive (vengeance, condamnation à mort, guerre, massacre, internement, etc...), en affirmant vouloir résoudre un conflit. La résolution de conflit n'est donc pas forcément pacifique ou pacificatrice.
Deux modèles de structure :
* l'interaction de type asymétrique ou complémentaire qui suppose l'inégalité des forces des interlocuteurs (chef et exécutants souvent argument-objection) ;
* l'interaction de type symétrique suppose elle l'égalité (argumenter, contre-argumenter).
Une négociation doit parfois débuter par la définition de ces statuts (exemple : réunion de syndicats).
Un conflit peut être mis en sommeil par la contrainte, la domination / soumission, la fuite, mais il n'est pas résolu pour autant. Le fait qu'un conflit trouve une issue n'implique pas qu'il ait été résolu. Un conflit peut disparaître avec les protagonistes ou se transmettre à leur lignée (vendetta). S'il disparaît de cette manière, on ne pourra dire qu'il a été résolu. S'il y a écrasement de l'une des parties, cette solution ne résout pas le conflit. Celui-ci devient larvé, latent.
Diverses manières pour résoudre un conflit[modifier]
Les rapports de force, la soumission, la fuite, la stratégie... Le principal étant que le conflit s'arrête... quitte à ce qu'il reprenne plus tard, mais qu'il s'arrête au moins un temps significatif. Voici une liste de manières, par ordre alphabétique :
* la domination,
* la conciliation,
* le contentieux, c’est-à-dire le recours à un tribunal, via une procédure fixée par les textes,
* la facilitation,
* la médiation,
* la négociation,
* la réconciliation,
* l'application d'une règle tacite ou explicite (loi, règlement, convention, traité...) à laquelle les parties adhèrent.
* le duel (combat)
* la vengeance
* la guerre
* la reconnaissance, laquelle peut consister à reconnaître la force de son adversaire qui est venu chercher à la prouver [3]
Résoudre par la prévention[modifier]
Prévenir les conflits consiste à former les personnes à des approches de sensibilisation aux différents modes de fonctionnement humain. Les méthodes sont très variées :
* philosophiques
* psychologiques
* religieuses
* relationnelles
* juridiques
Ces approches ont pour but principal de doter les participants d'un référentiel culturel commun. Ainsi en va-t-il de formations à l'esprit d'entreprise dans les organisations, de développement personnel, etc.
Les approches les plus répandues en matière de résolution des conflits ont pour objectif de doter chacun(e) de savoir-faire comportementaux de contrôle de soi et de compréhension des autres.
Résolution de conflit et résolution de problème[modifier]
La résolution de conflit se distingue de la résolution de problèmes par son côté relationnel : dans un cas il s'agit de faire disparaître un différend entre personnes, dans l'autre cas il s'agit de faire disparaître une situation non désirée par une personne. Cette définition n'exclut pas les problèmes relationnels : un conflit est souvent vécu comme un problème, sans réciproque. Dans tous les cas, il faudra analyser la cause du conflit en utilisant la méthodologie de résolution de problèmes:
1. analyse des causes du conflit (trois types : de communication, de groupe, de pouvoir)
2. préparation de la négociation suivant la cause retenue et le contexte (intégration des problématiques de l'autre)
3. discussion (tour de table, symétrie, improvisation)
4. conclusion
Les conflits et les groupes[modifier]
Groupe[modifier]
En psychologie sociale, un groupe est un ensemble d'individus ayant entre eux des relations réciproques,réunis sur la base de critères qui peuvent être :
* la poursuite d'un but commun (association) ;
* un sentiment d'interdépendance (famille) ;
* des relations affectives (amis).
En cas de conflit il faut analyser le critère d'origine du groupe qui pourrait être à l'origine de ce dysfonctionnement.
Dans ce cas, il y a des conflits :
* constructifs : lorsqu'il entraîne de l'expérience qui permet d'éviter les futurs conflits. Ce qui entraine un climat coopératif lorsqu'il :
o place les buts du groupe avant les objectifs personnels,
o améliore le niveau des évaluations,
o est source de production d'idées créatives,
o permet le réexamen des opinions et des buts,
o permet l'accroissement des prises de risque,
o augmente la cohérence du groupe.
* destructifs : lorsqu'il entraine un climat compétitif.
On peut voir les conflits comme des mécanismes de régulation, inévitables mais qu'il faut affronter et qui doivent être néanmoins le moins visible pour l'extérieur (comme dans le problème de la qualité).
Nature des conflits[modifier]
Deux types de conflits sont distingués, selon le chercheur John-M Gottman [4] :
* conflits de situation: le conflit porte sur un ou des aspects (valeur(s), besoins et priorités, règles, choix des critères…). Mais la relation à l'autre n'est pas en cause.
* conflits de personne: la personnalité tout entière de l'autre est remise en cause. L'autre n'est pas ou n'est plus apprécié. (Préjugé sur l'autre; cumul de plusieurs conflits de situations, jamais évoqués ou mal résolus avec l'autre; légitimité d'appartenance, de qualification...).
Le pouvoir dans le conflit[modifier]
Le pouvoir se définit comme la capacité de A d'obtenir que B fasse quelque chose qu'il n'aurait pas fait sans l'intervention de A. Deux sortes de pouvoir sont distingués:
* Le ouvoir de coercition, avec l'emploi possible de la force.
* Le pouvoir d'influence, dont les pouvoirs de position (hiérarchie), de récompense (reconnaissance ou avantage tangible), de connaissance (compétence, information), d'autorité naturelle (charisme).
La négociation[modifier]
Ce processus de communication vise à conclure un accord avec des interlocuteurs ayant des intérêts opposés. Il stimulera la recherche des intérêts des participants, plutôt que la défense de leurs positions. L'équité ne signifie pas l'équité mathématique; mais le juste équilibre des deux parties (exemple : dans l'entreprise la hausse des salaires doit tenir aussi compte des besoins de l'entreprise, en investissements).
La négociation fait parfois appel à un médiateur neutre.
En négoiation, l'accent est mis sur la volonté de recherche d'un accord entre les parties, plutôt que sur des règles ou de procédures pré-établies.
Néanmoins, ne devraient pas être négociables :
* les valeurs morales et croyances (ce qui serait une remise en cause de l'individu) ;
* le passé ;
* l'objectif de la négociation.
Pour une négociation constructive, recenser ce qui est un obstacle à la négociation peut être utile:
* sa propre réaction (camper sur une position, avoir des préjugés...) et celle des autres (prendre la porte, la colère...) ;
* les émotions des interlocuteurs (peurs, tristesse, dégout, honte, surprise, colère) ;
* le non-respect du principe de "ménagement des faces" ;
* le pouvoir et les prises de pouvoir.
Une négociation intégrative peut être obtenue par :
* le contournement des obstacles naturels à la négociation (exemple : dans les situations délicates, faire le contraire de ce que nos instincts nous disent de faire, afin de nous empêcher de réagir de manière symétrique) ;
* la synchronisation ;
* le questionnement ;
* la reformulation.
La négociation peut se dérouler selon le schéma suivant :
* le diagnostic de la situation (atouts, compétences, détection des positions de l'interlocuteur..) ;
* la préparation (données disponibles, mise au point des tactiques, identification les marges de manœuvre, définition des butées, positions de repli possibles) ;
* la discussion (poser tout sur la table, lever l'implicite, identifier les moyens à mettre en œuvre, garder une position ferme non négociable) ;
* la conclusion (synthèse, bilan, définition de la mise en œuvre opérationnelle, dédramatisation).
Parfois, la peur de perdre la face est importante dans une négociation, expliquant l'entêtement des protagonistes dans la poursuite de leurs objectifs premiers.
Les outils à utiliser sont procéduraux, mais aussi comportementaux (PNL, par exemple).
Références[modifier]
1. ? D. Picard et E. Marc, Petit traité des conflits ordinaires, Le Seuil, 2006, p.8
2. ? Voir Henri Laborit, L'agressivité détournée, L'éloge de la fuite
3. ? éviter la guerre en reconnaissant la supériorité de son adversaire - cf. Ouagadougou [archive]
4. ? John-M Gottman, "The Seven Principles for Making Marriage Work" (Crown Publishers, (1999) - bestseller "Les Couples Heureux Ont Leurs Secrets - Les Sept Lois De La Réussite", Edit. Jean-Claude Lattès (2000).
Bibliographie[modifier]
* Rousseau Pierre, Comprendre et gérer les conflits dans les entreprises et les organisations, éditions Chronique Sociale, Lyon, 1990
* Lascoux J.L. Pratique de la médiation, une méthode alternative à la résolution des conflits, éditions ESF, 2007 (4° éd.)
* Picard D. et Marc E., Petit traité des conflits ordinaires, éditions du Seuil, 2006
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