quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A China não precisa inventar inimigos externos: quer saber de negócios

A China não precisa inventar inimigos externos: quer saber de negócios 

Nivaldo T. Manzano (21/10/20)

Especula-se que Biden, se eleito, vai apoiar a oposição ao bolsonarismo exigindo em troca, em toda a América Latina, distanciamento da China. Isso não vai ocorrer, e aqui vão os meus palpites do porquê:

Quando o seu interesse político não é imediato e estratégico, como o da defesa na contiguidade de suas fronteiras, a China se omite em política nas suas investidas externas: os chineses são comerciantes há mais de cinco mil anos e aprenderam que, nessa condição, precisam da amizade de todos, assim como procediam os árabes no Mediterrâneo do século VII ao século XV, quando o seu império estendia-se da Índia aos Pirineus. Uma estratégia oposta à dos EUA, que precisam de inimigos externos, assim como a Igreja Católica precisava de queimar bruxas na Idade Média e instituir a Inquisição, hoje transfigurada no Departamento de Defesa americano. Sem fantasiosos inimigos externos, os governantes belicosos não conseguem promover a necessária coesão social interna Taí Mijar convocando reservistas, para provocar manchetes – mera propaganda ideológica contra Venezuela. Mas não teria coragem de igual quixotada contra a China, tanto mais que quando um não quer dois não brigam. A China quer saber de comércio, e o Brasil tem na China o seu principal importador e a sua principal fonte de receita cambial advinda das exportações, ao passo que a submissão aos EUA já lhe custa um déficit comercial crescente e insustentável a longo prazo.
Veja-se que o MAIOR projeto singular da China no exterior é em LOGÍSTICA comercial (mais de US$ 500 bilhões), como a construção da “nova rota da seda”, que, por terra, vai de Pequim ao coração da Alemanha, atravessando toda a Eurásia, e que por mar chega ao principal porto italiano de Trieste e na América, à construção do canal da Nicarágua, ligando Pacífico e Atlântico (uma iniciativa privada), como alternativa à travessia pelo canal do Panamá, sob controle dos EUA. Na África, a China procede do mesmo modo, investindo principalmente em infraestrutura: ferrovias, portos etc., buscando assegurar ao mesmo tempo a gestão permanente de suas operações.
Rogério Fernando Furtado, Edgar Pera e 7 outras pessoas
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