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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
PORQUE O ARGUMENTO RACIONAL, OBJETIVO, DO ÊXITO NA ECONOMIA, ISOLADAMENTE, NÃO CONVENCE.
Como é pelo uso da palavra que se exerce o direito legítimo de influenciar, a arma utilizada na POLÍTICA é o argumento. Mas o argumento de caráter exclusivamente racional é insuficiente, porque o que se pretende é conquistar a adesão da audiência, seduzi-la — e a audiência não decide somente apoiada na razão ou somente apoiada na emoção. A sua resposta, como ação humana, é constituída ao mesmo tempo de razão, sentimento, emoção, intuição, paixão, ética e estética. Uma decisão, ou um ato, por mais concretos que sejam, carregam necessariamente consigo como interface a sua responsabilidade moral, uma aposta sobre o futuro, que se desconhece, e nessa medida são fruto de conjetura, de apelo, de encenação, de esperança, de promessa, de subjetividade. Por isso, qualquer apelo feito à razão ou em nome dela, unicamente, é um engodo: visa tão somente camuflar o desejo de mandar nos outros, submetendo-os a seus desígnios, jamais legítimos.
O poder hierárquico é uma doença, e não se conhece melhor antídoto do que a reciprocidade, ou o poder de destituição que caracteriza o diálogo na rede social. É disso que nos adverte o mito da cosmogonia chinesa, ao sugerir que corrijamos o relato bíblico da Criação. A ideia de Deus como único autor da Criação seria uma construção ideológica que serve ao propósito de legitimar o poder hierárquico na sociedade. É indissociável e constitutivo da constelação semântica de que também fazem parte a visão escatológica, as doutrinas salvacionistas e messiânicas, o progresso automático, as ontologias, o paraíso, a moral do Bem e do Mal, a certeza ABSOLUTA da ciência de Newton e de Kant, a linguagem binária da cibernética e os ismos em geral. Uma tal justificação é por demais ingênua e rudimentar como estratégia para esconder o que só faz revelar.
Seria preferível acreditar, como o faz o mito da cosmogonia chinesa, em que a Criação, que não teve começo, é fruto do embate entre forças opostas e solidárias de igual magnitude. Os sopros celestes e os sopros terrestres, ao se chocarem, provocam turbilhões, que geram um novo estado de mudança, este que somos e no qual nos encontramos. A ideia funcionalista de um Deus-sujeito que teria criado o mundo-objeto sozinho condena-o à solidão, à monotonia, ao monólogo, à reafirmação recorrente do status quo, à mesmice de uma eternidade sem surpresas.
Por isso, pareceu pertinente a Machado de Assis, em seu apólogo "Opereta a quatro mãos", pensar em um Deus provido de atributos divinos por excelência: a comunicação, o diálogo. Daí a sua ideia lúdica da Criação como obra em construção recorrente, uma parceria solidária, ao mesmo tempo que conflitiva, entre Deus e o Diabo. Deus põe e o Diabo dispõe, conflitantes e solidários na decisão de prosseguir no jogo. Nada estranho, pois é isso o que ocorre nos desportos: Dois times de futebol disputam a partida com vistas à vitória sobre um adversário que não se identifica como um inimigo a eliminar, para que o torneio possa prosseguir. Assim, o jogo algébrico entre Deus e o Diabo consiste em remover as regras que eles próprios estabelecem, para dar-lhe outras. Um jogo de criação de regras de criação de novas regras de jogo. É o que os entretém eternidade a dentro. Ou, para dizer de outra maneira: A realidade que se exibe ao nosso olhar à espera de reconhecimento tem a feição do outro, o outro da interação entre mim e outrem (Levinas, E., 1988). Assim assumida, a realidade apresenta-se aqui também, no contexto da Política, como indomesticável na sua incompletude: não se deixa fixar definitivamente na imagem que se pretende fazer dela; não se rende à RACIONALIDADE SOBERANA do Iluminismo de DIREITA (liberalismo), de feição LÓGICO-MATEMÁTICA, única, necessária, irrecorrível, definitiva. É a nossa sorte, pois assim temos asseguradas a criatividade, a renovação do prazer e a ventura de sonhar. Nivaldo Manzano (achegas de um livro a publicar de minha autoria).
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