Para onde vai a democradura, o governo mais verde-oliva na
História do Brasil
É preciso observar para muito além da aparência imediata dos
fatos no Brasil de Mijair e atentar para a direção do conjunto coerente das
ações governamentais. As peças em destaque nas manchetes são o sinistro do meio
ambiente, Ricardo Sales, réu por imprividade e o general Mourão, campeão
inconteste na alocação de amigos em boquinhas ricas na Administração (direção
de Itaipu = R$ 70 mil, etc.). No comando da democradura estão os generais de
duplo ganho, instalados no Palácio do Planalto, que têm em Mijair a sua
marionete a entreter os patetas.
As iniciativas de Salles e Mourão, em especial, voltadas para
a Amazônia, levantam a ponta do véu, permitindo entrever o que implica para a
nação a escolha do Brasil como primeiro grande laboratório mundial da Global
Governance. Trata-se de um experimento que eleva ao enésimo expoente o
experimento desenhado na Universidade de Chicago e levado a cabo no Chile de
Pinochet (1973), com a diferença de que a expectativa que a nova hecatombe
política e humana ocorra sem derramamento de sangue.
A Colômbia teria sido um experimento a meio caminho entre o
que os neoliberais intentaram no Chile e que esperam agora do Brasil. Assim
como no Chile, na Colômbia a “sociedade de mercado” somente foi implantada
mediante forte intervenção das FFAA, com a diferença que na Colômbia ela
ocorreu via democrática. A Colômbia teria falhado por imperícia no emprego de
violência explícita e recursos de repressão considerados como pouco refinados,
como descarga direta e pública de armas de fogo e explosivos contra defensores
de direitos humanos (750 vítimas fatais em 2019, segundo levantamentos de ONGs)
e incompetência gerencial em pontos da agenda neoliberal, tais como tolerância
na manutenção da educação e saúde públicas. Em contraste, o Brasil de Mijair
tem conseguido - graças à conivência da imprensa -, sem grandes comoções na
sociedade, renunciar à soberania nacional, em proveito do capital estrangeiro, e
transferir funções sociais da responsabilidade constitucional do Estado para
entidades igrejeiras, mediante doação em valor correspondente de recursos
públicos, que deverão bancar a totalidade da fatura. A última medida nessa
direção foi a transferência da atenção institucional às crianças deficientes
para os amigos da ministra Damares Alves, na continuidade de ações da mesma
natureza (idosos etc.). Na área social, essas são apenas as primeiras
iniciativas da democradura, convertida ao receituário neoliberal, receituário que
não atinge a instituição FFAA. Há muito ainda a fazer com vistas à eliminação
radical de toda política social por parte do Estado.
O pacto da Global Governance, promovido pela elite financeira
mundial, sob o comando dos EUA (com Trump ou sem Trump) – como reação defensiva
aos abalos sísmicos do Capital (2008, por ex.) e à ascensão da China como
superpotência concorrente -, implica a renúncia à soberania nacional; a
instalação de uma governança única, acima dos Estados nacionais, com agenda
autoritária, que estabelece a eliminação de fronteiras econômicas; o fim de todo
direito internacional que não seja o do mercado; o fim das instituições
multilaterais, exceto as controladas pelos EUA, tais como FMI e Banco Mundial;
o esvaziamento da ONU e de suas agências; eliminação de toda legislação sobre
direitos humanos; eliminação das restrições à livre ação e circulação do
Capital, tais como agências reguladoras, normas, fiscalização e punição nas
áreas de meio ambiente e outras; eliminação das legislações trabalhista e
ambiental, eliminação radical do Estado de bem-estar social e suas implicações;
privataria das instituições de ensino em favor das entidades igrejeiras e
remodelação radical de seu conteúdo, com eliminação de tudo o que remeta ou
faça referência ao sentido dos termos comunidade e sociedade (é somente Eu e
Deus, ou o estrito individualismo, segundo o credo luterano ou calvinista) ;
abolição de legislação e normas sobre câmbio, moeda; eliminação da legislação
antidumping, de tarifas e taxas de importação e exportação.
Em resumo, a democradura verde-oliva, a serviço da Casa
Grande, intenta instalar no País uma república bonapartista neoliberal stricto
sensu, a “sociedade de mercado”, uma réplica atualizada do Circo Romano, cujas
regras impostas aos condenados limitavam-se a uma só: “Eliminem-se uns aos
outros”. Um espetáculo oferecido aos que o promovem para o seu exclusivo
gáudio, ainda que sob o aplauso dos pobres de direita.
No caso do Brasil, o fiador e protagonista do pacto são as
FFAA, como é possível ver-se, entre outras evidências, na sua estratégia de
entrega da Amazônia, região que abrange 59% do território nacional e que somada
ao bioma Amazônia além-fronteiras equivaleria ao sexto país do mundo em
extensão. Em cada uma das mineradoras há pelo menos um militar na diretoria, de
dupla remuneração; e as FFAA, com dinheiro público, dão total apoio à logística
de saque e à evacuação dos minérios e demais riquezas naturais. Todas as saídas
do País, portos, aeroportos e fronteiras secas têm por sobre a vigilância da PF
o comando das Três Armas.
Daí a criação, sob a autoridade do general Mourão, do Comando
da Amazônia, do qual estão excluídos todos os governadores do Norte e do qual
não consta nenhuma autoridade civil e nenhum civil. Todos os órgãos de
informação sobre clima e sobre meio ambiente, controle e monitoramento de
satélites foram transferidos para mãos militares. Uma penca de oficiais acaba
de ser nomeada (15/10/2020) para o controle dos serviços de dados sob a
responsabilidade do Estado. Em contrapartida, os promotores civis da Global
Governance comprometem-se, mediante patrocínio da Casa G, a monitorar a imprensa
na implementação da estratégia, entre cujos objetivos inclui-se a remoção da
memória nacional a tortura e o assassinato praticados pelo golpe militar de
1964, com vistas a legitimar e consolidar a democradura – um pacto entre FFAA,
Casa Grande e as chefias dos Três Poderes. Como braço auxiliar ideológico e de
repressão, têm-se as entidades igrejeiras, a milícia de Mijair e as forças
para-militares.
Observe que nos dois últimos meses todos os jornais e
publicações periódicas da imprensa comercial trazem matérias indicativas da
normalização do governo Mijair pelos membros do pacto não escrito, com vistas à
sua reeleição 2022.
Minha argumentação funda-se na evidência de que a ideologia
neoliberal e os seus promotores encontram-se sob intenso assédio da opinião
pública em razão da concentração mundial da renda, crescimento da desigualdade
social em velocidade irrefreável e perda de legitimidade do capitalismo. Depois
de ensaios frustrados, por terem estacionado a meio caminho, em nova tentativa de
criar a sua grande vitrine para o mundo decidiram radicalizar no caso do
Brasil, por nele encontrar terreno fértil. Por que terreno fértil? O Brasil
apresenta baixa coesão social, cultural e cívica (= baixa capacidade de organização
social e resistência política); ausência do sentido de comunidade; elevado
índice de analfabetismo funcional; exclusão social e marginalidade em grande
escala; baixíssima impregnação social da institucionalidade; baixíssimo índice
de leitura (um dos mais baixos do mundo, segundo a revista The Economist); e o
segundo país mais ignorante do mundo, em anos seguidos, segundo a pesquisa
internacional do Instituto Ipsos (ignorante = desconhecimento do próprio
contexto)
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