Eu estou ausente mas no fundo desta ausência
Há uma espera de mim mesmo
E essa espera é um outro modo de presença
A espera do meu retorno
Eu estou em outros objetos
Ando de viagem a dar um pouco de minha vida
A certas árvores e a certas pedras
Que me esperaram por muitos anos
Cansaram de me esperar e se sentaram
Eu não estou e estou
Estou ausente e estou presente em estado de espera
Eles quereriam minha linguagem para se expressar
E eu quereria a deles para expressá-los
Eis o equívoco o atroz equívoco
Aflitivo lamentável
Vou adentrando nessas plantas
Vou deixando minhas roupas
Vão caindo as minhas carnes
E meu esqueleto vai se revestindo de cascas
Estou me tornando árvore
Quantas vezes tenho me convertido em
[outras coisas…
É doloroso e cheio de ternura
Poderia dar um grito mas afugentaria a transubstanciação
É preciso manter silêncio
Esperar em silêncio.
Vicente Huidobro.
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