Análise das eleições de 15 de novembro de 2020
do Prof. Leonardo Avritzer,
O resultado eleitoral ainda não está completamente claro, mas já é possível ter uma ideia da direção do resultado. As eleições geraram três resultados principais: a derrota do Bolsonarismo; um certo movimento em relação a alguns partidos de centro e uma recuperação tímida da esquerda. Analisemos cada um destes movimentos.
A derrota do Bolsonarismo foi bastante ampla. É claro que é um papo furado a afirmação de que Bolsonaro não se envolveu na eleição. Todos os presidentes do Brasil desde os anos 90 ganham eleições municipais depois de se elegerem presidentes. A pergunta é porque Bolsonaro não ganhou. Acho que existem duas respostas: um porque ele rompeu com o PSL e nao teve recursos para apoiar os seus candidatos. Ele achou que podia prescindir de um partido como em 2018 e estava errado. A segunda é porque o eleitor procurou se distanciar de candidatos sem experiência com discurso antipolítico e isso prejudicou o campo de extrema direita. Entre candidaturas horrorosas de extrema direita nas capitais identifico três, Belém, Fortaleza e Vitória. A esquerda levou duas das três.
O que aconteceu com o centro nas eleições? Diversas coisas> em primeiro lugar, é preciso dizer o que a grande imprensa não diz:o PSDB é o principal derrotado no centro. Perdeu 15 milhões de governados; foi derrotado em três capitais, Belém, Manaus e Porto Alegre e praticamente deixou de existir entre as grandes cidades em Minas Gerais, seu segundo reduto eleitoral. O PSDB perdeu 270 prefeituras em torno de 1/4 do total. O Dória não teve uma vitória que o habilita como candidato presidencial. Ele só será líder se derrotar Bolsonaro na guerra da vacina que se aproxima. Já o DEM e o PSD cresceram e uma candidatura presidencial do DEM torna-se mais forte apesar dos pessimo retrospecto na nova republica. Assim, o centro sai da eleição com o mesmo problema que ele teve em 2018: ele não parece ter um candidato viável para concorrer.
O que aconteceu com a esquerda ? A esquerda se recuperou parcialmente e isso não depende de corroboração da grande mídia. Alguns dados: a esquerda teve 16% dos votos em São Paulo em 2016, cidade na qual não houve segundo turno e teve 40% dos votos agora. O segundo turno em Porto Alegre em 2016 foi entre a direita e a centro direita e nesse ano a esquerda teve 45% dos votos. A esquerda ganhou em Belém e derrotou o candidato da extrema direita em Fortaleza. Além disso o P.T. esteve no segundo turno em quinze cidades e ganhou 4 uma taxa baixa de 27% de sucesso. Só que em 2016 ela foi zero. A isso devemos somar a vitória do Psol em Belém o que dá a esquerda uma desempenho muito melhor em 2020 do que em 2016 onde ela elegeu entre as 100 principais cidades do país um prefeito, o de Rio Branco. O que então criou esse sentimento de derrota. Eu acho que foi o fato de ter chegado tão perto de algumas vitórias que não aconteceram. E aqui temos um fato novo: o centro está disposto a utilizar o arsenal que a extrema direita criou, fakenews, moralismo religioso e acusacões de corrupção. A esquerda concorreu com o centro sem se preparar para isso e esse foi o motivo de derrotas evitáveis que não tornam a esquerda perdedora nessas eleições.
Para 2022 ficam as duvidas:o centro será capaz de viabilizar uma candidatura ou ele virá com o venerável ou melhor vulnerável Huck. Como criar uma aliança mais forte na esquerda e como impingir derrotas mais significativas ao Bolsonarismo. Essas questões definirão 2022.
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