segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Forças Armadas e Poder Judiciário no Baile da Ilha Fiscal

 Forças Armadas e Poder Judiciário no Baile da Ilha Fiscal

Nivaldo T. Manzano

Quando penso no peso acabrunhante do papel político e ideológico das FFAA e da alta burocracia do Estado, verbi gratia o Poder Judiciário, sobre a nação, me ocorre a metáfora da poita, a pedra utilizada por barqueiros para fundear a embarcação no lugar da âncora. São duas instituições, que embora nascidas do Império, ainda exalam o cheiro de cueiro para aquém de imperial - neocolonial. Duas instituições, poderosas no arcabouço geral do Estado, que servem precipuamente à Casa Grande, dissociadas de todo sentimento nacional, republicano e democrático. Vejo-as na minha imaginação, como convivas ainda HOJE na festança do Baile da Ilha Fiscal, que reuniu a nata oligárquica do Império sob o pretexto de brindar a filha do imperador -, fantasiado ad hoc de ALMIRANTE -,numa libação para a qual se dispuseram 10 mil litros de cerveja; 304 caixas de vinhos, champagne e bebidas diversas. Como comes, o cardápio do jantar para os 500 convivas presentes (dos 4.500 convidados) contemplava 800 kg de camarão; 300 frangos; 500 perus; 64 faisões; 1 200 latas de aspargos; 20 000 sanduíches; e 14 000 sorvetes, segundo consta de documento conservado no Arquivo Nacional. (É por isso que, volta e meia, intenta-se tocar fogo nele)
Em séculos de história, não foi possível detectar nessas instituições, como tais, uma única ocasião, um único momento, o mais leve indício de identificação com a nação, com o interesse nacional, no auto reconhecimento de que somos o povo brasileiro. instituições que, por função estão investidas do dever constitucional de zelar pelo Direito (Justiça) e pela Defesa.
Vejo-as como a poita, que retém fundeada a nossa catraia nacional no atraso recorrente, que prenuncia o pior para o dia seguinte, sempre, sempre. Não há o menor exagero nisso. Consulte nos livros de história o cardápio servido aos escravos à venda no Cais do Valongo-RJ ( farinha de mandioca, feijão e carne seca; e como observou o viajante Rugendas “não lhes faltam frutas", como cajus e jacas) e concluo que ainda hoje a 150 milhões de brasileiros não foi possível o acesso a uma dieta de tal modo equilibrada.
Poder Judiciário e Forças Armadas riem-se de nós aqui na planície, distantes no Olimpo de seus privilégios, superlativos e a absurdos, qualquer que seja métrica moral que os meça.
"Quem prenderá o Alto Comando?" - indaga o cientista político e ex-ministro Roberto Amaral, em artigo publicado na revista Carta Capital. Imperdível.
Marcello Antunes, Rogério Fernando Furtado e 1 outra pessoa
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