sexta-feira, 7 de junho de 2024

cidadania e racismo gregia e atualidade

cidadania e racismo gregia e atualidade https://www.scielo.br/j/rbh/a/SYTmZPCd4yDKBCvNsJmg83F/?lang=pt A ideia segundo a qual os seres humanos são divididos em raças, obviamente, não se sustenta do ponto de vista genético e biológico, porém o conceito possui relevância sociológica para explicar a ação de pessoas que utilizam, conscientemente ou não, essa noção para agir de maneira racista. Raça é um constructo cultural, ainda que sua definição, normalmente, guarde relação (imaginária) com aspectos biológicos dos grupos humanos. Sobre esse tópico, ver, por exemplo, Ericksen, ([1994]2010, p. 6). 3 A construção mítico-ideológica da autoctonia aparece em diversos tipos de fontes durante os séculos V e IV: na pintura de vasos de cerâmica, em Heródoto e Tucídides (ainda que esses autores não qualifiquem os atenienses como autóctones), em Isocrátes, Lísias e Demóstenes, em Platão, particularmente no diálogo Menêxeno, nos discursos em honra aos soldados atenienses mortos em batalha (Orações Fúnebres) e na poesia dramática, especialmente nas tragédias Íon e Erecteu, ambas de Eurípides. Para uma visão de conjunto do mito da autoctonia, além de Loraux ([1981]2006a; 2000), ver Leão (2010) que, similarmente a Lape, desenvolve uma narrativa relacionando autoctonia e cidadania, mas, diferentemente dela, não pensa que o objetivo da lei de cidadania de 451-450 residiu na proteção da pureza racial dos atenienses. McCoskey não está sozinha nessa revisão historiográfica. Seu trabalho dialoga intimamente com Isaac (2004) e Lape (2010). Vistos como um conjunto, essas obras configuram um importante desafio à ortodoxia dos estudos culturais na Antiguidade, que há muito assume que raça e racismo são termos inapropriados para descrever as atitudes antigas em relação a estrangeiros. Além disso, a tese desses autores pode ter relevância significativa para a problemática das origens e da história do racismo, haja vista que eles defendem uma importante linha de continuidade entre racismo antigo e moderno. Dada a relevância da temática, faz-se necessário um balanço historiográfico sobre os méritos e as fraquezas dessa defesa do uso do léxico do racismo para explicar as interações culturais entre povos distintos na Antiguidade clássica. Ao passo que Lape estuda sobretudo o período clássico grego (séculos V-IV a.C.),6 Isaac e McCoskey analisam também o mundo romano. De maneira a delimitar o escopo desta investigação, contudo, o presente artigo focará a sociedade grega da época clássica, discutindo especialmente como Isaac e Lape leem esse período, nomeadamente por que decidem utilizar a terminologia ligada a raça e racismo em lugar das noções habituais de etnicidade, e como interpretam a seleção de fontes históricas que utilizam para basear seus argumentos. Será privilegiado neste trabalho o que julgo ser o núcleo argumentativo desses autores concernente à Grécia antiga: a relação entre o mito dos atenienses como povo autóctone e a lei de cidadania aprovada pelos atenienses a partir de uma proposta de Péricles em 451/450 a.C. Veremos que Lape (2010) explora esses tópicos inter-relacionados de modo aprofundado, argumentando que o mito da autoctonia foi o aspecto ideológico do racismo ateniense, enquanto a lei de cidadania teria sido a manifestação legal e prática dessa ideologia. O PROTORRACISMO DE BENJAMIN ISAAC E O “RACISMO ATENIENSE” DE SUSAN LAPE

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