Jeito petista de governar é
copiado por 65 países
A estimativa é que 65 países já tenham se inspirado
em ideias brasileiras, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida
19 de
dezembro de 2011 | 3h 04
O
presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou na última semana seu mais novo
programa social, o Misión Hijos de Venezuela, em que famílias pobres irão
receber o equivalente a US$ 100 mensais para manter até três filhos na escola.
A semelhança com o Bolsa Família brasileiro não é apenas coincidência.
Chávez,
assim como outros presidentes dos dois lados do oceano Atlântico, tem contado
com o apoio do governo brasileiro para criar suas próprias versões dos
programas sociais criados no Brasil.
Estima-se
dentro do governo que 65 países usem algum dos programas brasileiros. Prestes a
enfrentar sua terceira tentativa de reeleição, possivelmente a mais dura delas,
Chávez aposta justamente nesses programas com viés popular para atrair de volta
parte da população pobre que se afastou de seu projeto bolivariano.
Além da
Misión Hijos de Venezuela, Chávez implantou uma versão local do Minha Casa,
Minha Vida, o Gran Misión Viviendas, sua tentativa de resolver o crônico
problema de moradias no país, especialmente na capital, Caracas.
Essa
cópia detalhada do projeto brasileiro vai da urbanização das favelas até a
forma dos contratos de financiamento, e conta com uma ajuda de peso: a
ex-presidente da Caixa Econômica Federal Maria Fernanda Coelho vai ao país uma
vez por mês dar assessoria técnica aos venezuelanos. Ela atende a um pedido do
próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de
recente, o Minha Casa, Minha Vida já entrou na pauta de cooperação externa do
Brasil. Hoje há seis países africanos e latino-americanos que recebem ajuda
brasileira para implantá-lo. Um deles é a Nicarágua, onde Daniel Ortega também
enfrentou uma dura reeleição este ano. Seu chanceler, Samuel Santos, esteve no
Brasil em julho tratando justamente dos projetos de cooperação.
"O
Brasil é visto hoje como um laboratório de políticas sociais, tanto pelos
países que vêm pedir cooperação como pelos desenvolvidos, que nos pedem para
fazer mais projetos", justifica o presidente da Agência Brasileira de
Cooperação (ABC), embaixador Marcos Farani. "Temos hoje projetos de
cooperação com 65 países. Eu diria que em todos existe algum programa
social."
O próprio
governo brasileiro oferece aos vizinhos e aos africanos suas experiências
sociais. O Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes, recentemente alvo de
denúncias que mostraram o programa como um duto para desvio de dinheiro através
de organizações não-governamentais de fachada, virou estrela das propostas de
cooperação esportiva. O programa já foi iniciado em cinco países - entre eles
Angola e Moçambique - e há outras propostas aguardando a resposta brasileira.
Transferência
de renda. Um dos projetos mais pedidos é o fiador de boa parte da popularidade
de Lula, o Bolsa Família. De acordo com Farani, os programas do Ministério do
Desenvolvimento Social, com ênfase na transferência de renda para famílias
pobres, só perdem para os da Agricultura, que vão desde o desenvolvimento de
tecnologias pela Embrapa até os de compra local, passando por financiamento de
agricultura familiar e alternativas para o produção de biocombustíveis.
Atualmente,
pelo menos 14 países copiam ou planejam copiar o Bolsa Família. A procura pelo
programa, no entanto, tem arrefecido. As dificuldades de implantação do projeto
muitas vezes assustam os possíveis candidatos a "Lulas" locais. A
promessa de popularidade nem sempre compensa os problemas que surgem.
"Não
é fácil implantá-lo", explica Farani. "O Bolsa Família necessita não
apenas de recursos financeiros, mas de uma estrutura. É um processo complexo,
exige uma enorme capilaridade para atender os beneficiários, exige uma rede bancária
eficiente. Eles querem entender, mas nem sempre vão adiante."
Investimento.
Normalmente, o lado brasileiro da cooperação não custa muito. São apenas os
recursos para enviar e manter técnicos no país que recebe o projeto. No caso do
Gran Misión Vivienda, na Venezuela, a projeção é de pouco menos de US$ 270 mil.
Há casos,
no entanto, em que o Brasil participa mais ativamente. Em Moçambique e Angola,
a criação do Pintando a Liberdade - projeto do Ministério do Esporte em que
presos fabricam material esportivo - contou com a doação de matéria-prima por
empresas brasileiras.
Outro
projeto ao qual o ex-presidente Lula dava muita atenção, o dos biocombustíveis,
também teve mais investimentos brasileiros. A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) foi a responsável por estudos de viabilidade em pelo
menos 12 países latino-americanos e africanos.
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