A
produção mineral brasileira vem crescendo. Somente a extração de ouro aumentou
13% e atingiu 66 toneladas em 2011. Para este ano, a expectativa é que chegue
70 toneladas.
(6’56” /
1.60 Mb) - Uma nova “corrida do ouro”. Assim está sendo chamado o atual momento
por que passa o estado do Pará. A iniciativa que mais vem chamando a atenção é
a da companhia canadense Belo Sun Mining Corp., autodenominado como “o maior
projeto de exploração de ouro do Brasil”. A previsão da mineradora é que o
empreendimento seja implantado em 2013 e o minério comece a ser extraído em
2015.
Com
investimentos superiores a US$ 1 bilhão, a empresa pretende sacar uma média de
4,684 mil quilos de ouro por ano, em um período de 12 anos. Isso geraria uma
receita anual de R$ 538 milhões – de acordo com valores atuais do metal.
A região
onde incide o projeto é a de Volta Grande do Xingu, envolvendo os municípios de
Senador José Porfírio, Vitória do Xingu e Altamira, no sudoeste paraense. O
projeto fica a 14 quilômetros da não menos polêmica usina de Belo Monte, a
maior hidrelétrica do Brasil.
Tanto a
atividade de mineração quanto a de produção energética estão sob a
responsabilidade do mesmo ministério, de Minas e Energia.
Para o
educador popular do centro de estudos Cepasp, Raimundo Gomes, a construção de
hidrelétricas na região amazônica está relacionada com a expansão da mineração
pretendida pelo governo federal.
“Tanto
Belo Monte, como os projetos do rio Tapajós – as cinco barragens que querem
construir -, todos eles são para fornecer energia para os grandes projetos que
estão se implantando, estão em fase de pesquisa, na região do Baixo Amazonas.
Todos esses projetos que foram de garimpo, assim como Serra Pelada, eles tendem
agora a ser um projeto de caráter industrial.”
A empresa
canadense Belo Sun já sinalizou que fará propostas ao consórcio Norte Energia
para dividirem os investimentos de construção de linhas de transmissão de
energia para a cidade de Altamira.
Omissões
Em fase
avançada de licenciamento ambiental, o projeto Belo Sun realizou uma audiência
pública em setembro, no município de Senador José Porfírio, com o objetivo de
legitimar o processo de licenciamento e dar publicidade a ele. Na ocasião, o
Ministério Público Federal (MPF) apontou que havia omissões no projeto da
mineradora, como relata a procuradora da República em Altamira, Thais Santi.
“A forma
como eles [representantes da Belo Sun] apresentaram a negativa de
impactos sobre terras indígenas não estava embasada em parecer da Funai
[Fundação Nacional do Índio]. A antropóloga presente se posicionou de uma
maneira contraditória. Naquele momento, eles não tinham condições de dizer que
não haveria impacto sobre terra indígena.”
Outro
ponto questionado pelo MPF se refere à sobreposição de impactos da atividade
mineradora com os já causados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte. Na
mesma linha, o coordenador do Instituto Socioambiental (ISA), Raul do Valle,
criticou as análises de impactos apresentadas pela Belo Sun.
“O Estudo
de Impacto Ambiental que foi aceito pela Secretaria de Meio Ambiente do estado
do Pará é absurdo, porque ele simplesmente ignora a existência da hidrelétrica
de Belo Monte, a maior hidrelétrica do país. Ou seja, é um Estudo de Impacto
Ambiental que parte do pressuposto que não haverá hidrelétrica ali, que não vai
ter nenhuma outra alteração na região, a não ser aquela que a própria mineração
vai causar. E, a partir daí, tira uma série de conclusões que, obviamente, são
conclusões equivocadas.”
Enquanto
o licenciamento ambiental da mineradora Belo Sun passa pela Secretaria de Meio
Ambiente do Pará (Sema), a obra de Belo Monte é analisada pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O MPF e o
ISA defendem que o Ibama seja o órgão que decida sobre a possibilidade e
viabilidade de mais uma obra de grande porte no local, por já conhecer os
impactos da hidrelétrica e por se tratar de obra que afeta territórios
indígenas.
Oitivas
Após a
primeira audiência pública de setembro, a próxima está marcada para outubro,
também no município de Senador José Porfírio, na comunidade da Vila da Ressaca.
Outra está prevista para Altamira, cidade por onde ocorrerá o acesso à mina e
que também deverá receber uma migração de pessoas atraídas pelo grande projeto
de extração de ouro.
Para a
procuradora Thais Santi, a audiência já realizada não serve como legitimação da
voz de todas as comunidades atingidas pela mineradora. Ela defende que devam
ser realizadas oitivas (consultas às comunidades locais) nas diversas
localidades afetadas pelo projeto.
“É uma
questão bastante complicada, porque não basta dar um novo espaço de moradia a
essas pessoas, porque elas são populações tradicionais e que viviam do garimpo.
Então, é bastante delicado afirmar – que é o que a empresa afirma – que vai
garantir o direito de posse dessas pessoas. Elas têm que ter garantidos o seu
convívio e a sua sobrevivência, da própria forma com que vinham trabalhando em
outra localidade. Se não, a gente sabe o que acontece: é um convite à miséria.”
Outros
projetos
Além de
Belo Sun, o educador popular e ativista político, Raimundo Gomes, enumera mais
programas de extração de ouro no Pará. Um deles é o Projeto Andorinhas,
pertencente à empresa Reinarda Mineração Ltda., com atuação nas cidades de
Floresta do Araguaia e Rio Maria, no sul do Pará. A extração do minério no
local é feita desde 2007 e ocorre em áreas de antigos garimpos, conhecidas como
Mamão (subterrânea) e Lagoa Seca (a céu aberto).
Há ainda
a reativação da extração de ouro por uma empresa canadense em Serra Pelada,
município de Curionópolis. Em outro local próximo dali, no chamado “garimpo da
Cotia”, também está sendo implantada uma infraestrutura para exploração de
forma industrial do ouro. Gomes avalia que esse tipo de atividade leva a riscos
ambientais e à saúde humana ainda maiores que no garimpo convencional.
“A
extração de ouro na forma industrial é muito mais perversa do que na exploração
garimpeira. Porque na exploração garimpeira se usa o mercúrio para a separação
do ouro. No caso industrial, se usa o cianeto, e nisso, há uma contaminação
muito freqüente da bacia hídrica, tanto das águas superficiais quanto das águas
subterrâneas.”
Gomes
pontua que o cianeto também é uma substância tóxica, assim como o mercúrio, que
pode levar à mortandade de peixes e, inclusive, aos consumidores desses peixes.
De
maneira geral, a produção mineral brasileira vem crescendo nos últimos anos.
Somente a extração de ouro aumentou 13% e atingiu 66 toneladas em 2011. Para
este ano, a expectativa é que chegue a 70 toneladas, segundo divulgou Instituto
Brasileiro de Mineração (Ibram). No Plano Nacional de Mineração do governo
federal está previsto um investimento no setor de US$ 350 bilhões até 2030.
De São
Paulo, da Radioagência NP, Vivian Fernandes.
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