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quinta-feira, 4 de julho de 2024
Arostóteles arte e ciencia bbb
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nicialmente, é sempre oportuno lembrar que o espectro semântico recoberto pelo termo grego téchne é muito mais abrangente do que o que a sua tradução mais usual, arte, significa para nós. Isto ocorre porque ele não se refere apenas e tão somente à habilidade ou destreza de um especialista qualificado capaz de produzir com maestria algum artefato, mas também a uma dimensão teórica e especulativa. Em outras palavras, a téchne, portanto, é para os gregos uma forma de conhecimento. Essa relação estreita entre a téchne, por um lado, e o conhecimento teórico, por outro, é o que explica e fundamenta a intercambialidade dos termos téchne (arte) e epistéme (ciência) durante todo o século V a.c. Assim, Fernando Rey Puentes é pesquisador na Faculdade de Filosofia da Universidade de Campinas, SP. HYPNOL ANO' / NO4no A TÉCI-INE EM ARisTÓrElES quando Sófocles, por exemplo, fala da habilidade de um arqueiro no manejo do seu instrumento, ele se refere à ela, às vezes como sendo uma téchne (cf. Ajax, 1121), às vezes como sendo uma epistéme (cf. Philoc., 1057). O mesmo uso sinonímico desses termos pode-se constatar em Tucídides, quando ele alude à destreza em combater, definindo-a primeiro como epistéme e, logo a seguir, como téchne (cf. Hist., 11, 87, 4). Platão, por sua vez, tampouco se preocupa em distinguir essas duas palavras, empregando-as com freqüência de modo ambíguo, de acordo com o costume de sua época. Por esta razão, no Górgias, por exemplo, ele define o magistério de Sócrates, por analogia com a téchne iatriké (arte médica), que cuida da saúde do corpo, como uma téchne politiké (arte política), que cuidaria da saúde das almas (cf. Gorg., 464 A-C). É somente com Aristóteles que encontraremos a tentativa de estabelecer uma clara distinção entre os termos téchne e epistéme, como veremos a seguir. Todavia, mesmo nele, a força da tradição era muito forte, pois ele algumas vezes parece tratá-los como sinônimos (cf. Pol., 1282 b14 ' 1288 b10 e 1331 b37 ). Além disso, apesar de estabelecer uma clara distinção entre eles, ele chega a usá-los, ao menos uma vez, em sentido contrário ao por ele adotado, falando assim de "artes matemáticas" (Met. 981 b23-24 : mathematicaí técbnai) e de "ciências poéticas" (Met. 1041 b3 : poietikaí epistemai). Mas, vejamos como ele distinguia esses termos. Os principais textos em que Aristóteles se ocupa em diferenciar a téchne da epistéme são: o primeiro capítulo do livro Alfa da Metajísica e os capítulos três e quatro do sexto livro da Ética Nicomaquéia. Logo, será a partir desses dois textos, bem como das passagens de outras de suas obras, elencadas no sempre útil e valioso Index Aristotelicus de H.Bonitz, que empreenderemos a nossa análise. O supracitado texto da Metajísica tem por objetivo explicar a sentença com a qual o Estagirita inicia o livro Alfa, a saber, a afirmação de que todo homem aspira naturalmente ao saber. Esse anelo pelo saber manifesta-se por meio das diversas faculdades psíquicas que capacitam o homem a conhecer. Essas são: a percepção, a memória e a experiência. Destas, a primeira, isto é, a percepção é coextensiva com o próprio gênero animal (cf. De ano 413 bl _ 4 ), enquanto que as outras duas, ou seja, a memória e a experiência, entendidas como o produto de sucessivas memórias acerca de uma mesma coisa, são mais características do homem, embora também ocorram em alguns outros animais. Por outro lado, a arte (téchne) e a ciência (epistéme) são atividades exclusivamente humanas. Mas, em que elas diferem das faculdades que as produzem? Basicamente elas diferem HYPNOE ANO} / N° 41}1 FERNANdo REy PUENl ES das faculdades cogrutrvas por se referirem ao universal (kathólou), enquanto que as faculdades referem-se apenas ao particular (hékastos). A arte é produzida, mais precisamente, "quando, a partir de muitos pensamentos gerados pela experiência, produz-se uma conjectura universal acerca das coisas semelhantes" (Met. 981 aS _ 7 : hótan ek pollôn tês empeirias ennoemáton mía kathólou génetai perí tôn homoíon hypôlepsis). Dito de outra forma, a arte se gera apenas quando se é capaz de enunciar um juízo universal aplicável a diversos casos semelhantes. O Estagirita procura ilustrar esta diferença entre a experiência e a arte por meio de um exemplo muito caro e freqüente em sua obra, a saber, o exemplo da arte médica.
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