sábado, 15 de fevereiro de 2025

O PONTO GEOMÉTRICO E A INTOLERÂNCIA

O PONTO GEOMÉTRICO E A INTOLERÂNCIA. Não fosse por uma questão de lógica, de que não há consequente sem antecedente, eu diria que a Criação não teria sido possível sem que Deus se tivesse inspirado na ideia do ponto - o ponto geométrico - no seu momento zero, antes do "Fiat" (faça-se). Como é sabido, o ponto não se define, mas é somente a partir do ponto que se definem as coisas. As coisas se reconhecem pelas suas formas; e, sem formas, não há coisas que se possam reconhecer pelos sentidos. Quanto às coisas ABSTRATAS, elas também têm forma, a sua representação mental. Pode imaginar-se uma maçã, mesmo que não a estejamos vendo. DEFINIR é conferir propriedade aos objetos. E é por ser desprovido de propriedades que o ponto não pode ser definido. Na geometria, o ponto faz o papel de suporte adimensional das formas geométricas. . Ou, seja, o ponto compreende figuras geométricas, mas não está compreendido nelas. Ele as “delimita”, mas não é delimitado por elas. Origem divina da forma? Por que Deus precisaria de uma representação tridimensional, própria de quem tem corpo? E, se é ele quem atribui propriedades às formas, qual seria o papel da mente: copiá-las? Nesse caso, de que céus tiramos as formas do boitatá e do lobisomem? E por que o lobisomem e o boitatá não são igualmente imaginados por povos de diferentes culturas? E observe-se que cada língua tem o seu próprio modo ( singular) de representar os objetos que enxerga através dos olhos de sua imaginação. O filósofo Platão entendeu ter resolvido o problema, apelando a um deus ex-máquina (solução artificial na trama teatral), ao criar as suas formas ETERNAS imutáveis, FIXAS, livres das contingências do tempo e do espaço. uma reprodução vicária de nossas formas terrenas, variáveis, sujeitas ao entrechoque das opiniões. Já o sábio Confúcio postava-se nas antípodas mentais de Platão, ao afirmar que “o homem não tem ideia” , como a dizer que a mente precisa desembaraçar-se de seus emplastros adventícios, para estar livre e aberta, pronta a acolher uma nova ideia, uma nova forma, com vistas a sincronizá-la com o novo contexto, ou seja, harmonizá-la com a realidade, por definição, em estado de mudança. Assim como água parada, uma ideia fixa, ao interromper o fluxo das ideias, impede a mente de se livrar do lixo, eventualmente tóxico, que nela se acumula É a essa profilaxia, com vistas à recuperação da virtualidade dos possíveis, inscritos na metáfora do ponto, que o artista recorre, para assegurar a livre inspiração no seu exercício de criar. Ao lado dos artistas, estou com Confúcio, que assim entrou para a história por ter enunciado o mais fulminante libelo contra o preconceito e a intolerância. Nivaldo Manzano,

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