domingo, 2 de março de 2025

A REALIDADE NÃO SE ENTREGA NEM DEIXA DE SE ENTREGAR

A REALIDADE NÃO SE ENTREGA NEM DEIXA DE SE ENTREGAR O OBJETIVISMO do mundo da mercadoria, o mundo do capital, reduz as interações humanas a valor de troca, desprovido, por definição, de subjetividade, ou dinheiro. Os dicionaristas, em que pese o seu mérito, insistem por profissão em definir as coisas na sua suposta objetividade; e aí fracassam, não por culpa sua, mas por causa das palavras, que se supõe sejam um espelho da realidade, como se a realidade fosse translúcida. Se não estou certo, responda-me, então: Quantos fios de cabelo são necessários desprender-se do couro cabeludo para que se possa considerar alguém como careca? Quantos acenos de indirefernça são necessários para esfriar uma paixão? Quantos atos de rebeldia são necessários para estigmatizar uma criança como rebelde? Quantos apelos da realidade são necessários para despertar alguém para a consciência de si mesmo? ASSUME-SE, e é isso o que confessam para si mesmos, envergonhados do embuste, no dicionário, os verbos, os advérbios, os substantivos, os adjetivos. Extrai-se o seu significado da MÉDIA, já que a realidade, mais ou menos virgem, não se entrega de uma vez nem deixa de se entregar. Quando a realidade se rende, enfim, às investidas abstrativas do sujeito, ela não o faz com despojamento absoluto. Ao contrário do que nos induzem as definições no dicionário, a realidade não é uma figura geométrica, e sim um saco de farinha: nunca desprende toda farinha, por mais que o agitemos. Lembra a metáfora do mistério divino a que Santo Agostinho recorre em suas CONFISSÕES, da criança na praia, que intentava com a sua canequinha encher de água um buraco na areia, no intento de esgotar o mar.// Uma palavra fora de contexto pode deixar-se seduzir e crer-se dotada de vocação universalista, assim como faz a moral do Bem e do Mal e a filosofia de Emmanuel Kant, o desbravador da ideologia liberal, que contaminou de pestilência objetivista os séculos da ciência sem sujeito, invocando, ao mesmo tempo, a subjetividade na apreensão do tempo e do espaço, com os seus chamados A PRIORI. Eis o BINARISMO do sujeito x objeto, que acredita em poder operar de modo unívoco, como uma FUNÇÃO, na sua pretensão de mover o mundo, como a alavanca de Arquimedes, sem se deixar mover. /// Esse é o mercado liberal, que supostamente regula a si mesmo, subordinando a comunidade às suas leis, diversamente do que pensaram os pais do liberalismo, Adam Smith e John Stuart Mill, para quem são as leis da sociedade que regulam o mercado. O mercado liberal, sem sujeito, lembra o aprendiz de feiticeiro, da lenda de Goethe, que deixa o mecanismo mover-se a si mesmo, provocando caos. Aprendizes de feiticeiro são na atualidade a Inteligência Artificial, o algoritmo e praticamente todos os ismos, que movem as pessoas infundindo-lhes a ilusão de que elas se movem por vontade própria. /// No dia em que as palavras contiverem o pleno significado do que pretendem significar, a INCERTEZA terá sido banida do mundo e, juntamente com ela, a dimensão humana da humanidade. A INCERTEZA é intrínseca à existência e é o móvel da melhoria contínua, na busca da EXCELÊNCIA, jamais plena, assim como ocorre aos contendores nos desportos, que no cotejo com o adversário se medem na emulação de si mesmos, com vistas a embates futuros. A busca da excelência, que tem como limite o ilimitado, é o desafio humano de sua benfazeja incompletude. Aristóteles foi quem introduziu na sua FILOSOFIA PRAGMÁTICA, como pioneiro no Ocidente a noção de excelência, em lugar da certeza absoluta, cabível, segundo ele, somente no contexto da lógica e da matemática, não, porém no contexto do comportamento, ou ação. Nivaldo Manzano (achegas de um ensaio de minha autoria, no forno)

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