Mijair, no panteão da desumanidade
Nivaldo T.Manzano
Inspirado pela figura de Jair Bolsonaro, uma das personagens mais aberrantes e abjetas da história política de todos os tempos, dei de pesquisar em busca de parentelas ideológicas que se tenham ombreado com ele na falta absoluta de sentimento de humanidade. A primeira constatação foi que dentre os mais ignóbeis já agraciados com o Prêmio Ignóbil, Mijair encontra poucos rivais: os seus admirados Augusto Pinochet; e Alfredo Stroessner, pedófilo, torturador e assassino; o presidente Duterte, nas Filipinas, que convoca civis de qualquer idade a disparar na rua contra supostos malfeitores; o torturador e sanguinário coronel Brilhante Ustra; Trump, que prende crianças em jaulas, depois de sequestrá-las dos pais…
Recuando na história, ainda no século XX, revejo como rival de Mijair a Pierre Laval (1883 – 1945), a segunda pessoa no governo colaboracionista de marechal Pétain (1856 – 1951). Ressalte-se, desde já, que à diferença de Laval, político de fôlego internacional, astuto e hábil negociador, Mijair é uma figura suburbana, primária, um explorador miúdo de rachadinhas, dotado de uma ignorância enciclopédica e de um cérebro de galinha. O que os aproxima, entre outras características comuns, é o desamor para com as crianças. o antinacionalismo e o entreguismo. Assim, por exemplo, enquanto Mijair quer ver as crianças condenadas ao trabalho infantil num mercado que ele destituiu de qualquer regulação, Laval em 1942 enviava para Auschwitz mais de SEIS MIL crianças francesas, “órfãos” de pais judeus, que as haviam precedido no mesmo destino. O governo a que servia buscava, assim, desembaraçar-se de “órfãos” inúteis e constrangedores. Essa é apenas a ponta do véu que junca de vilezas e ignomínias a ação política do segundo homem mais poderoso da França na primeira metade do século XX.
Pierre Laval imprime no inconsciente francês o recalque da Colaboração com o nazismo, que ele encarnou com prazer e obstinação. Em uma alocução radiofônica dirigida a toda a França ocupada pelo exército alemão, em 22 de junho de 1942, ele diz (voz dele): “Je souhaite la victoire de l'Allemagne..." - https://www.youtube.com/watch?v=sHAwGQoAN3A “Eu desejo a vitória da Alemanha”. Evoco nesse discurso a língua de Mijair & familícia lambendo o saco de Trump, em aberta e despudorada manifestação contrária aos interesses do Estado e do povo brasileiro, ainda mais radical -, como expressa na sua exaltação à bandeira americana e na colaboração obstinada -, do que a do militar e político Juraci Magalhães, embaixador nos EUA no governo do ditador marechal Castelo Branco. Então, Juraci Magalhães declarou: “O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. Do mesmo modo como Mijair, a sua folha de serviços prestados ao entreguismo ia além da retórica. Consta que Juraci fora informante do FBI durante o último governo Vargas (1951 – 1954), tendo como interlocutor a Adolf Berle, subsecretário-adjunto de Estado para a América Latina e agente do FBI e de serviços de inteligência USA voltados à caça de políticos de esquerda no continente latino. Mijair, de sua parte, institucionalizou a colaboração do Estado brasileiro com os serviços de inteligência USA, ao abrir os bancos de dados nacionais ao Departamento de Justiça.
Voltando a Pierre Laval:
Antes de se fixar na perseguição aos judeus e aos militantes da Resistência Francesa https://pt.wikipedia.org/wiki/Resist%C3%AAncia_Francesa , Laval exibe uma carreira orientada pelo oportunismo como estratégia para construir a sua carreira política associada à construção de sua fortuna pessoal, a partir de uma infância pobre. Começa em Paris a carreira de advogado dos pobres, lixeiros, operários e crianças exploradas. “Advogado do povo” muito popular, ganha muito dinheiro e se fixa num dos mais ricos bairros de Paris. Antes disso, ele já pusera a mão na fortuna do sogro, ao se casar com a filha de um médico socialista e político. Logo cedo, adere ao Partido Socialista, da corrente influenciada por Louis Blanc, revolucionário de 1848 (contra a monarquia) e se converte em ardoroso pacifista, na contracorrente da investida fulgurante do imperialismo francês na Indochina. Em 1921 elege-se como prefeito de Aubervilliers, contra os comunistas, fazendo-se ver como vitrine socialista ao mesmo tempo em que se entrega a seu vício solitário - uma desabrida venalidade. Elege-se mais de uma vez pela esquerda socialista e busca acercar-se sempre mais da direita. Está pronto para alçar-se à grande política. Já detentor de fortuna fabulosa, em companhia de Pétain visita a Broadway, em Nova York, em 1931, onde é aclamado pela multidão. No mesmo ano, é recebido calorosamente em Berlim por representante do partido que irá elevar Hitler ao III Reich.
Em 1935, como ministro das Relações Exteriores, frente à ameaça alemã, Laval negocia uma aliança com a Itália de Mussolini e com a URSS de Stalin. A sua bandeira ideológica é uma biruta de aeroporto, que busca o vento do lado mais favorável, sem nenhuma coerência e sem nenhum escrúpulo, o que faz dele um trapaceiro contumaz.
Algumas páginas da história à frente, já na ocupação da França pelos nazistas, Laval se revela em 1942 -1943 um ativo colaboracionista na caça aos comunistas, na entrega de judeus, na imposição do trabalho obrigatório a serviço dos alemães e na perseguição policial aos militantes da Resistência. Em 1943, ele cria a Milícia francesa. A lista de malfeitos, perseguições, achaques, golpes de mão e golpes a mão armada, como ministro “plenipontenciário” e chefe da milícia e da polícia, Pierre Laval constrói na França uma carreira que faria inveja Mijair.
Vencido Hitler, Pierre Laval é detido, condenado por alta traição e executado por um pelotão de fuzilamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário