22/4/2013, Pepe Escobar, Asia Times
Online – The Roving Eye
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Pepe Escobar |
LONDRES
– As bombas em Boston foram tiro pela culatra. Disso já não há qualquer dúvida.
O que ainda não se sabe é que nível de tiro saiu-lhes pela culatra.
Pode
ter sido operação clandestina que deu/saiu totalmente errada. Pode ter sido tiro
que saiu pela culatra de ex “combatentes da liberdade” – nesse caso chechenos
étnicos – reconvertidos em terra-rists [como Bush pronunciava a palavra terrorists (NTs)]. Pode ter sido tiro saído diretamente pela
culatra da política externa dos EUA contra muçulmanos, que só existe para
mandá-los para Guantánamo, Abu Ghraib ou Bagram, entregá-los
“extraordinariamente” (mas frequentemente) para serem torturados em solo
estrangeiro ou para assassiná-los “legalmente”.
O
FBI, como se poderia facilmente prever que
faria, não admite nenhuma dessas opções. Mantém-se agarrado a um roteiro
enroladíssimo, digno desse pessoal mais completamente movido à cocaína. Noites
hollywodianas dos anos 1980s: uma
dupla de bandidos que “odeiam nossas liberdades”, porque... odeiam.
Como já
escrevi, numa espécie de preâmbulo ao que aqui se lê, há buracos de dimensões
intergalácticas na história dos
irmãos Tsarnaev.
Já se sabe – pela mãe dos dois rapazes
(vídeo,
em inglês, no final do parágrafo) –
que o FBI (Federal Bureau of
Investigation) seguia o irmão mais velho, Tamerlan, há, no mínimo, cinco
anos. Em entrevista posterior a Piers Morgan da CNN, a mãe falou, sim,
claramente, sobre “orientações” que o filho recebera.
Simultaneamente,
o FBI foi obrigado a admitir que, no início de
2011 aceitou o pedido de “um governo estrangeiro” (expressão-código para
“Rússia”) para não perder de vista o mais velho dos irmãos, Tamerlan.
Aparentemente foi o que fizeram – e nada encontraram que sugerisse atividade
terrorista.
Assim
sendo, o que aconteceu depois? Alguém no FBI,
dos que têm QI superior a 50, devem ter percebido que, por causa do pedido dos
russos, o FBI “descobrira” um precioso “operativo” checheno-americano. E
Tamerlan tornou-se informante do FBI. Podia ser tocado como se toca rabeca, para
produzir qualquer som – como tantos outros tolos antes dele.
Portanto,
se não o afinaram corretamente, pode-se acusar o FBI, com todo o direito, de
incompetência devastadora (e não seria a primeira vez). Porque o FBI está dizendo agora que jamais
suspeitou de que seu “operativo” estivesse construindo alguma bomba, que
desejasse testá-la ou que andasse de bomba da mochila pelas calçadas da Maratona
de Boston.
O
que o FBI jamais, em tempo algum, dirá é quando
monitoraram/ controlaram/ chantagearam Tamerlan pela última vez. Não esqueçamos:
trata-se do mesmo FBI que nos ofereceu aquele “plano” tipo “Velozes e Furiosos”,
mancomunado com um cartel mexicano para assassinar
um embaixador saudita –
plano que foi desmascarado e exposto apenas em alguns dias.
Tamerlan,
é claro, pode ter dado uma de FBI p’ra cima do FBI (embora, talvez, nem tanto)
e, depois de anos de monitoramento/ controle/ chantagem, passou a trabalhar como
agente duplo. Ao que se sabe, trocou os EUA pela Rússia por longo período – de
janeiro a julho de 2012. Ninguém sabe o que fez nesse período; o FBI adoraria
provar que participou de treinamento terrorista tático. Mas, se era de fato
“operativo” tão interessante, bem pode ter sido mandado infiltrar-se nos grupos
de
jihadis chechenos comandados por Doku Umarov no vizinho
Daguestão.
Sibel Edmonds |
Quanto
às relações complexas, cheias de nuances, como são todas as relações muito
íntimas, desde os anos 1990s, entre Washington e
os terra-rists chechenos – absoluto tabu na imprensa-empresa dos EUA
– ninguém precisa ler mais que o interessantíssimo e surpreendente Sibel Edmonds [19/4/2013, “USA:
The Creator & Sustainer of Chechen Terrorism” (EUA: Criador e
mantenedor do terrorismo checheno)].
Sobre o
tal exercício
O
FBI tem poder suficiente para impor aos EUA e ao
planeta qualquer roteiro fantasioso sobre “dois jovens chechenos do mal”.
Consideremos então um cenário alternativo crível, para ver a que nos leva.
Em
vez de dois sujeitos (estrangeiros) do mal, totalmente americanizados, que
repentinamente são inoculados pelo vírus do ódio “contra nossas liberdades”
mediante doutrinação jihadista feita principalmente online,
vejamos quem realmente se beneficia com o que aconteceu em Boston.
O
Boston Globe foi forçado a “fazer desaparecer” a informação sobre
um exercício de contraterrorismo – que incluiria cães que farejam bombas – e que
aconteceria durante a maratona. O FBI bem pode ter dito ao seu “operativo”
Tamerlan que ele participaria do exercício. Tamerlan podia ser sujeito durão,
mas seria facilmente chantageado, se sua família fosse ameaçada no caso de ele
não cooperar.
Então,
entregaram a Tamerlan uma mochila preta com uma
falsa bomba de panela-de-pressão e disseram-lhe que a pusesse num local
determinado – como um dos procedimentos incluídos no exercício. Nesse ponto,
todo o (nosso) cuidado é pouco: não há nenhuma prova conclusiva que autorize a
confirmar que se tratasse de simples exercício. Não há como saber se a bomba era
falsa ou se estava armada para explodir ou ser explodida.
Digamos
que Tamerlan, homem durão, e seu irmão, o impressionável Dzhokhar, tenham sido realmente responsáveis
(sem o FBI no quadro). Depois de tanto
planejamento, com certeza haveria rota de fuga planejada – transporte,
passaportes, dinheiro, bilhetes de avião. E nada disso havia. Dzhokhar foi à
escola, treinou na academia, enviou mensagens por Twitter.
Não
há absolutamente nenhuma testemunha que diga ter visto os irmãos depositarem as
bombas. Eles puseram as bombas onde as puseram, porque essa foi a instrução que
receberam do FBI. E dali em diante, já ninguém
entende mais nada. Roubaram um Mercedes num posto de gasolina e deixaram partir
o motorista – depois de dizerem a ele que eram responsáveis pelas bombas da
Maratona. Dzhokhar e a Mercedes conseguem sair vivos de tiroteio cerrado,
furando uma muralha de policiais – mas, no percurso, o Mercedes passa por cima
do corpo de Tamerlan enrolado em explosivos. Dzhokhar deixa uma trilha de
sangue. Mas nenhum cachorro seguiu a trilha.
E
há o saborosíssimo exercício em cidade sob lei marcial: toda a cidade foi
esvaziada e paralisada – o prejuízo gerado por essa operação é incalculável –
por causa de um adolescente em fuga pela cidade. Atenção, EUA! A coisa está só
começando!
O
que é certo é que os irmãos Tsarnaev
absolutamente não eram militantes jihadis; só
os viciados nos veículos de esgoto de Murdoch algum dia engolirão a ideia de que
fossem.
Basta
passar os olhos por uma página de
jihadistas autênticos, como o Kavkaz Center, muito
bem estabelecidos e plenamente representativos do que se conhece como o Emirado
Islâmico do Cáucaso, de insurgentes. Ali se fazem boas perguntas. E o Centro
Caucasiano desmonta completamente a versão de que os irmãos seriam jihadistas
empedernidos.
A
[empresa] Craft, que tudo sabe
Poucas
empresas paramilitares e respectivas griffes no ocidente industrializado
são mais sinistras que The
Craft. Craft foi responsável pelo exercício de guerra. O símbolo é
uma caveira, parecida, até, com O
Justiceiro, personagem Marvel. O motto chega
a ser tímido, ante o que a empresa faz: “Não importa o que sua mãe diga: a
violência resolve”. A imprensa-empresa nos EUA fez simplesmente sumir qualquer
vestígio da multidão de empregados-agentes da Craft que estavam em todos os
pontos, muitos deles, no local da Maratona. Pode-se falar em um blecaute, pelas
empresas-imprensa.
Mas
a imprensa independente não se intimidou.
Encontram-se fotos, em Natural
News, um
achado, um perfeito tesouro de fotos e mais fotos que mostram empregados da
Craft no local da Maratona, em uniforme completo de combate, mochilas pretas,
equipamento tático, portando até detector de radiação. As fotos, portanto,
existem. E como reagiu o FBI? Impôs total blecaute. Censura total de imagens,
coisa do tipo “nenhuma outra imagem será confirmada” – só imagens que mostrem os
irmãos Tsarnaev. A empresa Craft é intocável.
O
problema é que tudo que tenha a ver com a empresa Craft nesse cenário é problema.
(1)
A invisibilidade da Craft – toda a imprensa-empresa obedecendo como ovelhinhas
ao que o FBI ordenou e apagando do noticiário todos os fatos.
(2)
A qualidade da expertise “de segurança” – um exército de mercenários ao qual se
paga uma fortuna... e os tais hiper treinados “especialistas” armados com o mais
pesado armamento
high-tech do planeta não conseguem capturar uma dupla de
amadores?! E
(3)
a sinistra possibilidade de tudo tenha sido operação clandestina executada pela
empresa Craft.
Se
nos mantivermos fieis à realidade, deixando de lado as histórias em quadrinhos by Marvel, todas as evidências apontam para alguma coisa bem
semelhante ao modus
operandi da galáxia soturna de
franquias da al-Qaeda. Consideradas as provas recolhidas da história e do
comportamento dos irmãos – nenhuma atividade passada, nem militar, nem de
sabotagem – elas também sugerem que não teriam experiência suficiente para
planejar e executar tudo aquilo, sozinhos. Mas pode-se entender sem dificuldade
uma operação copiada da al-Qaeda e atribuída a dois rapazes que não teriam como
defender-se – algo que, pelo menos em teoria, a empresa Craft poderia facilmente
planejar.
Por
tudo isso, eis a que nos leva um cenário perfeitamente realista: falsa operação
construída por FBI/Craft, a qual:
(1)
pode ter dado terrivelmente errado, motivo pelo qual os autores tiveram de
encontrar dois bodes expiatórios, no prazo de algumas horas; ou
(2)
a sinistra possibilidade de que tudo tenha sido planejado como joguinho de
gato-e-rato para produzir exatamente o resultado que produziu – e levar à
militarização, agora já quase total, de toda a vida civil nos EUA.
Vale
o escrito (em sangue).
Estão sumindo os últimos vestígios de Estado de Direito nos EUA
– agora que um painel bipartidário de especialistas já descobriu que todos os
funcionários em postos de comando do governo George W. Bush estiveram, sem dúvida possível,
implicados em torturas; e que a tortura foi prática sistemática, mesmo que
jamais tenha conseguido impedir qualquer ato terrorista.
Washington
está a um passo de ver-se incluída na lista cintilante de estados como o Egito
na era Mubarak, Bahrain e Uganda. Como o coronelão-senador Lindsay Graham já
declarou, “a pátria é o campo de batalha”. E você, leitor, é “combatente
inimigo”. Se decidirmos que é.
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