quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ilegalidade é a nova normalidade

por Paul Craig Roberts [*]
Cartoon de Vicman. Em vários artigos e no meu último livro, The Failure of Laissez Faire Capitalism And Economic Dissolution Of The West , tenho destacado que a crise de dívida soberana europeia está a ser utilizada para acabar com a soberania dos países que são membros da UE.

Não há dúvida de que isto é verdadeiro, mas a soberania dos estados membros da UE é apenas nominal. Embora os países individuais ainda retenham alguma soberania em relação ao governo da UE, eles estão todos sob o polegar de Washington, como se demonstrou com a recente acção ilegal e hostil imposta pelas ordens de Washington à França, Itália, Espanha, Portugal e Áustria contra o avião que transportava o Presidente da Bolívia, Evo Morales.

Retornando à Bolívia desde Moscovo, ao avião de Morales foi negada autorização de sobrevoo e reabastecimento pelos fantoches franceses, italianos, espanhóis e portugueses de Washington. Foi obrigado a aterrar na Áustria, onde o avião foi vasculhado em busca de Edward Snowden. Era um jogo de poder por parte de Washington sequestrar Snowden do avião presidencial da Bolívia em desafio ao direito internacional e ensinar a reformadores surgidos do nada, como Morales, que não é permitida independência às ordens de Washington.

Os estados fantoches europeus cooperaram com esta extraordinária violação da diplomacia e do direito internacional apesar do facto de cada um dos países estar raivoso por Washington espionar seus governos, diplomatas e cidadãos. Os seus agradecimentos a Snowden, cujas revelações os fizeram conscientes de que Washington estava a registar todas as suas comunicações, foi ajudar Washington a capturar Snowden.

Isto nos conta quanta moralidade, honra e integridade resta na civilização ocidental: Zero.

Snowden informou os países do mundo que as suas comunicações não tinham independência ou privacidade em relação aos olhos e ouvidos de Washington. A arrogância de Washington é chocante. Contudo, nenhum país está disposto a erguer-se diante de Washington e dar asilo a Snowden. Correa do Equador foi intimidado e esbofeteado por Washington, retirando sua oferta a Snowden. Para a China e Rússia, alvos favoritos de Washington por infracção de direitos humanos, dar asilo a Snowden teria sido um trunfo de propaganda, mas nenhum dos dois países quis as confrontações que as represálias de Washington teriam provocado.

Em suma, os governos dos países da Terra querem mais o dinheiro e as boas graças de Washington do que desejam a verdade e a integridade, ou mesmo sua independência.

As sórdidas intervenções de Washington contra Snowden e Morales dão ao mundo mais uma oportunidade para responsabilizar Washington diante da sua arrogância que o força a uma escolha entre aceitar a sua hegemonia e a III Guerra Mundial. Os países, divididos entre si e ávidos de dinheiro e favores, estão, ao invés, permitindo a Washington estabelecer que tudo aquilo que faz e legítimo. A ilegalidade de Washington está a ser estabelecida como o novo normal.

É improvável que governos sul-americanos se mantenham unidos contra a afronta de Washington. Alguns dos países são liderados por reformadores que representam o povo ao invés das elites ricas aliadas a Washington, mas a maior parte prefere relações calmas com Washington e as elites internas. [Alguns] sul-americanos assumem que Washington terá êxito em derrubar os reformadores, tal como no passado.

Na Europa, as manchetes dizem que "a vigilância da NSA ameaça o acordo de livre comércio da UE" e que "Merkel pede explicações". Os protestos são a necessária dissimulação pública dos fantoches e serão encarados como tais por Washington. O governo francês diz que as conversações comerciais deveriam ser suspensas temporariamente "durante um par de semanas para evitar qualquer controvérsia". Contudo, o governo alemão diz: "Queremos este acordo de livre comércio e queremos começar conversações já". Por outras palavras, o que Merkel descreve como "comportamento inaceitável estilo Guerra-Fria" é aceitável desde que a Alemanha obtenha o acordo de livre comércio.

A cobiça pelo dinheiro de Washington cega a Europa para as consequências reais do acordo de livre comércio. O que fará este acordo é dobrar as economias europeias à hegemonia económica de Washington. O acordo está concebido de modo a afastar a Europa para longo do comércio com a Rússia, assim como o Partenariado Trans-Pacífico está concebido para afastar países asiáticos da China e dobrá-los dentro de relacionamento estruturados pelos EUA. Estes acordos têm pouco a ver com livre comércio e tudo a ver com a hegemonia estado-unidense.

Estes acordos de "livre comércio" comprometerão os "parceiros" europeus e asiáticos no apoio ao dólar. Na verdade, é possível que o dólar venha a suplantar o Euro e divisas asiáticas e se torne a unidade monetária dos "parceiros". Deste modo Washington pode institucionalizar o dólar e protegê-lo das consequências da máquina de impressão, a qual esta a ser utilizada para promover a solvência dos bancos demasiado grandes para falirem e para financiar infindáveis défices do orçamento federal.
05/Julho/2013
Ver também:
The Servility of the Satellites, Diana Johnstone

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/lawlessness-is-the-new-normal/5341740

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