sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

EXERCICIO DE FENOMENOLOGIA Em suas diversas aplicações, como método, prática intelectual, ou como filosofia existencial, consiste em se dar conta pela consciência como me sinto como sujeito frente a mim mesmo como refletido como um objeto, como sujeito frente aos objetos e como o sujeito frente ao mundo.Como escopo, a fenomenologia mereceria um interesse mais frequente do que aparece. Como ponto de partida dessas piruetas mentais, prefico o ponto - o ponto geométrico -, uma figura riquiíssima em sugestões metafóricas.
PORQUE O ARGUMENTO RACIONAL, OBJETIVO, DO ÊXITO NA ECONOMIA, ISOLADAMENTE, NÃO CONVENCE. Como é pelo uso da palavra que se exerce o direito legítimo de influenciar, a arma utilizada na POLÍTICA é o argumento. Mas o argumento de caráter exclusivamente racional é insuficiente, porque o que se pretende é conquistar a adesão da audiência, seduzi-la — e a audiência não decide somente apoiada na razão ou somente apoiada na emoção. A sua resposta, como ação humana, é constituída ao mesmo tempo de razão, sentimento, emoção, intuição, paixão, ética e estética. Uma decisão, ou um ato, por mais concretos que sejam, carregam necessariamente consigo como interface a sua responsabilidade moral, uma aposta sobre o futuro, que se desconhece, e nessa medida são fruto de conjetura, de apelo, de encenação, de esperança, de promessa, de subjetividade. Por isso, qualquer apelo feito à razão ou em nome dela, unicamente, é um engodo: visa tão somente camuflar o desejo de mandar nos outros, submetendo-os a seus desígnios, jamais legítimos. O poder hierárquico é uma doença, e não se conhece melhor antídoto do que a reciprocidade, ou o poder de destituição que caracteriza o diálogo na rede social. É disso que nos adverte o mito da cosmogonia chinesa, ao sugerir que corrijamos o relato bíblico da Criação. A ideia de Deus como único autor da Criação seria uma construção ideológica que serve ao propósito de legitimar o poder hierárquico na sociedade. É indissociável e constitutivo da constelação semântica de que também fazem parte a visão escatológica, as doutrinas salvacionistas e messiânicas, o progresso automático, as ontologias, o paraíso, a moral do Bem e do Mal, a certeza ABSOLUTA da ciência de Newton e de Kant, a linguagem binária da cibernética e os ismos em geral. Uma tal justificação é por demais ingênua e rudimentar como estratégia para esconder o que só faz revelar. Seria preferível acreditar, como o faz o mito da cosmogonia chinesa, em que a Criação, que não teve começo, é fruto do embate entre forças opostas e solidárias de igual magnitude. Os sopros celestes e os sopros terrestres, ao se chocarem, provocam turbilhões, que geram um novo estado de mudança, este que somos e no qual nos encontramos. A ideia funcionalista de um Deus-sujeito que teria criado o mundo-objeto sozinho condena-o à solidão, à monotonia, ao monólogo, à reafirmação recorrente do status quo, à mesmice de uma eternidade sem surpresas. Por isso, pareceu pertinente a Machado de Assis, em seu apólogo "Opereta a quatro mãos", pensar em um Deus provido de atributos divinos por excelência: a comunicação, o diálogo. Daí a sua ideia lúdica da Criação como obra em construção recorrente, uma parceria solidária, ao mesmo tempo que conflitiva, entre Deus e o Diabo. Deus põe e o Diabo dispõe, conflitantes e solidários na decisão de prosseguir no jogo. Nada estranho, pois é isso o que ocorre nos desportos: Dois times de futebol disputam a partida com vistas à vitória sobre um adversário que não se identifica como um inimigo a eliminar, para que o torneio possa prosseguir. Assim, o jogo algébrico entre Deus e o Diabo consiste em remover as regras que eles próprios estabelecem, para dar-lhe outras. Um jogo de criação de regras de criação de novas regras de jogo. É o que os entretém eternidade a dentro. Ou, para dizer de outra maneira: A realidade que se exibe ao nosso olhar à espera de reconhecimento tem a feição do outro, o outro da interação entre mim e outrem (Levinas, E., 1988). Assim assumida, a realidade apresenta-se aqui também, no contexto da Política, como indomesticável na sua incompletude: não se deixa fixar definitivamente na imagem que se pretende fazer dela; não se rende à RACIONALIDADE SOBERANA do Iluminismo de DIREITA (liberalismo), de feição LÓGICO-MATEMÁTICA, única, necessária, irrecorrível, definitiva. É a nossa sorte, pois assim temos asseguradas a criatividade, a renovação do prazer e a ventura de sonhar. Nivaldo Manzano (achegas de um livro a publicar de minha autoria).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

UM TIPO COMO DONALD TRUMP ERA TÃO PREVISÍVEL NA POLÍTICA ASSIM COMO FRANKENSTEIN NA LITERATURA DE FICÇÃO UM TIPO COMO DONALD TRUMP ERA TÃO PREVISÍVEL NA POLÍTICA ASSIM COMO FRANKENSTEIN NA LITERATURA DE FICÇÃO Realidade e ficção, ambos Trump e Frankenstein são a mais pura extração cultural do EUROCENTRISMO, uma flexão semântica negativa do Iluminismo, ou IDEOLOGIA DA RAZÃO SOBERANA (Kant). Como é sabido, para nós, ocidentais, enunciamos como faculdades, ou valores humanos, a intuição, a ética, os sentimentos, a razão e a estética. Podem existir outros valores axiológicos, mas é o que nos tem bastado desde a cultura da Grécia Clássica para lidarmos com os afazeres da espécie. Para a sabedoria grega, os valores estão contidos na PALAVRA, ou LOGOS, que tinha a força hierática de um oráculo na mitologia. A PALAVRA caracteriza a expressão humana, no seu cotejo com os animais, e ela contém, AO MESMO TEMPO, todos os valores. Para um grego, o ato de falar com responsabilidade compunha a sua existência com a harmonia do Cosmos, assim como os ritos religiosos-festivos da primavera faziam chover. Por falta de sinônimo, o termo LOGOS foi traduzido em latim como RATIO, por Cícero em sua obra de direito distributivo "De legibus", como cálculo, proporção, medida. E assim a RAZÃO adentrou a cultura ocidental, primeiro como luz natural em contraste com a luz divina da Revelação, na Idade Média; a seguir como idioma da ciência. Galileu viu na sua matemática o idioma da natureza, de caráter divino, e Newton viu na sua física as leis da Criação. /// Palavra como sinônimo de razão é um REDUCIONISMO que sujeita as demais faculdades humanas - a saber, intuição, estética, ética, sentimentos e intuição - à soberania da razão, em contraste com a sabedoria grega, que as NÃO HIERARQUIZA, da qual seríamos supostamente herdeiros, como fundamento da cultura OCIDENTAL, o "nec plus ultra" do modo de pensar alheio às superstições medievais, ou o "despertar do sonho dogmático", na expressão basilar da filosofia kantiana, um sonho que teria durado cerca de 30 mil séculos, ou trezentos mil anos, a contar da ocorrência do homo sapiens. /// Esse reducionismo é considerado como responsável por todas as desgraças por que passa a Cultura no Ocidente, por sujeitar-se a uma ordem que dela excluiria os sentimentos, a ética, a estética e a intuição, valores considerados como estranhos ao fazer científico. Uma ideologia que não medrou em cultura ou civilização em parte alguma no mundo, desde quando Noé aportou a sua arca em algum remanso de mar./// Poucas décadas depois da morte de Kant, conhecido como desbravador do LIBERALISMO filosófico e político, assim como o foi Adam Smith na economia, a inglesa Mary Shelley colheu na razão kantiana, feita tão somente de lógica e matemática, disciplinas metaforicamente de rigor mecânico nos seus antecedentes e consequentes, a inspiração de seu Frankenstein, a obra de ficção mais lida ao longo do século XIX adentrando o século XX. /// A propósito da soberania da razão, em Kant, Machado de Assis, que filosofava nas entrelinhas de sua ficção, escreveu num de seus adágios: "Não há mal que não se possa defender racionalmente: A razão, como o burro atrelado aos varais, puxa todo tipo de carga que se lhe ponha em cima. Com a mesma eficiência e pelo caminho mais curto, ela nos leva tanto para o céu quanto para o inferno. Quem decide não é ela, e sim o carroceiro". Isso é dizer que Machado de Assis colocou a razão no lugar em que deve estar, ao lado dos demais valores axiológicos, não acima, nem abaixo deles, no papel de INSTRUMENTO de operações ABSTRATAS (generalistas, universais), inadequada para lidar, com exclusividade, com a ação, ou comportamento humano, de caráter SINGULAR, CONTEXTUAL. Assim, sugiro a você que confie em Machado de Assis e se tranquilize, pois não é a razão excludente do DINHEIRO de Trump e o seu entorno de bilionários que detêm a última palavra. Nivaldo Manzano

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

PAU-BRASIL

O PAU-BRASIL CAI BEM COMO METÁFORA SIMBÓLICA DO QUE SIGNIFICOU O BRASIL PARA OS SEUS EXPLORADORES DE ENTÃO E DE HOJE Sob monopólio estatal (Coroa Portuguesa), ou privado (concessão de exploração como privilégio dos amigos e amigos dos amigos do rei), a NENHUM BRASILEIRO comum foi autorizado a explorar/negociar o pau-brasil. Ao titular da concessão cabia a condução da árvore e o seu corte, mediante baixa remuneração pela Coroa, que não compensava o imposto, duas ou três vezes o valor pago pelo serviço. Daí o ÓDIO de quem tinha por obrigação manter a espécie no âmbito de seu domínio. Campeava o contrabando, e o seu porto mais conhecido de desembarque da muamba na Europa era na Normandia, França, e não em Portugal, por motivo óbvio. A Companhia de Jesus também conquistou a sua "boquinha" nessa empreitada. Sob pretexto de evitar a exploração clandestina, proteger os indígenas contra os maus tratos submetidos ao seu manejo e assegurar a sua exploração sustentável, ela obteve também o monopólio do CORTE da madeira na Capitania do Espírito Santo, mas extensível a todo o território. O entusiasmo dos religiosos pelo negócio era tal, que foram advertidos por um visitante papal, de que a sua missão não era vender pau-brasil, exceto aos autorizados pelo rei, uma maneira diplomática de dizer que não deveriam manter negócios com os contrabandistas. Durante o longo perído em que durou o monopólio real-privado (modalidade pioneira equivalente às parcerias público-privadas da atualidade, incentivadas e financiadas pelo governo, via BNDES), a sanha na erradicação do pau-brasil inflamou o ânimo de muitas pessoas de influência que se opunham a ela - e de nenhuma de que dela desfrutavam, sob a cobertura e proteção da autoridade delegada pela Coroa. Assim é que, à diferença de outras espécies arbóreas da flora brasileira, o pau-brasil nunca foi incorporado à CULTURA nacional. Cada espécime de pau-brasil era visto como um corpo estranho na área de posse dos fazendeiros, tanto mais que o Estado autorizava os concessionários do privilégio a entrar e sair, sem lhes dar satisfação. E para arrematar, quando do acordo do Tratado de Comércio, entre Brasil e Grã-Bretanha, os ingleses passaram a controlar as Alfândegas, assegurando, assim, o livre embarque da madeira, desde que cobrado o imposto, em nome da Coroa e com ela repartido. /// A decantada INTEGRAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA À ECONOMIA INTERNACIONAL SEGUE MODELO EQUIVALENTE quanto à partilha de seus resultados, com a diferença à pior de que não incide imposto algum sobre os exportadores (lei Kandir etc.). Nivaldo Manzano

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

"POR UM LADO, POR OUTRO LADO": QUANTOS LADOS TEM A REALIDADE?

"POR UM LADO, POR OUTRO LADO": QUANTOS LADOS TEM A REALIDADE? A realidade tem tantos lados quantos sejamos capazes de reconhecer nela. Daí o equívoco ao se dizer que a ciência DESCOBRE. A ciência RECONHECE o que já estava lá ao alcance dos olhos, e o que estava lá passou a ser reconhecido PORQUE fomos NÓS que mudamos de CONTEXTO no qual a reconhecíamos anteriormente. Assim, por exemplo, o tomate, de um legume servido à MESA, passa a ser encontrado também na FARMÁCIA, na forma de LICOPENO, um componente da nutrição equilibrada. Dito de outra forma, a realidade para quem a enxerga é sempre CONTEXTUAL, pois quem tem a visão do TODO seria somente Deus, que não está sujeito à mudança das coordenadas do tempo e do lugar (contexto). O objeto tomate é, pois, um suporte de papeis que pode vir a desempenhar, assim como o sujeito da gramática pode assumir uma infinidade de predicados, em consonância com a mudança do contexto semântico em que ocorre. Assumo, então, como metáfora para representar a realidade o PONTO GEOMÉTRICO, que é feito de infinitos pontos, dispostos à distância de um mesmo raio em relação ao seu centro, ao formar uma círculo. Não há HIERARQUIA entre os pontos: são todos equivalentes, no papel que desempenham na conformação do círculo. Cada ponto contém em si todos os pontos, ou seja, o ponto é o ponto de todos os pontos, Na geometria, o ponto é o suporte de todas as formas geométricas, sem ser, ele mesmo, uma delas. "O ser humano é o suporte de todas as relações sociais", escreve Marx em seu "O CAPITAL" (livro I).É dizer que não há o ser humano, em geral. Há "el hombre y su circunstancia", como dizia o filósofo espanhol Ortega y Gasset. Não faz sentido, pois, PRIVILEGIAR um único ponto como FUNDAMENTO da realidade (com que autoridade?),como ocorre com a RAZÃO, em Kant; a INTUIÇÃO, em Goethe; a MATÉRIA, em Julien de La Mettrie; a TERMODINÂMICA, em Leslie White (antropólogo); o energetismo, em Ostwald (químico); os IMPULSOS, em Freud, e assim por diante. A realidade é tudo isso, ao mesmo tempo, de acordo com a mudança contextual de visão que se pode ter dela. Segmentar a realidade em escaninhos conceituais, no lugar do todo da realidade, é o que faz o pesquisador com o seu MODELO, um construto abstrato em que se apoia a investigação. A mitologia grega cuidou de alertar para o risco de se assumir o modelo como representação da realidade no episódio conhecido como "leito de Procusto". Trata-se do bandido Procusto, que cortava ou espichava as pernas de suas vítimas, de modo a fazê-las encaixar-se no comprimento de seu leito. Com o é sabido, o pesquisador assume como ponto de partida de seu trabalho o CONCEITO, uma abstração que ele constrói para representar o SEGMENTO da realidade objeto de sua investigação. O CONCEITO define-se pelas propriedades que o caracterizam, diferenciando-o de outro conceito. O TODO da realidade não cabe num conceito. Operado pela lógica e matemática, o conceito é incumbido abusivamente de representar o todo da REALIDADE, conferindo-lhe foro de OBJETIVIDADE. Ocorre que não é possível ao investigador livrar-se do CONTEXTO. A sua visão é necessariamenmte contextual. Assim, por exemplo, no contexto da fisiologia do século XIX o sangue se caracterizava pelo seu PESO, até surgir a QUÍMICA, que veio a enriquecer a visão da realidade, ao lado da FÍSICA: mudou-se o modelo. Longe de se deixar levar pelo CETICISMO, a visão contextual, ao contrário, enriquece a realidade ao permitir que se reconheçam nela infinitas janelas através das quais ela pode ser enxergada. A referência comum é a existência (humana) origem e sede dos valores axiológicos. É nessa medida que a atividade da ciência equivale à do poeta. /// Observação: A diversidade de janelas abertas para o acesso à realidade NÃO CONFLITA com o princípio de identidade e de não contradição, reservado por Aristóteles tão somente ao manejo de operações abstratas, sob a égide da lógica e da matemática. O princípio não se aplica à ação humana, ou comportamento (in Filosofia Pragmática) Nivaldo Manzano

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O PONTO GEOMÉTRICO E A INTOLERÂNCIA

O PONTO GEOMÉTRICO E A INTOLERÂNCIA. Não fosse por uma questão de lógica, de que não há consequente sem antecedente, eu diria que a Criação não teria sido possível sem que Deus se tivesse inspirado na ideia do ponto - o ponto geométrico - no seu momento zero, antes do "Fiat" (faça-se). Como é sabido, o ponto não se define, mas é somente a partir do ponto que se definem as coisas. As coisas se reconhecem pelas suas formas; e, sem formas, não há coisas que se possam reconhecer pelos sentidos. Quanto às coisas ABSTRATAS, elas também têm forma, a sua representação mental. Pode imaginar-se uma maçã, mesmo que não a estejamos vendo. DEFINIR é conferir propriedade aos objetos. E é por ser desprovido de propriedades que o ponto não pode ser definido. Na geometria, o ponto faz o papel de suporte adimensional das formas geométricas. . Ou, seja, o ponto compreende figuras geométricas, mas não está compreendido nelas. Ele as “delimita”, mas não é delimitado por elas. Origem divina da forma? Por que Deus precisaria de uma representação tridimensional, própria de quem tem corpo? E, se é ele quem atribui propriedades às formas, qual seria o papel da mente: copiá-las? Nesse caso, de que céus tiramos as formas do boitatá e do lobisomem? E por que o lobisomem e o boitatá não são igualmente imaginados por povos de diferentes culturas? E observe-se que cada língua tem o seu próprio modo ( singular) de representar os objetos que enxerga através dos olhos de sua imaginação. O filósofo Platão entendeu ter resolvido o problema, apelando a um deus ex-máquina (solução artificial na trama teatral), ao criar as suas formas ETERNAS imutáveis, FIXAS, livres das contingências do tempo e do espaço. uma reprodução vicária de nossas formas terrenas, variáveis, sujeitas ao entrechoque das opiniões. Já o sábio Confúcio postava-se nas antípodas mentais de Platão, ao afirmar que “o homem não tem ideia” , como a dizer que a mente precisa desembaraçar-se de seus emplastros adventícios, para estar livre e aberta, pronta a acolher uma nova ideia, uma nova forma, com vistas a sincronizá-la com o novo contexto, ou seja, harmonizá-la com a realidade, por definição, em estado de mudança. Assim como água parada, uma ideia fixa, ao interromper o fluxo das ideias, impede a mente de se livrar do lixo, eventualmente tóxico, que nela se acumula É a essa profilaxia, com vistas à recuperação da virtualidade dos possíveis, inscritos na metáfora do ponto, que o artista recorre, para assegurar a livre inspiração no seu exercício de criar. Ao lado dos artistas, estou com Confúcio, que assim entrou para a história por ter enunciado o mais fulminante libelo contra o preconceito e a intolerância. Nivaldo Manzano,

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Bataille pressão da vida cronica

O QUE FOI PARA MIM SENTIR A FLORESTA AMAZÔNICA Por incumbência profissional sobrevoei muitas horas a Floresta Amazônica, tendo pousado em clareiras cercadas de mata fechada. São muitas as impressões que se registra da experiência. Atenho-me a uma. Se coubesse mais uma colônia de formigas no gigantesco ecossistema amazônico, lá estaria ela. "A vida aspira de todos os modos possíveis ao impossível crescimento, estendendo-se para além de si mesma. Pode ser descrita como pressão de intensidade máxima sobre o tempo e o espaço. Remova-se uma pedra centenária da soleira da porta de casa, e as sementes que sob ela dormitavam irão germinar, tantas quantas conseguirem ter acesso a um raio de sol. A vida é um derramamento gratuito e perdulário, que preenche tudo, das fossas oceânicas ao alto das rochas, sobre cuja superfície o musgo avança para mais longe ao alcançar as gotículas de vapor d’água que o vento colhe nas ondas do mar", escreve em seu clássico A parte maldita" o filósofo francês Georges Bataille. E acrescenta: "O milagre não está na proeza caricata do homo faber, que crê estar preenchendo a sua carência com a extração da mais-valia ou com o suor do trabalho. O verdadeiro milagre está na variação temática da cultura humana, testemunha de um excesso de existência" Essa foi uma experiência que me ensinou o Gatozé. Vi-o atestar a sua capacidade de tematizar o mundo, ao se instalar sobre a caixa de metal do modem da TV a cabo, para se aquecer: fez do aquecimento elétrico o que pode ser também o calor das brasas, multiplicando por dois a extensão de mundo de seu borralho. "O milagre está na autorregulação metafórica da vida e da existência — uma caldeira que, operando sob pressão máxima, não explode" (Bataille). A arte disso participa, ao se fazer exercício de criação de novas visões de mundo, tantas quantas possíveis. Há mais sonhos sonhados e a sonhar do que possibilidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas. Bataille me fez sentir o alcance existencial da ESCASSEZ artificial, que embebe a todos, como uma esponja, no mundo da mercadoria, como nos adverte Marx, em seus escritos. Nivaldo Manzano

TRUMP E A "CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS"

TRUMP E A "CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS" A"CARTA DOS DIREITOS DOS ESTADOS UNIDOS"nada diz a respeito dos direitos HUMANOS. Não vai além de definir os liimites sobre o que o governo pode e não pode fazer no que diz respeito às liberdades pessoais. Nela não se inclui a lberdade pessoal do negro nem do índio, nem do amarelo, (por extensão, nem do latino).Isso tanto passou em branco que os pais da CARTA, chamados "foundig fathers", entre os quais Washington e Jefferson, eram senhores de escravos. Washington teve sete filhos em sua mancebia com a amante negra. O francês Alexis Tocqueville, de origem nobre, autor do clássico "Democracia na América", esquece-se de incluir a liberdade pessoal do negro, ele que conheceu in loco a sua condição de trabalhador escravo. /// A "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", da Revoução Francesa, não inclui a liberdade pessoal do "homem e do "cidadão" negro, amarelo ou indígena. Limita-se a cobrir de direitos os contemplados no âmbito do Ilumismo, ideologia eurocentrista que consagrou a UNIVERSALIDADE dos direitos, como proclama o filósofo Immanuel Kant (1724 - 1804). Tampouco ela nada diz a respeito da liberdade pessoal da MULHER, que não tinha direito a voto e até recemente era considerada como inimputável, ou seja, incapaz de se autoderminar. Nisso tudo não há novidade, SENÃO A ERA TRUMP, que restabelece na prática, stricto sensu, a "Carta dos direitos dos Estados Unidos". Nivaldo Manzano

INCOMPLETUDE

NÃO HÁ MÁQUINA CAPAZ DE CONTER O PLENO SIGNIFICADO DAS PALAVRAS Humpty Dumpty, o gnomo irasciível, afirma a Alice: “Quando utilizo uma palavra, ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos”. Alice contesta dizendo que “o problema está em saber se é possível fazer que uma palavra signifique montes de coisas diferentes”. Ao que Humpty Dumpty replica com rispidez: “O problema está em saber quem é que manda. Ponto final”. Nesse diálogo, o autor Lewis Carrol nos introduz a um sentimento evocado muito raramente: o sentimento de incompletude, anacrônico, ao que parece, nesta atualidade em que nos impingem a regularidade transitiva, linear do mecanismo, a Inteligência Artificial, ou o algoritmo, como suprassumo da competência. Incompletude não significa uma falta; ao contrário, significa excesso. Toda experiência é exponencial, desde que se saiba senti-lo. Vou a um concerto musical e, ao sair, observo em conversa com os demais que cada um reteve da execução do conserto uma dimensão diversa. Um se prendeu à melodia, outra ao andamento, outro à estrutura harmônica dos movimentos, outro ao desempenho do maestro, outro ao desempenho da orquestra, outro à inspiração do tema, e assim por diante. Isso é a exponenciação da realidade vivida. Tudo reunido numa mesma pessoa, em mim, é como se fosse uma ascensão sem fim rumo a mim mesmo, ou a nós mesmos como comunidade. É a exponenciação da realidade vivida: o sentimento de incompletude. A realidade, ou a experiência de viver, não cabe em palavras. Daí a anedótica afirmação de João Cabral de Melo Neto, ao dizer que o poeta começa a frustrar-se ao enunciado de sua primeira palavra no verso. A própria existência é um excesso: Há mais sonhos a sonhar do que a nossa capacidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas. O que nos priva do sentimento da incompletide é o mundo linear da quantidade, que nos asfixia na atualidade. que fragmenta a nossa experiência do tempo, mediante a noção de progresso, ou de futuro, ou de esperança ou de utopia. "O progresso, o futuro e toda a constelação semântica associada à quantidade consiste em fragmentar a plenitude do presente em pequenas quantidades contraditórias, do amanhã e depois do amanhã, portadoras de uma frustração intrínseca, que faz desejar mais a mesma coisa, sob a falsa aparência de outra, elevando ao paroxismo a sensação de escassez. Um novo automóvel, saído de fábrica, já vem com a sua imagem bichada, ao ser reconhecido pelo seu comprador e pelos outros num determinado ponto da escala de prestígio e status, abaixo da categoria que lhe está acima. Esse é o espetáculo da mercadoria, que compraz ao tempo em que frustra (Vaneigem, R., Traité de savoir vivre à l’usage des jeunes genérations, Paris, Gallimard, 1967; Beaudrilhard, J.; A sociedade de consumo, Lisboa, Edições 70, 1975). Mas a contrafação nunca é completa, e a manobra dessa equivalência vicária se desfaz no reconhecimento da ilusão. Incompletude: a exponenciação com que a realidade acena somente pode brotar de uma existência plena. O prazer de viver somente se oferece e se deixa reconhecer como um outro de si mesmo, como metáfora, ou tematização de si mesmo. É preciso trazê-lo dentro de si como condição para enxergá-lo à volta. Incompletude: na entrega sempre mais intensa é que se pressente o êxtase. O limite, que aqui é plenitude a cada instante, confunde-se com o ilimitado. É-se tudo a um só tempo e se deseja ser sempre mais tudo. O que está além e se deseja é um prolongamento de si mesmo, que somente é pressentido porque é também um aquém, a pulsar na intimidade do presente.(Apanhado de leituras do filósofo e poeta espanhol George Santayna, dotado de uma prosa cativante e profunda, além dos já mencionados). Nivaldo Manzano

INCOMPLETUDE

PORQUE ANDA SUMIDA A NOÇÃO DE INCOMPLETUDE Humpty Dumpty, o gnomo irascível, afirma a Alice: “Quando utilizo uma palavra, ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signifique. Nada mais, nada menos”. Alice contesta dizendo que “o problema está em saber se é possível fazer que uma palavra signifique montes de coisas diferentes”. Ao que Humpty Dumpty replica com arrrogância: “O problema está em saber quem é que manda. Ponto final". Nesse diálogo, o autor Lewis Carrol nos introduz a um sentimento evocado muito raramente: o sentimento de incompletude, anacrônico, ao que parece, nesta atualidade em que nos impingem a regularidade do mecanismo, como suprassumo da competência e da responsabilidade. Incompletude não significa falta; ao contrário, significa excesso. Vou a um concerto musical e à saída, em conversa com os demais, observo que cada um reteve da execução da peça musical uma dimensão diversa. Um se prendeu à melodia, outra ao andamento, outro à estrutura harmônica, outro ao desempenho do maestro, outro à execução da orquestra, outro à inspiração do tema, outro à convergência harmônica dos movimentos e assim por diante. Isso é a exponenciação da realidade vivida: o sentimento de incompletude. Tudo isso reunido em mim, que os ouço, numa mesma pessoa. É como se fosse uma ascensão sem fim rumo a mim mesmo, ou a nós mesmos como comunidade. A realidade, ou a experiência de viver, não cabe em palavras. A própria existência é um excesso: Há mais sonhos a sonhar do que a nossa capacidade de realizá-los. Há mais seduções do que possibilidades de se entregar a elas. O que nos priva do sentimento da incompletude é o mundo linear da quantidade, que nos asfixia na atualidade. ao fragmentar a experiência do tempo do relógio, mediante a noção de progresso, ou de futuro, ou de esperança ou de utopia. "O progresso, o futuro e toda a constelação semântica associada à quantidade consistem em fragmentar a plenitude do presente em pequenas quantidades contraditórias, do amanhã e depois do amanhã, portadoras de uma frustração intrínseca, que faz desejar mais a mesma coisa, sob a falsa aparência de outra, elevando ao paroxismo a sensação de escassez. Um novo automóvel, saído de fábrica, já vem com a sua imagem bichada, ao ser reconhecido pelo seu comprador e pelos outros num determinado ponto da escala de prestígio e status, abaixo da categoria que lhe está acima. Esse é o espetáculo da mercadoria, que compraz ao tempo em que frustra (Vaneigem, R., Traité de savoir vivre à l’usage des jeunes genérations, Paris, Gallimard, 1967. |Leia-se também Baudrilhard, J.; A sociedade de consumo, Lisboa, Edições 70, 1975).
O ENTENDIMENTO ENTRE PUTIN E TRUMP SOBRE A PAZ VAI DAR-SE EM TERMOS CONTÁBEIS - E SÓ. A imprensa corporativa nacional e internacional vai estender uma espessa cortina de fumaça, atrás da qual vão discutir-se os termos REAIS da negociação de paz. De fora ficará a questão que mais interessa a Trump e a Putin: como repartir, em termos de ocupação territorial, os superlativos recursos naturais da Ucrânia. Grande parte do território da Ucrânia, não sujeita ao controle de Putin, já se encontra em mãos dos grandes fundos de investimento do Ocidente. A democracia da paz e da guerra de Trump é o cifrão do dólar. Presume-se que não será dificil o entendimento contábil entre ambos: Rússia detém os territórios ocupados e deles não abre mão, e Trump há de concordar com ficar com o restante do espólio, que lhe cai no colo. Nivaldo Manzano

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

UM ESBOÇO DO TRUMPISMO

UM ESBOÇO DO TRUMPISMO. Parece inadequado dizer-se que Trump rompe radicalmente na geopolítica com o UNIVERSALISMO, uma ideologia de revérberos grandiloquentes, já em retirada no mundo ocidental. O UNIVERSALISMO brotou dos arroubos retóricos da Revolução Francesa (RF), convertida em símbolo na "Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão" É nela inspirado que o filósofo Immanuel Kant, um entusiasta da RF, fez do universalismo o seu credo, um ESCLARECIMENTO ("aufklarung", no original alemão) à "espécie humana" (sic), que consistiu em sacudi-la de seu "sonho dogmático", no qual permanecera adormecida durante três mil séculos (trezentos milênios), ou seja, desde a ocorrência do homo sapiens, uma "nova revolução copernicana" como foi chamada, conhecida também como ILUMINISMO, ou o despertar da RAZÃO. O Iluminismo é um eufemismo para ideologia liberal, da qual Kant foi um desbravador na sua teoria filosófico-política, assim como o fora Adam Smith na economia. Como inspiração e expressão do Iluminismo em ambas as dimensões tem-se a GLOBALIZAÇÃO, um rótulo novo para um processo multissecular e os seus correlatos, universalizados urbi et orbi no caráter contextual da expansão econômica, política, ideológica, cultural e militar de países da Europa ocidental e dos Estados Unidos sobre o restante do mundo. Este “universalismo europeu” na expressão do sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, difere do projeto da Casa Branca, de Donald Trump, que se caracteriza peloseu seu PARTICULARISMO , que tem no seu DNA a quintessência da mesma globalização iluminista, quanto à sua vocação para o poder dos mais iguais que os iguais, agora despudorada. Isso é o TRUMPISMO, uma modalidade reducionista do EUROCENTRISMO, que é uma flexão retórica de caráter pejorativo do Iluminismo. E o Iluminismo, como se sabe, é o império da RAZÃO por sobre os demais valores axiológicos, a saber, os sentimentos, a ética, a estética e a intuição. Sao valores equivalentes entre si, incluida a razão, porém, distintos, embora nao separaveis. Nivaldo Manzano
A EVIDÊNCIA PLANA, COLHIDA DA SUPERFÍCIE DAS COISAS, MAIS ESCONDE DO QUE REVELA Um exemplo paradigmático: Immanuel Kant, pensador considerado maíúsculo, o filósofo que consolidou com a sua RAZÃO SOBERANA o ideário do liberalismo político, deixou-se levar pela evidência superficial, que suhjaz nas milhares de páginas que escreveu com vistas ao ESFLARECIMENTO (aufkarung, no original alemão) da HUMANIDADE,ou ILUMINISMO,na sua vertente racionalista. Faltou ao filósofo consciência crítica, ele, autor da "CRÍTICA da razão pura").Por "consciência crítica" entenda-se a capacidade espontânea de situar-se em CONTEXTO, somente possível sobre o pano de fundo diferencial de outro contexto. Os idênticos são irreconhecíveis. Em meio acadêmico, a consciência crítica se aloja ad hoc na atualidade na "Antropologia cultural", disciplina que avança celeremente, a ponto de inibir o interesse pela investigação filosófica. A pretensão kantiana de ter despertado a "espécie humana" de seu "sonho dogmático" (sic), 3 mil séculos (300 mil qnos) depois da ocorrência do homo sapiens, na localidade de Köenisberg, na Prússia, onde nasceu o filósofo, levou-o a formular uma visão de igual grandiloqência, feita de uma penca de universalismo VAZIOS (desprovidas de contexto), como "espécie humana","liberdade", "direito" "natureza", "felicidade" e outros. São tais determinações descontextuializadas que qualificam urbi et orbi a RACIONALIDADE,que supostamente lastreia a legitimidade do comportamento e do processo de tomada de decisão, apanágio da civilização OCIDENTAL moderna. O primeiro a contestá-lo foi o seu aluno predileto, Johann Gottfried von Herder(1744 - 1803) precursor da linguística, ao se opor de ofício à ideia do mestre de criação de uma LINGUAGEM UNIVERSAL, algo somente possível nas linguagens formais, tais como a dos bits, da matemática, da lógica, ou do telégrafo. É ignorar o que vem a ser DIVERSIDADE CULTUIRAL, conceito pioneiro do napolitano Giamhattista Vico, contemporâneo de Kant. Moral da história: Sob o pretexto da RAZÃO, considerada como faculdade SOBERANA por sobre as demais (sentimento, intuição, ética e estética) tem-se "realidade como ela é e não pode ser de outra maneira", do PENSAMWENTO ÚNICO, ou liberalismo. Lembre-se de que Kant é celebrado como o "filósofo da liberdade" ((mais de 260 milhões de acessos no google, em contraste com 60 milhões de Marx) Nivaldo Manzano Resulta, a mais das vezes, da necessidade de nomear tal ou tal experiência humana a partir do já conhecido. Por isso não é de estranhar o uso de órgãos do corpo para tornar determinado conceito mais próximo da realidade. Na verdade, os poemas homéricos falarão do corpo em si “enquanto totalidade visível [e por isso] será qualiicado de «estatura» ou «silhueta»”28, mas “enquanto conjunto vivo, ele será designado por um termo colectivo […] (como por exemplo “membros”)”29 , numa clara adaptação de um vocabulário de emoções e sentimentos a órgãos concretos, ou ao seu conjunto, isto é, ao visível, ao palpável. Outro exemplo poderá ser aduzido da própria batalha: o corpo que luta, aquele que se apresenta para ser ferido, é a χϱοιά, isto é, a superfície de corpo, a pele, isto é, a sua visibilidade passível de ser penetrada, e que, em batalha, pode estar revestida das armas que se possui. Assim, Aquiles perscruta o corpo (χϱοιά) de Heitor procurando onde penetrar. Signiicativamente utiliza-se este termo também quando referido ao corpo amoroso, isto é, ao corpo que se deita com outro30 .O corpo tem por “função a marca da pertença do ser humano ao universo da visibilidade e de o localizar”33. É um elemento no espaço, e enquanto cadáver “constitui-se como um estranho e inquietante resíduo de visibilidade, a meio caminho entre dois mundos”34 que será preciso “retirar” da visibilidade para que possa seguir o seu caminho para o Hades. Ora, este corpo assume-se dentro de um quadro antropológico especíico, com características particulares. Em primeiro lugar uma concepção naturalista do tempo e da vida do homem: uma geração dá lugar a outra como as folhas de uma árvore: “Assim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens. Às folhas, atira-as o vento ao chão; mas a loresta no seu viço faz nascer outras, O ritmo da existência é dado então pela própria natureza, sublinhando-se assim uma curva vital que termina na morte: “os homens são os «efémeros», aqueles que só vivem o dia-a-dia, do nascimento matinal à noite da morte, mas também aqueles que constatam a cada dia que a sua energia vital, cuja sede é corporal, que se esgota e reclama ser restaurado pela alimentação e [pelo] o sono”36. Diferentemente os deuses, com um corpo muita das vezes antropomorizado, têm em si uma energia vital inesgotável e por isso escapam a essa estrutura vital da natureza. Criados como os humanos, essa geração não exprime uma sucessão temporal mas “os laços de dependência funcional e a estrutura hierárquica do cosmos”37 Esta personalidade orgânica é, no herói, como que um campo corporal, onde encontramos um luxo da força orgânica, psíquica e divina, concentrado na sua tarefa de se tornar imortal pelos seus actos. Na morte do herói, vida e destino coincidem enim. Fama é o único im do herói, mas uma fama que a própria mortalidade torna imperativa65. Assim, o herói será o exemplo a imitar pelo homem comum, não pela sua superação divina, mas porque é verdadeiramente excesso de humanidade66: “a fonte da implacável fúria de Aquiles é precisamente o seu nível de vitalidade sem paralelo”67 .

Crematística bbb

https://philarchive.org/archive/TABOPD-2 CAPÍTULO I O PROBLEMA DA ANÁLISE ECONÔMICA EM ARISTÓTELES 13 I. Karl Marx 15 II. Joseph Schumpeter 19 III. Moses Finley 22 IV. Karl Polanyi 26 CAPÍTULO II ECONOMIA E CREMATÍSTICA 29 I. Polis, Oikos e Economia 29 II. Riqueza e Propriedade – A Arte de Aquisição na Economia 33 III. A crematística 36 IV. A usura e o monopólio 43 CAPÍTULO III A JUSTIÇA NAS TROCAS 46 I. A necessidade 48 II. O dinheiro 52 III. A proporção na troca 54 CAPÍTULO IV AÇÃO E PRODUÇÃO 58 I. Instrumento de ação e produção 58 II. Práxis e Poiêsis 60 III. A riqueza – um instrumento de ação 65 IV. Economia e Crematística – considerações gerais 69 CONCLUSÃO 73 REFERÊNCIAS BIB Na interlocução´entre duas pessoas dá-se entre ambas o assentimento e a ponderação crítica, AO MESMO TEMPO, de modo a que o dito um ao outro se acomode no entendimento prévio que cada um trazia como bagagem cultural na sua experiência de vida. Somente no monólogo isso não ocorre, porque o monólogo consiste em falar consigo mesmo. A DIVERSIDADE de pontos de vista é intrínseca ao diálogo e o caracteriza. Arístóles a cunhou como fundamento da DEMPCRACIA. Nisso consiste a ASSIMIULAÇÃO, uma condição para se reconhecer o diálogo como enriquecedor, por ampliar as visões de mundo mediante a sua diversidade. O pressuposto é o do artista: Há tantos modos de se enxergar a realidade quantas sejam as janelas que se abrem para ela. Nestes tempos de predominância da cultura MAXISTA.em lugar do diálogo, prevalece a CONFRONTAÇÃO, tanto mais intensa quanto mais se amiuda a interlocução nas redes. Seria como no futebol fazer do adversário um inimigo. Machado de Assis, o mais arguto dos FILÓSOFOS brasileiros, escreveu, a propósito a alegoria da "Opereta a quatro mãos". O seguinte: Deus, aborrecido de sua eternidade monocórdica, decidiu convidar o Diabo para servir-lhe como interlocutor. Ao que o Diabo prontamente aceitou sob uma CONDIÇÃO: Que se refizesse o relato bíblico, em que Deus se faz reconhecer como o único Criador. Aceita por Deus, tem-se, então, a instalação do diálogo entre Deus e o Diabo, que transcorre na forma de um jogo, que consiste em criar regras de criação de regras de Criação do mundo. Assim, um põe e outro dispõe, sobre um tabuleiro que nunca é o mesmo, se entretando ambos eternidade a dentro. É o que o sábio

Opereta a quatro mãos

Opereta a quatro mãos Na interlocução´entre duas pessoas dá-se entre ambas o assentimento e a ponderação crítica, AO MESMO TEMPO, de modo a que o dito um ao outro se acomode no entendimento prévio que cada um trazia como bagagem cultural na sua experiência de vida. Somente no monólogo isso não ocorre, porque o monólogo consiste em falar consigo mesmo. A DIVERSIDADE de pontos de vista é intrínseca ao diálogo e o caracteriza. Arístóles a cunhou como fundamento da DEMPCRACIA. Nisso consiste a ASSIMIULAÇÃO, uma condição para se reconhecer o diálogo como enriquecedor, por ampliar as visões de mundo mediante a sua diversidade. O pressuposto é o do artista: Há tantos modos de se enxergar a realidade quantas sejam as janelas que se abrem para ela. Nestes tempos de predominância da cultura MAXISTA.em lugar do diálogo, prevalece a CONFRONTAÇÃO, tanto mais intensa quanto mais se amiuda a interlocução nas redes. Seria como no futebol fazer do adversário um inimigo. Machado de Assis, o mais arguto dos FILÓSOFOS brasileiros, escreveu, a propósito a alegoria da "Opereta a quatro mãos". O seguinte: Deus, aborrecido de sua eternidade monocórdica, decidiu convidar o Diabo para servir-lhe como interlocutor. Ao que o Diabo prontamente aceitou sob uma CONDIÇÃO: Que se refizesse o relato bíblico, em que Deus se faz reconhecer como o único Criador. Aceita por Deus, tem-se, então, a instalação do diálogo entre Deus e o Diabo, que transcorre na forma de um jogo, que consiste em criar regras de criação de regras de Criação do mundo. Assim, um põe e outro dispõe, sobre um tabuleiro que nunca é o mesmo, se entretando ambos eternidade a dentro. É o que o sábio

mensaegem aos titubeantes

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Democracia representativa

PORQUE É CRESCENTE O DESCONFORTO NA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA.orque é crescente o desconforto na democracia representatativa. Ou: A regularização dos quilombos estará concluída somente no próximo milênio. Pode dizer-se, sen risco inerente a toda generalização, que o instituto da representação na democracia liberal encontra-se em cris em toda parte. É patente a distância entre o que ela promente e o que entrega, entre a formalidade de seus adereços jurídicos e legais e a ccolheita de resultados. Vive-se num estdo crônico de instabilidade, que se expressa em sua ineficácia, resultante do fosso crescente entre a vontade dos governantes e a vontade dos governados. Mal comparando, o desconfoto que disso resulta corresponde à exasperação que se experimenta na cozinha ao se ter de se submeter ao manejo de uma faca que tenha perdido o gume, justamente no momento em que a precisão do corte se faz mais necessária. E a sensação é que o futuro risonho da felicidade da espécie, com que acena o filósofo Immanuel Kant, em seu ensaio sobre “A paz perpétua”, se esfuma. Parece não ter chegado às nossas mãos sequer o diagnóstico, o que não quer dizer que sob esse aspecto não se tenha vivido como comunidade humana tempos melhores.Os ameríndios, por exempplo, mantêm entre si o costume de dicidir sobre todas as questões de interesse comum mediante debate, sem hierarquia; é patente a sua capacidade superior de organização, mobilização e disciplina, graças ao seu baixo coeficiente de individualismo, sem prejuízo da liberdade; e é superior também no cotejo com o nosso déficit de realização social efetivamente democrática. Tudo isso de vantagem,eles, mal providos da parafernália tecnológica supostamente responsável pelo orgulho do avanço civilizatório de que nos falam os aparelhos de difusão ideológica de quem detém as rédes do poder nas mãos. Resta-nos o que ninguém nos toma: retomar o fio da meada que conduz ao ovo de colombo com que se põe de pé a eficácia democrática.É o que faz o movimento do Comum, a miriade de centenas milhões de participantes na disputa miúda e graúda, a exemplo dos quilombolas, que disputam pela reconquista do espço público. A propósito, das 7666 comunidades quilombolas exidstentes no Brasil (2022) somente uma cinquenta foi até agora regulamentata (Decreto nº 4.887, de 2003, e pelo Decreto nº 3.912, de 2001).Um caso paradigmático: Se nada atrapalhar,a regularização dos quilombos estará concluída no próximo milênio.

Valor eurístico do processo

DOS ISMOS E DA ESCALADA DA INTOLERÂNCIA Machado de Assis faz de sua novela tragicômica "O alienista", uma sátira do POSITIVISMO, filosofia reinante no Brasil de sua época. O protagonista médico alienista, Simão Bacamarte, munido de sua navalha de corte racional, põe-se a separar loucos dos sãos da Vila de Itaguaí, trancafiando os segregados no hospício da Casa Verde, que criara ad hoc. Dado o caráter inseparável da mistura, ao cabo do insucesso trancafia-se ele próprio na Casa Verde. Essa é a alegoria mais percuciente aa história universal dos ISMOS, resultado todos eles de operações de caráter reducionista, que assumem a parte pelo todo. Ou, dito de outro modo, é a contraposição frontal ao ILUMINISMO na sua vertente kantiana, que erige a RAZÃO como faculdade soberana por sobre as demais (intuição, sentimento, ética e estética), como já antecipara Aristóteles em sua FILOSOFIA PRAGMÁTICA: Tais faculdades são distintas umas das outras, de valor equivalente, porém, não separáveis, como atesta o gesto humano. Por isso, na PRÁTICA do comportamento, ou da ação humana, não PRESIDEM a lógica e a matemática, disciplinas da CERTEZA ABSOLUTA (Isso não quer dizer que a ação humana seja ilógica: entre o lógico e o ilógico há o não lógico). Em lugar da certeza absoluta, na PRAGMATICA de Aristóteles tem-se a MELHORIA contínua e recorrente em busca da EXCELÊNCIA, que não se confunde com a estação final iluminista da felicidade bovina da espécie humana de Kant. Não que Machado de Assis seja ele também um louco, por supostamente desconsiderar o valor da RAZÃO. O que ele denuncia em "O Alienista" é a HIPERTROFIA da razão, em prejuízo das demais faculdades. E Machado reitera sua asserção ao dizer, em outra parte de sua obra: "Não há mal que não se possa defender racionalmente. A razão, como o burro atrelado aos varais, puxa todo tipo de carga que se lhe ponha em cima. Com a mesma eficiência e pelo caminhos mais curto, ela nos leva tanto para o céu quanto para o inferno. Quem decide não é ela, e sim o carroceiro". De fato, estaria de acordo com Machado o poeta, ficcionista e ensaísta inglês G. Chesterton (1874 - 1939) de humor sem igual, ao escrever que "o louco é aquele que perdeu tudo menos a razão, ao enxerga intenções no farfalhar das cortinas na janela"* Aqui chego aos ISMOS.TODO ISMO consiste da extrapolação indevida do particular para o universal. Extrapolação: um sujeito trazia sujeira no bigode e dizia que o mundo cheira mal". Assim é o positivISMO, o marxISMO (vulgar) o funcionalISMO,o energetIISMO, o socialISMO, o capitalismo, na sua visão estática, como um fotograma, sem se dar conta de que sob essa caixinha conceitual flui uma corrente. O ISMO é uma borboleta pregada na parede. Com receio e inadequação dos instrumentos para se apreender a realidade em estado de mudança, cria-se o CONCEITO, que resulta de uma empreitada de caráter fixista em disputa com a arte da taxidermia. O modelo do conceito é ESTÁTICO, e a realidade é um estado de mudança: o que era já não é o que virá não é ainda, assim como ocorre nas fases do ciclo da borboleta. Esse é o motivo por que desde Galileu, passando por Newton, os, modelos de investigação científica têm fugido da mudança (transformação, devir, metamorfose) como o diabo da cruz. O ILUMINISMO racional de Kant, que preside à cultura ocidental, é a defesa entrincheirada do status quo. Nivaldo Manzano

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

DOS ISMOS E DA ESCALADA DA INTOLERÂNCIA Machdo e Assis faz de sua novela tragicômica "O alienista", uma sátira do POSITIVISMO, filosofia reinante no Brasil de sua época. O protagonista médico alienista, munido de sua navalha de corte racional, põe-se a separar loucos dos sãos da Vila de Itaguaí, trancafiando os segregados no hospício da Casa Verde, que criara ad hoc. Dado o caráter inseparável da mistura, ao cabo do insucesso trancafia-se ele próprio na Casa Verde. Essa é a alegoria mais percuciente da história universal das ideias na denúncia da artificialidade dos ISMOS, resultado todos eles de operações de caráter reducionista, que assumem a parte pelo todo. Ou, dito de outro modo, é a contraposição frontal ao ILUMINISMO na sua vertente kantiana, que erige a RAZÃO como faculdade soberana por sobre as demais (intuição, sentimento, ética e estética), como já antecipara Aristóles em sua FILOSOFIA PRAGMÁTICA: Tais faculdades são distintas umas das outras, porém, não separáveis e de valor equivalente, como atesta um gesto humano. Por isso, na PRÁTICA do comportamento, ou da ação humana, não PRESIDEM a lógica e a matemática, disciplinas da CERTEZA ABSOLUTA (Isso não quer dizer que a ação humana seja ilógica: entre o lógico e o ilógico há o não lógico). Em lugar da certeza absoluta, na PRAGMATICA de Aristóteles tem-se a MELHORIA contínua e recorrente em busca da EXCELÊNCIA, que não se confunde com a estação final iluminsta da felicidade bovina da espécie humana de Kant. Não que Machado de Assis seja ele também um louco, por supostamente desconsiderar o valor da RAZÃO. O que ele denuncia em "O Alienista" é a HIPERTROFIA da razão, em prjuizo das demais faculdades. E Machado reitera sua asserção ao dizer, em outra parte de sua obra: "Não há mal que não se possa defender racionalmente.A razão, como o buro atrelado aos varais, puxa todo tipo de carga que se lhe ponha em cima. Com a mesma eificiência e pelo caminhos mais curto, ele nos leva tanto para o céu quanto para o infermo. Quem decide não é ela e sim o carroceiro".De fato, estaria de acordo com Machado o poeta,ficcionista e ensaísta inglês G. Chsterton (1874 - 1939) de humor exponencial,ao escrever que "o louco é aquele que perdeu tudo menos a razão, ao enxerga intenções no farfalhar das cortinas na janela"* Aqui chego aos ISMOS.TODO ISMO consiste da extrapolação indevida do particular para o universal. Extrapolação: um sujeito trazia sujeira no bigode e dizia que o mundo cheirava mal". Assim é o positivISMO, o marxISMO petrifiocado (vulgar) o funcionalISMO,o energetIISMO, o socialISMO abstrato, o capitalISMO atemporal etc. O ISMO é uma borboleta pregada na parede. Com receio e incapacidade de apreender a realidade em estado de mudança, cria-se o CONCEITO, que resulta de uma empreitada de caráter fixista, que a ideologia da ciência disputa com a arte da taxidermia. O modelo do conceito é ESTÁTICO, e a realidade é um estado de mudança: o que era já não é o que virá não é ainda, assim como ocorre nas fases do ciclo da borboleta. Esse é o motivo por que desde Galileu, passando por Newton, a ciência muderna tem fugido da mudança (transformação, devir, metamorfose) como o diabo da cruz. O ILUMINISMO racional de Kant, que preside à cultura ociental, é a defesa entrincheirada do status quo. Nivaldo Manzano

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Valior eurístico do processo

valor eurístico do processo https://docs.google.com/document/d/0BxhfAvuo3_KBeVN3TG1fMjh5RXpvUGJ3WXlYM25HSjFPaklB/edit?resourcekey=0-SERFmHyqtgFmpmNyr_Hrdw